Consumo de álcool e pandemia II

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               O Brasil figura entre os países que mais bebem no mundo. Os índices são alarmantes e cada vez mais ocorrem problemas advindos desse consumo, no plano da saúde, do social, da segurança, da violência urbana e doméstica e da economia e estes problemas se sobressaem, entre os tantos outros que temos em nosso país, ao ponto dessa questão, ser considerada um problema de saúde pública.

           Em média, cada pessoa no mundo bebe 6,2 litros de álcool puro/ano. Apenas 38,3% da população mundial faz uso dessas bebidas. Isso é, a minoria bebe pela maioria. Os que bebem, na verdade, estão consumindo 17 litros/ano, em média. O alto consumo provoca mais de 3,3 milhões de mortes/ no mundo e por volta de 200 doenças, estão relacionadas direta ou indiretamente ao consumo excessivo de álcool.

              Há em nosso país, um milhão de pontos de venda de bebidas alcoólica, isso corresponde, a mais ou menos, um ponto de venda para cada duas mil pessoas e isso é um número bastante elevado considerando que essa aditividade comercial, colabora bastante para as pessoas beberem. Nosso padrão de consumo de álcool é excessivo regular, isto é, as pessoas em geral bebem de forma exagerada (beber em binge), até se embriagarem, padrão de consumo, nefasto à saúde física, social e mental.

            O álcool etílico, farmacologicamente, é uma substância de múltiplas ações no Sistema Nervoso Central- SNC. Ele, deprime as atividades do cérebro, muito embora, o consumo de baixas doses, é euforizante. Paradoxalmente, em doses baixas, reduz a ansiedade e promove certo relaxamento e bem-estar. Porém, em doses excessivas e regulares, faz o contrário, provoca crises de ansiedade e mal-estar difuso, sono irregular, alterações do apetite, da atenção, da memória de curto prazo e do pragmatismo.

            O álcool é também hedônico (induz ao prazer), pois age, preferentemente, em áreas cerebrais responsáveis pelo prazer humano. Essa área é designada, na nomenclatura científica, como área de recompensa cerebral – ARC ou área do prazer. Justamente, por ser uma região do cérebro altamente rica em DOPAMINA, neurotransmissor cerebral, encarregado, entre outras coisas, de proporcionar prazer. Por isso, o álcool ingerido em pequenas doses, melhora o desejo, o desempenho, o apetite sexual, a disposição, o interesse, a capacidade cognitiva e as relações sociais. Em excesso, é altamente patogênico e faz, justamente, o contrário.

                 Outro dado epidemiológico importante, é que 65% da população brasileira bebe e entre 10 a 13% dessa população são dependentes de álcool (alcoólatras). No Brasil, Quase 3% da população, acima de 15 anos de idade é considerada alcoólatra, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Representa mais de 4 milhões de pessoas, nessa faixa etária. Segundo o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (II-Lenad), 32% da população brasileira bebe moderadamente e 16%, bebem de forma nociva.

                Como vimos acima, o uso de álcool ocasiona mais de 3 milhões de mortes por ano no mundo. No Brasil, cerca de 40 mil pessoas morrem por acidente automobilístico e 60 mil por homicídios. Esses dados mostram claramente a relevância desses problemas entre nós, nos chamando a atenção para a gravidade dessas questões.

             A OMS demonstra que o consumo de bebidas alcoólicas em pessoas acima de 15 anos, acelerou na década: em 2006 o consumo per capita/anual, era de 6,2 litros de álcool puro, em 2016 essa média passou para 8,9 litros/ano. O aumento é de 43,5%. Esses índices referendam estudos nos quais constatam que a população jovem brasileira está bebendo muito, ao ponto de, até 17 anos de idade 7% dessa população já serem dependentes de álcool. Isso é um problema muito grave do ponto de vista médico e psiquiátrico, pois todos esses jovens, com esse tipo de doença mental (alcoolismo), irão precisar de ajuda e tratamento profissionais.

             O consumo nacional de álcool está acima da média mundial, que é de 6,4 litros percapta/ano. Além do mais, o Brasil é o terceiro país na América Latina e o quinto em todo o continente com o maior consumo de álcool per capita, ficando atrás apenas de Canadá (10 litros), Estados Unidos (9,3 litros), Argentina (9,1 litros) e Chile (9 litros).

               Por último, sabe-se que o consumo excessivo do álcool está associado com mais de 60 condições clínicas (agudas e crônicas): entre estas, hipertensão arterial, diabetes e muitas outras doenças agravadas pelo consumo de álcool. Além, evidentemente de todos os outros problemas já citados anteriormente, sobretudo, sociais, como a violência doméstica e urbana, questões laborais, comportamento sexual de risco, entre outros. Sobre isso, o ponto que a OMS mais destaca é o impacto do consumo exagerado de álcool e o sistema imune. E, isso vem ocorrendo nessa época da pandemia do COVI-19. Estudos demonstram que houve um aumento de 50% no consumo de bebidas destilados e de 40% no de bebidas fermentadas.

                Evidentemente, que isso sinaliza para uma situação complicada considerando que o que mais precisamos, no presente momento, é que as pessoas estejam bem de saúde e, sobretudo com seu sistema de defesa arrojado (imunidade pessoal) para se contrapor à infecção pelo Corona vírus, tendo em vista que esse é um sistema é que irá nos defender dessa agressão viral. As angustias individuais, impostas pelas restrições sociais (isolamento social), o medo e pavor das pessoas de se contaminarem pelo vírus, as enormes frustrações por romperem suas atividades de trabalho, as perdas incomensuráveis financeiras, de emprego de renda, de outras atividades econômicas, as inúmeras mortes ocorridas de parentes, de pessoas queridas e amigos por complicações da COVID-19. Enfim, todas essas mazelas que estamos passando, são razões suficientes para explicar parte dos motivos das pessoas estarem atualmente bebendo mais.

            Observa-se, que a absoluta maioria dessas pessoas que estão bebendo excessivamente, já eram consumidores habituais e a pretexto desses fatores acima, enumerados, aumentaram, sobremaneira, esse consumo. Portanto, não é algo novo ocasionado pela pandemia. Pessoalmente, acredito que os novatos que estão iniciando a beberem agora, são bem menores.

            Outro fato, é que temos um número expressivo de jovens, adultos e da terceira idade, dependentes de álcool (alcoólatras), que se encontram em plena vigência de suas doenças e a maioria deles, sem qualquer tratamento psiquiátrico ou acompanhamento psicossocial, fato esse, os tornam mais vulneráveis às recaídas, portanto, mais propensos a beberem mais.

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O Distanciamento social

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                 Isolamento social, reclusão social, confinamento domiciliar, distanciamento social, esses são, ente outros, os nomes dados à atitude das pessoas ao se recolherem em suas casas como uma das estratégias recomendados pelos, Ministério da Saúde e OMS, para impedir o alastramento da contaminação pelo SARS-CoV-2.

                Além do distanciamento social e de todas as outras recomendações propostas por esses órgãos para o enfrentamento da pandemia, sabe-se que, se aplicadas em bloco, os prejuízos seriam bem menores aos que estão previstos se não forem adotadas tais medidas. Portanto, são recomendações vitais à favor da saúde, da segurança e da vida. De tal forma, que adotar tais medidas, passa a ser um dever do estado e de cada um de nós no enfrentamento dessa situação.

