Distinção entre compulsão e vontade de beber

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Entre os dependentes de drogas (álcool e outras drogas), existem diferentes sintomas que, de conformidade com a evolução da doença vão se estabelecendo progressivamente ao ponto de posteriormente passarem a ser típicos dessas pessoas. “Neste artigo, tratarei da compulsão vulgarmente chamada de “fissura” ou craving”, que é entre os sintomas de dependência um dos mais importantes para o diagnóstico dessas doenças. Esse sintoma interfere diretamente na disposição do enfermo para se tratar, bem como nas sucessivas recaídas que se observa no processo de recuperação e tratamento.
Fissura e compulsão são dois termos já largamente conhecidos pelo público em geral, graças às centenas de artigos já publicados a seu respeito, embora ainda não se tenha pleno conhecimento sobre sua natureza biológica e comportamental.
“Fissura” é um termo popular em nosso idioma. Entre os ingleses é denominada de “craving”, que nada mais é do que um desejo ardente, incontrolável, irrefreável de consumir a droga da qual dependa. Em princípio, só sente fissura quem é dependente, seja de que droga for. É um sintoma que pode estar presente em outros transtornos psiquiátricos, portanto não é exclusivo dos dependentes de drogas. Os alcoólatras e outros dependentes, portanto, sentem essa fissura sempre que param ou reduzem o volume de ingesta das substâncias das quais dependem. Este fenômeno apresenta as seguintes características:
1 – está presente na síndrome de dependência;
2 – surge quando o consumo da droga é interrompido;
3 – a ânsia (compulsão) de consumir é quase sempre superior ao seu controle;
4 – favorece sempre a recaída;
5 – a obtenção da droga cessa os sintomas;
6 – é classificada como leve, moderada ou grave.
7– sua intensidade está associada à intensidade da dependência;
8 -é involuntário, evolutivo e envolve mecanismos neurobiológicos, circunstanciais/psicológicos;
9 – há drogas que aliviam os sintomas do “craving”;
10 – interfere na decisão de se tratar;
A compulsão é uma distorção psicopatológica da vontade e/ou da volição. É uma disfunção volitiva. Enquanto que na vontade a pessoa exercita livremente sua capacidade de querer ou não usar uma substância, o compulsivo se vê obrigado imperiosamente ou compelido a fazê-lo. Portanto a grande distinção é essa. O dependente químico, não usa drogas porque quer, e sim por que é obrigado. Eis, o grande problema, porque a partir do momento em que alguém se vicia no uso de uma droga, ele se escraviza perde sua autonomia, sua capacidade de escolher o que quer e o que não quer, perde sua disposição e sua liberdade nas escolhas e nas opções que fará na vida daí pra frente. Será comandado por ações compulsivas em que o comando das mesmas já não se dará de forma efetiva, pois ele irá consumir a substância por motivos incontroláveis.
Estes 10 itens acima mostram claramente a gravidade deste problema e todos são muito importantes em sua caracterização, a dificuldade de aderir a um tratamento e as recaídas são indiscutivelmente as mais importantes consequências do “craving”, justamente por interferir no tratamento e na recaída.
Do ponto de vista da neurobiologia do “craving”, já temos acumulado um vasto conhecimento sobre como ele surge, muito embora se saiba que ainda falta muito para esclarecer totalmente sua natureza. O fato é que tudo se dá em determinadas áreas do cérebro intermediado por reações envolvendo os neurotransmissores cerebrais: dopamina, serotonina, acetilcolina e outros.
Estudos de neuroimagem utilizando técnicas como a tomografia por emissão de pósitrons (PET) têm permitido a identificação de tais anormalidades neurofuncionais criando condições favoráveis para que em um futuro próximo se possa manejar melhor com este sintoma. Além do mais, graças aos recentes os avanços da ressonância magnética (RM) funcional, já se pode vislumbrar as áreas afetadas pela compulsão, fato que está certamente favorecendo uma maior compreensão da fisiopatologia desse fenômeno.
Do ponto de vista do tratamento, nos últimos 15 ano avançou-se muito no tratamento da compulsão. Na área farmacológica os avanços foram expressivos, sobretudo com o surgimento de drogas denominadas de anti-compulsivas, anti-fissura ou ainda, anticraving, as quais, impedem ou reduzem a busca incontrolável por álcool ou por outras drogas, e diminuem drasticamente o mal estar físico, psicossocial e emocional ocasionado pela privação do uso dessas drogas. Esses dois mecanismos de ação farmacológicos, são considerados atualmente como fundamentais para o manejo adequado dos dependentes de drogas.
Entre os transtornos que mais se beneficiaram com estes medicamentos foram o alcoolismo e o tabagismo. Outras drogas estão sendo testadas e que deverão ser lançadas em breve se destinam ao controle do “craving” dos dependentes de cocaína, através de mecanismos, diferentes aos anteriores.
Outros avanços significativos ocorreram na área ocupacional e psicossocial com técnicas avançadas no tratamento e reabilitação destes pacientes, as quais possibilitarão diretamente maior adesão aos tratamentos propostos, impedindo também, por conseguinte, altos índices de recaídas frequentemente encontrados ente estes doentes.

