Álcool prejudica o descanso

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Pesquisa mostra que, apesar de inicialmente atuar como sedativo, substância provoca um aumento na potência de determinadas ondas cerebrais associadas a um sono agitado e pouco reparador

Tomar uma taça de vinho ou outra bebida antes de se deitar pode ajudar uma pessoa a dormir mais rápido, mas apesar de inicialmente atuar como sedativo, o álcool provoca perturbações no sono que atrapalham mais o descanso, diz estudo publicado ontem on-line em adiantamento à edição de fevereiro do periódico científico “Alcoholism: Clinical & Experimental Research”. Segundo os pesquisadores, embora a substância promova a atividade das chamadas ondas delta no cérebro, associadas a estágios de sono profundo sem sonhos, ela também traz um aumento na potência das ondas alfa na região frontal do órgão, vistas como reflexo de um sono agitado.
— As pessoas tendem a se focar nos relatos das propriedades sedativas do álcool, que se traduzem em um menor tempo para dormir, particularmente em adultos, do que nas perturbações que ele provoca mais tarde na noite — critica Christian L. Nicholas, cientista do Laboratório de Pesquisas do Sono da Universidade de Melbourne, na Austrália, e um dos autores do estudo.
A atividade das ondas delta no cérebro costuma ser maior na infância e vai caindo com a idade, passando por reduções significativas entre os 12 e 16 anos. Os cientistas acreditam que é por isso que as crianças e jovens dormem mais que os adultos e idosos, já que elas estão ligadas ao chamado “Sono de Ondas Lentas” (SWS, na sigla em inglês) e ao “Sono sem Movimento Rápido dos Olhos” (NREM, também na sigla em inglês), ambos estágios sem sonhos do período em que estamos dormindo. O problema é que também é justamente nesta época da juventude que as pessoas experimentam o álcool pela primeira vez, com o consumo em geral se elevando com o tempo.
— A redução na frequência das ondas delta nos eletroencefalogramas que observamos com a idade é vista como uma representação do processo normal de maturação do cérebro à medida que o cérebro adolescente continua a se desenvolver rumo à maturidade — lembra Nicholas. — E embora a função exata do sono NREM, e em particular do SWS, ainda seja motivo de debates, acredita-se que eles refletem as necessidades de sono e sua qualidade. Assim, qualquer perturbação neles pode afetar as propriedades restauradoras do sono e serem prejudiciais à funcionalidade durante o dia.
No estudo, Nicholas e sua equipe recrutaram 24 voluntários (12 mulheres e 12 homens) saudáveis com entre 18 e 21 anos de idade que beberam “socialmente”, isto é, menos de sete doses-padrão por semana, nos 30 dias anteriores. Cada um dos participantes da pesquisa foi então analisado com exames de polissonografia e eletroencefalogramas enquanto dormia sob duas condições: tendo consumido álcool antes de se deitarem ou apenas um placebo. Os resultados mostraram que o álcool de fato aumentou a atividade das ondas delta durante o SWS, mas que também houve simultaneamente uma alta nos registros de ondas alfa na região frontal do cérebro.
— Elevações similares na atividade das ondas delta e alfa, que estão associadas com um sono pobre ou pouco reparador, também foram observadas em indivíduos com dores crônicas — destaca Nicholas. — Assim, se o sono está sendo perturbado regularmente pelo consumo de álcool antes de dormir, particularmente ao longo de grandes períodos de tempo, isso pode ter efeitos prejudiciais significativos no bem-estar durante o dia e em funções neurocognitivas como os processos de aprendizado e memória. A mensagem a se levar deste estudo é que o álcool na verdade não é um bom auxílio para o sono mesmo que ele pareça te ajudar a dormir mais rápido. De fato, a qualidade do sono que você obtém foi significativamente alterada e perturbada por ele.

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Estimulação magnética transcraniana e dependência química

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Estimulação magnética transcraniana e dependência química

USP testa estímulo cerebral em viciados em drogas

FERNANDA BASSETTE DE SÃO PAULO

Pesquisadores do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo) estão testando o uso da estimulação magnética do cérebro para conter a fissura de pessoas dependentes de cocaína em pó e reorganizar o funcionamento cerebral. A técnica, chamada estimulação magnética transcraniana, é usada aqui desde 2006 no tratamento de depressão.

Segundo os médicos, não é invasiva e quase sem efeitos colaterais. Essa é a primeira vez que pesquisadores brasileiros resolvem investigar se os benefícios do método podem ser estendidos para dependentes crônicos da droga. Um grupo de Israel, por exemplo, estudou os efeitos da estimulação contra a fissura provocada pelo tabaco.

Os resultados mostram uma queda no desejo pela droga nos primeiros três meses. Segundo o último levantamento da Senad (Secretaria Nacional de Políticas Antidrogas), 2,9% da população brasileira já usou cocaína ao menos uma vez na vida. E 7,7% dos universitários experimentaram a droga ao menos uma vez. O psiquiatra Phillip Leite Ribeiro, responsável pelo teste na USP, explica que a ação da cocaína desorganiza os circuitos cerebrais, alterando o funcionamento das redes de neurônios. “A consequência é uma pessoa dependente da cocaína, com dificuldade de raciocínio e de decisão”, diz Ribeiro.

COMO FUNCIONA

A estimulação magnética transcraniana é aplicada em consultório, sem anestesia. O paciente usa uma touca de natação e o médico aproxima o aparelho na região do cérebro a ser tratada. As ondas penetram cerca de 2 cm. No caso da cocaína, o local exato da aplicação não foi divulgado por se tratar de algo ainda em estudo.

As sessões são feitas durante 20 dias e duram 15 minutos. Custam, em média, R$ 400 cada uma. Após um mês, o paciente faz tratamento para prevenir recaídas.

