O Transtorno Afetivo Bipolar – TAB

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É notória a ênfase que a grande imprensa brasileira vem dando ultimamente na divulgação dos transtornos psiquiátricos, fato que não acontecia especialmente pelos enormes preconceitos que existia em torno das doenças mentais e de seus correlatos. As telenovelas, os noticiosos os filmes e muitos outros meios de comunicação e de divulgação freqüentemente tratam destes assuntos. Entre todos os mais badalados estão os sobre dependências de drogas do alcoolismo e dos problemas depressivos e da ansiedade.
Neste artigo trato do transtorno afetivo bipolar (TAB) doença que vem tendo uma alta incidência na população em geral inclusive entre crianças e adolescentes e que causa um enorme problema para o portador e para sua família que muita das vezes não sabe como tratar seus pacientes.
Do ponto de vista psiquiátrico o TAB surgiu em medicina na última classificação das doenças mentais realizada pela OMS em 1973, vindo a substituir o termo psicose maníaco – depressiva – PMD.
Clinicamente o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é caracterizado por alterações do humor que se manifestam como episódios depressivos alternando-se com episódios de euforia (também denominados de mania), em diversos graus de intensidade. Diferentemente dos altos e baixos normais por que passam todas as pessoas, os sintomas do transtorno bipolar são graves. Eles podem ocasionar danos profundos nos relacionamentos sociais e afetivos, no desempenho laboral e no pragmatismo, no desempenho escolar e muitos outros problemas.
O transtorno se origina por inúmeros fatores por isto mesmo é considerado um transtorno de origem multifatorial, porém tem base genética sendo atualmente uma condição irrefutável e bem estabelecida: 50% dos portadores apresentam pelo menos um familiar afetado, e filhos de portadores apresentam risco aumentado de apresentar a doença, quando comparados com a população geral.
O TAB acarreta incapacitação e grave sofrimento para os portadores e suas famílias. A mortalidade dos portadores de TAB é elevada, e o suicídio é a causa mais freqüente de morte, principalmente entre os jovens. Estima-se que até 50% dos portadores tentem o suicídio ao menos uma vez na vida e 15% efetivamente o cometem. Também doenças clínicas como obesidade, diabetes, e problemas cardiovasculares são mais freqüentes entre portadores de Transtorno Afetivo Bipolar do que na população geral. A associação com a dependência de álcool e outras drogas não apenas é comum (41% de dependência de álcool e 12% de dependência de alguma droga ilícita), como agrava o curso e o prognóstico do TAB, piora a adesão ao tratamento e aumenta em duas vezes o risco de suicídio na população de dependentes.
O início dos sintomas na infância e na adolescência é cada vez mais descrito e, em função de peculiaridades na apresentação clínica, o diagnóstico é difícil. Não raro as crianças recebem outros diagnósticos, o que retarda a instalação de um tratamento adequado. Isso tem conseqüências devastadoras, pois o comportamento suicida pode ocorrer em 25% dos adolescentes portadores de TAB. Assim como a diabetes ou as doenças cardíacas, o transtorno afetivo bipolar é uma doença de duração longa, que tem de ser controlada cuidadosamente durante a vida da pessoa.
A alternância de estados depressivos com maníacos é a tônica dessa patologia. Muitas vezes o diagnóstico correto só será feito depois de muitos anos. Uma pessoa que tenha tido um episódio depressivo e receba o diagnóstico de depressão e dez anos depois apresente um episódio maníaco tem na verdade o transtorno afetivo bipolar, mas até que a mania surgisse não era possível conhecer diagnóstico verdadeiro.
Os sinais e sintomas no episódio de euforia (maníaco) incluem: energia e atividade aumentadas, inquietação; humor excessivamente elevado, bom demais, eufórico; Irritabilidade extrema; pensamento acelerado e falar muito e rapidamente, pulando de uma idéia para outra; distraibilidade, não consegue se concentrar direito; pouca necessidade de sono ( insônia); crença super-valorizadas das próprias capacidades e poderes; juízo crítico deficiente; gastos excessivos; aumento do impulso sexual; abuso de álcool e drogas; agressividade e irritabilidade exagerada.
Na fase depressiva predominam humor triste, ansioso ou vazio duradouro; sentimentos de desespero ou pessimismo; sentimento de culpa, remorso e arrependimento e de menos valia; sensação de impotência ou incapacidade sexual; perda do interesse ou prazer em atividades que eram anteriormente apreciadas, incluindo sexo; diminuição da energia, uma sensação de fadiga ou de estar “devagar”; dificuldade de se concentrar de recordar e tomar decisões; inquietação ou irritabilidade; dorme demais, ou não consegue dormir; alteração no apetite e/ou perda ou ganho de peso não intencional; desinteresse, apatia etc.
O tratamento do TAB é farmacológico para ambas as fases e fora das mesmas é prevenção, pois caso não haja prevenção pode existir recidivas freqüentes chegando a índices de 80 a 90% de recidivas ao longo da vida. Outras abordagens são nas terapias comportamentais e cognitivas além da terapia ocupacional reabilitadora. A orientação familiar é indispensável para orientar estas famílias a manejar melhor com seus enfermos

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Álcool prejudica o descanso

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Pesquisa mostra que, apesar de inicialmente atuar como sedativo, substância provoca um aumento na potência de determinadas ondas cerebrais associadas a um sono agitado e pouco reparador