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Álcool prejudica o descanso

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Pesquisa mostra que, apesar de inicialmente atuar como sedativo, substância provoca um aumento na potência de determinadas ondas cerebrais associadas a um sono agitado e pouco reparador

Tomar uma taça de vinho ou outra bebida antes de se deitar pode ajudar uma pessoa a dormir mais rápido, mas apesar de inicialmente atuar como sedativo, o álcool provoca perturbações no sono que atrapalham mais o descanso, diz estudo publicado ontem on-line em adiantamento à edição de fevereiro do periódico científico “Alcoholism: Clinical & Experimental Research”. Segundo os pesquisadores, embora a substância promova a atividade das chamadas ondas delta no cérebro, associadas a estágios de sono profundo sem sonhos, ela também traz um aumento na potência das ondas alfa na região frontal do órgão, vistas como reflexo de um sono agitado.
— As pessoas tendem a se focar nos relatos das propriedades sedativas do álcool, que se traduzem em um menor tempo para dormir, particularmente em adultos, do que nas perturbações que ele provoca mais tarde na noite — critica Christian L. Nicholas, cientista do Laboratório de Pesquisas do Sono da Universidade de Melbourne, na Austrália, e um dos autores do estudo.
A atividade das ondas delta no cérebro costuma ser maior na infância e vai caindo com a idade, passando por reduções significativas entre os 12 e 16 anos. Os cientistas acreditam que é por isso que as crianças e jovens dormem mais que os adultos e idosos, já que elas estão ligadas ao chamado “Sono de Ondas Lentas” (SWS, na sigla em inglês) e ao “Sono sem Movimento Rápido dos Olhos” (NREM, também na sigla em inglês), ambos estágios sem sonhos do período em que estamos dormindo. O problema é que também é justamente nesta época da juventude que as pessoas experimentam o álcool pela primeira vez, com o consumo em geral se elevando com o tempo.
— A redução na frequência das ondas delta nos eletroencefalogramas que observamos com a idade é vista como uma representação do processo normal de maturação do cérebro à medida que o cérebro adolescente continua a se desenvolver rumo à maturidade — lembra Nicholas. — E embora a função exata do sono NREM, e em particular do SWS, ainda seja motivo de debates, acredita-se que eles refletem as necessidades de sono e sua qualidade. Assim, qualquer perturbação neles pode afetar as propriedades restauradoras do sono e serem prejudiciais à funcionalidade durante o dia.
No estudo, Nicholas e sua equipe recrutaram 24 voluntários (12 mulheres e 12 homens) saudáveis com entre 18 e 21 anos de idade que beberam “socialmente”, isto é, menos de sete doses-padrão por semana, nos 30 dias anteriores. Cada um dos participantes da pesquisa foi então analisado com exames de polissonografia e eletroencefalogramas enquanto dormia sob duas condições: tendo consumido álcool antes de se deitarem ou apenas um placebo. Os resultados mostraram que o álcool de fato aumentou a atividade das ondas delta durante o SWS, mas que também houve simultaneamente uma alta nos registros de ondas alfa na região frontal do cérebro.
— Elevações similares na atividade das ondas delta e alfa, que estão associadas com um sono pobre ou pouco reparador, também foram observadas em indivíduos com dores crônicas — destaca Nicholas. — Assim, se o sono está sendo perturbado regularmente pelo consumo de álcool antes de dormir, particularmente ao longo de grandes períodos de tempo, isso pode ter efeitos prejudiciais significativos no bem-estar durante o dia e em funções neurocognitivas como os processos de aprendizado e memória. A mensagem a se levar deste estudo é que o álcool na verdade não é um bom auxílio para o sono mesmo que ele pareça te ajudar a dormir mais rápido. De fato, a qualidade do sono que você obtém foi significativamente alterada e perturbada por ele.

Portal Araruna Online

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Estimulação magnética transcraniana e dependência química

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Estimulação magnética transcraniana e dependência química

USP testa estímulo cerebral em viciados em drogas

FERNANDA BASSETTE DE SÃO PAULO

Pesquisadores do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo) estão testando o uso da estimulação magnética do cérebro para conter a fissura de pessoas dependentes de cocaína em pó e reorganizar o funcionamento cerebral. A técnica, chamada estimulação magnética transcraniana, é usada aqui desde 2006 no tratamento de depressão.

Segundo os médicos, não é invasiva e quase sem efeitos colaterais. Essa é a primeira vez que pesquisadores brasileiros resolvem investigar se os benefícios do método podem ser estendidos para dependentes crônicos da droga. Um grupo de Israel, por exemplo, estudou os efeitos da estimulação contra a fissura provocada pelo tabaco.

Os resultados mostram uma queda no desejo pela droga nos primeiros três meses. Segundo o último levantamento da Senad (Secretaria Nacional de Políticas Antidrogas), 2,9% da população brasileira já usou cocaína ao menos uma vez na vida. E 7,7% dos universitários experimentaram a droga ao menos uma vez. O psiquiatra Phillip Leite Ribeiro, responsável pelo teste na USP, explica que a ação da cocaína desorganiza os circuitos cerebrais, alterando o funcionamento das redes de neurônios. “A consequência é uma pessoa dependente da cocaína, com dificuldade de raciocínio e de decisão”, diz Ribeiro.

