Bananas para o Salão de Artes de São Luís

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Veja esta matéria publicada no Jornal O Estado do Maranhão deste domingo (15)

O cineasta Cláudio Farias tem ensaio “Olha a Banana” no Salão de Artes de São Luís deste ano, com imagens captadas em trabalho de 4 anos nos manguezais

O cineasta e jornalista Cláudio Farias deixou São Luís para morar no Sítio-Escola Praia do Barco, localizado praticamente dentro dos manguezais da cidade de Alcântara, onde fotografa a biodiversidade do lugar. Um dos ensaios, “Olha a banana!”, estará no Salão de Artes de São Luís deste ano, com abertura na quinta-feira (19) as 19h, na Galeria Trapiche.  Foi criado a partir de projeto de sustentabilidade para o sítio.

FOTO 1 - Olha a banana
Algumas imagens do ensaio fotográfico “Olha a banana!”
FOTO 2 - Olha a banana
Algumas imagens do ensaio fotográfico “Olha a banana!”

 

 

FOTO 3 - Olha a banana
Algumas imagens do ensaio fotográfico “Olha a banana!”

“Olha a banana!” é a ponta de um iceberg dentro de inúmeros experimentos fotográficos de Cláudio Farias,elaborados há quatro anos, desde que se mudou para o sítio.  Dentro do universo inventivo que construiu, detalhes dos ciclos de vida – e de morte – de plantas, insetos como borboletas, formigas e besouros, de caranguejos e outros crustáceos, de peixes, flores, troncos, aves e répteis.

Nas imagens, nada de flashes. O sol é parte de cada conceito, como na fotografia de uma folha seca do bananal que estará no Salão de Artes.  Os caminhos de Cláudio Farias são minuciosos.O seu ofício envolve a vivência para ‘tornar visível’ detalhes de um ambiente externo, raro e belo, que passou a pulsar dentro do fotógrafo e foi manifesto por meio de imagens.

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Crustáceo ‘chama maré’, do litoral do Maranhão

Em seu foco, aspectos da vida humana nos mangues, a vida de pescadores e das marisqueiras, as mulheres que capturam mariscos em pequenas lagoas formadas na maré baixa.

As crianças e jovens, nas imagens, parecem parte inseparável do ecossistema, ao improvisarem o mangue e o mar como espaço de lazer.  “É um mergulho na minha infância, no Apeadouro, em São Luís, quando brincava às margens do Rio Anil”, recorda Cláudio Farias. As imagens, também, captam o lado perverso do homem que devasta e degrada o mangue.

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Crianças e jovem improvisam áreas de mangue como espaço de lazer
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Detalhe de peixes dos mares da Baia de São Marcos
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Flor de áreas de manguezais, em Alcântara

Plantas de mangues

Em outro enfoque de Cláudio Farias, a flora dos manguezais e do sítio, como o bananal que inspirou o ensaio, ganha evidência. São detalhes de árvores, formas das raízes dos manguezais e fragmentos como um caracol em uma folha, entre minúsculas partículas de sais.

Detalhes dos manguezais podem silenciar para quem olha os mangues de longe. Captados em imagens por quem vive no local, são visíveis em pluralismo de pontos de vista; nunca estão em repouso em uma única verdade. São as aproximações possíveis de um mundo que comumente nossos sentidos, e a razão cartesiana, distante das máquinas reveladoras, percebem apenas como realidade, e ignoram. Nas imagens delineadas, são mais avivadas, por meio de representações.

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Caracol, entre minúsculas partículas de sais, em folha de uma planta de mangue

A planta nasce, cresce, convive com insetos e outros animais e morre, gerando mais existência ao se transformar em troncos. E é este ciclo da vida que Cláudio Farias transforma em ensaio fotográfico. É a tradução de estações longas da natureza imperceptíveis dentro de uma visão de quem faz uma visita rápida a Alcântara. A vida no mangue, lentamente mutável, é invisível ao olho nu dos apressados. Entre o verde e a lama dos manguezais e o mar turvo da Baia de São Marcos, as plantas, passo a passo, viram toras mutiladas. Ganham formas estranhas e são abrigos renovadores de larvas e minúsculos bichos do mar que realimentam a existência. Imaginem as imagens dessas cirandas.

Há toque humano somente na seleção, pois a imagem, por si só, desvenda o evidente, como se a fotografia deixasse de ser uma seleção para apresentar-se leve e real. Mostrar um ambiente em movimento e harmônico é a forma que Cláudio Farias encontrou para falar da necessidade de preservar um ecossistema cada vez mais ameaçado pela ação predadora do homem.

Educação ambiental

Ao lado da jornalista Marilda Mascarenhas, que mora e trabalha no sítio há anos, e com a colaboração de artistas e pesquisadores, Cláudio Farias converte os ensaios fotográficos em programas virtuais, cartilhas, livros, folderes, filmes e instalações utilizadas em oficinas e reuniões com estudantes, professores e populares. O sítio foi adequado por Marilda Mascarenhas em uma esquina do Centro Histórico de Alcântara, área que nos séculos anteriores foi o porto da cidade. Hoje, é o ponto de partida para trilhas ecológicas.

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Cláudio Farias no Sítio Praia do Barco, em Alcântara

De sua mesa de trabalho, perto da varanda, próximo a canteiros de flores, de plantas medicinais e árvores frutíferas do sítio, Cláudio Farias, conectado ao mundo via internet também elabora projetos em defesa do meio ambiente para instituições nacionais e internacionais. Nos intervalos, cuida do sítio, das plantas e animais. Tudo isso distante dos engarrafamentos e burburinho de São Luís, cidade onde sempre viveu e que, hoje, raramente visita. A última vez foi durante a Feira do Livro, no início de outubro, quando ministrou palestra.

Presença no Salão de Artes

“Olha a banana!”, o ensaio que estará no Salão de Artes de São Luís, foi criado a partir de um projeto de sustentabilidade para o sítio, que, depois, deu origem a programa de arte e educação socioambiental. Surgiu como proposta para aproveitamento de um bananal existente na área, que está sendo revitalizado como espaço educativo, de geração de renda, possibilitando demonstrar inúmeras utilidades da banana como fonte de saúde, segurança alimentar e criatividade artesanal.

O projeto começou a ser desenhado em oficina com estudantes e agricultores de Alcântara. A coordenação é do Mestrado de Agroecologia da Universidade Estadual do Maranhão (Uema).

A meta é instalar um sistema agroflorestal, um viveiro de distribuição de mudas de banana e aproveitamento do fruto, com a produção de doces e compotas. A fibra da planta será utilizada na fabricação do papel e de outros produtos artesanais.Nos planos, a criação da Rede Parceira da Banana e, também, produção de materiais didáticos.

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