Tomar uma taça de vinho ou outra bebida antes de se deitar pode ajudar uma pessoa a dormir mais rápido, mas apesar de inicialmente atuar como sedativo, o álcool provoca perturbações no sono que atrapalham mais o descanso, diz estudo publicado ontem on-line em adiantamento à edição de fevereiro do periódico científico “Alcoholism: Clinical & Experimental Research”. Segundo os pesquisadores, embora a substância promova a atividade das chamadas ondas delta no cérebro, associadas a estágios de sono profundo sem sonhos, ela também traz um aumento na potência das ondas alfa na região frontal do órgão, vistas como reflexo de um sono agitado.
— As pessoas tendem a se focar nos relatos das propriedades sedativas do álcool, que se traduzem em um menor tempo para dormir, particularmente em adultos, do que nas perturbações que ele provoca mais tarde na noite — critica Christian L. Nicholas, cientista do Laboratório de Pesquisas do Sono da Universidade de Melbourne, na Austrália, e um dos autores do estudo.
A atividade das ondas delta no cérebro costuma ser maior na infância e vai caindo com a idade, passando por reduções significativas entre os 12 e 16 anos. Os cientistas acreditam que é por isso que as crianças e jovens dormem mais que os adultos e idosos, já que elas estão ligadas ao chamado “Sono de Ondas Lentas” (SWS, na sigla em inglês) e ao “Sono sem Movimento Rápido dos Olhos” (NREM, também na sigla em inglês), ambos estágios sem sonhos do período em que estamos dormindo. O problema é que também é justamente nesta época da juventude que as pessoas experimentam o álcool pela primeira vez, com o consumo em geral se elevando com o tempo.
— A redução na frequência das ondas delta nos eletroencefalogramas que observamos com a idade é vista como uma representação do processo normal de maturação do cérebro à medida que o cérebro adolescente continua a se desenvolver rumo à maturidade — lembra Nicholas. — E embora a função exata do sono NREM, e em particular do SWS, ainda seja motivo de debates, acredita-se que eles refletem as necessidades de sono e sua qualidade. Assim, qualquer perturbação neles pode afetar as propriedades restauradoras do sono e serem prejudiciais à funcionalidade durante o dia.
No estudo, Nicholas e sua equipe recrutaram 24 voluntários (12 mulheres e 12 homens) saudáveis com entre 18 e 21 anos de idade que beberam “socialmente”, isto é, menos de sete doses-padrão por semana, nos 30 dias anteriores. Cada um dos participantes da pesquisa foi então analisado com exames de polissonografia e eletroencefalogramas enquanto dormia sob duas condições: tendo consumido álcool antes de se deitarem ou apenas um placebo. Os resultados mostraram que o álcool de fato aumentou a atividade das ondas delta durante o SWS, mas que também houve simultaneamente uma alta nos registros de ondas alfa na região frontal do cérebro.
— Elevações similares na atividade das ondas delta e alfa, que estão associadas com um sono pobre ou pouco reparador, também foram observadas em indivíduos com dores crônicas — destaca Nicholas. — Assim, se o sono está sendo perturbado regularmente pelo consumo de álcool antes de dormir, particularmente ao longo de grandes períodos de tempo, isso pode ter efeitos prejudiciais significativos no bem-estar durante o dia e em funções neurocognitivas como os processos de aprendizado e memória. A mensagem a se levar deste estudo é que o álcool na verdade não é um bom auxílio para o sono mesmo que ele pareça te ajudar a dormir mais rápido. De fato, a qualidade do sono que você obtém foi significativamente alterada e perturbada por ele.

Portal Araruna Online

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Fármacia como unidade de saúde

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Hoje foi promulgado a lei que transforma as farmácias em unidades de assistência de saúde, incorporando definitivamente as farmácias em uma rede de serviços encarregados de promoverem saúde pública nesse país, em que ao invés de ser simplesmente um ponto de venda de medicamentos e outros produtos se transformarão em unidades de saúde, ampliando portanto, em boa hora a sua responsabilidade social.
Com isso, abre-se novos horizontes para classe farmacêutica do ponto de vista do mercado de trabalho pois novas frentes surgirão, já que pela lei as farmácias deverão contar com a presença do farmacêutico em todo seu expediente de funcionamento. Novos empregos e maiores responsabilidade as farmácias. Um ponto altamente relevante que deverá ser alcançado pela medida é a questão da auto medicação, um problema grave que ocorre na população brasileira ocasionando sérios danos á saúde pública desse país.
No mesmo texto legal, foi concedido ao farmacêutico a prerrogativa de prescrever medicamentos que não exigem uma prescrição médica, isto é, prescrever medicamentos que não seja exigida a receita médica.
Nesse ponto gostaria de refletir um pouco. Trata-se de uma questão complexa, polêmica e profunda que exige uma releitura do que estão propondo para essa nobre e importante profissão, até porque entendo que a farmácia pode e deve se inserir em uma infinidade de outras atividades profissionais a serem realizados pelos farmacêuticos que não seja essa de prescrever fármacos para justificar sua nova condição de unidade de saúde, uma reinvindicação antiga e justa dessa classe importante dos farmacêutica que há mais de 20 anos vem lutando para tanto, portanto a lei coroa a luta dessa categoria com os quais me confraternizo.

Em suas novas atribuições, já vimos que a lei outorga a esses profissionais a prerrogativa de prescrever os tais medicamentos inalcançados pelas receitas médicas, seja qual for. Ao meu ver, uma ação no mínimo temerária pela imensa responsabilidade exigida por esse procedimento sobre cada profissional que irá fazê-lo. Prescrever um fármaco, seja qual for, a uma determinada pessoa é uma ação complexa que exige antes de tudo um diagnóstico e conhecimentos profundos de terapêutica. Exige um conhecimento abalizado de clínica médica, de farmacologia, fisiopatologia, de propedêutica e muitos outros conhecimentos sobre saúde que justifiquem o ato de se prescrever um medicamento a alguém. Não é só passar por passar tem que se saber o que, como passar, para quem passar, e porque passar. Além do mais, deve-se assumir a total responsabilidade em fazê-lo. Passar um analgésico, um antitérmico, um antidiarreico ou um ante emético (para vômito), pode parecer simplório, não o é. Todas essas condições clínicas podem esconder enfermidades graves que se revelam por tais sintomas em que o profissional deve conhece-los muito bem para prescrever  algum medicamento.
As implicações, ética, médica e jurídica que há por trás de uma prescrição são muitas e, entre outras coisas, terão que se responsabilizar pelas consequências impostas pela sua ação. Estarão preparados os farmacêuticos e devidamente habilitados para fazê-lo?