COMO FUNCIONA

A estimulação magnética transcraniana é aplicada em consultório, sem anestesia. O paciente usa uma touca de natação e o médico aproxima o aparelho na região do cérebro a ser tratada. As ondas penetram cerca de 2 cm. No caso da cocaína, o local exato da aplicação não foi divulgado por se tratar de algo ainda em estudo.

As sessões são feitas durante 20 dias e duram 15 minutos. Custam, em média, R$ 400 cada uma. Após um mês, o paciente faz tratamento para prevenir recaídas.

Por enquanto, os resultados preliminares mostram que há, de fato, uma diminuição na fissura. E, ao contrário do que parece, a estimulação magnética não provoca choques. É bem diferente da eletroconvulsoterapia -método em que o cérebro recebe uma descarga elétrica generalizada, entrando em convulsão. A estimulação transcraniana gera um campo magnético com uma pequena corrente elétrica. A ação é local, afirma Ribeiro.

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POUCO USADA

Segundo Paulo Silva Belmonte de Abreu, chefe do serviço de psiquiatria do HC de Porto Alegre e presidente da Associação Brasileira de Estimulação Magnética Transcraniana, embora seja reconhecida, a técnica não é muito usada no país. Ela tem efeitos positivos na depressão, em psicoses que provocam alterações auditivas [como esquizofrenia], no tratamento da dor fantasma. Mesmo assim, poucos centros a usam, ainda tem muito preconceito, avalia.

Para Abreu, é importante que o método seja testado para tratar outros problemas. É uma ferramenta não invasiva que não lesa o cérebro. Quando não atinge os efeitos desejados, ela não faz mal. Segundo Abreu, a única contraindicação é para pessoas com histórico de convulsão a aplicação pode desencadear uma crise.

Os principais efeitos colaterais são leve dor local e desconforto durante a aplicação. O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, diretor do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp, é mais cauteloso. É uma técnica que está sendo estudada para vários tipos de transtornos, mas não é totalmente eficaz. O que se sabe é que ela modifica circuitos neuronais, mas ainda não é possível dizer que resolve o problema, diz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Há quatro anos trabalho com essa ferramenta (recurso) aqui em São Luis e modestamente fui o pioneiro  a trazer a EMT para nosso meio. Atualmente, minha filha Ludmila Palhano e eu fazemos esse tratamento no Instituto Ruy Palhano. Posso garantir que a EMT é um excelente método para se tratar paciente com depressões de diferentes tipos e alucinações auditivas e pacientes esquizofrênicos. A indicação para se tratar dependente de drogas ainda não foi autorizado pelo Conselho Federal de Medicina – CFM, nesse sentido, são as pesquisas que estão a todo vapor, especialmente por pesquisadores da  UNIFESP.

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O Trânsito, a saúde e o comportamento II.

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Uma das questões que permanece na pauta do dia, é o da mobilidade urbana entendida como um conjunto de políticas de transporte e circulação entre as pessoas no espaço urbano, sobretudo através dos modos de transporte coletivo e não motorizados de maneira efetiva visando garantir o bem estar de todos. É um tema que nos leva repensar questões da inclusão social, sendo o trânsito nas gandes cidades, um dos temas que mais se destaca.

Tenho viajado com razoável frequencia e aonde chego uma das perguntas que sempre faço é: como está o trânsito em sua cidade? A resposta é sempre a mesma: “tá um caos, e em determinadas horas de pique a situação é bem pior”. As pessoas respondem indignadas, aborrecidas e inconformadas.

Ocorre que apesar deste assunto ser reconhecidamente importante em políticas públicas e que se transformou em mais um apelo de campanha políticas para eleções de candidatos, observa-se que as soluções que são oferecidas para se resolver tais problemas quase sempre são ineficases e sem resolutividade, não havendo qualquer indicador que sinalize para soluções de curto, médio e em longo prazo quanto a esses problemas de trânsito, tanto no país quanto em nossa cidade, levando-nos a crer que terempos que conviver com isso por muitos anos.

Já afirmei isso algumas vezes que cconsidero esse tema como de primeira ordem, pois afeta diretamente a saúde, a segurança e o bem estar das pessoas. E, que para se oferecer soluções efetivas e duradouras para os problemas que aí se encontram, teremos que considerá-lo como um epifenômeno, onde fatores como, ausência de uma malha viária moderna que garanta maior trafegabilidade, veículos velhos e sucateados transitando nas ruas, engenharia de trânsito deficitária, aumento descontrolado do número de veículos, falta de investimentos na área de educação para o trânsito nas escolas, fiscalização precária das leis do trânsito, calçadas mal projetadas e principalmente um trânsito voltado mais para veículos que para os pedestres estão presente em sua expressão.

