Fora da AML

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Enquanto alguns dão o sangue para entrar na Academia Maranhense de Letras – AML, outros nem aí, seu Sousa. Caso dos poetas Ferreira Gullar e Nauro Machado, que parecem não nutrir nenhum interesse em fazer parte da chamada Casa de Antônio Lobo. Segundo o presidente da Academia, Bendito Buzar, Gullar já foi convidado várias vezes, mas tem se recusado sistematicamente. O mesmo tendo acontecido com Nauro, que não tem se mostrado interessado.

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Ferreira Gullar e João do Vale: ex quase jogadores de futebol

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joao capa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em sua última crônica na Folha de São Paulo o poeta Ferreira Gullar faz uma revelação: quando era garoto sonhava em ser jogador de futebol, tendo chegado a vestir a camisa do Sampaio Corrêa. Pra sorte da literatura, a carreira foi interrompida precocemente depois do candidato a atleta levar uma queda que deixou seu traseiro doendo por dias.

Mas essa não é a única história de artista maranhense que em algum momento da vida colocou o futebol como primeiro plano. Outro exemplo é do compositor João do Vale, que tentou a carreira quando já tinha ido embora para o Rio de Janeiro, depois de fugir de casa ainda menor de idade. Como tantas outras histórias de João, essa não poderia deixar de ser engraçada.

Aconteceu quando o autor de Carcará, sabendo que o amigo Chico Anísyo era chegado de Elba de Pádua Lima, o Tim, técnico do Bangu, (time com tradição em revelar talentos e que tinha entre seus craques o famoso Zizinho), pediu encarecidamente ao humorista que intercedesse a seu favor para entrar na equipe. “Já joguei na seleção maranhense, Chico, fala com o homem”, insistiu João do Vale, e Chico Anísio fez o que lhe era pedido.

Passado algum tempo, o técnico encontra Chico e desta vez é ele quem pede ao humorista, até pelo amor de Deus, para falar com o João a fim de convencê-lo a desistir da empreitada. Ruim de bola mas querido por todos, ninguém tinha coragem de falar a verdade para o compositor, que continuava treinando com o grupo na maior boa fé.

De qualquer maneira, e para sorte da MPB, Chico Anysio acabou falando com João do jeito certo para não ferir seus brios. E João do Vale, entendendo o recado, abandonou o futebol, mas fazendo-o bem ao seu estilo. Longe de admitir ser um perna-de-pau, justificou sua saída dizendo que a carreira não era pra ele porque era muito farrista, e farra e futebol não combinam. E também porque não dava para disputar vaga com o insubstituível Zizinho, que era craque além da conta.

Assim o Brasil perdeu um jogador, e a música brasileira não viu perder-se um dos seus maiores mestres.

 (Essa e outras histórias no livro O jovem João do Vale (Editora Nova Alexandria).

 

 

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Tchick

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A gente compra livros pelos mais diversos motivos. Por estarem na lista dos mais vendidos de Veja; pela indicação de um amigo cuja opinião a gente considera; por que na capa tem um selo com algo do tipo: mais de 3 milhões de exemplares vendidos, e (infelizmente isso é um tanto raro), porque percebemos com base em nossa própria percepção que o conteúdo tem algo profundo e construtivo a nos dizer. Comprei Tchick pela capa atraente, embora a arte seja voltada para conquistar leitores jovens e eu já passei longe disso. Comprei porque depois de pescar frases solta vi que o texto tinha algo a me dizer. Comprei pelo enigma do título, Tchick (que diabo é isso?!?!?).  E por ser, segundo um comentário na última capa, trata-se de um livro inteligente e bem humorado (com ênfase no bem humorado) escrito em alemão.

tickE eis que Tchick correspondeu direitinho às expectativas. O livro é um típico romance de formação, voltado para jovens, como já disse. Mas jovens de todas as idades. Quer dizer, todo e qualquer leitor que sempre está aberto para encontrar inspiração nas descobertas. No caso, nas descobertas de Maik, um garoto meio nerd, de mãe dependente de álcool, pai ausente e popularidade sofrível na escola, e Tchick, um imigrante russo mais impopular ainda, que só angaria algum respeito (ou medo) entre os colegas, que o tem como alcoólatra e marginal, por fingir ser membro da máfia russa.

