Prevenção de Recaídas no Tratamento das Doenças Mentais II

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Define-se prevenção de recaída, como estratégia de natureza médica e psicossocial aplicada por diferentes técnicas e métodos com o intuito de evitar o reaparecimento de diferentes doenças, posterirormente a um tratamento. Recair, é retomar, retornar, vir a acontecer, reaparecer etc. Em medicina, muitas doenças são insinuantes e sempre tendem a reaparecer, de tempos em tempos, independente do tratamento que receberam.

Em artigos anteriores tomamos a depressão como exemplo de uma das doenças mentais que mais tendem a recair, mesmo que tenho sido bem feito o tratamento da crise. Dissemos, também que quanto maior o número de crises depressivas que alguém venha a ter, maiores serão as chances dessas pessoas, voltarem a adoecer. Daí porque, no tratamento das depressões, exige-se que o médico estabeleça desde cedo as orientações devidas para prevenir outras crises que poderão surgir ao longo da vida desses enfermos.

Os fármacos, são medicamentos altamente eficazes, tanto para o tratamento de crises agudas, quanto de prevenirem recaídas entre essas patologias. Os estabilizadores do humor, os antipsicóticos e ansiolíticos são medicamentos altamente efetivos que são aplicados com finalidade preventiva. Todavia, é bom que se diga, que prevenção de recaída, não ocorre somente através da utilização de medicamentos, embora esses sejam os mais utilizados. Pode se também utilizar meios físicos, como Eletroconvulsoterapia – ECT e Estimulação Magnética Transcraniana – EMT, para se chegar a essa finalidade. Técnicas de psicoterapia, terapia comportamental e ocupacional são outros procedimentos e estratégias muito efetivas, largamente utilizadas em terapêuticas para se prevenir a recorrência de uma doença. A preferência ou escolha de uma dessas estratégias, ou várias dessas estratégias, dependerá do diagnóstico e da situação clínica do enfermo.

Graças aos novos conhecimentos da clínica psiquiátrica, da neurociência e dos conhecimentos baseados em evidências clínicas, que não se pode pensar em tratar somente das crises agudas desses enfermos. Deve-se, desde o início, pensar em prevenir recaídas. A equação é mais ou menos essa, em se tratando de depressão: quem teve uma crise na vida, terá cerva de 30% de chance de ter a segunda. Se, essa mesma pessoa relatar que já sofrera de duas crises depressivas, sua chance de ter a terceira será de 50 a 60%. Se, por acaso, já tiver tido três crises ou mais de depressão, sua chance de ter outras será de mais de 75% de chance. Mais de três crises na vida terá 100% de chance de ter outras. Esse conhecimento da evolução dessa doença serve de base para se garantir a necessidade de se fazer prevenção e não permitir que esse enfermos voltem a adoecer.

Nos guide lines, (orientações para se realizar os tratamentos) psiquiátricos, todos recomendam a adoção de prevenção de recaídas, independente do tratamento que seja oferecido a esses enfermos em suas crises atuais, justamente pela certeza da recorrência dessas enfermidades.

Pode e dever ser instituída praticamente em todas as grandes doenças mentais, entre essas: esquizofrenias, dependência química, transtorno bipolares, depressões etc. Ela está sendo utilizada em muitas outras especialidades médias. Todas as doenças humanas que evoluem cronicamente, independentes de sua natureza, atualmente se recomenda essa estratégia. Entre essas, destacamos doenças metabólicas, doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e muitas outras. De tal forma que é cada vez mais imperioso prevenir que remediar.

Só á guisa de informações, a Organização Mundial de Saúde – OMS em seu relatório anual sobre doenças mentais/2014 mostrou que 45 % dos doentes depressivos recaem por desuso ou uso incorreto de medicamentos, (interrupção indevida do uso de medicamentos, subdoses terapêuticas, reduzido tempo de tratamento, doses irregulares, etc).

Outro aspecto relevante são os custos financeiros com os tratamentos de crises. As famílias sabem que pesa muito no bolso custear o tratamento desses doentes. Pois, o tempo previsto de tratamento, os custos com internação hospitalar, com os medicamentos ou outros procedimentos utilizados para esses tratamentos, acabam onerando muito as famílias, provocando mais sofrimento para todos.

Dissemos acima que a resposta aos medicamentos é muito influenciada pela condição evolutiva dessas doenças. Quanto menor número de crises, melhor será a evolução, melhor será sua recuperação e melhor será sua qualidade de vida. Como são enfermidades que evoluem cronicamente, as recaídas sucessivas, dificultam a recuperação desses enfermos pela baixa resposta aos medicamentos de tal forma que o melhor que pode fazer é prevenir.

 

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A compulsão sexual, o prazer e a dor.