O impacto que um trânsito caótico provoca nas pessoas e na vida social é tão grande que poderíamos considera-lo prioritariamente como sendo de saúde pública e não somente de segurança como muitos o consideram, pois o mesmo está relacionado a uma variedade enorme de agravos e sofrimentos à vida de muita gente provocados pelos acidentes,  invalidezes, danos materiais , mortes prematuras, prejuízos financeiros, altos índices de violência, estresse, depressões graves, entre outros transtornos.

Vejam por exemplo que só em nosso país 45 mil pessoas morrem atropelas por um motorista dirigindo embriagado e 75 mil, em outros acidentes. O sofrimento que isso ocasiona nas famílias, amigos, e outros parentes é enorme. As perdas econômicas avaliadas giram em torno de R$ 28 bilhões de reais por essas ocorrências. Sem contar o fato de os veículos de transportes terrestres, principalmente os carros de passeio (mais de 80%), jogam na atmosfera quantidade superior a 27,5 milhões de toneladas de resíduos poluentes, conforme dados de 2007. São prejuízos de tosos os lados.

Os transtornos mentais do tipo estress, estress – pós-traumático transtorno do sono, irritabilidade, comportamento agressivo, distúrbios psicossomáticos, impaciência alterações da atenção e da memória, e comportamento além de muitos outros distúrbios emocionais e sociais são queixas muito comuns especialmente em populações que trabalham e/ou vivem no trânsito. Outro grave problema de saúde relacionado ao trânsito é o uso de álcool e outras drogas entre motoristas que trafegam em nossas ruas e estradas. 75 mil, nos acidentes. Estes índices provavelmente aumentarão nos próximos anos se não forem tomadas decisões mais rigorosas nesta área.

O importante, portanto, que os gestores públicos entendam de uma vez por todas que trânsito não é somente garantir trafegabilidade de veículos é também e principalmente, garantir a saúde e o bem estar da população em um transito seguro e humanizado que respeite e valorize a vida e que possa produzir prazer e não tristeza e sofrimento nas pessoas que dele fazem parte.

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Novela reacende preconceitos sobre tratamento psiquiátrico.

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Nos quatro (4) últimos capítulos da novela das 08 da Rede Globo, “Amor à vida” foram exibidos cenas grotescas e chocantes ocorridas em um hospital psiquiátrico as quais faziam parte de uma trama diabólica entre dois irmãos e o restante de uma família poderosa repleta de problemas e conflitos provocados por diferentes interesses.

Houve muitos comentários na população sobre o assunto e o mesmo ressoou muito mal no seio da psiquiatria brasileira. Muitos pacientes me ligaram, comentando sobre as cenas da novela, uns ainda assustados e perplexos questionava as mesmas, outros ainda, comentavam que não deveriam tratar este assunto daquela forma, etc. Procurei em todos os casos mostrar-lhes que isto fazia parte de uma novela, e que, em princípio, tanto a TV, quando o autor das mesmas, o que queriam na realidade era aumentar a audiência sobre a novela para haver retorno de seus investimentos.

Eu também fiquei estarrecido com tais cenas, porque as reconhecia como cenas pertencentes a um passado da psiquiatria que já havíamos ultrapassa há anos. A repercussão foi tão grande que a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP enviou correspondências à Rede Globo e ao autor da novela, Valcir Carrasco, tecendo algumas ponderações sobre a forma como este tema psiquiátrico fora tratado nesta novela. E, que tais cenas, destituídas das técnicas modernas de tratamento, dos conhecimentos e da ética na formulação do diagnóstico, e da forma ofensiva e violenta que a “paciente” fora tratada refletia mais violência, vingança, tortura e crueldade do que um tratamento psiquiátrico propriamente dito. Fatos que não combinam de forma nenhuma com uma prática atual da psiquiatria que é ética, eficiente e humanizada como a que existe hoje em dia.

Só a guisa de informação, os psiquiatras brasileiros e outros profissionais da saúde mental , há pouco menos de 15 anos, deflagraram, neste país, uma das mais importantes lutas já realizadas em prol do doente mental, de suas famílias e sobre os tratamentos que lhes eram dispensados. Este movimento nacional passou-se designá-lo de reforma da Assistência Psiquiátrica Brasileira destinada a enfrentar todas estas mazelas preconceituosas que há anos imperavam e que vilipendiavam , maltratavam, desrespeitavam estes doentes em todos os sentidos: ético, técnico e humano.  Embora tenhamos avançado muito na lua contra estes preconceitos existentes nesta área a luta não parou aí, pois até hoje se reconhece que ainda existem enormes preconceitos em torno da doença mental, do doente, do médico, e sobre os tratamentos que são oferecidos a estes pacientes e as suas famílias.

A preocupação maior da ABP, era a de que a pretextos das novelas ressurgissem os preconceitos que fizeram muito mal a esses enfermos, pois para quem não sabe, existem 460 milhões de pessoas portadores de uma doença mental em nosso país, em que tais cenas poderiam reforçar tais preconceitos que há muitos anos vem se lutando para eliminá-lo.