             Essas medidas sanitárias e epidemiológicas, para o controle do vírus e progressão da doença, bem fundamentadas, estão ocorrendo em um tempo especial, onde estávamos, absolutamente, despreparados, em todos os sentidos, para encarar o que está aí. Nos pegou a todos de surpresa, gerando impactos brutais em nossa vida, pessoal, social, emocional, comportamental e econômica, além de outros aspectos da nossa vida associativa, provocando, por isso mesmo, uma desadaptação psicossocial geral na população

              O Slogan das campanhas é “fique em casa”, está disseminada no mundo inteiro como medida sanitária e epidemiológica de segurança e de enfrentamento da pandemia. Talvez tenha sido a medida mais complexa e desafiadora recomendada para se enfrentar o que vem ocorrendo conosco. Provocou profundas mudanças em nossos hábitos, costumes, em nosso psicológico e na maneira de vivermos no mundo. Aparentemente, ficar em casa não é nada de especial, pois queiramos nós ou não, nossa casa é um dos mais importantes ambiente, onde com nossas famílias, implementamos grande parte de nossa existência. O problema, surge, quando ficar em casa implica em uma profunda ruptura de nossos outros laços sociais, no abandono das nossas atividades laborativas, no nossos desvinculamento físico presencial, na separação das pessoas com as quais tínhamos intimidades, além de uma infinidade de outros rompimentos e separações em nome da nossa proteção contra o Corona vírus.

                 Nessas condições de mudanças profundas porque estamos passando em nome da proteção da nossa vida e da saúde, essa compreensão, não impede o surgimento desse mal-estar profundo porque todos estamos passando no presente momento. Isto é, mesmo se sabendo que o grande motivo para explicar todas essas mudanças seja, absolutamente relevante, isso não impede a frustração, o medo e tristeza que vem tomando conta de todos nos dias atuais.

                Do ponto de vista da saúde mental, alguns problemas já começam a aflorar mais abundantemente na população. O medo do contágio com do Corona vírus e da COVID-19, tem deixado muita gente em estado e choque, assustados, apavorados e com pânico, pois esse fato por si sós, provocam níveis profundos e insuportáveis de desgastes emocionais, de stress e na cognição. Me refiro, especialmente, à população mais vulnerável de riscos para as situações acima, que são os profissionais da saúde (médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e outros trabalhadores que exercem suas atividades em hospitais, UPAS, Prontos-Socorros etc., os quais se expões, diariamente, à enormes riscos de uma contaminação a esse virus. O pior de tudo, é que já surgem graves denúncias que esses profissionais estão trabalhando em condições precárias de segurança em muitos locais de nosso estado. Fato que torna a situação mais ameaçadora, assustadora e insuportável do ponto de vista emocional.

                 Outras populações também muito afetadas por essa situação psicológico e social dessa pandemia, são os idosos, os portadores de doenças crônicas respiratórias, diabéticos, hipertensos, e portadores de outras doenças crônicas. Esses, estão também bem mais assustados. Essa situação de ansiedade estrema e de muita apreensão e sofrimento, pode incrementar a possibilidade dessa população de outras desenvolverem uma série de transtornos psiquiátricos que já são esperados, epidemiologicamente, em situações de grandes catástrofes, pandemias e desastres, guerras etc. Ou mesmo em situações de grandes crises psicossociais, semelhante a que estamos passando no presente momento.

                Do ponto de vista psiquiátrico e comportamental, os transtornos previstos para ocorrerem ante esses problemas, são: Transtorno de Stress Pós-Traumático – TEPT, ocasionado por uma disfunção da ansiedade. se caracteriza clinicamente por: sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais e comportamentais ocasionado por ser vítima ou testemunha de atos violentos ou de situações traumáticas graves os quais representaram ameaça à vida, a vida de terceiros. São situações carregadas de dor e muito sofrimento. Apresentam flashback, recordam, persistentemente, os fatos, mesmo já tendo passado por ele, revivendo-o.  Essa situação é conhecida como revivescência, reminiscência e a mesma desencadeia uma gama enorme de reações psíquicas e corporativas e comportamentais, nessas pessoas.

             Entre 15% e 20% das pessoas que, são vítimas ou presenciam tais acontecimentos (violência urbana, agressão física, abuso sexual, terrorismo, guerras, pandemias, tortura, assalto, sequestro, acidentes, catástrofes naturais ou não, desenvolvem o TEPT.

             Outros transtornos nesses momentos iniciais da pandemia e que também bases na ansiedade disfuncional, são: Transtorno de Ansiedade Generalizada – TAG, Transtornos Fóbicos, Transtorno de Pânico e Síndrome de Burnout. Como dissera anteriormente, todas essas condições clínicas estão previstas acontecerem no início e em períodos intermediária dessa pandemia, forma significativa, epidemiologicamente, na população atual.

                 Em uma fase final desses acontecimentos, ou pós pandemia, em razão de tod sofrimentos, pesar e dor associados a pandemia, sobretudo às perdas enormes, as quais todos estamos sujeitos (saúde, trabalho, renda, laser, vida social, mortes, perdas materiais e patrimoniais, privações, dor e sofrimento) é esperado o aparecimento de graves episódios depressivos, com o incremento significativo de suicídios na população geral. Portanto, todo esforço que fizermos no sentido de impedir a proliferação desse vírus e o surgimento do COVID 19 é pouco, ante essa tragédia anunciada que há por trás dessa pandeia. Cuidemo-nos!

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Saúde mental em época de COVID -19

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            Atualmente, o que mais se ouve falar é de crise e a que se destaca é a da saúde pública ocasionada pela infestação do Corona Vírus e sua doença, o COVID-19. As crises, independentemente de sua natureza, têm de ser identificadas, enfrentadas e modificadas e é justamente isso que tem sido feito pelo mundo afora, para enfrentarmos os danos ocasionado por essa crise na saúde do planeta.

               Como outras pandemias, essa será transitória e daqui a pouco passará, muito embora, se saiba que ela causara um estrago gigantesco em todas as dimensões humanas. Desestabilizando sistemas internacionais de saúde, precarização das atividades econômicas e o emprego, danos irreparáveis às relações afetivas e sociais, danos, emocionais, psiquiátricos e psicossociais graves, além dos danos materiais e outras doenças que a acompanharão em seu curso e, principalmente, as inúmeras mortes que ocorrerão em vigência.

              A crise imposta pelo Corona, já está provocando pavor e ameaças à população e já promove mudanças profundas em nossos hábitos, costumes sociais e padrões comportamentais. Essa crise como as outras, se instalam de forma lenta ou abrupta. Foram ocorrências inesperadas que provocaram respostas em bloco dos organismos ante aos eventos inerentes a ela. Essa, como as outras, não se encerrará em si mesma. Está inserida em um contexto social, sanitário, econômico, cultural e psicológico. Ela se sucederá e se interromperá ao longo do tempo.

        As crises estão sempre associadas com algo ruim, fatal e trágico. Nessa expectativa, passa a ser uma condição que nos inspira medos, inseguranças e perplexidade. Nos mobiliza, mas ao mesmo tempo somos levados a enfrentá-las utilizando todos os recursos necessário para seu controle.

                Nossa história no planeta é repleta de crises. Guerras, epidemias, endemias, catástrofes climáticas, tsunamis, graves crises econômicas e políticas, crise na ética, na segurança e em muitas outras dimensões humanas. Superamos, umas às outras, deixando sequelas e consequências duradouras em todos nós. Pagamos preços insuportáveis, mas sobrevivemos à todas.