É da competência dos Farmacêuticos tratar de alguém mesmo que seja um sintoma como dor, a febre, o vômito? Quem se responsabilizará se der algo errado com esse pacientes devido sua prescrição? Estarão os Farmacêuticos habilitados e preparados para fazer diagnósticos? Essas e muitas outras questões deveriam ser levantadas e discutidas para se verificar o alcance profissional e social de tais medidas.
Outro aspecto, ao meu ver relevante, é: porque atribuir a esses profissionais a responsabilidade de prescreverem somente medicamentos fora do alcance dos receituário médicos? já que qualquer fármaco, independente de estarem dentro ou não de um receituário médico, tem seus princípios ativos, seu mecanismos de ação, sua faramacocinética, sua famacodinâmica, seu metabolismo e sua indicação médica de uso? Mas, no outro lado da questão, não seria muito pouco atribuir a esses profissionais, ante a enorme responsabilidade que terão ao prescrever algo para alguém, prescreverem somente os medicamentos fora do alcance do receituários médicos? Não estará esse governo  atribuindo a esses profissionais responsabilidades que seriam dele governo, não oferecendo mais postos de saúde, mais hospitais, mais saneamento básico, mais laboratórios, mais ambulatórios
de especialidades e muitos outros serviços  de saúde á população ao invés de aumentar a responsabilidade desses profissionais?
Como se trata de um fato ligado a saúde pública a sociedade, os outros profissionais e a própria categoria devem se manifestar mais para que nós possamos compreender melhor a natureza de tais medidas e o  impacto que isso causará á nossa população.
De qualquer forma, considerem meus comentários uma contribuição para o engrandecimento da classe farmacêutica de nosso estado considerando que os reconheço como profissionais altamente importantes e de uma enorme responsabilidade social na promoção e manutenção da saúde e da vida.

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Psiquiatrização da mordida

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No domingo passado, conversando com alguns amigos sobre os jogos do Brasil dizia que até agora essa seleção do Felipão não me convencera e duvidava muito que chegasse até ao final com esse joguinho inexpressivo, não agressivo e muito pacato. Nessa conversa, disse ainda que duas coisas me chamava a atenção, nesse momento da copa: a canonização do Neymar e a psiquiatrização da mordida do jogador Luis Suaréz.

Sobre o santificação do jogador brasileiro será objeto de outro artigo e sobre a mordida disse: nunca vi uma mordida tão glamorosa, fenomenal, inusitada e tão badalada como essa. Exaltaram tanto a mordida do jogador que passou a ser notícia internacional, nos mais importantes noticiosos. A mordida teve mais repercussão que as que ocorrem com as do Pitibus. Em muitos momentos cheguei a perceber uma clara intensão desvairada de diagnosticar doença na atitude do jogador Luiz Suaréz, tal a avidez ou voracidade da grande mídia em encontrar razões para a tal mordida. Eu pergunto: será que alguém não já mordeu alguém na vida, em qualquer fase da vida, desde a infância até a idade adulta? Quem, no auge de um enlace amoroso, onde o clima afetivo é propício a um relacionamento sexual, docilmente não se mordem se arranham, entre as carícias e, de forma arrebatadora se enlaçam nos braços um do outro?

Quem, em um trânsito caótico e estressante, onde a pessoa tem hora marcada para seus compromissos, tendo dezenas de carros à sua frente, transitando em ruas cheias de buraco que impedem as pessoas se deslocarem, ficam nervosos, esmurram a direção, xingam o prefeito, o pai do prefeito, a mãe do prefeito até mesmo gostariam de jogar seus carros contra o outro, pra esvaziar sua raiva, sua insatisfação por ter um trânsito desse e, sem saídas. (como o nosso). Ou ainda, quem contrariado em seus interesses não esmurra mesa, bate porta, fala palavrões e até esmurra alguém? Quem nunca viu um jogador de tênis jogar a raquete contra o chão por ter perdido uma partida de um campeonato importante? Em todas essas ocasiões, embora bem distintas uma das outras, há muitas coisas em comum: são situações de tensão, de stress ações transitórias, que ocorre sob esse clima emocional, onde passado esse momento, tudo volta ao normal, sem maiores constrangimentos ou consequências.

Nessa circunstância, haveria alguma diferença entre esses fatos e o jogador morder seu adversário? Acho que não. Nesse caso, coloco essa mordida no âmbito das reações humanas, sem qualquer outro fato. Observem que se tratava de um jogo duro, tenso, já no segundo tempo da partida, jogo difícil, angustiante onde o Uruguai lutava ferozmente para não perder. Além do mais, tratava-se de um jogador importantíssimo para seu país, com uma tremenda responsabilidade nos ombros qual seja a de conduzir seu país ao final da copa.

Esse estado emocional certamente influenciou na reação do jogador. Todo esse clima funcionou como um estopim para desencadear uma reação agressiva como muitas outras que se observa em jogos, dentro e fora da copa. Portanto, a meu ver, é natural que ele encontrasse sua válvula de escape diante de tanta tensão, como todos os outros jogadores a encontram: uns usam palavrões, agressões físicas, outros pontapés, ou caneladas, rasteiras, carrinhos, cabeçadas, esmurram, xingam, e assim por diante. Passado o fervor do jogo, tudo normal.

Ao que se sabe, a reação do jogador de morder o adversário ocorreu em três momentos distintos apenas, em tempos e circunstâncias diferentes em outros jogos, portanto, nas mesmas condições de stress e de tensão que esse último.

Do ponto de vista psiquiátrico, esse comportamento isoladamente não sinaliza para nenhuma doença mental, para tanto, teria que haver, ou estar associado, a outros comportamentos significantes, ser regularmente repetitivo, estar presente em muitas outras circunstâncias, e gerar prejuízos, sobretudo pessoal e social ao jogador, ao que parece não ser o caso do Luis Suaréz.

