Tabagismo, o grande desafio

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Ruy Palhano

Professor de Psiquiatria – UFMA

O Brasil é um país que pode se orgulhar da política que desenvolve acerca do tabagismo, prática milenar considerada uma das piores tragédias da saúde pública de um povo e de uma nação.

Aqui, quem comanda as estratégias de combate ao tabagismo é o Ministério da Saúde, através do Instituto Nacional do Câncer – INCA, entidade que há muitos anos  trabalha incansavelmente na formulação de políticas públicas que amenizem o impacto do tabagismo na população em geral.

Em âmbito internacional, pode-se destacar a atuação da Organização Pan-Americana de Saúde/Organização Mundial da Saúde – OPAS/OMS no desenvolvimento de políticas e estratégias internacionais para o enfrentamento do tabagismo.

Importante notar que o tabagismo é uma doença crônica que representa fator de risco para o desenvolvimento de cerca de 50 outras doenças, bem como constitui-se na maior causa isolada evitável de mortes precoces em todo o mundo. Representa uma verdadeira pandemia, em que 90% dos fumantes começam a fumar antes dos 19 anos, sendo a idade média de iniciação 15 anos. Segundo a OMS, no mundo, 100.000 (cem mil) jovens começam a fumar a cada dia e, destes, 80% vivem em países pobres. O tabaco é a 2ª droga mais consumida entre os adolescentes.

Há no mundo 1,3 bilhão de fumantes, sendo 47% homens e 12% mulheres. Nos países desenvolvidos há 400 milhões de fumantes, sendo que 42% são homens e 24% são mulheres. Nos países em desenvolvimento há 900 milhões de fumantes, sendo 48% homens e 7% mulheres. No Brasil, segundo o INCA, temos 25 milhões de fumantes, sendo 22,7% homens e 16% mulheres.

Em um cigarro comum existem cerca de 4.700 substâncias ativas, isto é, o usuário, ao tragar a fumaça do cigarro, põe para dentro de seu corpo grande variedade de substâncias e surgem muitas outras advindas do processo de metabolização.

Na fumaça do cigarro encontramos: monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído, acroleína. Em sua fase particulada, temos: alcatrão, arsênio, polônio 210, carbono 14, agrotóxicos, níquel, chumbo. O benzopireno, cádmio, dibenzoacridina e entre estas a nicotina. Já foram isolados mais de 8 grupamentos de substâncias cancerígenas, isto é, de substâncias que provocam câncer em quem tem ou não tendência para desenvolver tais doenças.

Sobre a nicotina, única substância contida no cigarro capaz de induzir ao vício, sabe-se que sua ação não se prende tão somente a essa particularidade – que por si só já seria muito prejudicial. Acarreta também muitas outras ações: diminui o calibre dos vasos sanguíneos; aumenta o ritmo cardíaco; aumenta a pressão arterial; aumenta a adesividade das plaquetas; aumenta o depósito de colesterol; aumenta a força das contrações cardíacas; e associada ao gás carbono, provoca arteriosclerose (CO e nicotina).

As principais doenças induzidas diretamente pelo consumo de tabaco são: doença coronariana, como  angina e infarto do miocárdio (25%); doença pulmonar obstrutiva crônica, como bronquite e enfisema pulmonar ( 85%); câncer no pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga, colo de útero, estômago e fígado (30%); doença cerebrovascular, tais como derrame cerebral (AVC) (25%). Essas enfermidades e muitas outras adquiridas pelo uso do cigarro colaboram também com índices muito elevados de mortalidade no mundo.

Em 2011, o “Dia Mundial Sem Tabaco” fará alusão à importância da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco da OMS – CQCT/OMS, como um instrumento de mobilização social, onde estão contidas as diretrizes políticas para o controle de tabaco.

A escolha desse tema objetiva apoiar os países na transposição das dificuldades verificadas na adoção de tais diretrizes, além de dar um enfoque político às ações de controle de tabaco.

A Convenção-Quadro é um dos mais importantes tratados internacionais de saúde pública. Foi aprovado pela Assembleia Mundial de Saúde, em fevereiro de 2005, com a participação de 192 países, que se debruçaram fortemente para que fossem adotadas medidas comuns em prol do controle do tabagismo. Todas as recomendações foram no sentido de reduzir a epidemia do tabagismo em âmbito mundial, abordando em seus artigos a necessidade de se implementar medidas de controle da propaganda, da publicidade, do patrocínio, do marketing, do tabagismo passivo, do tratamento de fumantes, bem como dos impostos e do comércio ilegal de produtos de tabaco.