                  Se voltarmos a visão para dentro de nós mesmos, veremos que tais fenômenos, fazem parte da história pessoal e comportamental. Por crises emocionais, no desenvolvimento pessoal e social, mentais, afetivas, psicossociais e comportamentais, todos nós já passamos, nas diferentes etapas da vida. E cada uma dessas, deixam marcas indeléveis, inesquecíveis em nossa forma de agir e de pensar.

                Por se tratar de situações de profunda ameaça à nossa segurança, à nossa saúde e ao nosso bem-estar pessoal e social, as crises promovem inseguranças e medos profundos, aborrecimentos, reclamações, descontentamento, desentendimentos, pesar e dor, uma serie de sentimentos desagradáveis, os quais provocam mal-estar geral. Isso gera frustração, medo, expectativa negativa e cada um de nós iremos vivê-la individualmente, de forma muito particular, assim como particulares serão as respostas que cada um atribuirá nesses momentos.

             Atualmente, a ameaça à vida e a saúde passou a ser a preocupação número um do planeta. Todos, estamos empenhados a enfrentar essa pandemia. Estamos nos mobilizando para enfrentar esse momento atual de profundo desafio a vida do homem. Essa ameaça global ocasionada pelo Corona vírus, nos pegou de surpresa e de forma inesperada. Rapidamente se alastrou pelos 4 cantos do planeta, fazendo vítimas fatais e deixando inúmeras sequelas. A doença que ele provoca que é a COVID 19, apesar de ter uma baixa letalidade, pode até levar a morte pessoas com vulnerabilidades.

               Do ponto de vista psicológico e emocional, os danos já começam a surgir. As recomendações de isolamento familiar, os impedimentos de ir e vir, as restrições sociais, provocou mudanças profundas na comunicação e nas relações humanas. O medo disseminado através da enxurrada de notícias sobre o assunto, muitas improcedentes sobre o e o COVID -19, vem causando pavor em muita gente. O absenteísmo laboral em massa, a possibilidade real de morte advinda do contágio do vírus e de sua doença e as expectativas de alguém se contaminar está criando um clima psicológico muito desagradável e ameaçador, gerando stress e ansiedade difusa.

                 A perspectiva, é que esses quadros de mal-estar psicossocial geral se espalhem na população. Entre os transtornos ansiosos mais esperados são: estresse pós-traumático, ansiedade generalizada, transtornos fóbico ansiosos, transtornos obsessivos compulsivos e outros transtornos de espectro ansioso. E porque isso? Simplesmente, porque a ansiedade é o principal mecanismo neuro-adaptativo que lançamos mão, do ponto de vista neurocomportamental, para enfrentarmos as situações novas, fora e dentro da gente, impostas pela crise atual e isso pode disfuncionar esse mecanismo, provocando doença nas pessoas.

             Em um segundo momento psicológico, devido às inúmeras perdas profundas e as dores imensas vividas por cada uma das pessoas em razão da pandemia, haverá certamente quadros depressivos disseminados na população geral, de intensidades variadas, leves, moderados e graves provocas por morte de parentes e pessoas queridas, perdas materiais, perdas do trabalho e perdas da saúde. Fatalmente, ocorrerá um número maior de suicídios e de outros transtornos depressivos do humor. Os que estarão mais vulneráveis à esses quadros psiquiátricos são os profissionais da linha de frente da pandemia, como os da saúde, os gestores públicos e muitos outros trabalhadores que trabalham para garantir as atividades assistenciais a esses enfermos.

             Os que estão reclusos em suas casas, impedidos de sair e de trabalharem. Os idosos portadores de doenças crônicas, jovens com vida social ativa, trabalhadores impossibilitados de trabalharem, portadores de doenças mentais graves, usuários de álcool, tabaco e outras drogas certamente serão os mais afetados pela virulência desse Corona e dessa pandemia, considerando o estado de saúde dessas pessoas.

             Vamos nos cuidar uns aos outros e seguir todas as orientações que nos estão sendo dadas pelas autoridades sanitárias. Sejamos mais solidários, ajudando aos mais necessitados. Transforme sua casa em um ambiente salutar e prazeroso, assegure boas práticas higiênicas e por último cuide bem de você mesmo e de sua mente.

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Prudência, criatividade e bom-senso em momentos de crise – I

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            O mundo, o Brasil, os estados e as cidades estão com os olhos virados para a COVID-19. Os esforços, as medidas e ações, surgem, praticamente, todos os seguimentos institucionais, empresariais e sociais para o controle da transmissibilidade do vírus causador dessa doença. A meta é interromper a transmissibilidade desse vírus e assim impedir o adoecimento das pessoas.

            Há, uma particularidade importante com a qual devemos nos preocupar, qual seja, as consequências e o impacto que toda essa situação possa causar no comportamento e na saúde mental da nossa população. Temos em nosso pais, indicadores de saúde mental muito desfavoráveis revelados por dados da OMS e do Ministério da Saúde. Ambos informam que temos 50 milhões de doentes mentais no Brasil. Somos o primeiro país do mundo em casos de transtornos de ansiedade e o segundo em depressão.

             Quase 10% da população tem algum desses transtornos e só a depressão afeta quase 6% da população e os transtornos de ansiedade, em torno de 9.6%. Mais de 8 milhões de brasileiros, adultos e adolescentes, que corresponde a quase 10% dessa população de adultos e jovens, experimentaram maconha no último ano. Somos o primeiro no mundo com relação ao consumo de craque é estamos entre os primeiros quanto ao consumo de álcool. Dos 65% que bebem em nossa população, 10 a 13% são dependentes de álcool. Diante de todo esse cenário, fatores sócio econômicos, como pobreza e desemprego e ambientais, como o estilo de vida da população, pesam muito na carga global das doenças mentais.

                 São números expressivos que mostram que a saúde mental de nossa população é precária e a qualidade de vida, ainda pior, justamente se considerarmos as desigualdades sociais que são enormes, o desemprego, o subemprego, um sistema de saúde frágil e repletos de problemas, uma das maiores taxas de criminalidade do mundo, uma população carcerária gigantesca, problemas políticos sociais e econômicos graves, a corrupção e muitas outras mazelas que justapostas configurarão um quadro caótico na saúde, na segurança, na política, na economia e em muitas outras áreas da nossa vida associativa.

               É nesse cenário encontrado em nosso país que o vírus se instalará, um país com uma infraestrutura, economia e aspectos sociais bem diferente dos Estados Unidos e dos países europeus que ainda enfrentam essa pandemia. E é também nesse cenário que estão sendo adotadas medidas para o enfrentamento da pandemia e é também nesse cenário que teremos que ter muita prudência, criatividade e bom-senso para não adoecermos mental e emocionalmente, nesses momentos de crise.

                 Algumas medidas e recomendações as quais nos foram impostas, por recomendações médicas, sanitárias e por políticas públicas na saúde, consideraram, prioritariamente, o controle epidemiológico ou sanitário do Corona-vírus e deram pouca atenção aos riscos à saúde mental das pessoas submetidas a essa situação. Sabe-se,que essasque essas mesmas medidas gerais podem ter um impacto negativo na vida das mesmas, do ponto de psiquiátrico e psicossocial.