É importante também comentar que a Eleroconvulsotrerapia – ECT, certamente a cena mais chocante e comovente da novela, desde quando o mesmo foi instituído em psiquiatria, em 1935 por dois psiquiatras italianos, Cerlleti e Bine que vem sofrendo profundas modificações tanto em sua indicação médica quanto em seu processo de aplicação, onde evoluímos muito, ao ponto de hoje o mundo inteiro reconhecê-lo como um grande recurso a disposição da psiquiatria, para tratar casos incomuns e refratários à outros tratamentos psiquiátricos. O próprio Conselho Federal de Medicina – CFM, o reconhece como um tratamento legítimo, ético e tecnicamente recomendado.

Na novela além de não respeitarem os preceitos de sua indicação clínica, recomendados pelo CFM, dava-nos a impressão que estar sendo realizado uma  sessão de tortura na paciente (que também fora internada indevidamente), do que um tratamento médico propriamente dito, muito embora se saiba que eram cenas de uma novela.

Por último, acredito que tenha sido intencional a idéia do Sr. Valcir Carasco em tratar do assunto da forma que ele tratou, gerando polêmica já soterrada, através de cenas grotescas, e anacrônicas ao tratar de um assunto tão importante como o é o tratamento de doentes mentais, mas da próxima vez que o faça sobre a supervisão de uma equipe de profissionais competentes e responsáveis que conheça bem  o assunto para não expô-lo ao ridículo de tratar pejorativamente um assunto que desconhece, que por isso mesmo venha prejudicar muita gente.

 

 

 

 

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O consultório psiquiátrico, os preconceitos sociais e a doença mental

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Uma coisa que gosto de fazer e o faço com certa freqüência é pensar e refletir sobre a vida, sobre os meus hábitos e costumes, sobre as relações com os outros, sobre o que é ou não importante, sobre meu papel social como ser humano, sobre meus compromissos e responsabilidades, enfim sobre mim mesmo.  É uma prática que cultivo com muito zelo, pois reconheço que é a forma mais simples que disponho, para que eu possa me aproximar mais de mim mesmo.

Esta peculiaridade eu atribuo à minha condição de ser médico e psiquiatra atividades que exerço há 35 anos. Esta condição me fez aprender muito e a encontrar sentido em muitas coisas em minha vida que não tinham significado algum. Sempre procurei exercê-la com dignidade, competência e ética pela responsabilidade que a mesma me impõe, além do mais a prática do psiquiatra é inspiradora, inquietante e surpreendente, por ser inusitado e inconfundível a lida com estes enfermos.

No consultório as relações são singulares, pois é onde se firma um dos mais importantes compromissos da prática profissional que é a “relação médico-paciente” um dos capítulos mais importantes e mais apaixonantes da prática médica, onde o conhecimento, a dor, a técnica, o sofrimento, a angústia, bem como a alegria, a satisfação dos enfermos, nos ensinam a compartilhar, colaborar, ter esperanças, a compreender mais, ter compaixão e a nos resignarmos ante ao que não se pode mudar.

A prática da psiquiatria em si mesma não é nada diferente das outras práticas médicas, pois as doenças mentais obedecem às mesmas regras e lógicas das outras doenças humanas, sem qualquer diferença, ressalvando-se apenas o fato dos doentes mentais, contrariamente aos outros, apresentarem muita expectativa, incógnitas, e níveis de angústia incomparavelmente superiores a qualquer outro enfermo. Por isto mesmo, se sentem inseguros, desprotegidos e desamparados diante de sua própria enfermidade.

Neste contexto estes doentes sempre foram vítimas de terríveis preconceitos e discriminações, mais do que qualquer outro enfermo, graças a isto foram sempre segregados socialmente e prejudicados tanto em seu tratamento quanto em sua reabilitação social. Esta constatação constrangedora se vê estampada em seus rostos ao manifestarem vergonha de ser taxado de doente mental.

Esta rejeição e discriminação sempre existiram, onde o medo, a desconfiança e a hostilidade sobre os mesmos, caminham juntas. A ignorância médica, a negligências do poder público e o desprezo social a estes pacientes envolto por uma cultura discricionária, forma a base do preconceito histórico, gerando desamparo, desumanidade e violência contra estes enfermos.

Considero particularmente um dos mais importantes compromissos da psiquiatria manter a luta contra estes preconceitos haja vista os profundos prejuízos ocasionados a estes pacientes. Podemos citar como exemplo a iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, criando um movimento nacional contra a discriminação dos doentes mentais, designado de PSICOFOBIA.

Contraditoriamente, a doença mental por ser uma doença da pessoa e não de um órgão, do comportamento e não de um sistema, sua expressão é a mais pessoal e humana. São pessoas que revelam mais afetividade, mais bondade, mais paixão, mais sentimento em suas queixas. Por isto mesmo exigem mais carinho, mais atenção, afeição em seus gestos. Há, portanto, uma enorme discrepância entre o famigerado preconceito que lacera, maltrata e faz sofrer estas pessoas e a singeleza dos seus sintomas incompreensíveis baseadas em suas profundas necessidades.