Juntos na mesma sala de aula, os dois terminam por se aproximar nas férias de verão.  E num Lada roubado (por Tchick), com destino mais pra indefinido que qualquer outra coisa, envolvem-se numa sequência de aventuras pelas estradas da Alemanha. Retirado da orelha: Tchick é um romance premiado, que se tornou uma febre na Alemanha. Com narrativa ágil, inteligente, divertida e nada babaca, é um livro jovem, no melhor sentido da palavra.

Wolfgan Herrndorf nasceu em Hamburgo em 1665. Formado em pintura, desenhou para várias revistas alemães e é autor de livros infantis e romances juvenis. Tchick é seu primeiro livro publicado no Brasil.

 

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Lei Municipal de Incentivo à Cultura: São Luís merece

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ana
A Lei Municipal permitiu que o livro Quem tem medo de Ana Jansen? fosse publicado. A partir do incentivo, a obra ficou conhecida e largamente adotada em nossas escolas. Na foto, crianças encenam espetáculo adaptado da história, em palco que tem como fundo pintura reproduzindo a capa do livro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Depois de aprovar a Lei de Incentivo ao Esporte, que começa a vigorar no próximo ano, a prefeitura de São Luís está prestes a fazer valer o Fundo Municipal de Cultura e a reativar a Lei Municipal de Incentivo à Cultura, que desde a administração do prefeito Tadeu Palácio entrou em desuso por problemas com a Lei de Responsabilidade Fiscal.  Por meio do Fundo de Cultura, artistas poderão submeter seus projetos a editais a serem lançados pela prefeitura através dos seus órgãos de gestão cultural, o que deverá alavancar, de forma transparente e dinâmica, a produção na cidade. Já com a Lei, cujo novo texto será submetido por esses dias para votação na Câmara, projetos poderão ser patrocinados por empresas por meio de renúncia fiscal.

É indiscutível a importância da Lei de Incentivo e do Fundo para a produção cultural de São Luís ou de qualquer outra cidade, sobretudo aquelas com grande potencial cultural, que sem sombra de dúvidas é o nosso caso. Isso ficou provado durante os poucos anos em que ela vigorou. Nesse período, centenas de projetos das mais diversas vertentes foram executados sob os benefícios desse mecanismo, o que elevou a atmosfera cultural da capital. Entre os livros que escrevi, por exemplo, o Quem tem medo de Ana Jansen? foi produzido sob o amparo da Lei, para tornar-se um dos meus títulos mais lidos e adotados em escolas.

Há, no entanto, quando se fala em Lei de Incentivo, a ideia e mesmo o temor de que os governantes sempre reagem à aprovação seja da lei ou do fundo, uma vez que eles viriam “tirar dinheiro do caixa”, e que eles, os administradores, estariam sempre dispostos a impedir que venham a ser aprovadas. Em alguns casos isso pode ser verdade, mas particularmente não acredito que o prefeito Edvaldo Holanda, na sua juventude, formação e capacidade de discernir sobre o que realmente importa para a sua cidade, comungue com esse tipo de pensamento. Na verdade, sendo largamente utilizados na maioria das capitais e em grandes cidades do país, esses mecanismos geram efervescência na produção cultural, geram trabalho e renda e ajudam a dinamizar outros setores da economia, a exemplo do turismo e serviços diversos.

Agora, os vereadores de São Luís e o prefeito Edvaldo Holanda têm a oportunidade de dar uma resposta institucional definitiva, e há tanto tempo esperada, para uma cidade que tem na cultura o seu mais autêntico e legítimo patrimônio.

Com a Lei e o Fundo, a exemplo do que acontece Brasil afora, todos vão sair ganhando. É só fazer as contas.