Por enquanto, os resultados preliminares mostram que há, de fato, uma diminuição na fissura. E, ao contrário do que parece, a estimulação magnética não provoca choques. É bem diferente da eletroconvulsoterapia -método em que o cérebro recebe uma descarga elétrica generalizada, entrando em convulsão. A estimulação transcraniana gera um campo magnético com uma pequena corrente elétrica. A ação é local, afirma Ribeiro.

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POUCO USADA

Segundo Paulo Silva Belmonte de Abreu, chefe do serviço de psiquiatria do HC de Porto Alegre e presidente da Associação Brasileira de Estimulação Magnética Transcraniana, embora seja reconhecida, a técnica não é muito usada no país. Ela tem efeitos positivos na depressão, em psicoses que provocam alterações auditivas [como esquizofrenia], no tratamento da dor fantasma. Mesmo assim, poucos centros a usam, ainda tem muito preconceito, avalia.

Para Abreu, é importante que o método seja testado para tratar outros problemas. É uma ferramenta não invasiva que não lesa o cérebro. Quando não atinge os efeitos desejados, ela não faz mal. Segundo Abreu, a única contraindicação é para pessoas com histórico de convulsão a aplicação pode desencadear uma crise.

Os principais efeitos colaterais são leve dor local e desconforto durante a aplicação. O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, diretor do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp, é mais cauteloso. É uma técnica que está sendo estudada para vários tipos de transtornos, mas não é totalmente eficaz. O que se sabe é que ela modifica circuitos neuronais, mas ainda não é possível dizer que resolve o problema, diz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Há quatro anos trabalho com essa ferramenta (recurso) aqui em São Luis e modestamente fui o pioneiro  a trazer a EMT para nosso meio. Atualmente, minha filha Ludmila Palhano e eu fazemos esse tratamento no Instituto Ruy Palhano. Posso garantir que a EMT é um excelente método para se tratar paciente com depressões de diferentes tipos e alucinações auditivas e pacientes esquizofrênicos. A indicação para se tratar dependente de drogas ainda não foi autorizado pelo Conselho Federal de Medicina – CFM, nesse sentido, são as pesquisas que estão a todo vapor, especialmente por pesquisadores da  UNIFESP.

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O médico, a medicina e as próteses.

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Ainda fervilha na opinião pública, nas redes sociais e em todos os cantos desse país, as denúncias feitas pelo Programa Fantástico envolvendo médicos e uma série de outros profissionais às voltas com vários tipos de crimes e irregularidades. De fato foi algo lamentável, porque não dizer vergonhosa, a matéria veiculada pelo programa da Rede Globo. E, ao que tudo indica, nesse domingo, serão anunciadas, pelo mesmo programa, mais outras irregularidades no mesmo sentido das denúncias de domingo passado. Quanto a participação dos que se dizem médicos nessas irregularidades e crimes, vejo que há uma necessidade de nós, desde logo, separarmos essas práticas das práticas de médicos que de fato assumiram seu compromisso ético com a sua profissão.

Digo isso, porque o médico, essencialmente, em sua singular profissão e no pleno exercício dela, jamais praticaria os atos denunciados pela reportagem. A prática médica se notabiliza, entre outras coisas, pela busca incessante da honradez, da abnegação profissional, da bondade e amor aos outros, do humanismo e, finalmente, pelo cumprimento dos preceitos éticos de Hipócrates. Através desses valores e sob a égide de Deus, buscamos a proteção dos seres humanos, defendendo-os contra as enfermidades, o sofrimento, as angústias e a dor. E, tudo isso realizado com competência, humildade, zelo e dedicação. Esses são seus valores maiores.

Um médico, ao exercer seu soberano compromisso profissional na defesa da saúde e inspirados em sua consciência moral e cristã, jamais provocaria uma doença em alguém para auferir lucro. Jamais, trabalharia pelo ganho ilícito e venal de dinheiro. Jamais, negociaria sua consciência por “pedaços de metal” ou por outra coisa, seja pra qual fim estivesse sendo utilizada, mesmo que para atender necessidades médicas. O médico, jamais, se renderia ás propinas, corrupção, negociatas ou a qualquer outro ato ilícito que não seja o baseado no trabalho ético, honesto e competente.

A reportagem do Fantástico, ao colocar essas denúncias contra o médico, da forma contundente como estão sendo feitas, realçando atividades antiéticas e criminosas por parte desses profissionais, está sendo no mínimo injusta e inconsequente. Injusta, pela generalização, parcialidade e sensacionalismo da matéria, a qual pôs inadvertidamente os médicos e suas práticas no centro de atividades desonestas, criminosas e antiéticas, sem distinguir valores, ferindo sua imagem ética e social. E, inadvertidamente, pelo fato dos repórteres da TV Rede Globo não terem tido o cuidado de investigar melhor e com profundidade o assunto, para verificar as causas profundas de suas denúncias sobre os crimes e as mazelas que há em diferentes setores da saúde desse país, que vai muito mal, por sinal, há muitos anos, pois essa se encontra acéfala e absolutamente desconectada com as reais necessidades de assistência em saúde da população brasileira. Os repórteres, certamente, no afã midiático do sensacionalismo, não souberam separar o joio do trigo. A matéria enfatiza comportamentos espúrios e enfatiza a generalização desses comportamentos como se fossem práticas comuns entre os médicos, atingindo a todos indistintamente, e na história da medicina e em suas práticas, não é isso que se vê.

A matéria desconhece o esforço gigantesco e competente realizado pelo Egrégio Conselho Federal de Medicina – CFM, que há anos vem propondo medidas ético-jurídicas e legislativas, através de resoluções e pareceres e de estudos técnicos sobre esse assunto, no sentido de disciplinar, corrigir distorções e orientar procedimentos quanto a conduta dos colegas, das instituições dessa área, em políticas públicas sobre a temática, inclusive punindo severamente os médicos envolvidos com falcatruas nessa área, sendo excluídos do exercício profissional após terem sido julgados e condenados pelo próprio CFM.