             O confinamento social, isolamento social ou afastamento físico, uma das medidas mais impactantes, altera, fortemente, entre outras coisas, um dos pilares mais importantes que garantem o bem-estar e a saúde mental da população, que é conviver socialmente, pois essa é uma particularidade ou condição fundamental e inata aos seres humanos, somos seres eminentemente sociais e em sendo alterada essa prerrogativa põe-se em risco a saúde mental e o bem-estar das pessoas.

            O fato das pessoas poderem ir e vir, circularem entre si, se darem umas as outras, se relacionarem, se abraçarem, se beijarem, se cumprimentarem socialmente, são prerrogativas fundamentais que fazem parte da sociabilidade humana. A nossa segurança, a saúde física, psíquica, emocional e social, o nosso bem-estar social depende também das relações sociais. Ao estarmos em privação social, mesmo por motivos relevantes como os que estão sendo propostos alteram essas necessidades humanas e naturais, pode gerando descompensações emocionais, pessoais e sociais profundas, quanto ao equilíbrio mental. Essa situação pode ser revelada por: angustias, tristezas profundas, transtornos ansiosos, inseguranças, retraimento social mórbido, sensações de perdas, depressões, estresse social, fobias e muito outros problemas psiquiátricos, emocionais e psicossociais.

              O pavor disseminado na enxurrada de informações sobre a doença e o vírus, que todos recebem a cada segundo pelas mídias e pela grande imprensa, muitas de caráter sensacionalistas pode provocar inseguranças, dúvidas, incertezas, apreensões, muito embora em momentos como esses os profissionais da comunicação são fundamentais para o manejo da crise.

               Outro fato relevante é a interrupção das atividades laborativas (formais ou informais) que as pessoas realizam, que por imposição da quarentena ou outras medidas de restrições sociais, tornam essas atividades impedidas de serem realizadas. Isso, fatalmente, implicará em danos à saúde mental dos trabalhadores. A possibilidade real de muitos perderem seus empregos, torna-se mais grave a situação pois essas pessoas se tornam mais vulneráveis a apreensões, medos e inseguranças, pondo em risco a saúde mental dos trabalhadores.

              O medo iminente da morte, advindo do contágio com o vírus e ao desenvolvimento da COVID -19, sobretudo as pessoas mais vulneráveis: idosos acima de 60 anos, portadores de doenças respiratórias, cardiovasculares e endocrinológicas e outras enfermidades que provocam imunossupressão, tornam essas pessoas mais inseguras preocupadas e apreensivas colaborando destarte para problemas psiquiátricos e emocionais.

               Paciente doentes mentais em tratamento médico, os que já estão assintomáticos, por estarem em tratamento de manutenção, ou os que já receberam alta médica, correspondem um grupo especial de pessoas que podem sentir um impacto grande de toda essa situação. Portanto exigem maiores cuidados. Recomenda-se, portanto, que esses pacientes mantenham seus tratamentos em curso.

           Que se ofereça atenção especial em saúde mental aos trabalhadores da saúde que estejam não fronte no controle da pandemia, pois também são pessoas que estão mais expostas ao desenvolvimento de transtorno de stress pós-traumático. Desfrutem de suas casas e de suas famílias, até poderem, livremente, sair e conviver. Peçamos a Deus que não demore.

           Para agravar mais ainda a situação que se insurge, epidemiologistas alertam que há a possiblidade de COVID – 19 com o surto de gripe comum, que nos assola todos os anos e com surto de dengue, em suas diferentes forma de contágio.

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Preconceitos, formas veladas de violência

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Cada vez mais a sociedade civil deste país se insurge contra as incongruências e a violência contida nos preconceitos e nos estigmas sociais, relacionados com doentes mentais, seus tratamentos e a família desses enfermos. Esses preconceitos são muito antigos e se verificam em de diferentes situações: contra gays, negros, pobres, prostitutas, nacionalidades e entre esses, os doentes mentais. Nesse particular, estes são muitos profundos e mais antigos ainda, pois desde os primórdios da Psiquiatria que se sabe que eles existem, provocando danos e prejuízos irreparáveis a estes doentes, estigmatizando-os, segregando-os e os isolando do convívio social.

Preconceitos e estigmas são na realidade condições pejorativas desvalorativas dirigidas contra alguém ou contra algo que ocorre na realidade. São conceitos, pré-anunciados, antecipados, em torno de algo, alguém ou acontecimento ou sobre o que de fato ocorre, na realidade. Os preconceitos, estão quase sempre inseridos em um contexto social, psíquico ou cultural ou a condições específicas que fazem parte dos indivíduos e de suas relações. Em geral os preconceitos são estigmatizantes e segregacionistas onde indivíduos, práticas sociais, fatos, acontecimentos, eventos ou mesmo condições psicossociais, são desqualificados, mal vistos e desconsideradas, em razão de uma apreciação destorcida dessas realidades, desses fatos ou dessas pessoas ou desses acontecimentos, os quais são postos à margem da realidade. Em princípio, todos os preconceitos são repletos de violências contra o que, ou a quem se dirige.

Particularmente, sobre preconceitos e doença mental a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, há 08 anos, desenvolveu a campanha “A Sociedade Contra o Preconceito”, lançada durante o XXIX Congresso Brasileiro de Psiquiatria. Essa campanha ganhou notoriedade, nacional e internacional, de tal forma que culminou com o projeto “Psicofobia é um Crime” que, após várias audiências públicas, apresentou emenda ao projeto de reforma do Código Penal, para criminalizar a segregação de portadores de transtornos mentais.

O programa “Psicofobia é um Crime” da ABP, visa institucionalizar nossa luta de combater os preconceitos e os estigmas que ocorrem na psiquiatria, principalmente contra os enfermos psiquiátricos e seus tratamentos. Trata-se de um manifesto consciente, responsável, humanizador, visando extirpar os tais preconceitos e/ou qualquer outra forma de descriminação que exista sobre os doentes mentais. É uma forma de demonstrar nossa indignação e disposição de lutar contra todo tipo de descriminalização que hala, sobretudo a esses enfermos, aos médicos psiquiatras e a psiquiatria como especialidade médica, por reconhecer-se que são práticas nefastas e não ajudam na recuperação nem na inserção social dessas pessoas.

Através deste Programa “Psicofobia é um Crime”, nós psiquiatras já avançamos muito. Artistas, poetas, políticos e escritores, cientistas e pesquisadores já se apresentaram na abertura dos nossos Congressos de Psiquiatria tratando de tais preconceitos, e muitos deles relatando suas próprias experiências como portadores de alguns transtornos psiquiátricos ou de alguns parentes seus. Além disso, redes de tvs e grandes jornais nacionais atualmente se dirigem á ABP para ouvi-la quando o assunto é sobre doença mental, fatos que nunca houve na história da Psiquiatria desse país.

Entre essas figuras de notoriedade pública destacamos o grande humorista Chico Anízio, o narrador e comentarista esportivo Luciano do Vale, o grande poeta maranhense Ferreira Gullar e tantas outras personalidades públicas, que de forma despretensiosa e com elevado espírito de solidariedade humana se dispuseram a realizar esses autos relatos, sobre suas doenças mentais, para ajudar a Psiquiatria a enfrentar esses enormes preconceitos nessa área.

É bom que se diga, que as doenças mentais obedecem às mesmas regras, leis e princípios que regem as demais doenças humanas, só diferindo quanto a forma de se expressarem clinicamente, e nada mais. São doenças que, como muitas outras, se tiverem precocemente um bom diagnóstico e um tratamento adequado terão um prognóstico favorável e muitos desses enfermos se recuperam inteiramente ao ponto de levarem uma vida absolutamente normal, como qualquer um.