O mínimo que poderíamos fazer diante de tudo isto para corrigir estas profundas distorções seria garantir acessibilidade digna e plena a estes enfermos através de um sistema de cuidados bem planejado, referente, humanizado, amplo e tecnicamente competente para assegurar sua total recuperação, pois como os outros, os doentes mentais também se recuperam e podem levar uma vida dígna e saudável.

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O Trânsito, a saúde e o comportamento

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Um dos maiores problemas na área pública na atualidade é a questão urbana do trânsito nas cidades. Vejam por exemplo, que na recente disputa eleitoral os candidatos se esforçavam para apresentar para seus eleitores os melhores projetos nesta área justamente por reconhecerem que realmente é um grave problema que deve ser enfrentado e que gera queixas constantes das pessoas pela situação caótica, confusa, desconfortável e patogênica, como ele se encontra.

Passou a ser um tema de primeira ordem até em um cenário internacional, pois a mobilidade urbana, o bem estar das pessoas e a segurança no trânsito que todos aspiram se transformou em uma situação muito difícil.

Muitos fatores certamente colaboram para isto. Ausência de uma malha viária moderna que garanta maior trafegabilidade, veículos defeituosos e absoletos, engenharia de trânsito deficitária, aumenta descontrolado do número de veículos, falta de investimento em educação para o trânsito nas escolas, fiscalização precária no cumprimento das leis de trânsito, e muitos outros fatores, que juntos, concorrem para transformar o trânsito nas cidades como um grande problema de saúde pública, mas do que de segurança propriamente dita, embora seja a área em que formalmente seja tratado.

Como problema de saúde pública o trânsito está relacionado a uma variedade enorme de situações entre os quais: aos acidentes, que são cada vez maiores e de diferentes tipos os quais provocam altos índices de morbidade e mortalidade, a invalidez permanente ou transitória precoce, aos altos índices de violência, à tensão, a ansiedade descontrolada, estresse, transtornos depressivos graves, e a muitos outros comportamentos psicopatológicos, diretamente relacionados a ele.

 Estes agravos são tão importantes que já temos uma especialidade médica, denominada de Medicina de Tráfego, que se preocupa com esta situação, pois se encarrega de promover o bem estar físico psíquico e social do ser humano que se desloca, qualquer que seja o meio que propicie a sua mobilidade. Esta especialidade é reconhecida pela Associação Médica Brasileira- AMB, pelo Conselho Federal de Medicina- CFM.  

Um estudo do Centro Latino-Americano de Estudo de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves), ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), realizado em 2007, sobre o impacto e a magnitude que as lesões no trânsito causam ao setor saúde, demonstrou que foram registradas 38.419 mortes geradas por acidentes de trânsito, naquele ano, sendo que 9.657 eram pedestres (76,5% do sexo masculino); 8.078 motociclistas (89,4% homens); e 7.982 passageiros (79% eram homens).

Outros trabalhos ilustram o tamanho dos prejuízos humanos, emocionais e materiais gerados por mortes prematuras e incapacidades quase sempre irreversíveis, pois se registram em média 35 mil mortes a cada ano, com perdas calculadas em torno de R$ 28 bilhões de reais. Sem contar o fato de os veículos de transportes terrestres, principalmente os carros de passeio (mais de 80%), jogam na atmosfera quantidade superior a 27,5 milhões de toneladas de resíduos poluentes, conforme dados de 2007.

Outro grave problema de saúde que tem sua expressão também no trânsito é o uso de álcool e outras drogas entre motoristas que trafegam em nossas ruas e estradas. No Brasil 45 mil pessoas morrem atropeladas por alguém que dirige embriagado anualmente, e 75 mil pessoas morrem pelos acidentes. Estes índices provavelmente aumentarão nos próximos anos se não forem tomadas decisões mais rigorosas nesta área. Além do mais os elevados índices de violência e homicídios ocasionados pelo uso de outras drogas como o crack, entre os que dirigem.

O impacto também na área comportamental e emocional ocasionado por um trânsito caótico é muito grande e o número de pessoas que estão adoecendo por conta disto é significativo. Os transtornos tipo estress – pós traumático, transtorno do sono, irritabilidade exagerada, comportamento agressivo e violento, e outros distúrbios emocionais e sociais são queixas muito comuns especialmente em populações que trabalham e/ou vivem no trânsito. O importante, portanto, é que se desenvolva uma política de transito mais humanizada, que respeite e valorize a vida e que possa produzir prazer e não tristeza e sofrimento nas pessoas que dele fazem parte.

 

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A inveja e a saúde mental

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         O termo inveja provém do latim e significa invidia, “olhar torto, lançar mau-olhado sobre”, de IN, “em”, mais VIDERE, “olhar”. Segundo Aurélio, trata-se de um “desgosto” profundo ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem. É um estado de espírito, um sentimento permanente e contínuo de desejar, ou mesmo ser o que é o outro. Expressa-se nas relações humanas e sempre foi objeto de interesses de filósofos, escritores e estudiosos do comportamento humano. Embora ainda pouco conhecida em suas origens e em suas bases neurocientíficas e comportamentais, a inveja precisa ser mais estudada  para se ajudar milhões de pessoas que padecem dela no mundo.