Que esses que se dizem médicos, juntamente com os lobistas, donos de empresas que produzem órteses e próteses, os agenciadores, alguns gestores de unidade de saúde e, vendedores desses produtos, nesse processo os quais tergiversaram e cometeram esses crimes graves, deverão ser penalizados com rigor e sem complacência. Agora, colocar a imagem do profissional médico de forma generalizada e sem escrúpulo no imaginário social como se todos fossem larápios e criminosos e caloteiros, da forma como caracteriza a reportagem, é desconhecer amplamente o papel relevantíssimo que 400 mil médicos, que nesse país trabalham honestamente, honram sua profissão, às vezes ganhando salários aviltantes e mesmo assim permanecem trabalhando, onde sob a égide de seus preceitos éticos, salvam vidas e minimizam a dor e sofrimento dos outros. Essa reportagem está sendo no mínimo, injusta.

As denúncias foram feitas sobre práticas que não estão adstritas aos preceitos éticos e médicos. Foram ações realizadas por caloteiros, propineiros, corruptos, quadrilha de marginais, e não por médicos. Os envolvidos com esses crimes, que foram identificados como tal, não honraram suas profissões, a ética médica e sua consciência humanitária e feriram gravemente os princípios e preceitos sagrados de uma boa prática médica. Esses criminosos não devem macular uma profissão milenar que ao longo dos séculos, o que vem fazendo é proteger a todos contra a morte, a dor e o sofrimento, portanto, não poderiam ser crucificados e desconsiderados drasticamente como fora feito pelo programa Fantástico da Rede Globo.

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Farmácias como unidades de saúde

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Hoje foi promulgado a lei que transforma as farmácias em unidades de assistência de saúde, incorporando definitivamente as farmácias em uma rede de serviços encarregados de promoverem saúde pública nesse país, em que ao invés de ser simplesmente um ponto de venda de medicamentos e outros produtos se transformarão em unidades de saúde, ampliando portanto, em boa hora a sua responsabilidade social.
Com isso, abre-se novos horizontes para classe farmacêutica do ponto de vista do mercado de trabalho pois novas frentes surgirão, já que pela lei as farmácias deverão contar com a presença do farmacêutico em todo seu expediente de funcionamento. Novos empregos e maiores responsabilidade as farmácias. Um ponto altamente relevante que deverá ser alcançado pela medida é a questão da auto medicação, um problema grave que ocorre na população brasileira ocasionando sérios danos á saúde pública desse país.
No mesmo texto legal, foi concedido ao farmacêutico a prerrogativa de prescrever medicamentos que não exigem uma prescrição médica, isto é, prescrever medicamentos que não seja exigida a receita médica.
Nesse ponto gostaria de refletir um pouco. Trata-se de uma questão complexa, polêmica e profunda que exige uma releitura do que estão propondo para essa nobre e importante profissão, até porque entendo que a farmácia pode e deve se inserir em uma infinidade de outras atividades profissionais a serem realizados pelos farmacêuticos que não seja essa de prescrever fármacos para justificar sua nova condição de unidade de saúde, uma reinvindicação antiga e justa dessa classe importante dos farmacêutica que há mais de 20 anos vem lutando para tanto, portanto a lei coroa a luta dessa categoria com os quais me confraternizo.

Em suas novas atribuições, já vimos que a lei outorga a esses profissionais a prerrogativa de prescrever os tais medicamentos inalcançados pelas receitas médicas, seja qual for. Ao meu ver, uma ação no mínimo temerária pela imensa responsabilidade exigida por esse procedimento sobre cada profissional que irá fazê-lo. Prescrever um fármaco, seja qual for, a uma determinada pessoa é uma ação complexa que exige antes de tudo um diagnóstico e conhecimentos profundos de terapêutica. Exige um conhecimento abalizado de clínica médica, de farmacologia, fisiopatologia, de propedêutica e muitos outros conhecimentos sobre saúde que justifiquem o ato de se prescrever um medicamento a alguém. Não é só passar por passar tem que se saber o que, como passar, para quem passar, e porque passar. Além do mais, deve-se assumir a total responsabilidade em fazê-lo. Passar um analgésico, um antitérmico, um antidiarreico ou um ante emético (para vômito), pode parecer simplório, não o é. Todas essas condições clínicas podem esconder enfermidades graves que se revelam por tais sintomas em que o profissional deve conhece-los muito bem para prescrever  algum medicamento.
As implicações, ética, médica e jurídica que há por trás de uma prescrição são muitas e, entre outras coisas, terão que se responsabilizar pelas consequências impostas pela sua ação. Estarão preparados os farmacêuticos e devidamente habilitados para fazê-lo?

É da competência dos Farmacêuticos tratar de alguém mesmo que seja um sintoma como dor, a febre, o vômito? Quem se responsabilizará se der algo errado com esse pacientes devido sua prescrição? Estarão os Farmacêuticos habilitados e preparados para fazer diagnósticos? Essas e muitas outras questões deveriam ser levantadas e discutidas para se verificar o alcance profissional e social de tais medidas.
Outro aspecto, ao meu ver relevante, é: porque atribuir a esses profissionais a responsabilidade de prescreverem somente medicamentos fora do alcance dos receituário médicos? já que qualquer fármaco, independente de estarem dentro ou não de um receituário médico, tem seus princípios ativos, seu mecanismos de ação, sua faramacocinética, sua famacodinâmica, seu metabolismo e sua indicação médica de uso? Mas, no outro lado da questão, não seria muito pouco atribuir a esses profissionais, ante a enorme responsabilidade que terão ao prescrever algo para alguém, prescreverem somente os medicamentos fora do alcance do receituários médicos? Não estará esse governo  atribuindo a esses profissionais responsabilidades que seriam dele governo, não oferecendo mais postos de saúde, mais hospitais, mais saneamento básico, mais laboratórios, mais ambulatórios de especialidades e muitos outros serviços  de saúde á população ao invés de aumentar a responsabilidade desses profissionais?
Como se trata de um fato ligado a saúde pública a sociedade, os outros profissionais e a própria categoria devem se manifestar mais para que nós possamos compreender melhor a natureza de tais medidas e o  impacto que isso causará á nossa população.
De qualquer forma, considerem meus comentários uma contribuição para o engrandecimento da classe farmacêutica de nosso estado considerando que os reconheço como profissionais altamente importantes e de uma enorme responsabilidade social na promoção e manutenção da saúde e da vida.