A evolução nos critérios de diagnósticos dessas enfermidades, os avanços farmacológicos e outras formas de tratamentos bem como os avanços nos recursos laboratoriais hoje disponíveis são consideradas avanços absolutamente importante no controle clínico e epidemiológico dessas enfermidades. Fatos que vem colaborando sobre maneira para a derrubada dos estigmas aqui encontrados.

De tal forma que essa imagem malévola, demoníaca, amedrontadora, segregacionista bem como de que acreditam que doentes mentais são loucos, violentos, endemoniados, deficiente irrecuperáveis, intratáveis e muitos outros preconceitos é uma tremenda violência praticada contra essas pessoas, pois semelhantemente a muitos outros doentes, esses podem se prevenir, tratar, se recuperar e levar uma vida feliz e tranquila como a de todos. Por extensão, tais preconceitos resvalam para a Psiquiatria, enquanto especialidade médica, para os psiquiatras, para os hospitais psiquiátricos e, sobretudo para os tratamentos aplicados a esses enfermos.

            Para muitos, a Psiquiatria, é uma especialidade que trata de loucos, de malucos, desconhecendo completamente e de forma maldosa o alcance médico, social e humanístico que recaem sobre os ombros desses especialistas. Desconhecendo, o valor e a importância da ciência que há por trás dessa prática médica e desconhecendo, sobretudo o imenso valor social na prática desses médicos.

               Essa uma crença popular antiga, pejorativa, preconceituosa, que até hoje impede de muita gente ir ao psiquiatra para tratar de seus problemas, comportamentais ou emocionais, e deles se livrarem. A doença mental, como outras doenças humanas, quanto mais cedo for diagnóstica e tratada melhor, tanto para os enfermos quanto para seus familiares. Quanto mais tarde, pior. Portanto, lutemos arduamente contra todos esses preconceitos contra os doentes mentais, seus tratamentos e os profissionais que cuidam desses enfermos.

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Internar, um imperativo a favor do paciente.

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Esse é o segundo artigo que trata do assunto, internação em Psiquiatria, embora permaneça sendo amplamente discutido, ainda há uma celeuma, em torno desse assunto. Reconhece-se, que de fato é um tema deveras importante e que devemos realmente discuti-lo, abundantemente, para melhor entender como funciona esse processo.

 Internar alguém por um transtorno médico é um dever profissional e uma prerrogativa ética, moral e legal dos enfermos, em condições especiais no curso de uma doença as quais possam justificar tal indicação. Do ponto de vista médico, nenhum profissional, independente da espacialidade, sugeriria que se hospitalizasse alguém, sem uma base clínica e ética que a justifique. As condições agudas, com risco de morte e comportamentos autodestrutivos ou antissociais (psicóticas) figuram entre as manifestações médicas e psiquiátricas que mais justificam uma internação.

Nessa perspectiva, o uso de álcool e outras drogas representam questões médicas e psicossocial grave, que certamente representa um dos maiores problemas de saúde pública, segurança e bem-estar social, dos últimos anos. Os índices de morbimortalidade devido ao uso de drogas, na prática, superam em muito as estatísticas epidemiológicas de suicídios, homicídios, mortes ocasionadas no transito, canceres, guerras e por muitas outras doenças, que ocupam lugares de destaque nas estatísticas nacionais ou internacionais. Além do mais, a situação se complica, por se saber que o problema não se restringe somente aos usuários, mas às suas famílias, ao trabalho, as escolas e a todos que, de uma forma ou de outa, se relacionam e essas pessoas.

Múltiplos fatores, atualmente, colaboram para o expressivo aumento da demanda por álcool e outras drogas. Questões sociais, psicológicas, questões médicas e psiquiátricas, questões familiares, econômicas, desemprego, conflitos sociais, figuram entre as principais. Destacamos, também o incremento do tráfico ilícito de drogas de dimensão internacional e a inexistência de políticas públicas consistentes, eficiente e arrojadas na área da prevenção e do enfrentamento dessas questões.

A sociedade parece parcialmente imobilizada sem saber nem por onde começar para participar adequadamente desta questão, pois como as medidas públicas são insuficientes e fragmentadas isto favorece a desmobilização social para o enfrentamento da situação, adotando conduta meramente contemplativa.  Apesar do tamanho do problema e da imobilização social há atualmente setores da sociedade que se encontram bem engajados nesta luta. Entidades públicas, filantrópicas, privadas, religiosas, comunitárias, empresariais que, congregando pessoas preparadas, fornecem aconselhamento, permitem a troca de experiências e proporcionam tratamento e assistência aos dependentes químicos.

Talvez seja a família, um dos segmentos sociais mais afetadas, pois as mães e pais desesperados batem às portas das instituições públicas, relatando que já perderam tudo: a paz, o sono, a saúde, o patrimônio. Agora, estão prestes a perder a esperança e a vida, devido o comportamento suicida, agressivo, psicótico de um filho (a) ou familiar que adentrou ao uso de drogas e não tem condições para sair sem o devido apoio profissional.

As opiniões sobre a melhor forma de tratar dependente de drogas álcool, são divergentes, embora todas elas possam dá suas contribuições. A dependência química é um transtorno grave que exige tratamento imediato, mesmo à revelia dos enfermos. O sucesso desta iniciativa, como qualquer intervenção médica responsável, depende do acerto entre a medida indicada e as necessidades do paciente. Qualquer atividade de atenção e assistência a esses enfermos devem estar em consonância com os princípios médicos é ticos e legais, é o que estabelece a Lei 11.343/06.

São raros os casos de dependentes de drogas e de álcool, que se recuperam sem o auxílio da família, dos profissionais ou de terceiros, nesse sentido de apoiar esses enfermos. Uma pesquisa americana revelou que 50% dos dependentes químicos apresentam algum tipo de transtorno mental, sendo o mais comum deles a depressão, transtorno de personalidade e outros transtornos mentais. Muitos são inaptos para avaliara a própria doença e a nocividade do seu comportamento, por isto mesmo, não aceitam qualquer tipo de ajuda.  

A Lei Federal, acima citada, busca apoia-lo, protege-lo e dar-lhe seu direitos e garantias e total apoio a suas demandas, médico, sociais e de direito a ele e a suas famílias, procurando garantir-lhe o melhor de uma assistência, ambulatorial ou hospitalar.   

Estudos recentes mostram que o fato de alguém se internar em um hospital para se tratar involuntariamente, voluntariamente ou de forma compulsória não macula o resultado destes tratamentos através dessas modalidades de internação, pois os pacientes podem se beneficiar do que lhe é oferecido através das mesmas. O que não se concebe mais nos dias atuais é esperar que um doente mental grave como são os dependentes de álcool e outras drogas decidam, tão somente, se querem ou não se tratar já que lhes faltam estas prerrogativas em razão de suas doenças.

A dependência química é uma condição médica e psicossocial grave que impõe a esses enfermos, a seus familiares e a sociedade em geral, alterações profundas em seu comportamento pessoal e social. A consciência, a cognição, os afetos, as emoções e o desses enfermos estão comprometidas profundamente, altercando-lhes, por conseguinte sua autocrítica, sua auto avaliação e as capacidade de só se recuperar, havendo, por conseguinte uma necessidade imperiosa de se tratar e muitas das vezes, pelas razões acima, em um ambiente hospitalar.