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O desejo sexual se manifesta de diversas formas e em diferentes intensidades. Sua fonte, a sexualidade, é uma condição que está presente nos indivíduos do nascimento á morte. É, e sempre foi, uma das funções humanas mais estudadas pela medicina, pela psicologia e pela neurociência. Essa, como outras funções, pode se disfuncionar e acarretar inúmeros problemas ás pessoas. Um dos distúrbios mais frequentes e mais importantes é o sexo compulsivo, transtorno grave revelado pelo descontrole do impulso sexual, onde a pessoa, entre outras coisas, não consegue resistir aos pensamentos e desejos, que precisam ser saciados imediatamente, no mesmo momento, não importando com quem. Quando esse transtorno se verifica entre as mulheres denomina-se ninfomania, entre homens hipererosia.
A compulsão sexual ocorre clinicamente da seguinte maneira: pensamentos sexuais ou atos compulsivos recorrentes os levam a “só pensar naquilo”, e tais pensamentos, ideias, imagens, ou fantasias giram em torno da sexualidade os quais penetram na mente do indivíduo, de forma intensa, repetida e de forma estereotipada, onde tais vivências podem ser angustiantes, violentas, repugnantes ou obscenas, sem sentido, e a pessoa não consegue demovê-las ou resistir a elas. Apresentam atos sexuais impróprios, exagerados ou cognições que causam sofrimento subjetivo e comprometimento das funções ocupacionais e interpessoais. Esse comportamento tem sido comparado a uma espécie de dependência (adição ao sexo). Há outras designações, para descrever esse transtorno: sexo impulsivo, compulsão sexual, sexo compulsivo, dependência do sexo e adito sexual.
Esse distúrbio ocorre frequentemente em pessoas na faixa dos 40 anos e, com o passar dos anos esse processo tende a ser mais denso e “aperfeiçoado”. Os portadores de sexo compulsivo, em geral não admitem ter o problema e dificilmente se dispõe a buscar ajuda médica ou psicológica. Atinge em torno de 3% a 6% da população, predominantemente homens, e costuma ter início no final da adolescência ou no início da terceira década de vida.
O sexo compulsivo evolui de forma crônica, com episódios alternados de piora e melhora. No curso clínico verifica-se inicialmente, um comportamento parecido ao estado de transe na qual a pessoa encontra-se completamente absorta em pensamentos de sexo, partindo para a busca obsessiva de se relacionar sexualmente. Em seguida, ocorre uma espécie de ritualização para realizar seu intento, isto é, desenvolve uma rotina que leva ao comportamento sexual, que serve para intensificar a excitação. Segue-se a gratificação sexual propriamente dita, mediante o ato sexual, onde a pessoa se sente incapaz de controlar seu desejo, de tal forma que, quanto mais intenso for esse desejo mórbido maior será o descontrole sobre ele. Por último, surge uma espécie de desespero, que vem após o ato sexual compulsivo e se caracteriza por uma sensação de impotência e desânimo, ás vezes culpa arrependimento.
Esses enfermos podem desenvolver complicações clínicas em decorrência direta dessa compulsão sexual, que incluem lesões genitais (contusões) e doenças sexualmente transmissíveis (hepatite B, herpes simples ou infecção pelo vírus da imunodeficiência humana). Podem ocorrer lesões físicas nos comportamentos sexuais de alto risco ou na atividade sadomasoquista. Nas mulheres, podem ocorrer gestações não-desejadas e complicações de aborto em razão desse descontrole sexual.
As causas do sexo excessivo, embora haja poucos estudos, há evidências de diferentes sistemas cerebrais envolvidos em sua causa. Lesões frontais, por exemplo, podem ser acompanhadas por desinibição, por resposta hipersexual impulsiva. Lesões ou disfunções estriatais podem ser acompanhadas por desencadeamento repetitivo de padrões de resposta gerados internamente. Lesões límbicas temporais podem ser acompanhadas por desequilíbrios do próprio apetite sexual, inclusive alteração do direcionamento do impulso sexual. Enfim, a neurobiologia desse transtorno está sendo muito estudada e acredita-se que em um futuro próximo essa situação seja melhor esclarecida.
As repercussões desse comportamento se dão em várias áreas: social, pode ocorrer desafetos com amigos e familiares, envolvimentos policiais, perda de emprego, perda da reputação social e moral e toda sorte de desadaptação social e familiar em decorrência direta de investidas, assédios e relacionamentos sexuais. Familiar: costumam ter relações conjugais complicadas. Primeiramente devido ao apetite sexual exagerado, vindo a submeter o parceiro (o) a uma atividade nem sempre prazerosa ou desejada. Em segundo, devido às maiores probabilidades à infidelidade e, em terceiro, devido à maior possibilidade de envolvimentos sexuais com amigos ou familiares, aumentando mais ainda o constrangimento. Por últimos os problemas pessoais, pois apesar dos inúmeros problemas que o transtorno pode ocasionar o mesmo não se dispõe a se tratar nem a mudar seus hábitos inspirados nessa condição.
O tratamento desse transtorno se dá sob dois aspectos: terapia comportamental, técnica através da qual os enfermos reorganizariam seus pensamentos, suas fantasias e seus desejos visando um maior controle e adequação dos mesmos. A outra forma de tratamento é realizado através de medicamentos, que os auxiliam a controlarem melhor seus impulsos e, atualmente existem medicamentos efetivos nesse sentido. Faz-se também, necessário uma avaliação laboratorial e clínica rigorosas, incluindo exames de imagem como a ressonância magnética do crâneo e outros exames laboratoriais para se descartar a existência de outros transtornos médicos, psiquiátricos ou comportamentais, que possam coexistir com essa doença.

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O dia mundial da saúde em nosso país, o que comemorar?

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Dia 07 desse mês comemorou-se o dia mundial da saúde, certamente um dos temas humanos que pela sua importância e significado é de fato merecedor dessa homenagem. A saúde é a consagração da vida, considerando que só, e tão somente através dela, garantimos e damos sentido a nossa existência. É através dela que nascemos, vivemos, prorrogamos a nossa vida e a da nossa espécie.
Saúde é uma condição complexa, que resulta de uma intrincada rede de fatores inter articulados entre si, de diversas naturezas, que, como resultado dessas inter-relações entre os distintos fatores que a produzem, nos conduzem a um estado de bem estar, físico, psíquico e social. É essa, em um sentido abrangente, o conceito de saúde segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS. Sob essa perspectiva, a saúde é um bem, uma condição inalienável onde a pessoa se encontra em plenas condições de viver e, viver bem, estando em consonância com seu mundo, com os outros e com seu ambiente. Não há saúde em um ambiente inóspito ou onde não haja paz social e, um ambiente inóspito e que não haja paz, não produzirá indivíduos saudáveis. E, esse é o sentido maior: saúde é o bem estar de um sujeito em seu ambiente em relação com os outros, de tal forma que, nessa perspectiva, a saúde deve sempre ser examinada identificando quais os fatores que em determinada momento ou circunstância estão ou não a favorecendo.
Se estendermos as coisas nesse sentido, de forma mais abrangente, incluiríamos obrigatoriamente a saúde mental, que prefiro chama-la de saúde comportamental. Que pode ser entendida por sua vez, como a possibilidade concreta e objetiva dos indivíduos expressarem sua saúde através de seu comportamento. Isto é, não há saúde mental, sem saúde física, muito menos saúde social, pois são condições indispensáveis para um comportamento saudável. A saúde mental se traduz ou se revela em nosso comportamento, seja ele objetivo ou subjetivo, que por sua vez expressa a vivência do bem estar psicológico dos sujeitos em se ambiente e com os outros.
A saúde mental promove e traduz o agrupamento das pessoas em sociedade, no trabalho e nas distintas formas de das relações sociais. O nível de saúde mental e o bem-estar da população é um indicador importante que nos informa como o homem vive e isso sinaliza para a realização dos objetivos dos povos e do planeta.
Epidemiologicamente, as doenças mentais no mundo e particularmente na Europa vêm aumentando. Hoje, nessa região, estima-se que haja 50 milhões de cidadãos, cerca de 11% da população, portador de alguma forma de doença mental, tanto em homens quanto em mulheres. Entre essas, a Depressão já é em muitos Estados-Membros da União Europeia, o problema de saúde mais prevalente. O Suicídio permanece sendo a maior causa de morte nessa região, pois ocorrem cerca de 58.000 suicídios por ano, dos quais 3/4 são cometidos por homens. Oito dos Estados-Membros dessa região estão entre os quinze países com a taxa de suicídio masculina mais alta do mundo.
Nunca é por demais repetir que entre as condições humanas as que mais geram sofrimento e dor para os indivíduos, para suas famílias e para a sociedade em geral, são as doenças mentais, sendo o suicídio entre essas a condição que mais provoca isso.
Pelo aumento vertiginoso dessas doenças, as ações deveriam ser priorizadas em políticas públicas de saúde, através de ações complementares que promovam prevenção, assistência e reabilitação desses enfermos, fortalecendo e priorizando, sobretudo, medidas de prevenção disponibilizando suporte para pessoas que têm problemas de saúde mental e suas famílias. Além disso, poderiam ser adotadas medidas que garantam maior acessibilidade e abrangência dos meios de tratamentos oferecidos a esses enfermos. Portanto, deve-se reconhecer que existe uma necessidade de ações políticas decisivas no sentido de dá prioridade em ações em saúde mental.
Para tanto, necessita-se que haja por parte dos agentes políticos e de dos legítimos representantes de um povo, medidas efetivas que incluam outras áreas de significação e abrangência interligadas á saúde, como a da educação, o sector social, a justiça a economia e muitos outros parceiros sociais, de outras organizações da sociedade civil, para implementar e desenvolver medidas para garantir e promover a saúde dos indivíduos.
É preciso se implementar pesquisas epidemiológicas que nos dê uma fotografia real da saúde mental da população, em diferentes momentos, que nos ajude a identificar as causas ou fatores que estão colaborando para os agravos nessa área. Situações como suicídio, depressão, usa de álcool e outras drogas, violência urbana e rural, desigualdades sociais, má distribuição de renda, desemprego e muitos outros fatores urbanos, psicológicos e ambientais colaboram sobremaneira para o adoecimento mental da nossa população e quando nós vemos o que está sendo feito para se evitar tudo isso, se constata que o que está sendo efetivamente feito é muito pouco ou quase nada para se evitar esses problemas.
Em nosso país, as questões da saúde mental e a saúde em geral estão precarizadas. Há uma dívida histórica dos governos, e desse em particular, com o povo brasileiro em matéria dessas políticas . O que se vê são medidas inconsistentes que não garantem de fato o bem estar de nossa população em todos os sentidos. O sucateamento e ineficiência dos serviços de saúde, inadequação de verbas destinada á saúde, má versação do erário, redução acentuadas do número de leitos na rede pública especialmente na área mental, o contingenciamento dos recursos destinados á saúde, o empobrecimento dos municípios que praticam tais políticas, não dão conta dessa responsabilidade. Está um caos total. É preciso mudar. Feliz 07 de abril Dia Mundial da saúde para todos nós e para o mundo.

