Doenças pelo vício de internet e celular

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Neurocientistas estão alertando para doenças cerebrais causadas pelo uso excessivo de internet.

Em crianças, por exemplo, o uso constante da internet pode ser uma das causas do transtorno de déficit de atenção.

O alerta é de João de Fernandes Teixeira, PHD pela University of Essex (Inglaterra).

Ele é um importante pesquisador, do Brasil, na atualidade. É pós-doutor com Daniel Dennett, nos Estados Unidos, e professor titular na Universidade Federal de São Carlos.

Daniel Dennett é um proeminente filósofo dos Estados Unidos, da área de filosofia da mente e da biologia.

Veja mais sobre filosofia da mente em em www.filosofiadamente.org

Abaixo artigo publicado de João Teixeira

 O cérebro e a internet

Por João Teixeira

Todas as vezes que me sento diante do computador para escrever uma coluna, duas ou três mensagens aparecem em uma pequena janela que se abre no canto inferior direito da tela do computador. Na maioria das vezes, são mensagens inúteis que conseguiram furar o filtro de spams. No entanto, nunca consigo deixar de olhá-las, pelo menos de relance.

Filosofia da mente

 

A internet vicia. Praticamente todo internauta abre sua caixa postal pelo menos duas vezes por dia e, quando não há mensagens novas, fica decepcionado. Outros, não resistem aos encantos efêmeros das redes sociais e gostam de postar fotos, comentários, mensagens e ficam aguardando para saber quantas “curtidas” eles recebem. O Facebook, entretenimento gratuito para todas as idades, colocou todos diante de um espelho, um teatro virtual no qual, como diz Caetano Veloso, “narciso acha feio o que não é espelho”.

A internet roubou a nossa atenção, um patrimônio psíquico importante e limitado. Nossa atenção praticamente sucumbiu à cultura da interrupção fomentada pela computação ubíqua, que se tornou cada vez mais popular com o uso de smartphones e outros tipos de celulares conectados à internet. Raramente uma conversa não é interrompida pelo sinal de chegada de uma mensagem, e tirar o celular do bolso para saber o que foi enviado já deixou de ser falta de educação e se tornou um hábito inteiramente aceito. Receber e responder mensagens é uma prioridade indiscutível.

Nos últimos anos, médicos, psicólogos e cientistas cognitivos alertaram para os perigos dessa adição digital. Uma das maiores neurocientistas contemporâneas, a inglesa Susan Greenfield, advertiu, em uma entrevista que fez a uma revista médica brasileira, sobre os danos que o vício da internet pode causar. Jovens que navegam demais nas redes apresentam mudanças cerebrais semelhantes àquelas verificadas em compulsivos por jogos de azar.

Greenfield não foi a única a espalhar esse alerta. Outros pesquisadores como, por exemplo, Nicholas Carr, autor do livro A geração superficial (2011), afirma que o uso constante da internet por crianças pode ser uma das causas do transtorno de déficit de atenção. Rodney Brooks, professor no MIT e um dos maiores roboticistas da atualidade, também defende esse ponto de vista.

Por que a internet vicia tanto e com tamanha facilidade? Ainda não se sabe ao certo. Há quem diga que a busca constante de novidades na tela ou nas caixas de e-mail acaba se associando com a produção da dopamina, um neurotransmissor que produz a sensação agradável de recompensa e prazer.

Tenho outra hipótese. A internet é a tecnologia mais neuromórfica que já foi inventada. Ou seja, ela é extremamente parecida com o cérebro humano. Sua arquitetura é parecida com uma imensa rede neural. Esse tipo de rede, utilizado pelos pesquisadores da inteligência artificial a partir dos anos 1980, constitui um intrincado conjunto de conexões entre neurônios artificiais, que são dispostos em camadas. Os neurônios artificiais estão conectados entre si, podendo ser ativados ou inibidos por meio das conexões.

A rede neural funciona como um sistema dinâmico, ou seja, o estímulo inicial espalha excitações e inibições entre os neurônios artificiais. Dado um determinado estímulo, diferentes estados podem ocorrer como consequência de mudanças nas conexões, variando de acordo com a interação do sistema com o meio ambiente e com seus outros estados internos. Outra inovação introduzida pelos conexionistas é sua concepção de memória distribuída. Uma lembrança consiste de vários elementos que estão espalhados numa rede. Quando se invoca um, vários elementos da rede também são invocados, até a lembrança completa se formar.

Sem percebermos, quando navegamos na internet, temos a sensação de estarmos viajando dentro de um grande cérebro humano, uma rede complexa de sinapses ligando os neurônios uns aos outros. Os links, que sempre remetem a outros links em um processo interminável, são organizados da mesma forma que os circuitos do nosso cérebro. Passar de um link para outro e, muitas vezes, até esquecer o motivo original pelo qual entramos na rede acontece com muita frequência. A navegação virtual capta o caráter errático de nosso pensamento, a atenção fragmentada nos vários pontos que compõem nosso fluxo de consciência.

A internet, construída como uma imensa rede neural, é uma gigantesca imitação do cérebro humano. Nada pode ser mais reconfortante do que, ao olharmos para todos os lados, só encontrarmos a nós mesmos no mundo. A internet modificou de forma radical e irreversível o Umwelt humano, ou seja, o mundo exclusivo que construímos ao redor de nós, nosso microambiente com seus significados próprios. Não só a internet é a grande rede com o formato de um cérebro, mas também aqueles que participam dela passaram a ser concebidos da mesma maneira, como se cada um fosse uma espécie de neurônio ligado aos outros de várias maneiras. Tudo e todos se transformaram em uma enorme rede.

Quem fica sentado diante de uma tela por dez ou doze horas por dia acaba perdendo a experiência com o mundo. Quais serão as consequências de ficar atrelado à internet o dia inteiro? Ainda não sabemos, mas talvez possamos adivinhar. Einstein afirmou que “no dia em que a tecnologia ultrapassar a interatividade humana, o mundo terá uma geração de idiotas”.

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