Em havendo indicação médica especifica, suporte, apoio e autorização familiar para proceder uma internação involuntária que será para proteger esses enfermos de cometerem atos contra si e contra os outros, ameaçando-lhes a própria vida. De tal forma, que não é maldade, violência, ou restrição de direitos humanos nessas internações, involuntárias ou compulsórias (judiciais), pelo contrário, todas estão a serviço da família e dos enfermos.

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Para onde estamos caminhando?

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            São notórias as mudanças que a sociedade vem passando nas últimas duas décadas. Avanços científicos, desenvolvimento tecnológicos, mudanças sociais profundas, políticas públicas em ebulição e muitos outros aspectos que vem influenciando diretamente a saúde, o comportamento, a segurança pública e social e o bem-estar da população.

              Toda essa mudança tem ocasionado impactos enormes na saúde mental da população. Destaca-se o crescimento geométrico de transtornos depressivos e de ansiedade, bem como e de outras doenças mentais na população e surgimento de novas categorias de enfermidades psiquiátricas originárias das novas e modernas tecnologias que tomaram conta do mundo. Uma dessas enfermidades, é a dependência de eletrônicos, também denominados de vícios em internet.

             Muitas dessas dependências, relacionadas ao uso de internet, a bem da verdade, ainda nãos se constituem como “doenças ou enfermidades médicas ou psiquiátricas” oficialmente, porque ainda não figuram nas classificações internacionais das doenças humanas catalogadas pela Organização Mundial da Saúde – OMS. Todavia, centenas de estudos e trabalhos internacionais, apontam que esses exageros e apegos disfuncionais observados em muitas pessoas, no uso dessas ferramentas, estão levando muitos usuários a se comportarem como verdadeiros viciados nessas modernas tecnologias o que tem levado os pesquisadores, do mundo todo, a identificarem esses problemas como os que certamente aparecerão nas próximas edições das classificações internacionais das doenças ou CIDs.

          O termo vício, embora ainda se use muito, permanece muito carregado de segregação e preconceito. Pois é uma condição excludente e marginalizante, do ponto de vista psicológico e social. Significa um defeito grave que torna uma pessoa inadequada para certos fins ou funções. O viciado tem inclinação para prejuízos e são considerados pessoas desagregadas, descontroladas. À luz da Psiquiatria contemporânea, esse termo está sendo substituído amplamente, por dependência e está relacionado aos indivíduos com hábitos disfuncionais ou patológicos, em especial para o consumo de álcool e outras drogas.

            Com a era tecnológica muitos usuários desses sistemas estão apresentando comportamentos disfuncionais, muito parecidos aos dependentes químicos, onde a diferença central é que no caso das teologias digitais, a droga não estar presente e sim os esses modernos meios eletrônicos que fazem parte desta nova sociedade tecnocrática. Estes comportamentos produzidos pela era digital, passou-se a denominar “vícios eletrônicos” ou dependentes virtuais ou dependentes de internet.

            A internet, ponto central dessa nova era, é um conhecimento que veio com força total, desbancando tradições, conhecimentos e atitudes humanas consagradas ao longo da história. Ela conseguiu, a um só tempo, inovar e redefinir novos paradigmas comportamentais, familiares e sociais e construir novos tempos e novas formas de relações humanas. A grande rede de computadores (www) transformou o mundo, o homem e suas relações, cresce a cada dia e seu alcance é inimaginável. A internet, deixou o homem, menos singular e mais plural, menos restrito e mais global, menos voltados para si e mais voltado para o mundo, menos local e mais telúrico, menos real e mais virtual, mais cético e menos crítico, mais lógico e menos sensível. Isto é, provocou mudanças profundas no homem tanto em seu modo de ser, quanto no de existir.

            Filhotes da rede estão os tablets, os celulares, os computadores, os smartfones e outros fabulosos aparelhos eletrônicos que, indiscutivelmente, vieram para ficar e conquistaram o homem por inteiro por atingirem suas aspirações essenciais: como o prazer, o utilitarismo, o imediatismo, a rapidez, a materialidade. A tecnologia digital atende plenamente essas demandas e nos dá tudo que precisamos sem fazer esforços e nos agrada em geral. Os brinquedos eletrônicos, os aparelhos inteligentes, tornaram tudo mais fácil e praticamente tudo ao nosso alcance.    

       As filhotas da internet são as redes sociais. Nosso país, a cada dia se notabiliza como um dos mais importantes do mundo entre os países usuários de redes sociais e de equipamentos eletrônicos e já detém o terceiro lugar no mundo de acessos à redes sociais especialmente “Faceboock, Tweter e Linked-in” e Instagram.   

             Nessa perspectiva, as seduções pelas virtualidades se escancararam. Imagine, uma pessoa poder falar com todo mundo sem abrir a boca, sair de casa sem dar um passo, amar sem sentir o corpo e a voz da pessoa amada, se comunicar sem fazer qualquer esforço real, trabalhar sem sair da cama ou da mesa de sua casa, fazer amor, noivar, namorar, se casar, sem nunca ter visto sua cara-metade, ou mesmo ter ouvido sua voz, seu cheiro, seu suor, a consistência de sua tez ou nunca ter sentido um olhar profundo de seu parceiro ou parceira. É fantástico, fabuloso e muitos estão embarcando nisso sem pena e sem piedade. Ante essa coisa maravilhosa o que mais queremos para o futuro?

            Os exageros no uso, as relações desmedidas, a cada dia faz crescer no mundo as ocorrências de pessoas que passaram a apresentar graves distúrbios afetivos, emocionais e comportamentais, associados diretamente ao abuso de internet ou de redes sociais. Vejam, por exemplo, que desde 2017, os jogos eletrônicos já passaram a se constituir como entidade clínica no rol das doenças humanas da OMS, os dependentes de jogos eletrônicos.

            Pessoas outras, que não fazem outra coisa na vida, que não ser se conectar e permanecer ligado ou logado o dia todo com essas atividades ditas virtuais. Outras, deixam de cumprir seus compromissos, seus estudos ou suas relações familiares, de lazer ou mesmo de trabalho para se dedicarem, exageradamente, às redes sociais ou a contatos virtuais.

          Queixas de atritos conjugais, familiares, no trabalho, passaram a ser muito frequentes nos consultórios psiquiátricos. Muitas outras queixas em muitas outras áreas passaram a ser relevantes: casamentos rompidos precocemente, conflitos entre pais e filhos e nas relações amorosas e de trabalho, estão sendo muito influenciados por uso problemático dessas tecnologias. Comportamentos ciumentos doentios, atitudes de hostilidade, sentimentos de possessividade e impulsividade nas relações pessoais, dificuldades nas relações sociais são também muito influenciados pelos mesmos motivos. O fato, é que muitas pessoas desavisadas e incautas estão indo muito fundo ao pote. Mergulham, profundamente, nessas virtualidades, oferecidos por esse mundo mágico e sedutor e se perdem, por prejudicar, formalmente, a necessária noção dos limites e do equilíbrio mental e comportamental, face a essas inovações.

            O perfil clínico e epidemiológico destes “novos doentes” está sendo construído e acredito que em um futuro próximo, possam ser anunciados e passaremos a saber melhor sobre os mesmos. Sabe-se, todavia, que são doentes graves, evoluem de forma sutil, progressiva e insidiosa e quando já são percebidos, já estão muito comprometidos mentalmente.  