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Fármacia como unidade de saúde

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Hoje foi promulgado a lei que transforma as farmácias em unidades de assistência de saúde, incorporando definitivamente as farmácias em uma rede de serviços encarregados de promoverem saúde pública nesse país, em que ao invés de ser simplesmente um ponto de venda de medicamentos e outros produtos se transformarão em unidades de saúde, ampliando portanto, em boa hora a sua responsabilidade social.
Com isso, abre-se novos horizontes para classe farmacêutica do ponto de vista do mercado de trabalho pois novas frentes surgirão, já que pela lei as farmácias deverão contar com a presença do farmacêutico em todo seu expediente de funcionamento. Novos empregos e maiores responsabilidade as farmácias. Um ponto altamente relevante que deverá ser alcançado pela medida é a questão da auto medicação, um problema grave que ocorre na população brasileira ocasionando sérios danos á saúde pública desse país.
No mesmo texto legal, foi concedido ao farmacêutico a prerrogativa de prescrever medicamentos que não exigem uma prescrição médica, isto é, prescrever medicamentos que não seja exigida a receita médica.
Nesse ponto gostaria de refletir um pouco. Trata-se de uma questão complexa, polêmica e profunda que exige uma releitura do que estão propondo para essa nobre e importante profissão, até porque entendo que a farmácia pode e deve se inserir em uma infinidade de outras atividades profissionais a serem realizados pelos farmacêuticos que não seja essa de prescrever fármacos para justificar sua nova condição de unidade de saúde, uma reinvindicação antiga e justa dessa classe importante dos farmacêutica que há mais de 20 anos vem lutando para tanto, portanto a lei coroa a luta dessa categoria com os quais me confraternizo.

Em suas novas atribuições, já vimos que a lei outorga a esses profissionais a prerrogativa de prescrever os tais medicamentos inalcançados pelas receitas médicas, seja qual for. Ao meu ver, uma ação no mínimo temerária pela imensa responsabilidade exigida por esse procedimento sobre cada profissional que irá fazê-lo. Prescrever um fármaco, seja qual for, a uma determinada pessoa é uma ação complexa que exige antes de tudo um diagnóstico e conhecimentos profundos de terapêutica. Exige um conhecimento abalizado de clínica médica, de farmacologia, fisiopatologia, de propedêutica e muitos outros conhecimentos sobre saúde que justifiquem o ato de se prescrever um medicamento a alguém. Não é só passar por passar tem que se saber o que, como passar, para quem passar, e porque passar. Além do mais, deve-se assumir a total responsabilidade em fazê-lo. Passar um analgésico, um antitérmico, um antidiarreico ou um ante emético (para vômito), pode parecer simplório, não o é. Todas essas condições clínicas podem esconder enfermidades graves que se revelam por tais sintomas em que o profissional deve conhece-los muito bem para prescrever  algum medicamento.
As implicações, ética, médica e jurídica que há por trás de uma prescrição são muitas e, entre outras coisas, terão que se responsabilizar pelas consequências impostas pela sua ação. Estarão preparados os farmacêuticos e devidamente habilitados para fazê-lo?

É da competência dos Farmacêuticos tratar de alguém mesmo que seja um sintoma como dor, a febre, o vômito? Quem se responsabilizará se der algo errado com esse pacientes devido sua prescrição? Estarão os Farmacêuticos habilitados e preparados para fazer diagnósticos? Essas e muitas outras questões deveriam ser levantadas e discutidas para se verificar o alcance profissional e social de tais medidas.
Outro aspecto, ao meu ver relevante, é: porque atribuir a esses profissionais a responsabilidade de prescreverem somente medicamentos fora do alcance dos receituário médicos? já que qualquer fármaco, independente de estarem dentro ou não de um receituário médico, tem seus princípios ativos, seu mecanismos de ação, sua faramacocinética, sua famacodinâmica, seu metabolismo e sua indicação médica de uso? Mas, no outro lado da questão, não seria muito pouco atribuir a esses profissionais, ante a enorme responsabilidade que terão ao prescrever algo para alguém, prescreverem somente os medicamentos fora do alcance do receituários médicos? Não estará esse governo  atribuindo a esses profissionais responsabilidades que seriam dele governo, não oferecendo mais postos de saúde, mais hospitais, mais saneamento básico, mais laboratórios, mais ambulatórios
de especialidades e muitos outros serviços  de saúde á população ao invés de aumentar a responsabilidade desses profissionais?
Como se trata de um fato ligado a saúde pública a sociedade, os outros profissionais e a própria categoria devem se manifestar mais para que nós possamos compreender melhor a natureza de tais medidas e o  impacto que isso causará á nossa população.
De qualquer forma, considerem meus comentários uma contribuição para o engrandecimento da classe farmacêutica de nosso estado considerando que os reconheço como profissionais altamente importantes e de uma enorme responsabilidade social na promoção e manutenção da saúde e da vida.

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A Angústia

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Angústia é uma condição que sempre despertou muito interesse em todos nós. E isso se deve à incógnita sobre sua natureza e ao imenso sofrimento que provoca nas pessoas, que a descrevem como algo insuportável. É um sentimento profundo de dor, de amargura, de solidão, de irrealização e de intenso sofrimento que ocorre nos seres humanos. É a pior expressão de amargura e de fracasso diante de nós mesmos. Traduz a insignificância humana, sua incompletude e sua pequenez.

