Nhozinho Santos não introduziu apenas o futebol em São Luís. Quando, em outubro de 1905, retornava de Liverpool, na Inglaterra, onde formou-se em técnico de Indústria Têxtil, trazendo bola, chuteiras, regras do jogo e outros apetrechos do novo esporte, fazia também parte da sua bagagem um Speedwell, primeiro automóvel a circular pelas ruas da cidade.
O registro histórico, revelando ainda tratar-se de um carro de fabricação inglesa, marrom e com quatro lugares, está no livro “Passado e presente do ‘antigomobilismo’ em São Luís”, de autoria do pesquisador Ramssés de Souza Silva. Publicado por iniciativa da Associação Maranhense de Carros Antigos (Amava), mais do que história, o livro é repleto de curiosidades, a começar pelo termo ‘antigomobilismo”do título, neologismo que se refere à prática de colecionar, restaurar ou trabalhar com veículos ou maquinários antigos. Ao longo do texto, muitos outros fatos interessantes, tornando sua leitura não só instrutiva, como também bastante agradável e divertida.
A partir da ação pioneira de Nhozinho Santos, mostra o livro, aos poucos a frota de carros em São Luís foi crescendo. E, como não havia escolas ou regras disciplinando a operação dos nossos primeiros veículos automotores, estes eram dirigidos, naturalmente, por leigos e curiosos. O que logo resultaria, como dá para imaginar, em acidentes. Em 17 de janeiro de 1912, às 10 horas, relata o autor, Olavo Lafayette Galvão abriu a lista de vítimas, sendo atropelado sem gravidade na Rua de Santana. No início de setembro do mesmo ano, por imperícia do chouffer, como foi noticiado nos jornais, registrou-se evento mais grave. Segundo publicou “O Correio da Manhã” do dia 6 de setembro, o sinistro ocorrera na Alameda Gomes de Castro, ao lado de onde hoje se encontra a Biblioteca Pública Benedito Leite. Causa: o inexperiente motorista Fellipe Santiago perdeu o controle do veículo e tentando pará-lo, perdeu um dos pneus, fazendo o veículo tombar. À bordo, a cantora Renée d’Orleans e a soprano Marie Teskine, artistas do Cinema-Palace, que sofreram várias escoriações.
E 1914, quando já se tomavam as primeiras medidas no sentido de coibir problemas ocasionados pelo trânsito, veio o primeiro caso com vítima fatal: foi quando um adolescente ao correr atrás de uma bola, foi colhido por um veículo que descia a Rua do Sol. Por fim, depois de sustos e atropelos, veio a primeira multa aplicada a um motorista em São Luís. Foi no dia 10 de outubro de 1914, contra um condutor que descia a Rua Rio Branco sem respeitar o limite de velocidade : inimagináveis, para os dias de hoje, 12 quilômetros por hora.
Segundo o autor, a ideia da construção do livro partiu da necessidade de se registrar os principais passos da trajetória da Amava ao longo dos seus onze anos de existência. O resultado, como o leitor verá, foi também um delicioso apanhado histórico sobre os primórdios do automobilismo na cidade.