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Mau-caráter

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Frequentemente, nos colóquios, ouve-se: fulano, não presta, não vale nada, é mentiroso, enganador, safado. Cicrano, não tem escrúpulo, engana as pessoas, não tem o menor constrangimento, ou ainda beltrano é indecente, não tem pudor, é mau e insensível. Essas, são algumas designações atribuídas aos chamados maus-caracteres.            

São figuras que se notabilizam por serem antipáticas, desconsideradas, mentirosas, que tem uma imagem social ruim, justamente, por se comportarem fora dos padrões éticos, serem complicados e agirem sempre em proveito próprio. Mas, antes tratar sobre essas figuras, vejamos rapidamente, o que venha a ser caráter. Em significado. com.br, caráter é um conjunto de características e traços relativos à maneira de agir e de reagir de um indivíduo ou de um grupo.

É um feitio moral. É a firmeza e coerência de atitudes, próprias de alguém ou de um grupo. É o conjunto das qualidades e defeitos de uma pessoa, que irá determinar a sua conduta e a sua moralidade. Os seus valores e firmeza moral, definem a coerência das suas ações, do seu procedimento e do seu comportamento.Em Aurélio, caráter, é a qualidade inerente a uma pessoa, animal ou coisa, que os distingue de outras pessoas, animais ou coisas.

É sua marca registrada ou o conjunto dos traços particulares de alguém, é o modo de ser de um indivíduo ou de um grupo. É a índole, a natureza. Essas qualidades, podem ser boas ou más, as quais determinaram a conduta e a concepção moral dessas pessoas. Pode ser também coerência ou firmeza de atitude, domínio de si mesmo.Depreende-se, a partir dos conceitos acima, que caráter é algo marcante, inconfundível, próprio, peculiar de alguém ou de um grupo. É uma marca, expressa no conjunto das caraterísticas delas, que dá ênfase, sobretudo, à conduta moral, dos valores éticos de alguém ou de um grupo, muito embora, conceitualmente, outros aspectos, como os físicos, geopolíticos, socioculturais, genéticos, étnicos e biológicos, possam também colaborar essa designação. Sobre o mau-caráter, objeto desse artigo, são indivíduos, os quais comportam as descrições acima, mas de uma forma negativa, pejorativa.

Uma das mais contundentes caraterística é a inconfiabilidade. Isto é, o mau-caráter, é inconfiável, mentiroso e incapazes de estabelecerem relações permanentes, profícuas e duradouras. Essas relações quase sempre, resultam em decepções. Em princípio, são também desonestos, pois não apresentam firmeza de princípios ou de moral.Sabe-se, do ponto de vista das relações humanas, que confiar é um pressuposto vital, indispensável, para manter-se sólidas relações sociais. É fundamental, que se confie em alguém, com quem nos relacionamos. Quando isso não ocorre, qualquer relação, seja amorosa, de negócios, de fraternidade ou de amizade, estarão fadadas ao fracasso.

A confiança no outro é uma extensão da confiança em si mesmo, confiar em alguém é a base de relações seguras e duradouras.  Confiar é a disposição de nos tornarmos mais íntimos, mais seguros, abertos e aceitos no trânsito das nossas intimidades. É uma prerrogativa vital e de garantias, que nossos sentimentos, nossos afetos, nossos desejos, sonhos e particularidades, mais profundos, possam ser compartilhados de forma autêntica e segura. E, é justamente, o que não ocorre quando se tem a infelicidade de nos relacionarmos com um sujeito de mau-caráter.

Geralmente, essas pessoas estabelecem relações utilitárias, aproveitadoras, e em situações que menos se espera, dão o golpe. Golpe esse que pode ser uma traição, uma desconsideração, uma falsidade ou uma maldade quase sempre no seu sentido próprio e de tirar proveito sobre a pessoa com as qual se relaciona. As relações não se aprofundam, são enigmáticas e fisiológicas, só a mantém, enquanto há interesses em se apropriar de algo ou de uma situação que possam desfrutar. Não zelam por ninguém, e por serem destituídas de apreço e afeição pelo outro, isso logo começa a ser percebido. São figuras, escorregadias, disfarçadas, camuflam e mimetizam trejeitos e sentimentos para os golpes.

São aproveitadoras e sempre saqueiam a boa-fé dos mais descuidados, mais crédulos, desatentos ou ingênuos. Se percebem que serão descobertos, adotam mais camuflagem de emoções, de sentimentos ou de atitudes, tentando enganar disfarçar suas realidades, mantendo-se na situação.Não compartilham, e se o fizerem, estão de olho nos dividendos. São incapazes de se compadecerem, de zelar ou fazer o bem a alguém, justamente por terem sentimentos de propriedade exuberantes e serem incapazes de aprofundarem sentimentos de consideração e apreço. A consciência do mau-caráter é imediatista, e sempre procuram ampliar seus interesses exclusivos, procurando sempre tirar proveito.  

O mau-caráter, é sagaz, superficial, mentiroso, são obstinados na arte de enganar e dos disfarces, sempre na defesa de seus interesses. Esses comportamentos são invasivos e inflexíveis, surgem na infância e prosseguem, por isso mesmo, os repetem sempre da mesma forma, sob a mesma perspectiva, qual seja, o de tirar proveito e ganhar.São dissimulados, violentos e insensíveis. São impiedosos, e insensíveis. Geralmente, não revelam isso, imediatamente, no início das relações e sim posteriormente.

Em geral são simpáticos, agradáveis, benevolentes, gentis, inteligente e sagazes. São bons conversadores e contadores de lorotas. Se locupletam fácil, porém potencialmente estão latentes, suas idiossincrasias, aguardando oportunidades para se manifestarem. Do ponto de vista Psiquiátrico e psicopatológico, comportamentos dessas pessoas, maus-caracteres, são melhor explicados e encontrados nos Transtornos de Personalidade, sobretudo, no tipo Antissocial, onde a inexistência arrependimento, culpa e remorso, ante os danos que suas atitudes provocam aos outros, ocorrem indiferentemente. 

Do ponto de vista social, nos dias atuais, o que não falta são os maus-caráteres, comportamentos muito incentivados pelo modelo social vigente das relações sociais. Onde, o oportunismo, a insensibilidade a dor dos outros, a indiferença afetiva, a possessividade e o privilégio de interesses individuais ante os dos outros, é exortado, cultivado.

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Automutilação e suicídio conhecer é preciso

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Como já é do conhecimento de todos, no último sábado de cada mês acontece no auditório da AMEI, no Shoping São Luis um encontro comigo proposto pela própria Livraria. Nesta ocasião, tratamos sobre diferentes temas da Psiquiatria, da saúde mental e da área comportamental e social. Ontem, dia 15, fizemos a oitava edição desses encontros e tratamos de dois temas atualíssimos: suicídio e automutilação e, sem exagero, lotou o auditório da livraria. Estacemos um debate profícuo com os presentes com uma importante colaboração da Dra. Cristiane Castro, psicóloga e Tenente Coronel da Polícia Militar do Ma. Além de repleto o auditório, o que não faltaram foram perguntas de nossos participantes. Obrigado a todos e fiquem ligados, no último sábado de cada mês haverá um Bate papo com Ruy Palhano. 