Uma reação emocional é uma reação emocional, tão somente e, não expressa de forma alguma qualquer doença mental. Chegou-se ao ridículo de especular que o jogador era canibal, carnívoro, ou ainda, portador de transtorno no controle dos impulsos, condições graves do ponto da saúde mental, que contra-senso! Não há em psiquiatria nenhuma doença mental que isoladamente seja identificada pelo fato de alguém morder alguém. Temos que ter muito cuidado em afirmar certas coisas, sobretudo à grande mídia, sem se saber bem sobre elas, pois se corre o risco de denegrir a imagem pessoal e social de alguém que não fez nada para tanto, especialmente se tratando de uma pessoa de notoriedade pública, como são os jogadores de futebol ao nível de seleção de um país.

 

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Abaixo os preconceitos contra os doentes mentais

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 Cada vez mais a sociedade civil deste país se insurge contra as incongruências e a violência contida nos preconceitos e nos estigmas sociais. Preconceitos de todos os tipos: contra gays, negros, pobres, prostitutas, nacionalidades e sobre tudo, contra os doentes mentais. Nesse particular, estes são profundos e antigos, pois desde os primórdios da psiquiatria que se sabe dos danos e prejuízos ocasionados por eles e pelos estigmas que há em torno desses doentes.

Preconceitos e estigmas são na realidade condições pejorativas desvalorativas dirigidas contra alguém ou contra algo que ocorra na realidade. São conceitos antecipados, que antecedem o que de fato ocorre, o que representam ou mesmo o que são na realidade. Os preconceitos estão quase sempre inseridos em um contexto social, psíquico ou cultural ou a condições específicas que fazem parte dos indivíduos. Em geral os preconceitos são estigmatizantes e segregacionistas onde indivíduos e/ou condições psicossociais são desqualificados e postos á margem. São repletos de violências contra o que, e a quem se dirige.

A Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, há quatro anos, desenvolveu a campanha “A Sociedade Contra o Preconceito”, lançada durante o XXIX CBP. Essa campanha ganhou notoriedade de tal forma que culminou com o projeto “Psicofobia é um Crime” que, após várias audiências públicas, apresentou emenda ao projeto de reforma do Código Penal, para criminalizar a segregação de portadores de transtornos mentais.

O programa “Psicofobia é um Crime” visa institucionalizar nossa luta de combater os preconceitos e os estigmas que ocorrem na psiquiatria. Trata-se de um manifesto consciente, responsável, humanizador, que visa extirpar os preconceitos e/ou qualquer outra forma de descriminação que exista sobre os doentes mentais. É uma forma de demonstrar nossa indignação e disposição de lutar contra aos preconceitos á esses doentes, aos médicos psiquiatras e a psiquiatria como especialidade médica.

Através deste Programa “Psicofobia é um Crime”, já avançamos muito. Artistas, poetas, políticos e escritores, já se apresentaram na abertura dos nossos Congressos de Psiquiatria tratando de tais preconceitos relatando suas experiências como portadores de alguns transtornos psiquiátricos ou de alguns parentes seus. Além disso, redes de tvs e grandes jornais nacionais atualmente se dirigem á ABP para ouvi-la quando o assunto é sobre doença mental, fatos que nunca houve na história da psiquiatria desse país.

Entre essas figuras de notoriedade pública destacamos o grande humorista Chico Anízio, o narrador e comentarista esportivo Luciano do Vale, o grande poeta maranhense Ferreira Gullar e tantas outras personalidades públicas, não menos importantes, já se pronunciaram contra os estigmas contra os doentes mentais.

É bom que se diga que as doenças mentais obedecem às mesmas regras, leis e princípios que regem as demais doenças humanas, só diferindo quanto a forma de se expressarem clinicamente, e nada mais. São doenças que, como muitas outras, se tiverem precocemente um bom diagnóstico e um tratamento adequado terão um prognóstico favorável e muitos desses enfermos se recuperam inteiramente ao ponto de levarem uma vida absolutamente normal, como qualquer um.

A evolução nos critérios de diagnósticos dessas enfermidades, os avanços farmacológicos e outras formas de tratamentos bem como os avanços nos recursos laboratoriais hoje disponíveis são consideradas avanços absolutamente importante no controle clínico e epidemiológico dessas enfermidades. Fatos que vem colaborando sobre maneira para a derrubada dos estigmas aqui encontrados.

De tal forma que essa imagem malévola, demoníaca, amedrontadora, segregacionista bem como de que os doentes mentais são doentes violentos, é um puro legado dos preconceitos e dos estigmas que existem contra esses pacientes que, que por extensão, resvala na psiquiatria como especialidade médica, nos psiquiatras, nos hospitais psiquiátricos e, porque não dizer, nos tratamentos a eles oferecidos.

A meu ver, o que deveria ser feito e, que infelizmente não o é, seria dispormos de uma política pública que tratasse desse assunto de forma decente, ampla, humanizada, tecnicamente eficiente, para se oferecer aos doentes mentais e ás suas famílias. Ocorre, todavia, que os governos de forma irresponsável e negligente não dão a menor bola para essa área da saúde pública. Os pacientes são segregados, tratados de forma negligente e desumana o que reforça muito mais os preconceitos e estigmas que há sobre eles.

De tal forma que se houvesse de fato uma reforma da assistência psiquiátrica e em saúde mental, oferecendo a esses enfermos os que eles de fato necessitam e tem direito constitucional, estaríamos de fato destruindo seu pior inimigo, os preconceitos, que há em seu entorno.

 

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Um Brasil triste na época do carnava

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Neste último 27 de fevereiro, as vésperas do carnaval uma das mais importantes festas populares desse país, onde muitos participam inspirados no “samba, suor e cerveja”, onde a alegria, a descontração o entusiasmo são os que comandam a festa, ocorreu um fato lamentável e entristecedor que descolore a alegria contagiante desse momento: a absolvição dos bandidos do mensalão, que estavam sendo julgados por crime de formação de quadrilha.

Os 08 mensaleiros, que já haviam sido condenados por seus crimes e que já cumprem suas penas, nesse novo julgamento, o Supremo Tribunal Federal- STF, entendeu que não houve formação de quadrilha com esses envolvidos com o maior crime de bases políticas desse país, conhecido como mensalão.