Desde a antiguidade clássica que a filosofia, através de suas diferentes escolas, tenta descrever a angústia, desenvolvendo estudos importantes para compreendê-la. O mesmo ocorre com psicólogos, psiquiatras, geneticistas, neurocientistas, antropólogos, para desvendarem a natureza da angústia e suas diferentes formas de expressão. Por isso mesmo é que nessas áreas do saber não faltam teorias que buscam explicá-la. O fato é que, apesar de todos os avanços nessas áreas de conhecimento, permanece até os dias atuais uma grande incógnita.

Nesse artigo, trato do enfoque médico, em que a angústia é considerada um sintoma grave de distintas doenças, entre as quais a doença mental. Esse enforque, todavia, não desconsidera que a angústia possa estar presente em muitas outras condições humanas.

O termo angústia se origina do latim “angustia”. Indica algo desconfortável ou doloroso como apertar, sufocar, esganar, atormentar, estreitar, brevidade, escassez, concisão. É um mal estar profundo, inexplicável, indefinível e inarrável, um medo sem objeto determinado (que é diferente de outros tipos de medo e que possuem um objeto definido). A sensação é de “estreiteza, limite, redução, restrição, aflição intensa, ânsia, agonia, sofrimento, tormento, tribulação”. Em todas essas conotações depreende-se algo que estreita a própria existência das pessoas nessas condições. Vejam que uma expressão comum dos que padecem de angústia é a de aperto insuportável no peito que o sufoca e o deixa sem respirar, põem a mão no peito como se sufocados.

Já vimos que, como sintoma, a angústia pode estar presente em muitas condições médicas e psicossociais e, entre essas, a mais referida é na depressão, considerada por muitos como uma das piores doenças humanas. Não é à toa que a depressão responde por mais de 80% dos suicídios, fato que já demonstra o grau de significância dessa doença na nosologia médica. Boa parte do sofrimento intenso relatado pelos depressivos relaciona-se à angústia, a qual se confunde com a própria depressão, antítese primária da condição fundamental aspirada por todos nós que é o prazer.

Nessa perspectiva, a angústia reforça os efeitos do nosso pior inimigo, a dor, já que por natureza somos hedônicos. Na angústia, porém, a sensação de dor não é na carne, no corpo, muito menos localizada em qualquer região, é uma dor na alma, no seu sentido mais profundo e aqui não há um local que ela possa se manifestar, é uma dor na existência. Contrariamente a outro tipo de dor, não se origina do corpo, embora essa possa ser uma de suas vias de expressão. Dá-se na alma, a sede de expressão. Por isso é uma dor indefinida, inexplicável, insuportável e impalpável. Por isso mesmo o poder, o dinheiro, a arrogância, o egoísmo, a vaidade, o ostentação, o orgulho, aspirações comuns do homem contemporâneo, perdem seu sentido nas vivências angustiantes.

Do ponto de vista psicopatológico, a angústia nos recolhe para dentro de nós mesmos e nos conduz a nossa própria intimidade. Só que esse caminho é repleto de dor, medo e sofrimento. Eis porque tanta gente se mata ao se deprimir. Esses perdem a importância e valor da vida, os torna sem rumo e sem destino. Emudece-nos, isola-nos e deixa-nos sós. Há algo pior que isso? Um homem sem rumo, sem valor e sem destino?

Eis a angústia, o pior sentimento dos seres humanos. É uma experiência dentro de nós mesmos, da qual poucos sobrevivem. A sensação da angústia como fenômeno do adoecer é de morte iminente. As pessoas não conseguem descrevê-la e dizem abertamente que não queriam aquilo nem para seu pior inimigo. Essa sensação revela uma disfunção severa entre o homem, os outros e sua ambiência.

Como outros fenômenos existenciais, a angústia tem intensidades variadas, manifesta-se desde uma sensação leve até severa. E surge, em geral, de forma lenta e sorrateira, aprofundando-se inexplicavelmente para o interior do ser, podendo surgir em diferentes situações.

Atualmente, verifico um tipo de angústia que se desenvolve no homem tecnológico e contemporâneo, que nasce da relação dele com a máquina (tecnologia). Verifica-se que todos esses bens e serviços tecnológicos a seu serviço têm contribuído para a construção de um ser solitário, imediatista, materialista e muito afastado de si mesmo. Os sentimentos tonam-se raros e sem profundidade, superficial e fugaz. Quando os fatos conduzem-nas para dentro de si mesmas, as pessoas se deparam com muitas dificuldades em manejar com seus próprios sentimentos, valores e senso ético, conduzindo a sensações de insegurança, perplexidade, medos e incertezas. Isso gera uma angústia que se insere no homem moderno.

Isso o define como um ser simplório, voraz, imediatista e superficial, que não se aprofunda em nada que faz, muito menos ante sua própria realidade interna. Mantêm relações superficiais com os outros e são frágeis. Não experimentam relações profundas, são conformados e se contentam com pouca coisa. Estão despreparados para grandes investidas na vida e são débeis. Não é uma angústia gerada por condições psicopatológicas obrigatoriamente, como a que vimos acima, mas produzidas por uma sociedade tecnocrática que pensa e sente muito pouco. Esse ser de consumo, oportunista e improvisado e sem origem consistente, voltado exclusivamente para uma modernidade, se angustia por pouco.

 

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Eu, os outros e o mundo

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Conversando recentemente sobre diferentes assuntos com um dos ícones da medicina brasileira e um dos mais respeitados médicos desse estado, Dr. Haroldo Silva e Sousa, meu mestre, professor e amigo, exímio cardiologista, houve certo instante que me disse: “Ruy, temos que entender o homem em sua relação consigo, com os outros e com o mundo”, é dessa forma que entenderemos o que acontece conosco e todos na vida.