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Diagnóstico e tratamento da depressão na infância e na adolescência

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Há algum um tempo, dificilmente se fazia diagnóstico de depressão na infância e, mais raramente, na adolescência e isso era devido, entre outras coisas, a falta de instrumentos de diagnósticos mais precisos desse transtorno e aos imensos e prejudiciais preconceitos que ainda há em torno dessa doença. Nesse sentido, avançou-se muito nos últimos anos quanto ao manejo dessa transtorno, pois houve uma retração desses preconceitos, houve avanços científicos sobre o conhecimento da natureza da depressão, e simultaneamente, aperfeiçoaram-se as técnicas e instrumentos no seu diagnóstico e tratamento.
Segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde – OMS a depressão atinge cerca de 2% das crianças e 5% dos adolescentes do mundo. A OMS informa que até 2025, a depressão se tornará a doença mais comum do mundo, e a mais invalidante laboral e socialmente, atingindo mais pessoas do que o câncer e as doenças cardiovasculares. Atualmente, mais de 450 milhões de pessoas no mundo são afetadas por transtornos mentais diversos, sendo a depressão a principal e, a maioria delas ocorre em países em desenvolvimento.
Entre as crianças, o índice de depressão também é preocupante. A depressão incide em torno de 6 a 10 % na população geral e nos últimos 15 anos, o número de diagnóstico de depressão em crianças, entre 6 e 12 anos, passou de 4,5 para 8%, o que representa um problema ascendente. Muitos adultos que apresentam quadro de depressão têm histórico da doença na infância, de tal forma que se não os tratarmos bem cedo, isso contribuirá para a cronificação dessa doença, (Fábio Barbirato, Neuropsiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria -ABP).
Do ponto de vista clínico, diagnosticar depressão na infância não é fácil, pois nessa fase, os sintomas depressivos podem ser confundidos com alguns comportamentais naturais visto nessa etapa da vida: má-criação, birra, mau humor, tristeza, agressividade, irritabilidade ou nervosismo, impaciência, inquietude, condições psicossociais e emocionais frequentes e que fazem parte das características do desenvolvimento psicológico dessas crianças. O que vai distinguir uma coisa da outra é a evolução, a avaliação neuropsicológica e laboratorial e as características clínicas dessas queixas.
Na adolescência, o diagnóstico de depressão é também complexo, pois o mesmo também se insere no espectro das caraterísticas próprias dessa etapa da vida, tais como: desinteresse, apatia e retraimento social, irritabilidade, negativismo e comportamento contestatório, mudanças do humor etc. Tem que haver experiência, acuidade e competência do profissional para se fornecer esse diagnóstico até porque são elevados índices de suicídio na adolescência especialmente se a situação não for adequadamente diagnosticada e tratada.
Não devemos confundir depressão com as angústias provenientes dos conflitos naturais próprios da infância ou da adolescência, já que adolescer é uma condição delicada e que se caracteriza, entre outras coisas, pelas contradições, rebeldias, insatisfações constantes e ânsias de mudanças onde alguns sintomas da depressão podem se mascarar com estas peculiaridades naturais da idade.
Entre os principais sintomas de depressão estão: mudanças de humor, irritabilidade e/ou choro fácil, desinteresse geral, falta de atenção e de concentração, queda no rendimento escolar, insônia, ou hipersônia, anedonia (falta de prazer) perda de energia física e mental, reclamações por cansaço, sofrimento moral ou insatisfação consigo mesmo, sentimento de que nada do que faz está certo, dores difusas no corpo, sentimento de auto rejeição, condutas anti-sociais e destrutivas, distúrbios de peso (emagrecer ou engordar demais), enurese e encoprese (xixi na cama e eliminação involuntária das fezes).
Para a OMS se a pessoa apresentar cinco, entre os sintomas acima, o diagnóstico poderá ser efetivado.E, neste caso ante os primeiros sinais ou sintomas da depressão, os pais devem encaminhá-los a um profissional o mais rápido possível. Na maioria das vezes, o apoio da família e a psicoterapia são suficientes para ultrapassar a situação. Se, a partir dos 9 anos de idade, persistirem ou se agravarem tais sintomas, faz-se necessário, em alguns casos, intervir com medicamentos. Além do mais a depressão infantil pode desencadear várias outras condições médicas, tais como: anorexia, bulimia, etc.
A depressão, como outros transtornos psiquiátricos, tem causas multifatoriais, nunca uma única causa, por isso mesmo o tratamento e a reabilitação devem envolver uma fama de procedimentos onde o uso de medicamentos é um dos procedimentos. Aspectos genéticos, ambientais e socioculturais são condições relevantes como causadores dessas doenças.
Portanto, o mais importante é que tanto o diagnóstico quanto o tratamento sejam realizados o mais cedo possível para evitar que a doença se cronifique, dificultando muito a recuperação dessas pessoas e, graças aos avanços, sobretudo em farmaterapia da depressão, as respostas aos tratamentos atualmente empregados são sempre muito favoráveis e efetivos.

