Diagnóstico e tratamento da depressão na infância e na adolescência

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Há algum um tempo, dificilmente se fazia diagnóstico de depressão na infância e, mais raramente, na adolescência e isso era devido, entre outras coisas, a falta de instrumentos de diagnósticos mais precisos desse transtorno e aos imensos e prejudiciais preconceitos que ainda há em torno dessa doença. Nesse sentido, avançou-se muito nos últimos anos quanto ao manejo dessa transtorno, pois houve uma retração desses preconceitos, houve avanços científicos sobre o conhecimento da natureza da depressão, e simultaneamente, aperfeiçoaram-se as técnicas e instrumentos no seu diagnóstico e tratamento.
Segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde – OMS a depressão atinge cerca de 2% das crianças e 5% dos adolescentes do mundo. A OMS informa que até 2025, a depressão se tornará a doença mais comum do mundo, e a mais invalidante laboral e socialmente, atingindo mais pessoas do que o câncer e as doenças cardiovasculares. Atualmente, mais de 450 milhões de pessoas no mundo são afetadas por transtornos mentais diversos, sendo a depressão a principal e, a maioria delas ocorre em países em desenvolvimento.
Entre as crianças, o índice de depressão também é preocupante. A depressão incide em torno de 6 a 10 % na população geral e nos últimos 15 anos, o número de diagnóstico de depressão em crianças, entre 6 e 12 anos, passou de 4,5 para 8%, o que representa um problema ascendente. Muitos adultos que apresentam quadro de depressão têm histórico da doença na infância, de tal forma que se não os tratarmos bem cedo, isso contribuirá para a cronificação dessa doença, (Fábio Barbirato, Neuropsiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria -ABP).
Do ponto de vista clínico, diagnosticar depressão na infância não é fácil, pois nessa fase, os sintomas depressivos podem ser confundidos com alguns comportamentais naturais visto nessa etapa da vida: má-criação, birra, mau humor, tristeza, agressividade, irritabilidade ou nervosismo, impaciência, inquietude, condições psicossociais e emocionais frequentes e que fazem parte das características do desenvolvimento psicológico dessas crianças. O que vai distinguir uma coisa da outra é a evolução, a avaliação neuropsicológica e laboratorial e as características clínicas dessas queixas.
Na adolescência, o diagnóstico de depressão é também complexo, pois o mesmo também se insere no espectro das caraterísticas próprias dessa etapa da vida, tais como: desinteresse, apatia e retraimento social, irritabilidade, negativismo e comportamento contestatório, mudanças do humor etc. Tem que haver experiência, acuidade e competência do profissional para se fornecer esse diagnóstico até porque são elevados índices de suicídio na adolescência especialmente se a situação não for adequadamente diagnosticada e tratada.
Não devemos confundir depressão com as angústias provenientes dos conflitos naturais próprios da infância ou da adolescência, já que adolescer é uma condição delicada e que se caracteriza, entre outras coisas, pelas contradições, rebeldias, insatisfações constantes e ânsias de mudanças onde alguns sintomas da depressão podem se mascarar com estas peculiaridades naturais da idade.
Entre os principais sintomas de depressão estão: mudanças de humor, irritabilidade e/ou choro fácil, desinteresse geral, falta de atenção e de concentração, queda no rendimento escolar, insônia, ou hipersônia, anedonia (falta de prazer) perda de energia física e mental, reclamações por cansaço, sofrimento moral ou insatisfação consigo mesmo, sentimento de que nada do que faz está certo, dores difusas no corpo, sentimento de auto rejeição, condutas anti-sociais e destrutivas, distúrbios de peso (emagrecer ou engordar demais), enurese e encoprese (xixi na cama e eliminação involuntária das fezes).
