Livro infantil para todas as idades

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serraLá detrás daquela serra (Editora Peirópolis) é mais uma bela obra do poeta e folclorista Marco Haurélio, com ilustrações de Taisa Borges. O livro, que pode ser lido por pessoas de todas as idades, é repleto de quadrinhas populares, brincadeiras de roda, cantigas e adivinhas rimadas, que resgatam e valorizam um formato poético muito popular no Brasil.

A obra leva o leitor adulto de volta à infância e é baseada em memórias do próprio autor. “Muitas estrofes eram cantadas por minha avó e as outras faziam parte da brincadeira de “jogar versos”, tão comum no sertão da minha infância e hoje quase desaparecida”, conta Haurélio. Para ele, as crianças das grandes cidades, a não ser por meio da escola, desconhecem as tradições populares. “As cantigas podem fazer parte do mundo moderno, mas devem ser transmitidas com naturalidade, facilitando o acesso das crianças ao rico acervo da literatura oral brasileira”, comenta.

Marco Haurélio nasceu em Ponta da Serra, no sudeste baiano, cidade que inspirou o nome da obra. Lá vivia sua avó, uma exímia contadora de histórias e de cantigas. “A casa dela ficava ao lado da do meu pai e, no quintal, havia um umbuzeiro no qual eu subia para ler os folhetos de cordel que ela guardava na gaveta de um armário”, relembra o autor. Lá detrás daquela serra é o tema que abre algumas quadras da obra, mas para Haurélio, também é uma região a ser buscada pela imaginação, que não precisa estar no planeta Terra, mas deve ser o espaço ideal.

Para a produção do livro, Marco Haurélio colheu textos da tradição oral (contos, romances e cantigas) durante muito tempo. Tendo em mãos um farto material de poesia popular anônima, selecionou algumas quadras simples que pudessem ser lidas ou cantadas por adultos ou crianças. “A grande mensagem implícita nessa é que devemos viver o nosso tempo sem esquecer que a nossa nação é plural e, por isso, tão rica em termos de cultura. E que na simplicidade há ainda muita beleza a ser descoberta”, conclui o autor.

Utilizando ecoline – tinta de amora feita em casa – e pastel a óleo, Taisa Borges teve liberdade para procurar um novo modo de ilustrar, e optou por usar a pincelada solta e intuitiva. “trabalhar esse texto inspirado foi muito prazeroso e eu espero que o leitor sinta isso”, conta Taisa, que procurou não fechar dentro de uma imagem o sentido das rimas.

A obra, segundo o autor, faz lembrar o folclorista e escritor português Teófilo Braga, que no século XIX dedicou-se a recolher contos, quadras e canções populares pelo seu país com o objetivo de preservar e afirmar a identidade do povo.

As duas quadras abaixo reproduzidas, por exemplo, evocam um tempo em que o cavalo, animal de montaria e de aragem da terra, era imprescindível para o homem do campo.

 

Amarrei o meu cavalo,

Amarrei às nove horas.

Esperando o meu benzinho,

Meu benzinho, até agora…

 

Soltei meu cavalo n’água,

Ele n’água se perdeu.

Nesse mundo não existe

Amor puro igual o meu.

 

Em outras, há um lirismo ao mesmo tempo ingênuo e malicioso:

 

Eu subi no pé de pinha,

Comi pinha sem querer.

Namorei com o pé de pinha,

Pensando que era você.

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