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É melhor prevenir do que remediar.

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É uma frase antiga, mas cheia de sentido. As medidas de prevenção em diversas áreas da atividade humana, sempre foram bem consideradas, devido sua importância na vida das pessoas. Ocorre que na prática, poucas iniciativas nesse sentido, são de fato efetivadas e, em nosso meio e em nossa cultura, a pratica de evitar que algo aconteça conosco é muito pouco incentivada e praticada. Haja vista o velho chavão conhecido por todos, “o brasileiro só fecha a porta depois que é assaltado”. Essa é a realidade. Prevenir é importante, mas é pouco valorizado. É uma atividade antecipatória, evitável, são medidas que impedem que algo ocorra e, dependendo do que se preveni os ganhos são incomensuráveis para uma a vida de uma pessoa ou de uma sociedade.
Se aplicado á saúde, a prevenção representa uma ferramenta imprescindível e indispensável para se lidar com inúmeros agravos. A maioria absoluta das doenças humanas pode ser evitada, especialmente as de evolução crônica, pois através de medidas preventivas se impede seu surgimento, sua evolução ou se reabilita as pessoas afetadas por esses agravos.
Em medicina, a própria formação desses profissionais a ênfase é dada prioritariamente no sentido de se tratar os eventos médicos e muito pouco se ensina ou se dá ênfase ás medidas de prevenção na formação dos mesmos. Na realidade, não é que não seja importante o médico saber tratar seus doentes, muito pelo contrário, é o que mais se quer e o que mais se deseja em medicina, ocorre que na prática médica e conhecendo a natureza dos diferentes agravos á saúde como se conhece hoje, o tratamento da doença não deveria ser o único enfoque em nossas práticas. Entendo que a prevenção deveria, quiçá, ser bem mais realçada ao longo do próprio currículo de formação desse profissional para ser aplicada em qualquer situação onde haja a necessidade de sua atuação.
Em psiquiatria particularmente, essa prática não foge á regra. O psiquiatra é formado para tratar e, muito pouco, para prevenir. A prática psiquiátrica é sempre uma prática curativa. Até aí tudo bem, mas, e as medidas preventivas que deveriam ser aplicadas para evitar que esses enfermos adoeçam, onde estão? Por essa e por muitas outras razões é que o paradigma de só tratar, está em cheque.
Está havendo um movimento progressivo no mundo científico no sentido de se mudar essa prática, aperfeiçoando sistematicamente os tratamentos já existentes em psiquiatria. Primeiro, através da busca incessante de fármacos cada vez mais eficazes e com menos efeitos colaterais para o tratamento desses doentes. Segundo, através do aperfeiçoamento de procedimentos físicos, não invasivos cerebrais, para garantir respostas mais rápidas e duradouras ao tratamento. Terceiro, aperfeiçoando as práticas existentes psicossociais reabilitadoras no sentido de uma maior recuperação e reabilitação desses enfermos. E, por último, estabelecendo novas estratégias psicoterapêuticas através de técnicas de vanguarda que auxiliem esses pacientes a não recaírem. Esse conjunto de medidas, em bloco, está mudando o cenário da assistência psiquiátrica no mundo.
Sabe-se hoje, que a absoluta maioria das doenças mentais tende a reaparecer mesmo depois de um bom tratamento médico. Isto é, as doenças mentais são recidivantes e isso, faz parte de sua natureza e sobre isso, a ciência atual muito pouco pode fazer. Doenças como a esquizofrenia, depressões, transtorno afetivo bipolar, transtornos de ansiedade, dependência química e, muitas outras, recidivam, embora adequadamente tratados em suas fases iniciais, tendem a reaparecer ao longo da vida dessas pessoas.
Veja o que ocorre com a depressão. Organização Mundial de Saúde – OMS estima que até 2020 a depressão seja a principal causa de incapacitação em todo o mundo de tal forma que muitas pessoas se tornarão incapazes e improdutivas do ponto de vista do seu trabalho e da sua vida social e boa parte dessa alta prevalência de depressão são de enfermos que não realizaram tratamento preventivo mesmo depois de terem tratados das crises. Há atualmente, mais de 350 milhões de pessoas que sofrem de depressão no mundo. No Brasil, estima-se que existam mais de 17 milhões dessas pessoas. Cerca de 850 mil morrem, por ano, em decorrência de suicídio, que tem como base a depressão, mesmo assim, damos muito pouca ênfase na aplicação de medidas de prevenção dessa doença. Além disso, a OMS, afirma ainda, que 45% das recaídas em depressivos é atribuída a interrupção inadequada do uso, ao mau uso, ao desuso precoce, ou ao uso inadequado desses medicamentos indicados para seu tratamento. Imaginem o que poderíamos evitar quanto ao sofrimento, aos danos sociais, aos gastos financeiros e de muitos outros danos á pessoa e a sociedade, se impedíssemos que tanta gente voltasse a adoecer na vida desse problema?
Outro transtorno severo é a esquizofrenia, doença grave, que incide em pessoas muito jovens, que evolui cronicamente e que, como a depressão, deve-se prevenida desde cedo para garantir que não reapareça depois de tratado a crise. Nesses casos, deveríamos ser mais rigorosos devido à evolução rápida e dramática dessa doença em direção á sua cronificação.
Recair, portanto é algo evitável e prevenível e, com a adoção de medidas preventivas ao longo dos diferentes tratamentos, todos ganham: o paciente, a família os médicos e os trabalhadores em saúde mental. Prevenção, já!!!

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O voo, o preconceito e a doença mental.

