Explode Casos de doenças mentais na população
Circulou na Folha está semana uma manchete exaltando a 2ª pandemia’ na saúde mental, com multidão de deprimidos e ansiosos, em nosso país. Para mim pessoalmente não via muita novidade, considerando que há tempos desde 2021, venho chamando a atenção do poder público e a sociedade em geral, sobre esta possibilidade de crescimento de casos de doenças mentais no curso dessa pandemia.
O consumo de álcool e de outras drogas, episódios de depressão, ansiedade e suicídios e de muitos outros problemas mentais, sobem sem parar, segundo Datasus, e muitos desses problemas matam mais que acidente de moto, na contramão do resto do mundo. Diz ainda a reportagem, que o total de óbitos no país por lesões autoprovocadas dobrou de cerca de 7.000 para 14 mil nos últimos 20 anos, segundo o Datasus, sem considerar a subnotificação. Isso equivale a mais de um óbito por hora, superando as mortes em acidentes de moto ou por HIV.
Para agravar ainda mais esses problemas a OMS destaca que à pobreza, à desigualdade, à exposição a situações de violência e à ineficiência de planos de prevenção, colaboram, sobremaneira, para piora dessa situação toda, especialmente na América Latina.
Sobre o suicídio, propriamente dito, suas causas são múltiplas e por se tratar de um fenômeno multifatorial, dificilmente um único fator explicaria a totalidade da conduta autodestrutiva. O que pode ocorrer, como ocorre em muitas situações do ponto de vista médico e psicológico, é uma situação ou outra, ser predominante em relação aos demais fatores causais e este fator pode aparecer como destaque na causalidade do comportamento suicida. Portanto, quando o assunto é causas dos suicídios, destacaremos fatores endógenos (ligados ao sujeito) e fatores exógenos, ligados ao mundo externo à pessoa.
Neste universo externo, muitos fatores podem colaborara em distintas proporções para o cometimento do suicídio. Fatores psicossociais, culturais, e circunstâncias exercem motivações relevantes na prática autodestrutiva. Assim como fatores genéticos, familiares e psicopatológicos, (doenças mentais), etc., são fatores predisponentes que podem se destacar no âmbito desses comportamentos.
A reportagem da Folha, cita ainda o exemplo de uma Sra. Que diz: “Tudo é em forma de tentar sair da vida que a gente leva”, afirma Ana Paula da Silva, 39. Ela conta que tem episódios de automutilação e que tentou tirar a própria vida cinco vezes relembrando uma infância de ausências: “Às vezes, a gente só tinha o almoço ou a janta”.
Começou a trabalhar aos 14 e se prostituiu nas ruas de Venâncio depois que perdeu o pai, alcoólatra. Também se rendeu à cocaína e à bebida. Hoje, se sente melhor e tenta recomeçar com as rodas de conversa e a água quentinha do chimarrão de que gosta no Caps (Centro de Atenção Psicossocial).
Em nosso país, o Rio Grande do Sul ocupa sempre o topo do ranking brasileiro, no cometimento de suicídios, por motivos que ainda não estão plenamente esclarecidos. Há hipóteses que apontam para a cultura herdada da colonização alemã: “No Sul, saúde mental é vista como besteira, como se a pessoa não quisesse trabalhar”, diz coordenadora do comitê, Andréia Volkmer. Outros pesquisadores apontam para intoxicações feitas por agrotóxicos, considerando que o Rio Grande do Sul é um estado fortemente agropecuarista e essas intoxicações (por organofosforados), conduziriam a quadros graves de depressões e isso funcionaria como gatilho para esses índices alarmantes de suicídio.
Fatores psicopatológicos como as depressões é comum coexistirem sentimentos de angústia, desesperança, desânimo, desinteresse, desamor, desamparo e desespero, são entre outros sentimentos, muito presentes em comportamentos suicidas. A própria depressão, do ponto de vista epidemiológico aparece como o diagnóstico mais frequente para o cometimento de suicídio, entre as mais de 300 doenças mentais na lista das doenças mentais em Psiquiatria. Prevenir o suicídio, entre outras medidas é, então, prevenir o sofrimento psicológico dessas pessoas em diferentes momentos de suas vidas.
Os transtornos de ansiedade foram os mais encontrados nessas diversas ondas da pandemia do Covid -19. Um levantamento da OMS em 2017 apontou o Brasil como o país com o maior índice de ansiosos do mundo (9,3% ou 18 milhões de pessoas) e o terceiro maior em depressivos (5,8% ou 11 milhões), muito próximo dos EUA e da Austrália (5,9%) —a entidade pondera que não se pode falar em ranking, porque são estimativas.
Hoje, porém, esses números já estão longe da realidade. Os efeitos do luto, do medo e do isolamento social pela Covid-19, as restrições socias, perdas de trabalho e outras privações sociais, culturais e de lazer, foram alterações significativas na vida das pessoas nos últimos dois anos, os quais influenciaram nessa elevação de doenças mentais na população geral.
A reportagem da Folha cita ainda a última pesquisa mais abrangente, da Vital Strategies e da Universidade Federal de Pelotas, a qual mostrou que os que dizem ter sido diagnosticados com depressão subiram de 9,6% antes da pandemia para 13,5% em 2022. A Associação Brasileira de Psiquiatria cita que um quarto da população tem, teve ou terá depressão ao longo da vida.
“Estamos saindo da pandemia de coronavírus e entrando numa pandemia de saúde mental”, diz Nogueira. “No auge da Covid, nós íamos atender os pacientes em casa e eles diziam: ‘doutor, pelo amor de Deus, abram os bares, porque aí pelo menos paramos de beber quando eles fecham’.”
Enquanto os bares fechavam, por recomendações sanitárias o mesmo acontecia com serviços de saúde mental, o que reprimiu a demanda e fez os pacientes em crise aumentarem. No Caps da Restinga, extremo sul de Porto Alegre, por exemplo, os 3.000 atendimentos mensais de dependentes químicos viraram 14 mil, incluindo mais mulheres e pessoas de classe média. Nesse sentido, estudos mostram o aumento substancial do consumo de álcool e de outras drogas no curso natural da pandemia.
Além de todos esses transtornos citados acima e outros como Síndrome de Burnout, Esquizofrenia, surtos psicóticos agudos, comportamento violento, transtornos de conduta em crianças e adolescentes e transtornos de personalidade tipo Borderline, são os mais citados nas pesquisas examinando a explosão dos transtornos mentais nesses mais de dois anos de pandemia. No entanto, pouco se aprofundou na capacidade do sistema público de saúde mental, que vem tentando receber essa demanda aumentado de ocorrências psiquiátricas em nossa população, é hora de repensarmos esses modelos de atenção para melhor atender essa demanda especial desses enfermos mentais.