          Essencialmente, trata-se de um sentimento de cobiça, desejo irrefreável à vista da felicidade, da superioridade ou de qualquer outro valor do outrem. A inveja, como nos diz Aurélio, traduz “um desejo violento de possuir o bem alheio” e provoca nas pessoas uma tristeza profunda ou desgosto inexplicável proveniente da prosperidade ou fortuna alheia. Isto é, desenvolvem um desejo excessivo de possuir exclusivamente o bem de outrem.

          Portanto, uma das bases vivenciais da inveja é o desejo violento de possuir o que é do outro ou sê-lo. Esse desejo, às vezes mórbido, está carregado de muito ódio e fúria, por isso mesmo procura atingir o outro para se empossar daquilo que é o objeto da inveja.

          Para a Igreja Católica inveja é um dos sete pecados capitais, além da soberba, orgulho, luxúria, gula, preguiça, avareza. No cristianismo, inveja é sinônimo de ganância, ou seja, é a vontade exagerada de possuir qualquer coisa. É um desejo descontrolado, uma cobiça de bens materiais e dinheiro. Para a Igreja, a inveja é considerada pecado, porque o invejoso “ignora suas próprias bênçãos e prioriza o status de outra pessoa no lugar do próprio crescimento espiritual. É o desejo exagerado por posses, status, habilidades e tudo que outra pessoa tem e consegue. O invejoso ignora tudo o que é e possui para cobiçar o que é do próximo”.

          Do ponto de vista da saúde mental, considera-se a inveja como um fenômeno disfuncional que ocorre nos indivíduos e se expressa nas relações humanas, especialmente quando essa vivência provoca rupturas nas relações sociais, dor e sofrimento. De tal forma que, desejar ou aspirar ao que os outros têm ou são e querer esses valores é algo normal e natural que pode até favorecer o crescimento do indivíduo. Todavia, quando esse comportamento é proeminente, se torna uma característica marcante da personalidade, ao ponto de interferir negativamente nas relações sociais, gerando dor e sofrimento, estamos diante de problema psicopatológico grave. Sob o aspecto psiquiátrico, invejar é uma condição que surge e se desenvolve ao longo do desenvolvimento da personalidade, aparece precocemente na infância e se desenvolve de forma progressiva ao longo do tempo. Como todos os transtornos psiquiátricos esse também apresenta gradações em seu curso e expressão, variando seus níveis de gravidade.

          Desses transtornos, os que mais apresentam esse problema é o Transtorno de Personalidade tipo Boderline, que tem como principais características clínicas: baixa auto-estima pessoal, carência de si mesmo e dos outros, desconfiança, auto-imagem ruim. Em geral, são pessoas muito inseguras e imaturas, que levam a vida e seus compromissos com muita dificuldade. Apresentam-se frequentemente irritáveis, explosivos, com oscilações frequentes do humor, impacientes e agressivos.

          Portanto não devemos repudiar ou excluí-los e sim ajudá-los a superarem seus problemas. O tratamento médico e a psicoterapia cognitivo-comportamental são boas ferramentas terapêuticas de ajuda. Outros fatores especialmente de ordem psicológicas e sociais que colaboram muito para o surgimento e desenvolvimento da inveja, porém em todos os casos o aconselhável é tratar e orientar bem essas pessoas para que desfrutem de sua saúde mental.

 

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Saúde Mental e Uso de Cocaína e Crack

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Saúde Mental e Uso de Cocaína e Crack

 

Estima-se que, no mundo, 13,3 milhões de pessoas, 0,3% da população acima de 15 anos, consumam regularmente cocaína. Pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas – ONU revelou que o consumo de cocaína entre os nove países da América do Sul foi descrito como “estável”, porém, em nosso país, houve aumento do consumo de 1%, em 2001, para 2,6%, em 2005, pela população entre 15 e 64 anos.

Esta semana a Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP revelou o resultado de um estudo inédito em nosso país sobre o consumo de cocaína e crack na população brasileira e, sem causar grandes surpresas, aponta o Brasil como o maior consumidor de mundial crack.

É do domínio público que parte desses problemas são explicados pelo fato dessa substância chegar muito rapidamente ao cérebro e de ser uma droga com grande potencial de causar dependência, sendo certo que uma pessoa que experimenta a cocaína ou o crack não pode prever ou controlar a extensão de seu uso, daí que se recomenda sequer iniciar o consumo.

Os dados da pesquisa mostraram que quase 6 milhões de brasileiros, o que corresponde a 4% da população adulta, já experimentaram alguma apresentação de cocaína (merla, crack ou oxi ) na vida e 3% deste consumo se deu entre adolescentes, perfazendo um total de 442 mil jovens. No último ano 2,6 milhões de adultos e 244 mil adolescentes fizeram uso desta droga. Pelos números se pode notar o quão grave é o problema, sem qualquer indicação de haver perspectiva de controle ou solução.