Disse-lhe, Prof. Haroldo o Senhor tem razão temos que sempre ter essa visão do homem para poder entendê-lo. Depois dessa conversa, prosseguimos, tratando de outros assuntos. Já em casa, voltei a pensar na conversa que tínhamos tido e vi que a relação: eu, os outros e o mundo, representam de fato o paradigma de nossa existencialidade. Tudo ocorre e funciona a partir disso. Veja que tudo que nos diz respeito e o que se passa conosco está subjugado a essa realidade. Nada ocorre sem ser por essa via.

As circunstâncias, as rotas que traçamos para nós mesmos, nossas relações com os outros e com o mundo são atribuições e consequências diretos dessa tríade de fatores justapostos uns aos outros. De tal forma que quando algo se distancia desse triângulo, as consequências aparecerão cedo ou tarde na vida de alguém.

Atrevo-me a dizer que aquilo que entendemos como felicidade, que todos querem alcança-la, essencialmente só brota em nossos corações quando estamos em absoluto consonância e equilíbrio com essas dimensões. Só somos felizes quando essas três entidades se alcançam, a um só tempo, se unem em um único sentido por isso é difícil a alcançarmos a todo o momento, pois não é a todo o momento que estamos nesse equilíbrio desejado.

Nessa perspectiva cada dimensão desta, eu o outro e o mundo, têm identidade própria, importâncias e valores distintos entre si. São dimensões diferentes uns dos outros, porém não se sustentam isoladamente. Da mesma forma como nós, só nos tornamos seres humanos havendo plena harmonia entre nós, os outros e o e o mundo. Nessa triangularidade é que serão construídos e garantidos todos os pressupostos necessários para uma vida promissora e feliz. E, entendo que o resultado dessa triangulação é que vai dar sentido á nossa existência.

Há teorias que julgam que nós humanos somos o centro do universo, e as outras coisas secundárias á isso – antropocentrismo. Outras vêm na natureza (o mundo), o centro de tudo e a razão da própria vida – geocentrismo. Por último, há os que afirmam serem as relações sociais a razão maior da vida humana(sociogênese). Todas essas teorias têm suas razões, mas vejo que nenhuma dessas sozinhas, faz qualquer sentido. A primazia da existência está nas relações entre essas diferentes forças especiais e singulares interagindo entre si, isso faz brotar a vida que temos e o que somos.

O ambiente, o ar, as árvores, os animais, os rios, o mar, os sons, a lua o sol, o céu, a noite, as estrelas, o infinito, o outro e tudo mais, que nos toca, nos diz respeito e que ocupa nossa consciência, nos compõem. O mundo, nós e os outros formamos um único ser através da qual nos definimos, damos sentido á nossa existência. Essa relação triangular é tão estreita, que se tornam inseparáveis, íntimas imprescindíveis umas as outras, surgindo, por isso mesmo, algo novo e uma nova ordem nessa relação. Essa nova realidade, somos nós.

No transcurso da vida, dependendo das circunstâncias, haverá momentos em que o eu se sobressairá sobre o outro e sobre o mundo. Em outros, o mundo se sobressairá sobre o eu e o ou outro e haverá outros momentos em que o outro se sobressaíra sobre o eu e o mundo. Mas nunca se separam na relação. Essas dimensões estão ligadas intestinamente uma a outras garantindo a viabilidade da vida. É através dessa dialética e dessa dinâmica existencial que a vida caminha. A flexibilidade entre essas dimensões é que irá definir e garantir a primazia da nossa existência

Portanto, nós, os outros e o mundo somos facetas distintas de um mesmo fenômeno, onde reside a essência da vida humana. Achar que somos uma coisa totalitária independente é um tremendo equívoco. Temos que ter e desenvolver uma consciência plena e total, onde somos uma parte importante no processo do viver, mas sem o outro e o mundo os quais nos cercam, fatalmente iremos fracassar.

Essa é a visão singular da vida que nos dá autonomia e a certeza de nossa existência. É a partir dessa visão biopsicossocial e geopolítica do ser, que garantiremos e damos sentido da de nossa existência. A valorização só de um aspecto dessa trindade sagrada desrespeitaria, em principio, a universalidade da nossa existência.

 

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A marca social da violência

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É cada vez mais improvável que, nos próximos anos, venhamos a viver a paz social. As guerras, os crimes, as injustiças, as desigualdades e, sobretudo, a violência em suas diferentes formas de expressão, provocam em cada sujeito marcas indeléveis de indignação, insegurança e medo. São práticas tão comuns que além de provocarem sensações graves de insegurança, nos dão a impressão de que já estão incorporadas em nossa cultura e em nosso modo de vida.

A violência social e pessoal é um tema que abastece a grande mídia nacional. Vejam que boa parte do tempo dos noticiosos, dos telejornais e de outras mídias é dedicado ao anúncio de fatos violentos, sendo muitos com requinte de crueldade. Os anos passam, as queixas se avolumam e parece que estamos cada vez mais imobilizados diante do avanço sistemático dessa violência entre nós.

A violência, do ponto de vista comportamental e fenomenológico, pode ser considerada sob dois aspectos: como um epifenômeno, em que suas as raízes estariam ligadas a fatores pessoais e sociais de diferentes matizes, os quais colaborariam para sua expressão final. Seria, então, a “ponta do iceberg”, uma espécie de sintoma cujas causas verdadeiras estariam escondidas. Isto é, a violência como um sintoma que esconde a verdadeira doença e, esta, por sua vez, expressaria as profundas contradições e desagregações, tanto individuais quanto sociais, comuns na atualidade.

Por outro lado, por se tratar de algo frequente, comum e, quiçá, já incorporado à cultura, a violência seria fenomenologicamente “a própria doença” e não sintoma, com identidade e autonomia no contexto psicossocial. Portanto, a violência se transformaria em um padrão de comportamento psicossocial a inspirar outros comportamentos sociais.

Há verdades em ambas as afirmações. A presença da violência em grande escala e sem controle social, como a vemos na atualidade, provocaria tanto uma coisa quanto a outra, representaria duas faces distintas de uma mesma moeda.