Para a OMS se a pessoa apresentar cinco, entre os sintomas acima, o diagnóstico poderá ser efetivado.E, neste caso ante os primeiros sinais ou sintomas da depressão, os pais devem encaminhá-los a um profissional o mais rápido possível. Na maioria das vezes, o apoio da família e a psicoterapia são suficientes para ultrapassar a situação. Se, a partir dos 9 anos de idade, persistirem ou se agravarem tais sintomas, faz-se necessário, em alguns casos, intervir com medicamentos. Além do mais a depressão infantil pode desencadear várias outras condições médicas, tais como: anorexia, bulimia, etc.
A depressão, como outros transtornos psiquiátricos, tem causas multifatoriais, nunca uma única causa, por isso mesmo o tratamento e a reabilitação devem envolver uma fama de procedimentos onde o uso de medicamentos é um dos procedimentos. Aspectos genéticos, ambientais e socioculturais são condições relevantes como causadores dessas doenças.
Portanto, o mais importante é que tanto o diagnóstico quanto o tratamento sejam realizados o mais cedo possível para evitar que a doença se cronifique, dificultando muito a recuperação dessas pessoas e, graças aos avanços, sobretudo em farmaterapia da depressão, as respostas aos tratamentos atualmente empregados são sempre muito favoráveis e efetivos.

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O voo, o preconceito e a doença mental.

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O desfeixe trágico ocorrido com o voo do Airbus A320 da Germanwings, fato que nos atingiu a todos pela dimensão da tragédia, resultando na morte de centenas de pessoas e, que foi ocasionado, ao que tudo indica, pelo comportamento suicida do co-piloto, reascendeu inúmeras discussões na área da aviação, da psiquiatria e da segurança dos voos na perspectiva humana. Nesse sentido, algumas recomendações já estão sendo tomadas pelas empresas encarregadas dessas atividades e pelas agências aeronáuticas internacionais estabelecendo novas regras que evitem tais tragédias, em todo mundo, corrigindo as distorções, envolvida com esse voo da morte. Entre os temas em debate, quiçá, o mais envolvente, foi o fato desse evento ter sido provocado supostamente por um doente portador de depressão.
A forma como a grande mídia anuncia esse fato, de certa forma generaliza as circunstâncias e não examina outras possibilidades em torno desse fato, transparecendo a ideia de que depressão impõe a tais enfermos, a possibilidade de cometerem tais atitudes, nos levando a crer que tais ações transloucadas seja prerrogativa de quem tem depressão ou mesmo outra doença mental.
Temos que ter muita cautela em apontar uma enfermidade humana, como a depressão, com todas suas peculiaridades, como sendo a responsável por qualquer tragédia, a meu ver, correndo-se o risco de praticar generalidades, e o pior, criando-se uma ideia falsa de que toda depressão poderia causar isso, o que não é verdadeiro. Os depressivos não são assassinos, não suicidas nem perigosos. Veja, que da forma como a grande mídia trata o evento, ajuda a mistificar a doença e a segregar esses doentes.
Outra particularidade, é que não há depressão, há depressivo. Cada um de nós vive sua depressão ou sua doença de forma muito particular, não havendo qualquer chance de se generalizar as doenças que somos acometidos como é o caso sobre o que houve com o co-piloto envolvido com esse acidente. Essa verdade clínica deve ser aplicada para qualquer condição de adoecimento, por isso mesmo, não há doença, há doente. A prática médica se inspira nesse axioma. Cada um de nós empresta para cada doença que se tenha aspectos particulares de nosso caráter, de nossa cultura, do nosso ambiente e de nossa personalidade. Portanto, é um tremendo equivoco tratar o assunto da forma, tão generalizada atribuindo a uma doença, no caso a depressão, todas as responsabilidades sobre o que houve com esse voo.
Todos os doentes mentais e, particularmente os depressivos, não apresentam qualquer perigo á vida de ninguém especialmente, se devidamente tratado e bem orientado sobre o que se passa com ele, que é o que se recomenda do ponto de vista terapêutico para qualquer enfermo, nenhuma pessoa com depressão ou portador de outra doença mental, oferece qualquer perigo, a si mesmo ou a outrem, considerando que inúmeros outros aspectos podem interferir nessa condição.