Os mesmos equívocos do Ministério da Saúde, adotados por uma política elaborada há 10 anos, se mantêm, dentre os quais, o engessamento da assistência de drogados só pela via dos CAPS. Todos sabemos que haverá um momento no manejo dos enfermos que haverá necessidade de internação e outras abordagens, mas parece que o Ministério da Saúde resiste a idéia de criação de centros especializados nestes tratamentos.

Um outro aspecto importante poderia ser a implantação de uma grande rede de ambulatórios distribuídos pela cidade para atender os pacientes em diferentes graus de comprometimento da doença.

Onde estão os investimentos em prevenção ao uso de drogas através de uma rede de referência articulada com outros níveis de assistência para proteger estes enfermos?   Por onde andam os investimentos em capacitação de mão de obra especializada para atender estes enfermos e suas famílias.

Enfim sugestões não faltam para dotar este país de ferramentas adequadas para o enfrentamento do uso e tráfico de drogas. Isso não significa que o que se está fazendo não tenha valor ou importância. Acho, inclusive, que avançamos muito no sentido do enfrentamento do problema, porém os gestores públicos poderiam oferecer mas alternativas preventivas e assistenciais pra o controle efetivo médico e social da situação do uso de drogas em nosso país.

 

 

 

 

 

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Ciúme doentio

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Nas relações humanas o ciúme é um dos fenômenos mais comum que ocorre emdiferentes etapas da vida, podendo-se considerá-lo uma experiência normal euniversal que surge em diferentes formas de relacionamentos. É definido como umacondição caracterizada por pensamentos, emoções e sentimentos de ameaça e percasde algo muito querido e desejado. O tema dominante do ciúme é suspeição da infidelidade do parceiro, podendo ocasionar sofrimento para os membros da relação.

Inúmeros estudos realizados em diferentes países e com diferentes populações indicam a presença do ciúme em boa parte dos pesquisados. É um fenômeno que pode aparecer ante uma imensa diversidade de situações, sendo comum em relacionamentos amorosos, entre filhos, pais e filhos, amigos e parentes.

Há níveis diferentes de se experimentar o ciúme, de tal forma que nem sempre esta experiência é patológica. Há ocasiões em que o ciúme tempera a relação e favorece a aproximação entre as pessoas de tal forma que em sua falta total o conflito se manifesta. Este tipo de ciúme é considerado normal ou funcional onde caso haja qualquer conflito por sua presença, uma boa conversa sempre resolve.

Todavia, quando esta fronteira é ultrapassada e a relação é formalmente afetada por dor, desconfiança mórbida, violência e sofrimento entre os envolvidos na relação aí estamos diante do ciúme doentio ou patológico. Este tipo de ciúme se expressa de forma heterogênea, através de idéias obsessivas, idéias prevalentes ou até mesmo atividade delirante. Este tipo de ciúme pode se constituir como um sintoma de diferentes doenças, como transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno delirante, transtorno de personalidade, transtornos graves do humor, esquizofrenia e alcoolismo.

O ciúme patológico pode coexistir em pacientes internados em hospitais psiquiátricos em uma faixa de 1,1 % deles e a prevalência diagnóstica é a seguinte: psicoses orgânicas (doenças cérebro-vasculares, demências etc.) 7%; distúrbios paranóides 6,7%; psicoses alcoólicas 5,6% e esquizofrenias 2,5%.

Em pacientes ambulatoriais está muito presente entre os quadros de depressivos, ansiosos e obsessivos. A maioria absoluta dos portadores de ciúme patológico, entretanto, não está dentro dos hospitais, nem nos ambulatórios e sim nas ruas especialmente entre casais e muitos destes portadores deste tipo de ciúme estão sem tratamento médico e quando procura o especialista a relação já se encontra muito desgastada, restando tão somente a separação pela impossibilidade de recuperar a convivência.

Entre os dependentes de álcool é muito comum apresentarem delírios de ciúme, sintoma que pode ser considerado como característico do alcoolismo, especialmente entre alcoólicos crônicos. Neste caso a impotência sexual comum entre alcoólatras é um importante fator no desenvolvimento de idéias de infidelidade, sentimentos de inferioridade e rejeição. A prevalência do ciúme patológico no alcoolismo é muito alta e gira em torno de 34%. A evolução comum do ciúme patológico como sintoma do alcoolismo, pode ser, inicialmente, apenas durante a intoxicação alcoólica e, posteriormente, também nos períodos de sobriedade. Nas mulheres, fases de menor interesse sexual ou atratividade física, como ocorre na gravidez e menopausa, produz redução da auto-estima, aumentando a insegurança e a ocorrência do ciúme patológico.

Por se tratar de uma condição mórbida o portador de ciúme patológico deve sempre procurar tratamento médico e psicossocial, só assim estas pessoas podem se recuperar. A utilização de medicamentos é uma estratégia importante especialmente quando este ciúme é secundário a outros transtornos mentais: dependência de drogas, alcoolismo, depressões graves, quadros psicóticos esquizofrênicos etc. As psicoterapias se constituem armas poderosas na recuperação destes enfermos especialmente as terapias cognitivo – comportamentais – TCC.

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