No dia 30 outubro de 1938 Orson Welles, então um jovem de 23 anos, levou ao ar o programa de rádio A guerra dos mundos, com roteiro baseado na obra homônima de H. G. Wells. A transmissão, de tão realista, assustou milhares de pessoas levando pânico à população de Nova York e de cidades vizinhas. A 30 de outubro de 1971, em São Luís do Maranhão e baseado no mesmo Guerra dos Mundos, a pegadinha se repetiu: foi ao ar pela Rádio Difusora, que alcançaria picos de audiência, a versão tupiniquim do programa, que do mesmo modo causou imensa comoção na cidade. Com roteiro de Sérgio Brito, noticiava-se que extraterrestres estavam descendo na Ásia, na África, na Europa, na América e do Norte, no Brasil e no Maranhão, mais precisamente em Cururupu, atraídos, neste caso, por jazidas de areia monazítica existente naquela cidade. Dois conhecidos repórteres locais iriam a óbito durante a cobertura. Para apimentar ainda mais o clima de medo e suspense, foi dito que uma nuvem tóxica estava se aproximando da terra, após o que, por coincidência, o céu ficou nublado depois de uma sequência de dias com céu claro e tempo bom. E um cientista de passagem por São Luís, interpretado pelo ator Reynaldo Faray, dava uma entrevista, tornando a brincadeira ainda mais verossímil.
O programa foi ao ar pela manhã, quando interrompendo o programa Difusora Hit Parade, entrou uma edição extraordinária do Repórter Difusora, informando que no Observatório do Monte Palomar, na América do Norte, astrônomos haviam detectado sinais luminosos vindos de Marte em direção à terra e estavam tentando decifrar o fenômeno. O programa continuou com mais músicas até que entrou nova edição do Repórter Difusora com nova edição extraordinária, e a coisa começou. Pessoas ligavam para a rádio, apavoradas. O capitão Assis Vieira, da Polícia Militar, telefonou dizendo que iria botar as tropas na rua, sendo contido pelo próprio Sérgio, que acabo revelando tratar-se de uma brincadeira. Oficiais do Exército empunhavam binóculos, tentando localizar no céu a presença dos marcianos invasores, porque, segundo o programa, um disco voador havia pousado em Perizes. E o que deixaria as coisa mais complicadas: uma esquadrilha de jatos que ia passando de Fortaleza para Belém, em vôo de treinamento, tomou conhecimento do programa e resolveu descer no aeroporto de São Luís, fazendo um rasante sobre a cidade.
As palavras de Sérgio Brito sobre a reação do público quando o programa finalmente terminou, dão uma idéia do clima que naquele dia a cidade foi envolvida: “Não se tinha idéia da reação do público, a não ser pelas ligações recebidas. A Difusora ficava na Camboa e eu morava na Rua 14 de Julho. Quando o programe terminou era mais ou menos meio dia e pouco. Voltei pra casa e, no caminho, fui me dando conta da situação. A cidade estava toda parada, o comércio tinha fechado mais cedo, o setor da indústria fechou, bares ficaram vazios. A cidade ficou parada, hipnotizada. E, nessa hora, ao perceber o estrago que o programa tinha produzido, voltei para a Difusora. Eu e Parafuso (José de Ribamar Elvas Ribeiro) começamos a passar a fita desde o início da parte gravada. Em determinados momentos, eu entrava na fita dizendo: Estamos apresentando um programa de ficção científica baseado em H.G. Wells. A cada vinte minutos repetia essa informação. E isso foi a salvação da gente. No inquérito que a Aeronáutica abriu, em decorrência da passagem dos jatos por São Luís, o comandante da esquadrilha insistia: O pessoal que fez esse programa vai pagar cara.
Mais detalhes desse momento histórico do jornalismo maranhense, estão no livro OUTUBRO DE 71-MEMÓRIAS FANTÁSTICAS DA GUERRA DOS MUNDOS, publicado pela EDUFMA sob organização do professor Francisco Gonçalves da Conceição. A obra pode ser encontrada na Livraria Vozes.