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coisa&tal: um novo olhar sobre o cotidiano

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coisa&tal
coisa&tal, de César Landucci, publicado pela Mercuryo Jovem

Para o escritor e artista gráfico César Landucci, objetos como martelo, travesseiro, óculos ou sapato são muito mais do que ferramentas ligadas às trivialidades do dia a dia. São também, e talvez principalmente, coisas mágicas, que tem o poder de despertar em quem os observa com os olhos da imaginação e da curiosidade, maneiras novas e mais estimulantes de encarar o cotidiano e a própria vida.

Algumas frases pinçadas do livro coisa&tal (Mercuryo Jovem, 2009) onde Landucce “com doses de humor e nonsense, lança um novo olhar sobre o cotidiano, assim como fazem os jovem de coração e mente, durante o processo de descoberta do mundo”:

Existem vários tipos de CADEIRA, mas a melhor cadeira do mundo é aquela em que a gente está sentado.

            A CHAVE serve para ligar o carro e abrir e fechar as portas. Sem a chave o mundo não liga.

            As CANETAS nunca acabam porque a gente acaba perdendo elas antes.

            O ESPELHO é tão útil na vida da gente que até o carro do meu pai tem um espelho pra ele ficar olhando pra trás, enquanto o carro vai para frente.

César Landucci é paulistano. Formou-se em artes plásticas na FAAP, na década de 1970. Foram quase vinte anos como editor de arte e ilustrador, até que montou seu estúdio, o aeroestúdio.

Em 1993 recebeu o prêmio Jabuti de projeto gráfico para a coleção Acorda, bicho-homem, da editora FTD. Foi o editor de arte de outros três Jabutis. Em 2005 recebeu o Malba Tahan pela edição do livro Leonardo desde Vince, da Cortez Editora. Ilustrou na Folha de S. Paulo até 2007, para o LeiaLivros e para o Folhetim na década de 1980.

Os meus livros O tambor do Mestre Zizinho e A lenda do Rei Sebastião e o Touro Encantado em cordel, ilustrados por Dedê Paiva, tem projeto gráfico de Landucci, pela aeroestúdio.

 

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A dama do cachorrinho

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caoQuem me contou foi o poeta José Maria Medeiros. O fato, segundo ele, é real e aconteceu bem antes de Lula se tornar presidente da república.

Num ônibus lotado, destino Fumacê, se não me engano, com passageiro saindo pelo ladrão, entra uma senhorita reboculosa e logo atrás dela um cachorro vira-lata.

Naquele tempo, o embarque era pela porta de trás. Fosse hoje, provavelmente o motora, com alguma ou sem nenhuma educação, a teria barrado no ato. Mas nem motorista nem cobrador perceberam coisa alguma de modo que passageira e cão passaram para o lado de dentro, ela pedindo licença para chegar na catraca, ele se enroscando nas pernas do povaréu, que a princípio aguentava tudo calado.

Apesar do aperto ambos conseguiram se acomodar de modo que a viagem prosseguiu em relativa paz. Em dado momento os passageiros chegaram mesmo a esquecer a presença animal dentro da condução, quando um odor característico,  vindo de debaixo de um banco onde o Totó, languidamente, coçava suas piras,  tomou conta do ambiente.

Aí não deu pra segurar.

– Isso é um absurdo, cachorro dentro de ônibus.

E a mocinha nem aí.

– Absurdo não, palhaçada.

E a mocinha nem aí.

– Uma completa falta de respeito. O que mais pode acontecer?

E a mocinha com cara de paisagem, por maior que fosse o rumor, nem aí.

Quando o motorista, até então fazendo ouvidos de mercador, não viu outro jeito senão parar o ônibus e tratar de perguntar, com a autoridade que se esperava dele, que diabos estava acontecendo, o cobrador esclareceu:

– É aquela ali, que entrou no ônibus com um cachorro a tira-colo.

Ao que se seguiu uma onde de murmúrios confirmatórios.

Vai o motorista tomar satisfações. Esclarece que sente muito, que se fosse por ele tudo bem, mas que pela lei nem ela, nem o papa, nem ninguém, podia transportar animais em um veículo destinado a levar gente, de maneira que era obrigado a pedir que ela descesse no próximo ponto.

A passageira em questão põe as mãos nas cadeiras e o encara, interrogativa. Olha para baixo e entre pernas alheias e arreliadas nota a presença do Totó, se coçando e ganindo.