A aplicação das diretrizes dessa convenção ajudará a reduzir o número de fumantes e, por consequência, diminuir a morbidade e mortalidade causadas por agravos relacionados ao tabagismo, além de diminuir, significativamente, os custos de tratamento e internações hospitalares de pacientes tabagistas.

Segundo o INCA, no Brasil, a data de 31 de maio, Dia Mundial sem Tabaco, será marcada por manifestações de apoio a essa convenção nos Estados e Municípios, além da ocorrência de eventos de grande relevância técnica e política, a exemplo do Fórum de Entidades Médicas sobre Tabagismo, que ocorrerá no Senado Federal. O evento é uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Sociedade Brasileira de Pediatria, Sociedade Brasileira de Cardiologia e Sociedade Brasileira de Oncologia.

Nós brasileiros temos que nos orgulhar da iniciativa proposta por essas entidades médicas, pois entendemos que essa luta é de todos. O enfrentamento do tabagismo no mundo e em nosso país passa obrigatoriamente pela mobilização geral, afim de não permitir que as multinacionais fabricantes de cigarros, através de fortíssimos e poderosos lobbies, destruam o que já conseguimos construir nestes últimos 20 anos.

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Sociedade inquieta e ansiosa

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Ex Pres. da Academia Maranhense de Medicina – AMM
Prof. de Psiquiatria do Curso de Medicina da UFMA

 Uma queixa muito comum nos dias de hoje é o nervosismo. Fulano está tenso, ansioso, sem paciência, irritado e nervoso. Outros dizem, beltrano está agressivo, sem paciência e explode fácil. Todas essas expressões são muito comuns e traduzem o estado em que as pessoas estão no dia-a-dia e, na maioria das vezes, não sabem o que fazer para “controlar seus nervos”.

Dado a frequência dessas queixas, bem como o impacto que isso ocasiona à saúde coletiva, muito estudos estão sendo feitos em várias partes do mundo para se conhecer melhor essa condição e ajudar milhões de pessoas que sofrem pelo seu estado de ansiedade anormal

            Inicialmente, é importante que se esclareça o significado do que se conhece pelo nome de ansiedade, pois há, sobretudo entre os leigos, uma confusão em torno do conceito. A idéia predominante é que ansiedade é algo ruim, maléfico e prejudicial a todos. Passou a ser vista como uma condição problemática do ponto de vista emocional. A expressão corriqueira “fulano é ansioso, estressado, não relaxa” define bem a situação, pois muitos acreditam que pessoas sob essa condição vão muito mal e já estão com algum problema.

            Na realidade houve uma verdadeira distorção do seu significado, muito embora se saiba que estas figuras existem: a do ansioso, do estressado, do problemático. Porém, a ansiedade do ponto de vista médico e funcional é uma condição vital a todos nós e indispensável ao nosso equilíbrio e saúde, em todos os sentidos, físico, psíquico e social.

Todos nós, indistintamente, somos ansiosos. É uma condição fundamental ao ser vivo para garantir nosso crescimento, nosso desenvolvimento e a nossa saúde. Não fosse a ansiedade, nos manteríamos em nossa primitividade e não sairíamos da idade da pedra lascada. Trata-se de um dos mais importantes mecanismos de adaptação de que dispomos, sem o qual não nos adaptaríamos às diferentes condições de vida, pois somos permanentemente estimulados por inúmeros e diferentes fatores, de diferentes naturezas, e devemos lidar com todos eles sem prejuízos a nossa existência.  

É um fenômeno que significa um “sinal de alerta”, que nos adverte sobre perigos iminentes e desconhecidos. Tais perigos podem ser externos ou internos a nós mesmos, bem como podem ser reais ou imaginários. Dessa forma, a ansiedade é uma reação natural e necessária para a autopreservação de nossa espécie.

Trata-se de uma reação normal, que sempre surge diante de situações novas. É um anúncio de algo novo, que está acontecendo ou que pode acontecer, ao mesmo tempo em que nos prepara para enfrentá-lo, lutando ou fugindo da nova situação.