A decisão, nos deixou a todos de “queixo caído”. O próprio Presidente do STF, Ministro Joaquim Barbosa, visivelmente indignado com o resultado dissera em alto e bom tom, que os argumentos utilizado pelos ministros que votaram a favor da absolvição desse criminosos, havida sido pífios, e esse adjetivo significa tudo que possui valor irrisório; reles, vil; grosseiro; ordinário e comum. O termo pode também ser utilizado como uma característica de quem é ordinário, baixo; canalha, de tal forma que quando ele qualifica de pífios os argumentos desses ministros pró mensaleiros realça as incongruências e a incredibilidade no resultado desse julgamento ocorrido na maior corte de justiça desse país. O presidente visivelmente indignado diz textualmente: “essa é uma tarde triste para o STF, pois com argumentos pífios foi reformada, foi jogada por terra, extirpada do mundo jurídico uma decisão plenária sólida extremamente bem fundamentada que foi aquela tomada por esse tribunal, no segundo semestre de 2012” ao se referir ao rigoroso trabalho que fora feito no STF, na primeira etapa desse processo, que resultou na condenação desses políticos criminosos.

Para nós brasileiros “pobres mortais” já estamos cansados de tantas incongruências e contradições e de conviver com tantos descompasso no exercício da justiça, da  política e na gestão da coisa pública esse resultado, passa a ser mais uma que teremos que “engolir guela abaixo”. O impacto maior sobre nós foi no campo ético pois esperávamos que o STF, ratificasse o que já haviam decido por ocasião  do primeira fase do julgamento desses mensaleiros que pela abrangência e variedade dos crimes que cometeram, pagassem suas penas como estavam previstas, mas contraditoriamente, retiraram a modalidade de pena que fizeram jus (regime fechado) e o tempo de permanência de cada um na cadeia.

A decepção se espalhou pelo Brasil a fora. Todos os brasileiros, desencantados com o resultado desse julgamento e comprometidos com a moral publica, manifestou sua indignação com uma frase clássica: já sabia que iria dá nisso. Mas uma vez vence o poder, a engenharia política mau versada, vence as contradições como nunca visto antes. O favoritismo, o utilitarismo, condutas antiética e muitas outras falcatruas tomam corpo entre nós e em nossa instituições nos decepcionando. Isto é, de fato estamos mergulhados em uma das piores crises no âmbito da moralidade pública e esse resultado mostrou isso.

O resultado do julgamento em 2012, reacendeu em todos nós o sentimento de credibilidade, de confiança e de punidade da justiça, que vinha com sua imagem combalida e prejudicada pelas contradições que lá ocorriam e, ao vernos os “bandidos de colarinho branco” sendo levados para a cadeia, ente os quais, o ex-ministro e chefe da quadrilha da “república petista”, zé Dirceu, renovaram-se nossas esperanças e confianças  no exercício da justiça.

Porém, como diriam os antigos, “a alegria de pobre dura pouco”, pois nesse novo julgamento, ocorrido no dia 27 de fevereiro de 2014, como diz o próprio Joaquim Barbosa onde “a decisão sólida extremamente bem fundamentada que fora tomada por esse tribunal, (no primeiro julgamento) foi jogada por terra, extirpada do mundo jurídico com argumentos pífios”, e essa expressão reascende em nós o implacável sentimento de impunidade, de desalento, de tristeza e de severa decepção nas instituições desse país encarregadas de promoverem a justiça.

A impressão que se tem é que tudo fora uma farsa, um jogo de cartas marcadas ou mesmo uma “encenação feitas por hábeis profissionais” simplesmente para encobrir a “verdadeira intenção dos mandatários do poder” que é de libertar esses criminosos, isentando-lhes de suas responsabilidades e das penas pelos crimes que cometeram e daqui ha pouco estarem do nosso lado desfrutando dos benefícios de um estado injusto contra nós trabalhadores  brasileiros.

De qualquer forma resta-nos a esperança, qual seja, a de permanecermos acreditando que isso um dia irá mudar. Um dia onde prevalecerá a plena justiça e a honradez e, delas nos orgulhar.  A esperança de nascer outros Joaquim Barbosa, corajoso, contestador, combativo, irreverente e justo, para nos ajudar a prender esses falsos brasileiros que “vão para a cadeia com sorrisos nos dentes, de punho cerrados vociferando frases de efeito com: vamos pra luta companheiros”. Um dia onde a maioria possa decidir sobre os rumos que querem seguir na vida e não uma meia dúzia de não-patriotas, oportunista e aproveitadores que tiram proveito de seus cargos e funções no estado. A esperança enfim de vivermos em um mundo justo onde ele mesmo é a ordem natural e o grande alicerce da dignidade humana.

 

 

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Não estamos perdemos a “guerra para as drogas

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Cerca de 210 milhões de pessoas em todo o mundo – 4,8 por cento da população entre  15 e 64 anos de idade, consumiu drogas no ano passado. Estes dados das Nações Unidas foi anunciado por seu setor encarregado desse assunto (UNODC), o qual aponta para uma “estabilização” quer do consumo esporádico quer do consumo abusivo. “Contudo, está em alta a procura desenfreada de substâncias fora do controle internacional”, diz o relatório, isto é, drogas que não estão nas listas internacionais de substâncias proscrita para o consumo. Entre essas os canabinóides sintéticos, com efeitos semelhantes aos da “cannabis” natural, também conhecidos por “especiarias”.

“Os ganhos a que assistimos nos mercados de drogas tradicionais estão a ser anulados por uma moda de consumo de “drogas designer” (desenho) ou drogas sintéticas que imitam os efeitos das substâncias ilegais”, afirma o Diretor Executivo da Agência, das Nações Unidas, o Sr. Yuri Fedotov.