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O desfeixe trágico ocorrido com o voo do Airbus A320 da Germanwings, fato que nos atingiu a todos pela dimensão da tragédia, resultando na morte de centenas de pessoas e, que foi ocasionado, ao que tudo indica, pelo comportamento suicida do co-piloto, reascendeu inúmeras discussões na área da aviação, da psiquiatria e da segurança dos voos na perspectiva humana. Nesse sentido, algumas recomendações já estão sendo tomadas pelas empresas encarregadas dessas atividades e pelas agências aeronáuticas internacionais estabelecendo novas regras que evitem tais tragédias, em todo mundo, corrigindo as distorções, envolvida com esse voo da morte. Entre os temas em debate, quiçá, o mais envolvente, foi o fato desse evento ter sido provocado supostamente por um doente portador de depressão.
A forma como a grande mídia anuncia esse fato, de certa forma generaliza as circunstâncias e não examina outras possibilidades em torno desse fato, transparecendo a ideia de que depressão impõe a tais enfermos, a possibilidade de cometerem tais atitudes, nos levando a crer que tais ações transloucadas seja prerrogativa de quem tem depressão ou mesmo outra doença mental.
Temos que ter muita cautela em apontar uma enfermidade humana, como a depressão, com todas suas peculiaridades, como sendo a responsável por qualquer tragédia, a meu ver, correndo-se o risco de praticar generalidades, e o pior, criando-se uma ideia falsa de que toda depressão poderia causar isso, o que não é verdadeiro. Os depressivos não são assassinos, não suicidas nem perigosos. Veja, que da forma como a grande mídia trata o evento, ajuda a mistificar a doença e a segregar esses doentes.
Outra particularidade, é que não há depressão, há depressivo. Cada um de nós vive sua depressão ou sua doença de forma muito particular, não havendo qualquer chance de se generalizar as doenças que somos acometidos como é o caso sobre o que houve com o co-piloto envolvido com esse acidente. Essa verdade clínica deve ser aplicada para qualquer condição de adoecimento, por isso mesmo, não há doença, há doente. A prática médica se inspira nesse axioma. Cada um de nós empresta para cada doença que se tenha aspectos particulares de nosso caráter, de nossa cultura, do nosso ambiente e de nossa personalidade. Portanto, é um tremendo equivoco tratar o assunto da forma, tão generalizada atribuindo a uma doença, no caso a depressão, todas as responsabilidades sobre o que houve com esse voo.
Todos os doentes mentais e, particularmente os depressivos, não apresentam qualquer perigo á vida de ninguém especialmente, se devidamente tratado e bem orientado sobre o que se passa com ele, que é o que se recomenda do ponto de vista terapêutico para qualquer enfermo, nenhuma pessoa com depressão ou portador de outra doença mental, oferece qualquer perigo, a si mesmo ou a outrem, considerando que inúmeros outros aspectos podem interferir nessa condição.
Objetivamente, já se sabe que todos os enfermos, particularmente os psiquiátricos, deveriam passar por um rigoroso controle médico, situação que se recomenda em todas as áreas da atividade médica, principalmente no âmbito da psiquiatria e da psicologia. Dialeticamente, se alguém quiser investigar exclusivamente a mente (comportamento) de alguém, sem levar em conta a saúde como um todo, e sua relação com seu meio e sua cultura (psicossociocultural), fatalmente isso o conduzirá a atitudes preconceituosas. O fato que houve com esse voo, e a forma como esse acidente está sendo anunciado, nos dá a impressão que todas as pessoas com depressão podem ser perigosos ou capazes de praticarem atitudes como essas, o que não é verdade.
A professora Anne Skomorowsky, Psiquiatra da Universidade de Colúmbia (EUA), alertou que “usar a palavra ‘depressão” para descrever um comportamento inexplicável ou violento, ( como esse que ocorreu), nos remete a dois sinais falsos: primeiro, que a sociedade não tem nenhuma obrigação com a nossa felicidade – porque a angústia é um problema médico – e segundo, segundo, que uma pessoa depressiva corre o risco de cometer atos deploráveis”. E eu, complemento: atitudes como essa, embora deveras incomum, quando ocorre envolvendo supostos doentes mentais, fatalmente houve algo que, em qualquer momento, ou mesmo por qualquer motivo, atrapalhou seu tratamento, isto é, no curso do seu tratamento algo ocorreu que o prejudicou, pois em condições regulares na consecução de um tratamento psiquiátrico, dificilmente isso ocorreria.
Outra particularidade, é que o que houve é uma situação rara, envolvendo acidentes aéreos e doentes mentais. Nos últimos anos, ao que nos consta, pouquíssimas ocorrência foram registradas. Particularmente, sobre o suicídio em si mesmo, trata-se de um fenômeno psicopatológico grave de causas complexas, às vezes imprevisível, que está presente em diversas condições psiquiátricas, inclusive entre depressivos, no entanto, nem todos os depressivos tentam ou chegam a se suicidar. Portanto, não há nada de novo nesse sentido. Algumas doenças mentais, entre essas a depressão podem até favorecer alguns desses comportamentos inusitados, entre os quais o comportamento violento e o suicídio, mas as tragédias como essa que ocorreu com esse voo em si mesmo, não pode ser explicado só por conta dessa condição psicopatológica, correndo-se o risco de estigmatizar e generalizar essa condição médica.
Homicídios se sucedem por muitos outros fatores que não ligados a doenças mentais e são bem menos frequentes entre essa população que na população em geral. Uso de drogas, surto psicóticos agudos, esquizofrenia, alcoolismo, e em muitas outras situações psiquiátricas frequentes. Mesmo assim, em qualquer desses casos, devemos sempre contextualizar as causas que levaram a tais desfeixes, para não se consolidar preconceitos que em nada nos ajudam, na lidar com esses enfermos.

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O Transtorno Afetivo Bipolar – TAB