A ansiedade está presente ao longo do ciclo de vida do ser humano, sendo inerente a cada uma das fases de nosso desenvolvimento. Por exemplo, é normal para o bebê que se sente ameaçado se for separado de sua mãe, o adolescente no primeiro encontro ou o adulto em uma entrevista de emprego ou ainda para um idoso quando contempla a velhice e a morte, e para qualquer pessoa que enfrente uma doença.

As sensações físicas e psíquicas reveladas pela ansiedade normal são de uma sensação difusa, desagradável, de apreensão, acompanhada de mal estar epigástrico, aperto no tórax, falta de ar, palpitações, sudorese excessiva, mãos e pés frios, cefaléia (dor de cabeça), súbita necessidade de evacuar, inquietação etc. Os padrões individuais físicos de ansiedade variam amplamente de pessoa a pessoa. Alguns indivíduos apresentam apenas sintomas cardiovasculares, outros apenas sintomas gastrintestinais, há aqueles que apresentam apenas sudorese excessiva. Outra característica da ansiedade normal é o fato de sempre surgir diante de uma situação sentida como real, portanto tem sempre nexo com algum fato ou evento seja interno ou externo a pessoa.

A sensação de ansiedade pode ser dividida em dois componentes: a consciência de sensações físicas e a consciência de estar nervoso ou amedrontado. Como vimos, as sensações físicas são, em geral, muito desconfortáveis provocando um mal estar difuso que as sensações de nervosismo são reveladas por inquietação, apreensão e medos, que de conformidade com o evento pode ser muito intenso.

Essas sensações sempre ocorrem diante de eventos incomuns e inusitados e o organismo fica preparado para o devido enfrentamento da situação nova que surge. Ocorre que quando o evento desaparece, todas estas sensações e sintomas que acompanham o evento ansiogênico (gerador da ansiedade), desaparece inteiramente e a pessoa volta para suas condições emocionais anteriores. Quando, todavia, os sintomas permanecem, ao ponto de continuar prejudicando a pessoa em seu dia a dia e, sobretudo, em sua adaptação social, do lazer e do trabalho, poderemos estar diante de ansiedade patológica, condição patológica que requer tratamento especializado e que tem atingido muitas pessoas nos dias atuais.

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Dependência Química

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Consumo de álcool começa aos 11 anos

Pesquisa divulgada ontem revelou que 37% dos jovens em tratamento por uso abusivo de álcool no Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) começaram a beber entre os 11 e 13 anos. E que metade dos 512 pacientes entre 12 e 17 anos atendidos lá têm pais ou parentes próximos com problemas relacionados ao consumo de álcool. O psicólogo Wagner Abril Souto, autor da pesquisa e coordenador do Programa de Adolescentes do Cratod, diz que, apesar de, na amostra, o número de meninos ser maior que o de meninas, não há diferença entre a quantidade de álcool consumida. Segundo ele, quanto mais cedo o contato com o álcool, maiores os problemas causados e maior a chance de dependência. “Jovens que bebem podem ter prejuízos na formação da personalidade.” O psicólogo explica um dos riscos: “O jovem pode usar o álcool para resolver problemas emocionais típicos da adolescência.” Outros problemas são: baixo rendimento escolar, maior suscetibilidade à transtornos psiquiátricos (como ansiedade e depressão) e, como revelou pesquisa da Universidade de Washington, nos EUA, maior dificuldade na tomada de decisões na vida adulta. Outro dado preocupante revelado pela pesquisa é a influência de parentes no consumo de álcool entre os mais novos. A presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), Analice Gigliotti, explica que isso se dá de duas formas: hereditariedade e pelo exemplo dado em casa. A psiquiatra, que é coordenadora do Setor de Dependência Química do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, explica que a tolerância ao álcool pode passar de pais a filhos. “Isso pode passar hereditariamente”, diz. Ou por meio do comportamento. Ela cita a frase “dar o exemplo não é a melhor maneira de educar, é a única” para dar a dimensão do poder dos pais de influenciar os jovens. O outro problema apontado por ela é a facilidade com que um jovem tem contato com bebidas alcoólicas. “Nossa sociedade é muito permissiva.”

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