Objetivamente, já se sabe que todos os enfermos, particularmente os psiquiátricos, deveriam passar por um rigoroso controle médico, situação que se recomenda em todas as áreas da atividade médica, principalmente no âmbito da psiquiatria e da psicologia. Dialeticamente, se alguém quiser investigar exclusivamente a mente (comportamento) de alguém, sem levar em conta a saúde como um todo, e sua relação com seu meio e sua cultura (psicossociocultural), fatalmente isso o conduzirá a atitudes preconceituosas. O fato que houve com esse voo, e a forma como esse acidente está sendo anunciado, nos dá a impressão que todas as pessoas com depressão podem ser perigosos ou capazes de praticarem atitudes como essas, o que não é verdade.
A professora Anne Skomorowsky, Psiquiatra da Universidade de Colúmbia (EUA), alertou que “usar a palavra ‘depressão” para descrever um comportamento inexplicável ou violento, ( como esse que ocorreu), nos remete a dois sinais falsos: primeiro, que a sociedade não tem nenhuma obrigação com a nossa felicidade – porque a angústia é um problema médico – e segundo, segundo, que uma pessoa depressiva corre o risco de cometer atos deploráveis”. E eu, complemento: atitudes como essa, embora deveras incomum, quando ocorre envolvendo supostos doentes mentais, fatalmente houve algo que, em qualquer momento, ou mesmo por qualquer motivo, atrapalhou seu tratamento, isto é, no curso do seu tratamento algo ocorreu que o prejudicou, pois em condições regulares na consecução de um tratamento psiquiátrico, dificilmente isso ocorreria.
Outra particularidade, é que o que houve é uma situação rara, envolvendo acidentes aéreos e doentes mentais. Nos últimos anos, ao que nos consta, pouquíssimas ocorrência foram registradas. Particularmente, sobre o suicídio em si mesmo, trata-se de um fenômeno psicopatológico grave de causas complexas, às vezes imprevisível, que está presente em diversas condições psiquiátricas, inclusive entre depressivos, no entanto, nem todos os depressivos tentam ou chegam a se suicidar. Portanto, não há nada de novo nesse sentido. Algumas doenças mentais, entre essas a depressão podem até favorecer alguns desses comportamentos inusitados, entre os quais o comportamento violento e o suicídio, mas as tragédias como essa que ocorreu com esse voo em si mesmo, não pode ser explicado só por conta dessa condição psicopatológica, correndo-se o risco de estigmatizar e generalizar essa condição médica.
Homicídios se sucedem por muitos outros fatores que não ligados a doenças mentais e são bem menos frequentes entre essa população que na população em geral. Uso de drogas, surto psicóticos agudos, esquizofrenia, alcoolismo, e em muitas outras situações psiquiátricas frequentes. Mesmo assim, em qualquer desses casos, devemos sempre contextualizar as causas que levaram a tais desfeixes, para não se consolidar preconceitos que em nada nos ajudam, na lidar com esses enfermos.

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Prevenção de recaídas, a grande estratégia em saúde mental

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A Organização Mundial de Saúde – OMS estima que até 2020 a depressão será a principal causa de incapacitação em todo o mundo. Muitas pessoas se tornarão incapazes e improdutivas do ponto de vista laborativo e social. A depressão, além disso, acarretará muitos outros prejuízos: na previdência, na saúde, na economia, na vida afetiva e emocional etc.
Há atualmente, mais de 350 milhões de pessoas que sofrem de depressão e pelo menos 5% dessas pessoas que vivem nas cidades sofrem de depressão. No Brasil, estima-se que existam mais de 17 milhões de pessoas afetadas pela doença. Cerca de 850 mil pessoas morrem, por ano, em decorrência dessa enfermidade, especialmente por suicídio, do qual a depressão corresponde ao principal fator causal. A OMS informa também que, nos próximos 20 anos, essa enfermidade se tornará a mais comum do mundo, afetando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde.