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É notória a ênfase que a grande imprensa brasileira vem dando ultimamente na divulgação dos transtornos psiquiátricos, fato que não acontecia especialmente pelos enormes preconceitos que existia em torno das doenças mentais e de seus correlatos. As telenovelas, os noticiosos os filmes e muitos outros meios de comunicação e de divulgação freqüentemente tratam destes assuntos. Entre todos os mais badalados estão os sobre dependências de drogas do alcoolismo e dos problemas depressivos e da ansiedade.
Neste artigo trato do transtorno afetivo bipolar (TAB) doença que vem tendo uma alta incidência na população em geral inclusive entre crianças e adolescentes e que causa um enorme problema para o portador e para sua família que muita das vezes não sabe como tratar seus pacientes.
Do ponto de vista psiquiátrico o TAB surgiu em medicina na última classificação das doenças mentais realizada pela OMS em 1973, vindo a substituir o termo psicose maníaco – depressiva – PMD.
Clinicamente o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é caracterizado por alterações do humor que se manifestam como episódios depressivos alternando-se com episódios de euforia (também denominados de mania), em diversos graus de intensidade. Diferentemente dos altos e baixos normais por que passam todas as pessoas, os sintomas do transtorno bipolar são graves. Eles podem ocasionar danos profundos nos relacionamentos sociais e afetivos, no desempenho laboral e no pragmatismo, no desempenho escolar e muitos outros problemas.
O transtorno se origina por inúmeros fatores por isto mesmo é considerado um transtorno de origem multifatorial, porém tem base genética sendo atualmente uma condição irrefutável e bem estabelecida: 50% dos portadores apresentam pelo menos um familiar afetado, e filhos de portadores apresentam risco aumentado de apresentar a doença, quando comparados com a população geral.
O TAB acarreta incapacitação e grave sofrimento para os portadores e suas famílias. A mortalidade dos portadores de TAB é elevada, e o suicídio é a causa mais freqüente de morte, principalmente entre os jovens. Estima-se que até 50% dos portadores tentem o suicídio ao menos uma vez na vida e 15% efetivamente o cometem. Também doenças clínicas como obesidade, diabetes, e problemas cardiovasculares são mais freqüentes entre portadores de Transtorno Afetivo Bipolar do que na população geral. A associação com a dependência de álcool e outras drogas não apenas é comum (41% de dependência de álcool e 12% de dependência de alguma droga ilícita), como agrava o curso e o prognóstico do TAB, piora a adesão ao tratamento e aumenta em duas vezes o risco de suicídio na população de dependentes.
O início dos sintomas na infância e na adolescência é cada vez mais descrito e, em função de peculiaridades na apresentação clínica, o diagnóstico é difícil. Não raro as crianças recebem outros diagnósticos, o que retarda a instalação de um tratamento adequado. Isso tem conseqüências devastadoras, pois o comportamento suicida pode ocorrer em 25% dos adolescentes portadores de TAB. Assim como a diabetes ou as doenças cardíacas, o transtorno afetivo bipolar é uma doença de duração longa, que tem de ser controlada cuidadosamente durante a vida da pessoa.
A alternância de estados depressivos com maníacos é a tônica dessa patologia. Muitas vezes o diagnóstico correto só será feito depois de muitos anos. Uma pessoa que tenha tido um episódio depressivo e receba o diagnóstico de depressão e dez anos depois apresente um episódio maníaco tem na verdade o transtorno afetivo bipolar, mas até que a mania surgisse não era possível conhecer diagnóstico verdadeiro.
Os sinais e sintomas no episódio de euforia (maníaco) incluem: energia e atividade aumentadas, inquietação; humor excessivamente elevado, bom demais, eufórico; Irritabilidade extrema; pensamento acelerado e falar muito e rapidamente, pulando de uma idéia para outra; distraibilidade, não consegue se concentrar direito; pouca necessidade de sono ( insônia); crença super-valorizadas das próprias capacidades e poderes; juízo crítico deficiente; gastos excessivos; aumento do impulso sexual; abuso de álcool e drogas; agressividade e irritabilidade exagerada.
Na fase depressiva predominam humor triste, ansioso ou vazio duradouro; sentimentos de desespero ou pessimismo; sentimento de culpa, remorso e arrependimento e de menos valia; sensação de impotência ou incapacidade sexual; perda do interesse ou prazer em atividades que eram anteriormente apreciadas, incluindo sexo; diminuição da energia, uma sensação de fadiga ou de estar “devagar”; dificuldade de se concentrar de recordar e tomar decisões; inquietação ou irritabilidade; dorme demais, ou não consegue dormir; alteração no apetite e/ou perda ou ganho de peso não intencional; desinteresse, apatia etc.
O tratamento do TAB é farmacológico para ambas as fases e fora das mesmas é prevenção, pois caso não haja prevenção pode existir recidivas freqüentes chegando a índices de 80 a 90% de recidivas ao longo da vida. Outras abordagens são nas terapias comportamentais e cognitivas além da terapia ocupacional reabilitadora. A orientação familiar é indispensável para orientar estas famílias a manejar melhor com seus enfermos

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Prevenção de recaídas, a grande estratégia em saúde mental

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A Organização Mundial de Saúde – OMS estima que até 2020 a depressão será a principal causa de incapacitação em todo o mundo. Muitas pessoas se tornarão incapazes e improdutivas do ponto de vista laborativo e social. A depressão, além disso, acarretará muitos outros prejuízos: na previdência, na saúde, na economia, na vida afetiva e emocional etc.
Há atualmente, mais de 350 milhões de pessoas que sofrem de depressão e pelo menos 5% dessas pessoas que vivem nas cidades sofrem de depressão. No Brasil, estima-se que existam mais de 17 milhões de pessoas afetadas pela doença. Cerca de 850 mil pessoas morrem, por ano, em decorrência dessa enfermidade, especialmente por suicídio, do qual a depressão corresponde ao principal fator causal. A OMS informa também que, nos próximos 20 anos, essa enfermidade se tornará a mais comum do mundo, afetando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde.
No aspecto socioeconômico, a depressão é, entre as doenças mentais, a que mais acarreta custos econômicos e sociais para os governos, em razão do seu tratamento e por alterar a capacidade produtiva das pessoas. Na Europa, estima-se que a depressão gere um custo de 250 euros por habitante e atinja 21 milhões de europeus, produzindo custos para a economia em torno de 118 bilhões de euros por ano.
Os países pobres serão os que mais sofrerão com esse problema, pois registram mais casos de depressão, comparados com os países desenvolvidos. E os custos da depressão serão sentidos de maneira mais aguda em países em desenvolvimento, pois esses têm menos recursos para tratar desse transtorno mental.
Esses dados mostram claramente que, embora a ciência já tenha desvendado o caráter biológico da doença, o ambiente sócio cultural, as condições psicossociais e econômicas exercem um peso enorme na clínica, na epidemiologia e na recuperação dos pacientes.
O fato de vivermos em uma época e em uma sociedade conflitante, ameaçadora e instável do ponto de vista político, econômico, social e da segurança pública, isso colabora para gerar danos irreparáveis à estabilidade emocional, psicológica e social das pessoas. A descrença, as decepções e a desesperança, sentimentos comuns nos dias atuais, provocam profundas rupturas psicossociais, influenciando sobremaneira comportamentos depressivos. As frequentes mudanças em nossas referências sociais, éticas, religiosas e afetivas, também nos tornam mais vulneráveis a ocorrências depressivas.
O uso crônico de álcool e de outras drogas da forma como vem ocorrendo largamente em nossa sociedade, onde cada dia se bebe mais e, cada vez mais surgem drogas mais poderosas para o consumo indevido, representa uma condição importante entre as causas de depressão na sociedade atual. Isso certamente explicaria o fato de muitos jovens de pouca idade e mesmo crianças estarem apresentando cada vez mais depressões e outras doenças mentais.
Do ponto de vista psicológico, a depressão é considerada uma das piores condições humanas. As que já passaram por crises depressivas a referem como “uma dor na alma”, incomparável a qualquer outro sofrimento. Os depressivos apresentam uma angústia vital que só eles são capazes de senti-la e descrevê-la. A vida perde a cor, o sabor e o sentido. As pessoas estão sempre amarguradas, inexpressivas e infelizes. Se sentem sós no mundo e perdem inteiramente a esperança de se recuperarem de seus problemas. Para muitos, a crise depressiva é uma morte lenta e infindável, por isso muitos recorrem ao suicídio.
Apesar de tudo, os avanços verificados nos últimos 20 anos no tratamento da depressão, foram muito grandes. Os tratamentos são cada vez mais efetivos fazendo com que as pessoas afetadas pela doença se recuperam inteiramente. A depressão é uma doença recorrente, isto é, vai e volta. O recomendável é que, além do tratamento rigoroso da crise, que deve iniciar o mais cedo possível, as pessoas que já tiveram algumas crises na vida realizem “tratamento de prevenção de recaída” que impede que a pessoa volte a adoecer. Isso evoluiu muito nos últimos anos.
É preciso, portanto, que desde o momento em que aparecerem os primeiros sintomas depressivos, como insônia, desânimo inexplicável, desinteresse, apatia retraimento social, angústia insuportável, ideias de ruína ou culpa e outros sintomas depressivos, busque-se socorro médico, para impedir que esses sintomas evoluam. Fazendo isso, as depressões se revertem inteiramente retirando a pessoa de um “buraco sem fim”, como muitos dizem.
Na área da saúde mental faz-se necessário dispormos de ambulatórios especializados para atendimento do paciente depressivo, bem como suas famílias para lidarem com o problema: “A depressão é uma doença como qualquer outra doença e as pessoas têm o direito de ser aconselhadas e receberem os mesmos cuidados médicos que são dados aos portadores de quaisquer outras enfermidades. É uma doença evitável, prevenível e curável”. Infelizmente, ainda existem muitos preconceitos em relação a ela, fato que, a meu ver, complica mais ainda seu manejo.