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Automutilação

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           É, surpreendente, o número, principalmente de adolescentes, que se automutilam. Ao longo dos meus 40 anos como Psiquiatra, lidando com doentes todos os dias e as vezes o dia todo, me surpreende, a quantidade dessas queixas, em meu consultório. E, não é só comigo que isso vem ocorrendo, em conversas com colegas psiquiatras, psicólogos e outros profissionais da área comportamental, eles relatam também achados semelhantes. Em nosso país, estudos sobre automutilação são poucos, sobretudo, estudos longitudinais, em populações com idade acima da adolescência e em adultos jovens.

           Também denominada de autoflagelo ou autolesão, a automutilação na prática clínica, ocorre, predominantemente, entre adolescentes e entre adultos jovens e, mais raramente, entre pessoas de maiores idades. O fato é que essa prática predomina entre adolescentes com idades entre 13 e 18 anos.

           É definida como sendo qualquer comportamento intencional, envolvendo agressão direta ao próprio corpo, sem que haja intenção consciente de suicídio. Portanto, em se tratando de suicídio, haveria outras bases psicopatológicas para se explicar esse comportamento.

           A automutilação, portanto, é diferente da tentativa de suicídio, pois aqui nesse caso, a pessoa sabe que ao cortar-se, ou se machucar, não vai morrer por causa disso, além do mais dizem que a principal motivação para sua atitude é aliviar sensações ruim ou desagradáveis: sensação de vazio, angústia, raiva de si mesmo, tristeza, com ou sem motivo, e até para relaxar são outros motivos comumente apresentados.

          As formas mais frequentes de automutilação são cortar a própria pele, queimar-se, bater em si mesmo, morder-se e arranhar-se, beliscar-se. Os locais em geral escolhidos, são face interna do antebraço, coxa, braço e tórax. As lesões podem ser superficiais e profundas. Alguns pacientes apresentam rituais de automutilação e passam muito tempo pensando em como executá-la, lembrando sintomas compulsivos, porém com intenso componente de impulsividade, é o que nos diz Jackeline S. Giuste, em sua tese de doutorado sobre automutilação.    

           O comportamento de autoagressão é repetitivo e as lesões são superficiais, na maior parte dos casos. Os cortes na pele são mutilações mais frequentes, especialmente, nos braços e pernas, justamente por serem de fácil acesso, e essas partes do corpo serem fáceis de se esconder dos pais, amigos, professores, etc., em geral esses adolescentes não querem ser descobertos.

          A pesquisadora diz ainda, que o critério de diagnóstico da Associação Psiquiátrica Americana – APA, em sua quarta edição (DSM-IV), a automutilação estava classificada como um dos critérios de diagnósticos para transtornos do controle dos impulsos, não classificados em outro local ou Transtorno de Personalidade Borderline – TPB.

           Já o DSM-V, edição atual, a Associação Psiquiátrica Americana – APA, propõe que a automutilação seja uma entidade diagnóstica à parte, (Automutilação está incluída no Transtorno de Escoriação (Skin-Picking) – 698.4 (L98.1): ganhando, pois, mais autonomia diagnóstica e não se tratando, somente, de um sintoma de um transtorno.

         Para a Classificação Internacional das Doenças – CID 10 (OMS), a automutilação é Transtorno caracterizado por movimentos intencionais, repetitivos, estereotipados, desprovidos de finalidade (e frequentemente ritmados), não ligado a um transtorno psiquiátrico ou neurológico identificado. Os comportamentos estereotipados automutiladores compreendem: bater a cabeça, esbofetear a face, colocar o dedo nos olhos, morder as mãos, os lábios ou outras partes do corpo. Os movimentos estereotipados ocorrem muito habitualmente em crianças com retardo mental (neste caso, os dois diagnósticos devem ser registrados).

       Porém, ainda falta homogeneidade na descrição da automutilação e isso dificulta as pesquisas, tanto epidemiológicas como clínicas. E isso dificulta a busca de uma melhor caracterização clínica e psicopatológica do comportamento de autoflagelar-se fato que é, absolutamente, indispensável, e fundamental para que se evolua no tratamento dessa condição médica e psicológica.

Tres fatores, entre outros, predominantes, em situações de automutilação.

Do ponto de vista clínico, esses comportamentos auto lesivos, estão frequentemente associados a outros transtornos mentais tipo: Transtorno de Ansiedade, quadros depressivos relevantes, stress, bullying, transtorno por uso de substâncias, Transtorno de Personalidade Boderline – TPB e outros transtornos de personalidade. Nos casos, de TPB e de outros transtornos de personalidades, os pacientes já são adultos, com idade de18 anos para cima. Além de todos esses quadros clínico, o comportamento de autoagressão, pode também, estar associado a outras doenças psiquiátricas.

                O T P Boderline, clinicamente, caracteriza-se, entre outras coisas, por serem pessoas instáveis, quanto as suas relações interpessoais, quanto a sua autoimagem, quantos aos afetos e a impulsividade. Apresentam, marcada variação do humor. O transtorno aparece no início da vida adulta e está presente em vários contextos das relações dessas pessoas. Esses pacientes tentam de tudo evitar abandono, real ou imaginário. São pessoas inseguras, carentes afetivamente, lábeis emocionalmente, referem baixa estima pessoal, e dispõe de baixa autoconfiança. São vulneráveis à separações, sentimento de rejeição e de perdas. São muito sensíveis às circunstâncias ambientais e apresentam forte tendência de se auto agredirem.

              Apresentam medos intensos de abandono, real ou imaginário, e experimentam raiva inadequada, explosivas, por motivos muito das vezes fugazes e banais, especialmente, diante de uma separação de curto prazo, ou quando ocorrem mudanças inevitáveis de seus planos. Gostam ainda de chamar a atenção dos outros e se colocarem em posições agressivas de auto piedade. São ciumentos mórbidos, dominadores e se irritam facilmente com episódios de violência. Essa instabilidade afetiva e emocional é uma condição de destaque na clínica desses pacientes.

              Quanto ao tratamento, recomenda-se, combinação de diferentes abordagens. Por um lado, farmacoterapia, através da utilização de medicamentos que impedem o descontrole dos impulsos de se automutilarem. Entre esses fármacos, temos os alguns antidepressores, antpsicóticos e ansiolíticos, em geral utilizados em baixas doses. O uso de estabilizadores de humor, também pode ser indicado. Por último, as psicoterapias, são ferramentas indispensáveis para o tratamento desses enfermos, especialmente, a Terapia Cognitivo Comportamental – TCC, um grande recurso terapêutico na abordagem desses pacientes.

             Outra comorbidade, frequente relacionadas à automutilação ocorre no Transtorno Afetivo Bipolar – TAB, condição psiquiátrica caracterizadas por alterações profundas na regulação do humor básico, onde esses pacientes apresentam uma alternância, patologicamente, significativa nessa área, pois desenvolvem episódicos distintos, depressivos e de euforia. Nos episódios depressivos é onde ocorre, com certa frequência, a automutilação. Episódios depressivos unipolares, onde não há picos de euforia também a automutilação está presente.

          Quadros graves de Transtornos de Personalidade Obsessiva-compulsiva, nos casos de Transtornos Obsessivo-Compulsivo – TOC, Estres Pós-Traumáticos, traumas na infância (violências, espancamentos, privações) abuso sexual, bullying, todas essas condições vivenciais e psicopatológicas podem despertar comportamento de automutilação em proporções de gravidade distintas. Os tratamentos para todas essas condições, já foram apontados acima: psicoterapia Cognitivo-comportamental – TCC farmacoterapia.

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