Volta-se para a multidão, a quem oferece uma risadinha de escárnio. Depois, encarando o motorista, diz:

– Lamento, seu Fittipaldi, mas esse bicho não é meu. Pra seu governo, nem de cachorro eu gosto! O que eu gosto mesmo é de um gato.

E como já devia estar próxima do seu destino, desembarcou deixando a bordo o pirentinho.

 

 

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Sobre buracos e flores

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tatu

 

 

 

 

 

 

Dia desses de chuva um amigo poeta caiu com o carro em um buraco e rasgou o pneu. Cair em buracos por aqui não é algo excepcional. Nem o fato de o sujeito que venha a sofrer o contratempo ser um poeta, afinal vivemos numa cidade onde abundam tanto poetas quanto buracos.

Mas enquanto os poetas, mesmo os maus, procuram honrar o lugar, os buracos fazem o contrário: tratam de denegrir sua imagem causando má impressão aos visitantes, colocam os pedestres e motoristas em riscos constantes e enraízam na população a sensação deprimente de que estamos irremediavelmente condenados a viver no abandono, à margem das atenções do poder público.

Para ilustrar, resgato uma historinha antiga, de quando o saudoso Luciano do Vale, acho que por ocasião da inauguração do Castelão, relatou na televisão uma conversa sua com um motorista de taxi. Comentavam justo sobre a abundância, em São Luis, de poetas e buracos, momento em que o motora, que também cometia seus versos, mandou essa: “Se buraco fosse flor, São Luís era um jardim”.

Sobre o meu amigo, foi ele ao borracheiro onde pagou por uma tal de vulcanização, que em muitos casos é tentar ajeitar o que não tem mais jeito. Dia seguinte caiu em outra cratera, e, acreditem, teve o pneu novamente rasgado. Em defesa do buraco há de se dizer que o pneu era desses “importados”, que a gente compra pela metade do preço, em lojas da linha “O barato que sai caro”.

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Brasil em alta

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larry

Recomendável a leitura de “Brasil em alta – A história de um país transformado”, do jornalista americano Larry Rohter”, (Geração Editorial). Analista sensível do país e das suas dinâmicas, Rohter faz um apanhado da história local com seus altos e baixos desde os tempos coloniais e mostra como uma nação endividada e fulminada pela inflação veio a se transformar num tempo relativamente curto numa força mundial.

Embora já atuasse no país há bastante tempo, Larry Rohter ficou conhecido dos brasileiros quando no dia 9 de maio de 2004 o jornal para o qual trabalhava, o New York Times, publicou matéria de sua autoria intitulada Gosto do dirigente brasileiro pela bebida tornou-se preocupação nacional. O dirigente, obviamente, era Luís Inácio Lula da Silva e muita gente deve se lembrar das repercussões imediatas causadas pela reportagem e do seu desfecho mais dramático. Lançando mão de uma lei dos tempos da ditadura, o governo cometeu talvez seu maior equívoco no que diz respeito à sua relação conturbada com a imprensa: surpreendeu pedindo a expulsão do repórter, o que levou até mesmo gente que achava que Rohter tinha ido longe demais, a condenar a atitude do Palácio do Planalto, tão claramente calcada no instituto da censura.

A fim de evitar mais desgastes o Planalto recuou e o correspondente continuou sediado por aqui. Agora, em Brasil em Alta, Larry Rohter louva a pujança criativa dos brasileiros, sobretudo no que diz respeito às artes e ao futebol, chama a atenção para o gigantismo industrial do país e coloca o Brasil na condição de superpotência agrícola. Mas, vale ressaltar, o texto não é só elogios: no mesmo tom que usou para traçar o perfil de um presidente perigosamente enamorado do álcool, o autor deplora o caráter de um país onde é comum amizades falarem mais alto que a competência, onde a riqueza coexiste com a miséria absoluta e onde a burocracia e a corrupção deixam loucos quem tenta fazer negócios no país, no que se convencionou chamar Custo Brasil. Desafios, aliás, que precisam ser superados caso o Brasil queira realmente se transformar na nação do futuro.