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Como diagnosticar um dependente

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Como se distinguir entre consumidores de álcool e outras drogas, quem é dependente ou não é uma das tarefas mais difíceis e mais complicadas para quem trabalha com esses usuários. A inteligência do tratamento está aí. Se, se trata de um usuário que não apresenta qualquer queixa relativa ao consumo, só temos que recomendar medidas preventivas para evitar que essas pessoas não passem a ter problemas com relação ao uso.
Se por acaso, a pessoa já se encontra abusando do consumo, ao ponto de já ter problema com o uso do álcool ou outra droga, teremos que recomendar um conjunto de medidas para que essa pessoa não agrave seu problema. Se, por acaso, a pessoa já é um dependente de qualquer uma dessas substâncias, as recomendações são outras e mais específicas, recomenda-se tratamento imediato antes que a situação se complique mais ainda. Por último, recomenda-se tratamento de reabilitação psicossocial nos casos em que a pessoa já se encontra em estágio final de sua doença e já apresenta muitas perdas ocasionadas pela evolução da doença.
A Organização Mundial da Saúde – OMS traz uma contribuição importante nesta área, quando elaborou critérios que nos permite identificar, entre os usuários de drogas, os que são ou não, dependentes, já que nem todos os consumidores o são. Abaixo discorremos sobre esses critérios com mais detalhes.
1 – Manifestações fisiológicas, comportamentais e cognitivas características.
Usuários ao se tornarem dependentes mudam sua forma de comportamento e estas mudanças, às vezes indisfarçáveis, são acentuadas. A rigor, mudam inclusive traços caracterológicos e de personalidade. Além do mais, sabe-se que muitas destas alterações psicossociais e comportamentais estão associadas diretamente aos efeitos deletérios das drogas sobre o cérebro, órgão responsável pela nossa saúde ou doença mental.
2 – Prioridade ao uso da substância.
A proporção que avança o consumo da droga e proporcionalmente se instala a dependência, vai havendo uma espécie de priorização ao consumo da substância em detrimento a outros comportamentos anteriormente importantes ao indivíduo, onde o consumo da drogas vai se transformando cada vez mais em algo relevante e prioritário à vida da pessoa.
As outras atividades ou interesses, anteriormente importantes, como por exemplo, esporte, artes, estudos, trabalho, responsabilidades do dia a dia, compromissos sociais e familiares e até mesmo pela atividade sexual e afetiva, vão cedendo lugar e sendo substituídos pelo interesse predominante e, cada vez maior, pela substância. Pode acontecer que no futuro, a pessoa não faça outra coisa que não seja beber ou usar drogas.
3 – Forte desejo de consumir a substância.
Popularmente chama-se “fissura”, entre nós e de “craving”, entre os ingleses. Representa um desejo sem limites, incontrolável para consumi-las. Às vezes, isto é tão forte, que os mesmos são capazes de fazerem qualquer coisa, no sentido de adquiri-las: agredir, delinquir, mentir, roubar, matar etc. Esse comportamento compulsivo é atualmente considerado um dos sintomas mais importante elementos de diagnóstico da dependência. E, todos esses comportamentos se agravam á medida que se agrava a doença.
4 – Recaídas, após a abstinência:
Recair significa retomar um padrão de consumo da substância que fora anteriormente rechaçado. Frequentemente muitos dependentes que param de usar e que posteriormente retornam ao uso do álcool ou de outras drogas, reproduzem o mesmo comportamento anterior em proporções piores. Isto é, recair é um fenômeno sempre um estado pior que ocorria antes da parada. O que se sabe é que, independente do tempo que passaram abstinentes, estes usuários ao voltarem a utilizá-las passam a fazê-lo intensamente e de forma descontrolada.
5 – Dificuldade em controlar o consumo.
Os dependentes têm dificuldades intensas de interromperem o consumo das drogas quando iniciam o uso tanto no começo, quanto no meio e no fim deste processo. Ao iniciar o consumo não param mais, e prosseguem ininterruptamente, até atingirem altos níveis de intoxicação. Este fato é determinado pela compulsão onde o sujeito fica impossibilitado, literalmente, de frear este consumo. A frase clássica para definir isto é: “fulano quando começa a beber não para mais”.
6 – Presença dos sintomas de tolerância.
Tolerância é um fenômeno biológico, que envolve inúmeros mecanismos biológicos e comportamentais e que surge a partir da relação do sujeito com a substância. Quando a tolerância se instala essas pessoas terão sempre que aumentar a doses da substância consumida para obterem os mesmos efeitos adquiridos quando usavam doses menores. Isto é, vão aumentando indiscriminadamente o consumo da droga.
7 – Sinais de abstinência.
Abstinência diz respeito a uma série de sinais e sintomas de natureza física, psíquica e emocional em geral desagradáveis que surgem sempre que os usuários interrompem ou diminuem a quantidade da droga consumida.
Algumas pessoas dependentes de tabaco ou de álcool ao deixarem de usá-los ou mesmo por diminuírem suas doses consumidas, passam a apresentar tremores, ansiedade, insegurança, sudorese, taquicardia, insônia, dificuldade na concentração, respiração acelerada ou mesmo outros sintomas mais complicados com crises convulsivas, alucinações e delírios (álcool, cocaína, barbituratos etc…), todas estas reações revelam a abstinência.
8 – Persistência do uso, apesar dos danos.
À proporção que a dependência avança os usuários não se dão conta dos inúmeros problemas psicológicos, emocionais, sociais ou outros transtornos e, por conseguinte não param de usá-las. Dependentes de álcool com cirrose, diabetes hipertensão arterial cânceres e diversas outras doenças não param de beber. Fumantes com câncer de pulmão, com problemas cardiovasculares e respiratórios não param de fumar. Pessoas com problemas emocionais, sociais e familiares adquiridos por uso de drogas não impedem que os mesmo parem de usar, e assim por diante.
De conformidade com a OMS, se alguém apresentar pelo menos três, dos oito itens acima citados, os mesmos já apresenta algum grau de dependência.