Qualquer lado que se vá, aí estarão elas sempre conosco, sejam drogas sintética, semi-sintética ou natural. A busca por drogas é a tônica da sociedade contemporânea onde esse comportamento se inseri entre outros, também contraditórios, impostos pelos novos  tempos e paradigmas que estamos inventando para vivermos.

Se formos atrás das causas desse consumo compulsivo, teríamos muitas dificuldades para identificá-las pois uma das caraterísticas desse fenômeno é ter natureza multicausal, onde diferentes fatores pessoais, sociais e transculturais, irão exercer um papel importante na gênesis desses problemas.

Vejam. Nesta semana foram anunciados pela grande mídia a presença no solo brasileiro de duas outras drogas com caraterísticas psicoativas deletérias e que já se encontram na lista de substâncias proibidas da ANVISA, são a metilona e a 25i. Ambas as substâncias são deglutidas, alcançam o cérebro de forma muito rápida e apresentam efeitos comportamentais imediatos. Essas ações poderosas no cérebro pode inclusive provocar óbitos facilmente, segundo os toxicologistas.

A primeira delas, a metilona se assemelha à Dietilamida do Ácido Lisérgico – LSD, substância alucinogênica ( induz a alucinação)  e deliriogência (induz a delírios) ocasionando surto psicóticos agudos que evolui de forma dramática para muitas doenças mentais.

A outra, denominada de 25i, ainda desconhecida, parece com o Ecstasy, uma metanfetamina. Entre os efeitos da primeira, destaca-se a sensação de “despersonalização” que como o próprio nome diz, os usuários se desorientam quanto a si mesmos. Perdem sua identidade temporariamente ficando a mercê da própria sorte. Esse é um sintoma muito grave que em alguns casos pode ocorrer mesmo que a pessoa deixe de usar a droga.

A outra droga se assemelha ao ecstasy, uma metanfetamina. É denominada de 25I-NBOMe conhecida como 25i. Entre os sintomas que mais chama a atenção nesse produto é o comportamento extremamente violento que o usuário apresenta quando as coisas não estão saindo à contento.

Segundo informações da Polícia Federal, são drogas por demais conhecidas em alguns países. No Brasil, a metilona já foi encontrada em São Paulo e também no Rio Grande do Norte. A 25I, em São Paulo, Santa Catarina e Mato Grosso e segundo a própria Polícia as drogas são sintetizadas na Índia e na China. Mas o caminho obrigatório para vir para o Brasil é via Europa. Eram drogas, até bem pouco tempo, vendidas livremente na internet. Seus consumidores são jovens de classe média alta que as utilizam.

Nos Estados Unidos as duas drogas mataram pelo menos 19 pessoas no ano passado e lá,  como aqui, já foram proscritas. A metilona foi proibida nos Estados Unidos em abril do ano passado. A 25I, há apenas três meses. Reino Unido e Dinamarca também baniram as duas.  Outros países, como Rússia, Israel e Canadá, proibiram pelo menos uma delas.

Um fato digno de nota é que somente em 2014, mais de 30 drogas desconhecidas foram levadas para análise no Instituto Nacional de Criminalística, no Distrito Federal, demonstrando a corrida frenética por drogas de todos os tipos, como dissemos acima, para o consumo abusivo. Acorrida entre oferta de novas drogas e a procura das mesmas é tão intensa que “todas as novas drogas sintéticas e semissintéticas que chegam no território nacional deveriam ser inseridas imediatamente, após a apreensão em situação de crime naturalmente, em uma lista que vai caracterizá-las como drogas proscritas, proibidas”, diz Carlos Antônio de Oliveira, da Associação Nacional dos Peritos Criminais.

A luta, às vezes, parece desigual, nos dando uma “sensação de desalento angustiante” ou como dizem alguns, “perdemos a guerra para as  drogas”. Ocorre, que esses não entendem que a guerra que estamos enfrentando não é “conta as drogas”, pois essas não guerreiam, é sim contra um estado desorganizado que não dispõe de política pública eficiente sobre esse tema, contra um estado desigual, injusto, incompetente, contra uma organização criminosa cada vez mais poderosa que nos ameaça a todos, é contra um ser humano autofágico e desorientado na vida, que não  sabe sobre seu rumo. Essa é a guerra que teremos que enfrentar. As drogas em si não nos ameaçam, até porque não podem fazê-lo, embora todas elas tem um poder de nos destruir, mas o que está em “jogo é seu uso” e é sobre isso que temos que guerrear e lutar sempre.

 

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O mau-humorado em foco

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Um problema muito comum nos dias atuais e que gera graves problemas de todos os tipos é o mau-humor, condição psicológica desagradável, reprovável socialmente e que sempre mereceu a atenção especial dos neurocientistas e psiquiatras. O mau humor, do ponto de vista médico, está relacionado à instabilidade do humor, que é uma das funções indispensáveis à saúde mental dos indivíduos.

O termo que traduz essa condição clínica é distimia, do grego dys (“defeituoso, anormal ou irregular”) e thymia (relativo ao humor). Portanto, significa “mau funcionamento do humor”. Foi reconhecida como condição médica nos anos 80 e é uma forma leve de depressão. Seus sintomas cursam pelo menos por dois anos, embora, à rigor, esse tempo seja bem maior no curso natural da doença. Quando ela se instala na infância, meninos e meninas são igualmente atingidos; quando ocorre na adolescência e na vida adulta, as mulheres são mais atingidas.

Esse transtorno mental atinge, pelo menos, 180 milhões de pessoas no mundo, que, se não tratadas, tendem a se tornar pessoas isoladas, das quais 30% podem desenvolver quadros depressivos graves. O mau humor é herdado, embora fatores ambientais interfiram no processo. Quase sempre inicia-se na adolescência, desencadeado por um acontecimento marcante. Porém, como essa fase da vida já é, de modo geral, conturbada, há dificuldade de identificar a doença.