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João Pedro Borges homenageado no Dia do Choro

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joao

 

 

 

 

 

 

 

 

Marcando o Dia Nacional do Choro (23 de abril) acontece hoje, a partir das 19h, na Associação Atlética Banco do Brasil, na Holandeses, uma grande festa com o Instrumental Pixinguinha e grupos de choro da cidade, numa homenagem mais do que merecida ao nosso grande João Pedro Borges. Aproveitando o ensejo e aceitando convite dos organizadores, acontecerá um relançamento da biografia do artista, João Pedro Borges: violonista por excelência, publicado pela Clara Editora. O livro conta a trajetória de João Pedro desde o seus primeiros anos de vida e aprendizado artístico, ida para o Rio de Janeiro e incursões no exterior, até o seu retorno para São Luís com uma carreira consolidada e o seu nome figurando entre os dos grandes músicos brasileiros.

Da contracapa do livro: “A história de um mestre do violão que, apesar das adversidades, deixou São Luís para se transformar, graças ao talento, trabalho intenso e dedicação, em um dos violonistas mais importantes do Brasil. João Pedro Borges participou de importantes momentos da música nacional, apresentou-se no país inteiro e no exterior, dedicou-se com amor ao ensino do seu instrumento e produziu discos históricos, tendo morado no Senegal e na França. Sem nunca ter abandonado sua terra, é hoje um representante vivo e atuante da força artística e musical do Maranhão.

A festa promete e, se lágrimas houverem, serão de alegria.

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Poetas populares lembram José Wilker

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José Wilker

 

 

 

 

 

 

 

A inesperada morte do ator José Wilker, aos 66 anos, gerou comoção nacional e não passou em branco no universo do cordel. Fazendo as vezes de jornalistas, como seus colegas do passado, mas usando a Internet como meio de divulgação, os poetas populares relembraram a vida e a obra do celebrado ator cearense. Do conterrâneo Klévisson Viana são os versos abaixo:

Nossa vida aqui na terra

Parece com a lamparina
Tem um pavio que é igual
A sua jornada ou sina
Mas o querosene dela
Ninguém sabe onde termina.

Também pode ser um filme
De longa ou média metragem
O roteiro é um mistério
Fotografia e montagem
Ou mais simples como um curta
Se for bem breve a viagem.

Eu estava de passagem
Na cidade de Natal
Onde fui apresentar
Para o público um recital
Quando alguém falou Zé Wilker
Partiu para o plano astral.

Nesse momento eu parei
Sem querer acreditar
Solicitei para um moço
Para melhor me informar
Ele ligando a TV
Pude logo confirmar.

Foi Zé Wilker apaixonado
Pela a arte que fazia
Amou diversas mulheres
Fez da vida uma poesia
Mas sua paixão mais forte
Foi sempre a dramaturgia.

O filho de Juazeiro
Que tanto nos orgulhou
Não vive mais nesse plano
Partiu mas aqui deixou
A sua arte que é viva
No público que cativou.

Padre Cícero era do Crato
Mas fundou o Juazeiro
José Wilker nasceu lá
E mostrou pra o mundo inteiro
Que Juazeiro não tem
Só penitente e romeiro.

Jô Soares falou dele
Bastante emocionado
O grande Lima Duarte
Também deu o seu recado
De respeito pelo astro
Sua arte e seu legado.

Partiu enquanto dormia
Aos 66 de idade
Para amigos e colegas
Seguiu deixando saudade
E a sua família chora
A triste realidade.

Ceará está de luto
Sofre o Brasil por inteiro
Com a partida tão súbita
Que não tava no roteiro
Do nosso ator José Wilker
O filho de Juazeiro.

(…)

O poeta potiguar Marciano Medeiros registrou a notícia no cordel O nobre ator José Wilker partiu deixando saudade:

O nobre ator José Wilker
Partiu deixando saudade,
Foi ter encontro com Deus
No plano da eternidade,
Deixando muitas lembranças
Que são flores de esperanças,
Para toda mocidade.

