A visão é um dos cinco sentidos do corpo humano. Todos querem ter a oportunidade de enxergar o mundo e se deslumbrar com as cores existentes nele. O que fazer quando já se nasce com parte desse sentido comprometido? Uma pequena guerreira, nascida em Loreto, a 696 km de São Luís, com apenas um mês de vida, precisou passar por uma cirurgia de reconstrução de pálpebra e um transplante de córnea, para que não perdesse a visão do olho esquerdo.
A bebê está se recuperando bem e passa por acompanhamento. A cirurgia foi realizada no Centro de Referência Oftalmológica do Hospital Universitário da UFMA (HU-UFMA), na última semana de 2017, pelos oftalmologistas Renato Ferraz e Adriana Bertrand, esta última convidada especialmente para conduzir a reconstrução de pálpebra. Como a criança nasceu sem essas dobras, a córnea ficou exposta e ressecou, formando uma úlcera. O diagnóstico era ceratite infecciosa associada, que consiste na inflamação da córnea.
As distrofias de córneas congênitas que levam a necessidade de transplante em crianças tem uma incidência muito baixa. De acordo com a responsável técnica do Banco de Olhos do HU-UFMA, Roberta Farias, chega a menos de 10%. “Não é comum transplante de córnea em bebês, pois as doenças congênitas que precisam desse tipo de cirurgia são menos frequentes, tendo uma incidência maior em adultos”.
A oftalmologista destaca os cuidados especiais quando relacionados as crianças menores de oito anos. “A criança tem o corpo muito reativo, da mesma maneira que ele cicatriza muito fácil, ele também reage mais fácil a uma doação, e quando isso acontece, ela acaba rejeitando com mais facilidade a córnea”.
Os cuidados são para a vida toda. Segundo a médica, o paciente vai ter uma recuperação visual, mas com sequelas. “Qualquer dano oftalmológico que ocorra na vida de uma criança com menos de oito anos de idade, a chance de ter sequela para o resto da vida é grande. Nesse intervalo, é que acontece o período do desenvolvimento visual e, por isso, ela precisa de um acompanhamento intenso, para que a visão possa ser estimulada”.
Banco de Olhos
Até o momento, só neste primeiro mês do ano 24 pacientes passaram por transplante de córnea no Centro de Referência Oftalmológica do HU-UFMA, que realizou no ano passado 246 transplantes. As doações em 2017 somam 124, o que corresponde a 248 córneas captadas.
O transplante de córnea é um procedimento que traz para o doador uma grande melhoria na qualidade de vida. Nesse sentido, o Banco de Olhos do HU-UFMA se mostra fundamental para a eficácia desse processo ao zelar pela qualidade dos tecidos transplantados, buscando acompanhar todas as etapas de doação, processamento e acondicionamento desses órgãos.
A médica Roberta Farias destaca que a fila de espera para um transplante de córnea no Maranhão demora cerca de três anos. “A doação é um processo de conscientização. Ela é importante para que esse tempo de espera na fila diminua e para que possamos zerar a fila”.
Centro de Referência Oftalmológica
Anexo do HU-UFMA, está localizado na Rua Silva Jardim (ao lado da Unidade Presidente Dutra). Realiza atendimentos ambulatoriais e cirurgias de alta e média complexidade. O serviço conta com salas de ambulatório, salas cirúrgicas, sala de recuperação pós- anestésica, salas de treinamento e recebe pacientes de todo o Maranhão. Entre os procedimentos mais procurados estão a cirurgia de catarata, com cerca de 130 cirurgias por mês. Em média, são realizadas 1900 consultas por mês e 320 cirurgias oculares, nas mais diversas subespecialidades, a exemplo, da correção de estrabismo, do transplante de córnea, da cirurgia antiglaucomatosa, entre outros.
Sobre a Ebserh
Desde janeiro de 2013, o HU-UFMA é filiado à Ebserh, estatal vinculada ao Ministério da Educação que administra atualmente 39 hospitais universitários federais. O objetivo é, em parceria com as universidades, aperfeiçoar os serviços de atendimento à população, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), e promover o ensino e a pesquisa nas unidades filiadas.
O órgão, criado em dezembro de 2011, também é responsável pela gestão do Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf), que contempla ações nas 50 unidades existentes no país, incluindo as não filiadas à Ebserh.
Fernando Oliveira, gestor de comunicação do HU-Ufma