No aspecto socioeconômico, a depressão é, entre as doenças mentais, a que mais acarreta custos econômicos e sociais para os governos, em razão do seu tratamento e por alterar a capacidade produtiva das pessoas. Na Europa, estima-se que a depressão gere um custo de 250 euros por habitante e atinja 21 milhões de europeus, produzindo custos para a economia em torno de 118 bilhões de euros por ano.
Os países pobres serão os que mais sofrerão com esse problema, pois registram mais casos de depressão, comparados com os países desenvolvidos. E os custos da depressão serão sentidos de maneira mais aguda em países em desenvolvimento, pois esses têm menos recursos para tratar desse transtorno mental.
Esses dados mostram claramente que, embora a ciência já tenha desvendado o caráter biológico da doença, o ambiente sócio cultural, as condições psicossociais e econômicas exercem um peso enorme na clínica, na epidemiologia e na recuperação dos pacientes.
O fato de vivermos em uma época e em uma sociedade conflitante, ameaçadora e instável do ponto de vista político, econômico, social e da segurança pública, isso colabora para gerar danos irreparáveis à estabilidade emocional, psicológica e social das pessoas. A descrença, as decepções e a desesperança, sentimentos comuns nos dias atuais, provocam profundas rupturas psicossociais, influenciando sobremaneira comportamentos depressivos. As frequentes mudanças em nossas referências sociais, éticas, religiosas e afetivas, também nos tornam mais vulneráveis a ocorrências depressivas.
O uso crônico de álcool e de outras drogas da forma como vem ocorrendo largamente em nossa sociedade, onde cada dia se bebe mais e, cada vez mais surgem drogas mais poderosas para o consumo indevido, representa uma condição importante entre as causas de depressão na sociedade atual. Isso certamente explicaria o fato de muitos jovens de pouca idade e mesmo crianças estarem apresentando cada vez mais depressões e outras doenças mentais.
Do ponto de vista psicológico, a depressão é considerada uma das piores condições humanas. As que já passaram por crises depressivas a referem como “uma dor na alma”, incomparável a qualquer outro sofrimento. Os depressivos apresentam uma angústia vital que só eles são capazes de senti-la e descrevê-la. A vida perde a cor, o sabor e o sentido. As pessoas estão sempre amarguradas, inexpressivas e infelizes. Se sentem sós no mundo e perdem inteiramente a esperança de se recuperarem de seus problemas. Para muitos, a crise depressiva é uma morte lenta e infindável, por isso muitos recorrem ao suicídio.
Apesar de tudo, os avanços verificados nos últimos 20 anos no tratamento da depressão, foram muito grandes. Os tratamentos são cada vez mais efetivos fazendo com que as pessoas afetadas pela doença se recuperam inteiramente. A depressão é uma doença recorrente, isto é, vai e volta. O recomendável é que, além do tratamento rigoroso da crise, que deve iniciar o mais cedo possível, as pessoas que já tiveram algumas crises na vida realizem “tratamento de prevenção de recaída” que impede que a pessoa volte a adoecer. Isso evoluiu muito nos últimos anos.
É preciso, portanto, que desde o momento em que aparecerem os primeiros sintomas depressivos, como insônia, desânimo inexplicável, desinteresse, apatia retraimento social, angústia insuportável, ideias de ruína ou culpa e outros sintomas depressivos, busque-se socorro médico, para impedir que esses sintomas evoluam. Fazendo isso, as depressões se revertem inteiramente retirando a pessoa de um “buraco sem fim”, como muitos dizem.
Na área da saúde mental faz-se necessário dispormos de ambulatórios especializados para atendimento do paciente depressivo, bem como suas famílias para lidarem com o problema: “A depressão é uma doença como qualquer outra doença e as pessoas têm o direito de ser aconselhadas e receberem os mesmos cuidados médicos que são dados aos portadores de quaisquer outras enfermidades. É uma doença evitável, prevenível e curável”. Infelizmente, ainda existem muitos preconceitos em relação a ela, fato que, a meu ver, complica mais ainda seu manejo.