Comumente, as pessoas só se dão conta de seus efeitos revelados por medos e inseguranças e nada mais. A indiferença ao fato causador, entremeada à banalidade de sua ocorrência, passa a ser a regra. As manifestações de indignação dão-se de forma localizada e isolada, dissonantes das medidas públicas que são precariamente utilizadas para seu enfrentamento.

Tais fatos colaboram para a construção de um novo ser humano, autor e vítima do próprio comportamento. Um homem indiferente, frio e insensível às questões sociais. Um homem que só se preocupa consigo e com seus interesses e nada mais. É um novo ser que está sendo construído pela sociedade moderna, indiferente à dor e ao sofrimento do outro, um homem que a cada dia pratica a maldade com requintes de crueldade, um homem distante da ética, da bondade da crença, da fé, um homem que cultiva o desamor, arrogância, onipotência, ávido pelo poder, pela posse, sem solidariedade e sem humanidade, entre outras coisas. Um homem que expressa a própria violência em sua natureza.

O legado dessas transformações antropológicas e sociais contemporâneas produz um homem sem autocrítica. Por isso mesmo, matam-se uns aos outros, como se não fizéssemos parte uns dos outros. Destruímos as plantas, os animais e o meio ambiente, como se fôssemos alheios aos mesmos. Exortamos e praticamos o ódio como se fosse um instrumento de defesa, não de autodestruição. Eis a matriz da violência. Não é o trânsito que mata, as drogas que destroem a humanidade, muito menos a injustiça que nos destrói, muito embora se saiba que cada um desses fatos é sumamente importante na definição de nossa sociedade. O essencial é que tudo isso nós mesmos inventamos e seremos nós que haveremos de mudar.

Somos autores, atores e diretores de nossa história, de tal forma que para mudar nosso script atual, temos de rever o que está escrito dentro de cada um de nós para podermos alterar nosso destino.

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Psiquiatrização da mordida

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No domingo passado, conversando com alguns amigos sobre os jogos do Brasil dizia que até agora essa seleção do Felipão não me convencera e duvidava muito que chegasse até ao final com esse joguinho inexpressivo, não agressivo e muito pacato. Nessa conversa, disse ainda que duas coisas me chamava a atenção, nesse momento da copa: a canonização do Neymar e a psiquiatrização da mordida do jogador Luis Suaréz.

Sobre o santificação do jogador brasileiro será objeto de outro artigo e sobre a mordida disse: nunca vi uma mordida tão glamorosa, fenomenal, inusitada e tão badalada como essa. Exaltaram tanto a mordida do jogador que passou a ser notícia internacional, nos mais importantes noticiosos. A mordida teve mais repercussão que as que ocorrem com as do Pitibus. Em muitos momentos cheguei a perceber uma clara intensão desvairada de diagnosticar doença na atitude do jogador Luiz Suaréz, tal a avidez ou voracidade da grande mídia em encontrar razões para a tal mordida. Eu pergunto: será que alguém não já mordeu alguém na vida, em qualquer fase da vida, desde a infância até a idade adulta? Quem, no auge de um enlace amoroso, onde o clima afetivo é propício a um relacionamento sexual, docilmente não se mordem se arranham, entre as carícias e, de forma arrebatadora se enlaçam nos braços um do outro?

Quem, em um trânsito caótico e estressante, onde a pessoa tem hora marcada para seus compromissos, tendo dezenas de carros à sua frente, transitando em ruas cheias de buraco que impedem as pessoas se deslocarem, ficam nervosos, esmurram a direção, xingam o prefeito, o pai do prefeito, a mãe do prefeito até mesmo gostariam de jogar seus carros contra o outro, pra esvaziar sua raiva, sua insatisfação por ter um trânsito desse e, sem saídas. (como o nosso). Ou ainda, quem contrariado em seus interesses não esmurra mesa, bate porta, fala palavrões e até esmurra alguém? Quem nunca viu um jogador de tênis jogar a raquete contra o chão por ter perdido uma partida de um campeonato importante? Em todas essas ocasiões, embora bem distintas uma das outras, há muitas coisas em comum: são situações de tensão, de stress ações transitórias, que ocorre sob esse clima emocional, onde passado esse momento, tudo volta ao normal, sem maiores constrangimentos ou consequências.

Nessa circunstância, haveria alguma diferença entre esses fatos e o jogador morder seu adversário? Acho que não. Nesse caso, coloco essa mordida no âmbito das reações humanas, sem qualquer outro fato. Observem que se tratava de um jogo duro, tenso, já no segundo tempo da partida, jogo difícil, angustiante onde o Uruguai lutava ferozmente para não perder. Além do mais, tratava-se de um jogador importantíssimo para seu país, com uma tremenda responsabilidade nos ombros qual seja a de conduzir seu país ao final da copa.

Esse estado emocional certamente influenciou na reação do jogador. Todo esse clima funcionou como um estopim para desencadear uma reação agressiva como muitas outras que se observa em jogos, dentro e fora da copa. Portanto, a meu ver, é natural que ele encontrasse sua válvula de escape diante de tanta tensão, como todos os outros jogadores a encontram: uns usam palavrões, agressões físicas, outros pontapés, ou caneladas, rasteiras, carrinhos, cabeçadas, esmurram, xingam, e assim por diante. Passado o fervor do jogo, tudo normal.

Ao que se sabe, a reação do jogador de morder o adversário ocorreu em três momentos distintos apenas, em tempos e circunstâncias diferentes em outros jogos, portanto, nas mesmas condições de stress e de tensão que esse último.

Do ponto de vista psiquiátrico, esse comportamento isoladamente não sinaliza para nenhuma doença mental, para tanto, teria que haver, ou estar associado, a outros comportamentos significantes, ser regularmente repetitivo, estar presente em muitas outras circunstâncias, e gerar prejuízos, sobretudo pessoal e social ao jogador, ao que parece não ser o caso do Luis Suaréz.