Era muito inteligente
Por filmes tinha paixão,
Interpretou Juscelino
Com bastante exatidão,
Divulgando sua imagem
Deixou bonita mensagem,
Cativando a multidão.

No cinema interpretou
O Antônio Conselheiro,
Mas antes deu vez e voz
Ao bravo Roque Santeiro
Que com viúva Porcina
Viveu paixão peregrina,
Mostrada no estrangeiro.

Menciono aqui chorando
Este sublime papel,
Do personagem marcante
Juntamente ao coronel,
Fizeram audiência alta
Roque e Sinhôzinho Malta,
Numa batalha cruel.

Eu assistia feliz
Essa novela marcante,
Numa TV preto e branco
Tinha frequencia constante,
Cada capítulo esperava:
O outro quando chegava,
Era muito interessante.

Seu sorriso inconfundível
Deixa lembrança singela,
Fazendo nossa memória
Pintar bonita aquarela,
Pois o tempo não destrói
Nem o coração corrói,
Seu brilhantismo na tela.

Natural do Juazeiro
Hoje sua terra chora,
Lembrando do garotinho
Que ali viveu outrora,
Sonhando timidamente;
E depois de adolescente:
A sua vida melhora.

Nosso povo brasileiro
Lamenta profundamente,
Pois com sessenta e seis anos
O grande ator deixa a gente
Por causa do coração,
Fonte de muita emoção
Deixou a vida inclemente.

O baiano radicado Brasília Gustavo Dourado também deixou sua contribuição:

José Wilker foi embora:
Um ator “felomenal”…
Teve grande Amor à Vida:
Um personagem central…
Destaque na televisão:
Quintessência teatral…

Nasceu em Juazeiro do Norte:
Cearense, nordestino…
Em 1946:
Começou o seu destino…
Foi locutor de rádio:
Um intérprete cristalino…

Do Ceará foi-se jovem:
Para o Rio de Janeiro…
Sociologia na PUC:
O teatro vem primeiro…
Deixou a faculdade:
Pra atuar no tabuleiro…

Presença em 51 filmes:
Foi crítico e diretor…
Gostava da narrativa:
Era apresentador…
Em dezenas de novelas:
Destacou-se como ator…

Gabriela, de Jorge Amado:
Foi Vadinho sedutor…
Em filmes de Cacá Diegues:
Bye Bye, Brasil, um primor…
Conquistou vários prêmios:
Molière de Melhor Ator…

Atuou em Xica da Silva:
Foi JK no cinema…
Como Antônio Conselheiro:
Em Canudos, um dilema…
José Wilker com maestria:
Fez da vida um poema…

Roque Santeiro impecável…
Com a viúva Porcina…
Muitos amores na vida:
Amou sua Guilhermina…
Dias Gomes dissecou:
Com atuação cristalina…

Viveu o doutor Hérbet:
Novela Amor à Vida…
Trama de Walcyr Carrasco:
Em sua longa avenida…
Rodrigo, em Anjo Mau:
Foi fecunda a sua lida…

Bicheiro Giovanni Improtta:
Em Senhora do Destino…
Fez Tenório Cavalcanti:
E o Coronel Jesuíno…
Ator de alta qualidade:
Tinha alma de menino…

Sai de Baixo, A Falecida:
Era mestre no humor…
Um craque na narrativa:
Do Oscar, apresentador…
Wilker foi magistral:
Um fenômeno como ator…

Deixo aqui na poesia:
Minha singela homenagem…
Ao grandioso ator:
Que segue a sua viagem:
Pelas sendas do destino:
Além da Terceira Margem…

 

O inesquecível intérprete de Roque Santeiro, protagonista da novela homônima de Dias Gomes, levada ao ar pela Rede Globo em 1985 e 1986, realmente fez por merecer todas as homenagens. Por sinal, nesta novela, que evidenciou a literatura de cordel, numa das cenas mais marcantes, o personagem de Wilker descobre, lendo folhetos populares, que se tornara um mito para os habitantes da cidade de Asa Branca, que imaginavam que ele morrera heroicamente. O cordel, ironicamente, cruza novamente o caminho de Wilker agora que ele se tornou saudade.

 

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