A doença é sorrateira, instala-se de forma lenta e insidiosa, tornando as pessoas pessimistas, mau humoradas, irritáveis e rabugentas, reclamam de tudo e quase sempre estão  insatisfeitas. Apesar de cursar sem gravidade, semelhante a outras formas de depressão, a distimia prejudica muito a funcionalidade dessas pessoas, do ponto de vista cognitivo, familiar e social, embora, apesar disso, os elas mantêm seus trabalhos, estudos e outras atividades do dia-a-dia.

A perda do prazer e o desinteresse por tudo são características marcantes da doença. Levam uma “vida descolorida e sem sabor”. Não sentem graça em quase nada, se desanimam facilmente, são desmotivados, sempre reclamam e quase sempre estão descontentes com tudo. Quando esboçam alegria ou prazer, é de forma breve e discreta.

O distímico apresenta auto-estima prejudicada. Não se dão valor, menosprezam suas atitudes e não valorizam o que fazem. Não se dão importância embora, outras pessoa os valorizem. Tendem ao isolamento social e têm poucos amigos, falam pouco e na maioria das vezes se voltam muito para si mesmos e só veem o lado negativo de tudo.

Outros sintomas vão surgindo ao longo do tempo: desmotivação para os estudos, para o trabalho, para atividades de lazer, vida social e muitas outras atividades. Por isso mesmo quase sempre perdem a esperança e passam a nutrir ideias de que são incapazes.

Queixas como insônia ou hipersônia; perda ou exagero no apetite; dificuldade de concentração e na memória, levando a queda significativa no desempenho nas atividades que exijam uma boa performance dessas funções, poucos amigos e vida social limitada e uma sensação de falta de capacidade. Alguns chegam ao ponto de apresentar pensamentos suicidas e com clara tendência para abuso de tranquilizantes, álcool, tabaco e outras drogas.

Esses traços psicopatológicos acabam marcando psicológica e socialmente essas pessoas, as quais passam a ser vistas como “rabugentas, pessimistas, mau humoradas, negativas, etc”. Só procuram auxílio psiquiátrico se houver uma crise depressiva, pois “acham que são assim mesmo” e que não vão mudar.

A Distimia deve ser tratada com medicamentos, pois os estudos demonstram que a base da doença está em disfunções de algumas áreas do nosso cérebro (sistema límbico, o hipotálamo e o lobo frontal) que comandam a fisiologia do nosso humor. Como é uma doença de evolução longa, se não houver uma intervenção, haverá cronificação da doença, dificultando a recuperação das pessoas. Em geral, são utilizados medicamentos altamente eficazes e deve-se sempre associá-lo à psicoterapia, sobretudo, a cognitivo-comportamental.

 

 

 

 

 

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O mau-humorado em foco

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Um problema muito comum nos dias atuais e que gera graves problemas de todos os tipos é o mau-humor, condição psicológica desagradável, reprovável socialmente e que sempre mereceu a atenção especial dos neurocientistas e psiquiatras. O mau humor, do ponto de vista médico, está relacionado à instabilidade do humor, que é uma das funções indispensáveis à saúde mental dos indivíduos.

O termo que traduz essa condição clínica é distimia, do grego dys (“defeituoso, anormal ou irregular”) e thymia (relativo ao humor). Portanto, significa “mau funcionamento do humor”. Foi reconhecida como condição médica nos anos 80 e é uma forma leve de depressão. Seus sintomas cursam pelo menos por dois anos, embora, à rigor, esse tempo seja bem maior no curso natural da doença. Quando ela se instala na infância, meninos e meninas são igualmente atingidos; quando ocorre na adolescência e na vida adulta, as mulheres são mais atingidas.

Esse transtorno mental atinge, pelo menos, 180 milhões de pessoas no mundo, que, se não tratadas, tendem a se tornar pessoas isoladas, das quais 30% podem desenvolver quadros depressivos graves. O mau humor é herdado, embora fatores ambientais interfiram no processo. Quase sempre inicia-se na adolescência, desencadeado por um acontecimento marcante. Porém, como essa fase da vida já é, de modo geral, conturbada, há dificuldade de identificar a doença.

A doença é sorrateira, instala-se de forma lenta e insidiosa, tornando as pessoas pessimistas, mau humoradas, irritáveis e rabugentas, reclamam de tudo e quase sempre estão  insatisfeitas. Apesar de cursar sem gravidade, semelhante a outras formas de depressão, a distimia prejudica muito a funcionalidade dessas pessoas, do ponto de vista cognitivo, familiar e social, embora, apesar disso, os elas mantêm seus trabalhos, estudos e outras atividades do dia-a-dia.

A perda do prazer e o desinteresse por tudo são características marcantes da doença. Levam uma “vida descolorida e sem sabor”. Não sentem graça em quase nada, se desanimam facilmente, são desmotivados, sempre reclamam e quase sempre estão descontentes com tudo. Quando esboçam alegria ou prazer, é de forma breve e discreta.

O distímico apresenta auto-estima prejudicada. Não se dão valor, menosprezam suas atitudes e não valorizam o que fazem. Não se dão importância embora, outras pessoa os valorizem. Tendem ao isolamento social e têm poucos amigos, falam pouco e na maioria das vezes se voltam muito para si mesmos e só veem o lado negativo de tudo.

Outros sintomas vão surgindo ao longo do tempo: desmotivação para os estudos, para o trabalho, para atividades de lazer, vida social e muitas outras atividades. Por isso mesmo quase sempre perdem a esperança e passam a nutrir ideias de que são incapazes.

Queixas como insônia ou hipersônia; perda ou exagero no apetite; dificuldade de concentração e na memória, levando a queda significativa no desempenho nas atividades que exijam uma boa performance dessas funções, poucos amigos e vida social limitada e uma sensação de falta de capacidade. Alguns chegam ao ponto de apresentar pensamentos suicidas e com clara tendência para abuso de tranquilizantes, álcool, tabaco e outras drogas.

Esses traços psicopatológicos acabam marcando psicológica e socialmente essas pessoas, as quais passam a ser vistas como “rabugentas, pessimistas, mau humoradas, negativas, etc”. Só procuram auxílio psiquiátrico se houver uma crise depressiva, pois “acham que são assim mesmo” e que não vão mudar.