Uma reação emocional é uma reação emocional, tão somente e, não expressa de forma alguma qualquer doença mental. Chegou-se ao ridículo de especular que o jogador era canibal, carnívoro, ou ainda, portador de transtorno no controle dos impulsos, condições graves do ponto da saúde mental, que contra-senso! Não há em psiquiatria nenhuma doença mental que isoladamente seja identificada pelo fato de alguém morder alguém. Temos que ter muito cuidado em afirmar certas coisas, sobretudo à grande mídia, sem se saber bem sobre elas, pois se corre o risco de denegrir a imagem pessoal e social de alguém que não fez nada para tanto, especialmente se tratando de uma pessoa de notoriedade pública, como são os jogadores de futebol ao nível de seleção de um país.

 

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Para onde estão indo as crianças doentes mentais?

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Nos últimos meses tenho utilizado esse veículo de comunicação para manifestar minha indignação sobre as incongruências da política brasileira que trata das questões da saúde mental. Dada a complexidade desse assunto e sua abrangência epidemiológica, a política de saúde mental deveria ser uma das políticas prioritárias dos governos, todavia verifica-se o contrário.

Especificamente sobre saúde mental, é lamentável aonde chegamos. Uma política mal aparelhada, desarticulada, sem referência, com poucos recursos financeiros e, confusa em sua aplicabilidade. A situação é mais preocupante quando se trata de saúde mental na infância e na adolescência. Etapas da vida que pela sua natureza deveriam dispor do que há de melhor nesse sentido, para dela desfrutarem. Mas, aqui reina o contrário, crianças e adolescentes estão literalmente desassistidos quanto aos seus direitos constitucionais de ter acesso á saúde no mais amplo sentido.  É mais um setor que vai muito mal nesse país entre tantos outros e, algumas iniciativas aqui tomadas pelo poder público passam á margem da tolerância quanto aos cuidados que deveriam ter sido tomados em benefícios de crianças e  adolescentes. Dão-nos a impressão que os problemas nessa área não existem ou não tem a menor importância.

O Brasil, segundo a UNICEF, possui uma população de quase 200 milhões de pessoas, dos quais 60 milhões têm menos de 18 anos de idade, o que equivale a pouco mais de um terço de toda a população de crianças e adolescentes da América Latina e do Caribe. São dezenas de milhões de pessoas que possuem direitos e deveres e que necessitam de condições para se desenvolverem com plenitude.

Segundo ainda a UNICEF, essas crianças estão especialmente vulneráveis às violações de direitos, à pobreza e à iniquidade no País. Por exemplo, 29% da população vivem em famílias pobres, mas, entre as crianças, esse número chega a 45,6%. As crianças negras, por exemplo, têm quase 70% mais chance de viver na pobreza do que as brancas; o mesmo pode ser observado em crianças que vivem em áreas rurais, onde 70% das 13 milhões que vivem nessas condições são classificadas como pobres. Essas condições socioeconômicas são absolutamente desfavoráveis e incompatíveis à um bom desenvolvimento emocional, social e comportamental do ponto de vista psiquiátrico e da saúde mental, fatos que agravam mais ainda o problema.

Em, nosso país, 21 milhões de adolescentes com idade entre 12 e 17 anos e as crianças são especialmente afetados pela violência. As estatísticas mostram um cenário desolador em relação à violência contra esses jovens. A cada dia, são registrados 129 casos de violência psicológica e física, incluindo a sexual, e outras negligências contra esses jovens, conforme o Disque Denúncia 100. Isso quer dizer que, a cada hora, cinco casos de violência contra meninas e meninos são registrados no País. Imaginem o impacto dessas experiências na mente de um ser em desenvolvimento, pois tais ocorrências poderão também marcá-las para sempre.

Tanto as injúrias socioeconômicas quanto as violências dos quais são vítimas esses pequenos seres humanos provocarão uma carga muito grande de dor e sofrimento que interferirá na sua estrutura afetivo-emocional, comportamental e na própria formação da personalidade dos mesmos, com consequências imprevisíveis em sua dimensão moral, comportamental e biopsicossocial.

Por conta dessas experiências traumáticas e muitos outros fatores psicopatológicos que esses jovens são vítimas, estima-se que entre 12 e 20% da população infanto-juvenil apresentará na vida, algum transtorno mental e entre esses: autismo, depressão, distúrbios ansiosos, distúrbios hipercinéticos, distúrbios da atenção, distúrbios de comportamentos, alcoolismo, esquizofrenia, retardo mental e outras dependências químicas.  Entre esses que apresentam tais distúrbios, 2 a 3 % exigirão cuidados intensivos para seu enfrentamento, portanto apresentarão condições psiquiátricas graves que necessitarão atenções especiais.

Só o alcoolismo, doença mental severa e prevalente entre nós, será desenvolvido por 7% da população masculina até 17 anos e, uma em cada 4 crianças e adolescentes, com idade entre 10 e 18 anos, estarão expostos ao abuso de álcool no ambiente familiar.   Os índices de consumo de outras drogas crescem assustadoramente, sem qualquer controle.

E o que está sendo feito a essa juventude enferma em matéria de assistência, de prevenção ou de reabilitação psicossocial? Para onde os pais dessas crianças e adolescentes portadoras desses transtornos estão levando seus filhos na área pública? E os dependentes de álcool e outras drogas, onde estão sendo tratados? E os pais angustiados e desesperados como os vejo quase sempre, onde irão buscar apoio?  Se houver necessidade, onde internar os mais graves? As perguntas estão postas, o desafio agora é saber quem do poder público vai responder. Essa população de jovens brasileiros e maranhenses sofredores desassistidos que estão a mercê da sorte ou da boa vontade dos outros, quem vai cuidar? Eles estão aí entre nós. Precisamos dá um rumo decente, digno e humanizado á politica de segurança, social e de saúde para essa juventude que tanto esperam da gente, nesse estado e nesse país.

 

 

 

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