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Distinção entre compulsão e vontade de beber

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Entre os dependentes de drogas (álcool e outras drogas), existem diferentes sintomas que, de conformidade com a evolução da doença vão se estabelecendo progressivamente ao ponto de posteriormente passarem a ser típicos dessas pessoas. “Neste artigo, tratarei da compulsão vulgarmente chamada de “fissura” ou craving”, que é entre os sintomas de dependência um dos mais importantes para o diagnóstico dessas doenças. Esse sintoma interfere diretamente na disposição do enfermo para se tratar, bem como nas sucessivas recaídas que se observa no processo de recuperação e tratamento.
Fissura e compulsão são dois termos já largamente conhecidos pelo público em geral, graças às centenas de artigos já publicados a seu respeito, embora ainda não se tenha pleno conhecimento sobre sua natureza biológica e comportamental.
“Fissura” é um termo popular em nosso idioma. Entre os ingleses é denominada de “craving”, que nada mais é do que um desejo ardente, incontrolável, irrefreável de consumir a droga da qual dependa. Em princípio, só sente fissura quem é dependente, seja de que droga for. É um sintoma que pode estar presente em outros transtornos psiquiátricos, portanto não é exclusivo dos dependentes de drogas. Os alcoólatras e outros dependentes, portanto, sentem essa fissura sempre que param ou reduzem o volume de ingesta das substâncias das quais dependem. Este fenômeno apresenta as seguintes características:
1 – está presente na síndrome de dependência;
2 – surge quando o consumo da droga é interrompido;
3 – a ânsia (compulsão) de consumir é quase sempre superior ao seu controle;
4 – favorece sempre a recaída;
5 – a obtenção da droga cessa os sintomas;
6 – é classificada como leve, moderada ou grave.
7– sua intensidade está associada à intensidade da dependência;
8 -é involuntário, evolutivo e envolve mecanismos neurobiológicos, circunstanciais/psicológicos;
9 – há drogas que aliviam os sintomas do “craving”;
10 – interfere na decisão de se tratar;
A compulsão é uma distorção psicopatológica da vontade e/ou da volição. É uma disfunção volitiva. Enquanto que na vontade a pessoa exercita livremente sua capacidade de querer ou não usar uma substância, o compulsivo se vê obrigado imperiosamente ou compelido a fazê-lo. Portanto a grande distinção é essa. O dependente químico, não usa drogas porque quer, e sim por que é obrigado. Eis, o grande problema, porque a partir do momento em que alguém se vicia no uso de uma droga, ele se escraviza perde sua autonomia, sua capacidade de escolher o que quer e o que não quer, perde sua disposição e sua liberdade nas escolhas e nas opções que fará na vida daí pra frente. Será comandado por ações compulsivas em que o comando das mesmas já não se dará de forma efetiva, pois ele irá consumir a substância por motivos incontroláveis.
Estes 10 itens acima mostram claramente a gravidade deste problema e todos são muito importantes em sua caracterização, a dificuldade de aderir a um tratamento e as recaídas são indiscutivelmente as mais importantes consequências do “craving”, justamente por interferir no tratamento e na recaída.
Do ponto de vista da neurobiologia do “craving”, já temos acumulado um vasto conhecimento sobre como ele surge, muito embora se saiba que ainda falta muito para esclarecer totalmente sua natureza. O fato é que tudo se dá em determinadas áreas do cérebro intermediado por reações envolvendo os neurotransmissores cerebrais: dopamina, serotonina, acetilcolina e outros.
Estudos de neuroimagem utilizando técnicas como a tomografia por emissão de pósitrons (PET) têm permitido a identificação de tais anormalidades neurofuncionais criando condições favoráveis para que em um futuro próximo se possa manejar melhor com este sintoma. Além do mais, graças aos recentes os avanços da ressonância magnética (RM) funcional, já se pode vislumbrar as áreas afetadas pela compulsão, fato que está certamente favorecendo uma maior compreensão da fisiopatologia desse fenômeno.
Do ponto de vista do tratamento, nos últimos 15 ano avançou-se muito no tratamento da compulsão. Na área farmacológica os avanços foram expressivos, sobretudo com o surgimento de drogas denominadas de anti-compulsivas, anti-fissura ou ainda, anticraving, as quais, impedem ou reduzem a busca incontrolável por álcool ou por outras drogas, e diminuem drasticamente o mal estar físico, psicossocial e emocional ocasionado pela privação do uso dessas drogas. Esses dois mecanismos de ação farmacológicos, são considerados atualmente como fundamentais para o manejo adequado dos dependentes de drogas.
Entre os transtornos que mais se beneficiaram com estes medicamentos foram o alcoolismo e o tabagismo. Outras drogas estão sendo testadas e que deverão ser lançadas em breve se destinam ao controle do “craving” dos dependentes de cocaína, através de mecanismos, diferentes aos anteriores.
Outros avanços significativos ocorreram na área ocupacional e psicossocial com técnicas avançadas no tratamento e reabilitação destes pacientes, as quais possibilitarão diretamente maior adesão aos tratamentos propostos, impedindo também, por conseguinte, altos índices de recaídas frequentemente encontrados ente estes doentes.

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