A Distimia deve ser tratada com medicamentos, pois os estudos demonstram que a base da doença está em disfunções de algumas áreas do nosso cérebro (sistema límbico, o hipotálamo e o lobo frontal) que comandam a fisiologia do nosso humor. Como é uma doença de evolução longa, se não houver uma intervenção, haverá cronificação da doença, dificultando a recuperação das pessoas. Em geral, são utilizados medicamentos altamente eficazes e deve-se sempre associá-lo à psicoterapia, sobretudo, a cognitivo-comportamental.

 

 

 

 

 

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Tratamento farmacológico das doenças mentais

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               O tratamento das doenças mentais sempre foi um grande desafio à medicina. Por um lado a natureza complexa dessas doenças, por outro, os escassos recursos farmacológicos para realizar tais tratamentos. Além disso, existe o famigerado preconceito, não só sobre as doenças e os doentes mentais, quanto ao próprio tratamento dessas enfermidades. Sobre isso, há pessoas, um tanto radicais, que dizem com toda convicção que as drogas utilizadas para tratar esses doentes são perigosas, fazem mal e que podem viciar. Outros, defendem ardorosamente seu uso, pois acreditam que são drogas que “resolvem tudo” e fazem verdadeira apologia ao seu uso. Há ainda os mais sensatos e cautelosos, que dizem que quem sabe melhor sobre a utilidade destas substâncias, são os médicos, quem de fato estudou e vai tratar os doentes e atribuem ao médico a prerrogativa e a responsabilidade no seu manejo.

Essas drogas são denominadas de psicotrópicas, termo que se origina de dois outros vocábulos, psico e trópica. A primeira provém do grego, que significa psiquê, alma, mente. A segunda, direção, sentido, encaminhamento. Portanto, etimologicamente são drogas que funcionam na mente, mais especificamente, no cérebro, sede material de nossa vida mental.

São largamente utilizadas na prática médica, pois são indicadas para um grande número de condições: na clínica médica, na psiquiatria e na neurologia. Na psiquiatria são efetivas nos tratamento dos transtornos emocionais e comportamentais. Recebem as mais diferentes designações de conformidade com sua área de aplicação: antidepressivo, anticompulsivo, ansiolítico, estabilizadores do humor, antifóbico, antimaníaco, antiepiléptico antistress, etc. Independentes dessa classificação farmacológica ou de sua indicação clínica, todas, são extremamente importante, quando bem usadas, para promover e garantir a recuperação dos portadores dessas condições clínicas.

Com o avanço das pesquisas e dos conhecimentos em neurociências, a natureza biológica e psicossocial das doenças mentais se tornou mais conhecida. Sabe-se que essas doenças, entre outras coisas, se originam de disfunções que ocorrem no cérebro e, dependendo da forma, do local, e de como isto ocorre, é que serão definidas clinicamente as enfermidades mentais.

Ocorre que, como dissemos acima, pela imensa complexidade que se reveste as doenças mentais, e pela presença de muitos outros fatores que colaboram para sua manifestação, nem todas deverão ser tratadas somente com medicamentos, pois, do ponto de vista médico e psicossocial, há outras intervenções e abordagens, que são tão úteis quanto o uso de tais drogas na recuperação desses enfermos, de tal forma que o uso indiscriminado destas drogas, como vem acontecendo no mundo e em nosso país, pode provocar graves problemas de saúde aos usuários.

Há atualmente estudos que demonstram o uso exagerado de psicotrópicos, especialmente de tranquilizantes e dos hipnoindutores (indutores do sono), e muitos desses usuários já são dependentes, isto é, fazem uso dessas medicações não por indicação médica, e sim pela dependência que já se instalou. Estima-se que no Brasil sejam consumidos 4 toneladas/ano de tranquilizantes. Em 2005, através do I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas verificou-se que o consumo de Benzodiazepínicos (tranquilizante) é maior na faixa etária igual ou superior que 35 anos e que houve um predomínio no consumo destes medicamentos pelo sexo feminino, comparado ao masculino, em todas as faixas etárias. Nesse levantamento, identificou-se 0,54% de homens dependentes, sendo que a prevalência entre mulheres, maiores que 35 anos, foi 1,02%.

O fato é que, o exagero no uso e na prescrição irá colaborar para o surgimento de um contingente muito grande de pessoas que ao invés de se beneficiarem dos mesmos, irão adoecer tornando-os dependentes dos mesmos ou mesmo adquirindo outras patologias por uso indiscriminado dessas drogas.

A sociedade pós moderna, por outro lado, de qualquer forma, incentiva o uso abusivo dessas drogas. A corrida desenfreada pela felicidade e pelo prazer fez com que o uso de alguns desses medicamentos se transformassem  no meio mais fácil de se adquirir isso. A exigência para se adquirir prazer, ter paz de espírito e ser feliz se tornou compulsiva, por isso mesmo, empurra muitos indivíduos a fantasiosa expectativa de que tem que adquirir tudo isso de qualquer forma, mesmo que seja à custas de tranquilizantes ou de soníferos. Essa prática abusiva no uso destes medicamentos psicotrópicos colabora para impedir que as pessoas percebam que o sofrimento e os dissabores da vida podem fazer parte do nosso amadurecimento e do nosso crescimento existencial.

A medicalização dos sentimentos,  da saúde, da dor, do insucesso, da vitória ou do fracasso e da tristeza, ocasionada pelo desencanto e pelas intempéries da vida, não deveriam ser consideradas motivo de se tomar ou prescreverem esses medicamentos, pois essas condições correspondem a eventos naturais entre os seres humanos e deveriam ser superadas com garra, com tenacidade e com determinação pessoal e não através de medicamentos seja de que tipo for, pois tais pessoas correm o risco iminente de adoecerem.

Esse entendimento, todavia, tem sido muito difícil de ser assimilado e acaba colaborando para uma corrida desenfreada em busca de algo que possa, mesmo de forma efêmera e imediata, provocar a ilusão de acabarmos com os problemas.

 

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