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Como diagnosticar um dependente

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Como se distinguir entre consumidores de álcool e outras drogas, quem é dependente ou não é uma das tarefas mais difíceis e mais complicadas para quem trabalha com esses usuários. A inteligência do tratamento está aí. Se, se trata de um usuário que não apresenta qualquer queixa relativa ao consumo, só temos que recomendar medidas preventivas para evitar que essas pessoas não passem a ter problemas com relação ao uso.
Se por acaso, a pessoa já se encontra abusando do consumo, ao ponto de já ter problema com o uso do álcool ou outra droga, teremos que recomendar um conjunto de medidas para que essa pessoa não agrave seu problema. Se, por acaso, a pessoa já é um dependente de qualquer uma dessas substâncias, as recomendações são outras e mais específicas, recomenda-se tratamento imediato antes que a situação se complique mais ainda. Por último, recomenda-se tratamento de reabilitação psicossocial nos casos em que a pessoa já se encontra em estágio final de sua doença e já apresenta muitas perdas ocasionadas pela evolução da doença.
A Organização Mundial da Saúde – OMS traz uma contribuição importante nesta área, quando elaborou critérios que nos permite identificar, entre os usuários de drogas, os que são ou não, dependentes, já que nem todos os consumidores o são. Abaixo discorremos sobre esses critérios com mais detalhes.
1 – Manifestações fisiológicas, comportamentais e cognitivas características.
Usuários ao se tornarem dependentes mudam sua forma de comportamento e estas mudanças, às vezes indisfarçáveis, são acentuadas. A rigor, mudam inclusive traços caracterológicos e de personalidade. Além do mais, sabe-se que muitas destas alterações psicossociais e comportamentais estão associadas diretamente aos efeitos deletérios das drogas sobre o cérebro, órgão responsável pela nossa saúde ou doença mental.
2 – Prioridade ao uso da substância.
A proporção que avança o consumo da droga e proporcionalmente se instala a dependência, vai havendo uma espécie de priorização ao consumo da substância em detrimento a outros comportamentos anteriormente importantes ao indivíduo, onde o consumo da drogas vai se transformando cada vez mais em algo relevante e prioritário à vida da pessoa.
As outras atividades ou interesses, anteriormente importantes, como por exemplo, esporte, artes, estudos, trabalho, responsabilidades do dia a dia, compromissos sociais e familiares e até mesmo pela atividade sexual e afetiva, vão cedendo lugar e sendo substituídos pelo interesse predominante e, cada vez maior, pela substância. Pode acontecer que no futuro, a pessoa não faça outra coisa que não seja beber ou usar drogas.
3 – Forte desejo de consumir a substância.
Popularmente chama-se “fissura”, entre nós e de “craving”, entre os ingleses. Representa um desejo sem limites, incontrolável para consumi-las. Às vezes, isto é tão forte, que os mesmos são capazes de fazerem qualquer coisa, no sentido de adquiri-las: agredir, delinquir, mentir, roubar, matar etc. Esse comportamento compulsivo é atualmente considerado um dos sintomas mais importante elementos de diagnóstico da dependência. E, todos esses comportamentos se agravam á medida que se agrava a doença.
4 – Recaídas, após a abstinência:
Recair significa retomar um padrão de consumo da substância que fora anteriormente rechaçado. Frequentemente muitos dependentes que param de usar e que posteriormente retornam ao uso do álcool ou de outras drogas, reproduzem o mesmo comportamento anterior em proporções piores. Isto é, recair é um fenômeno sempre um estado pior que ocorria antes da parada. O que se sabe é que, independente do tempo que passaram abstinentes, estes usuários ao voltarem a utilizá-las passam a fazê-lo intensamente e de forma descontrolada.
5 – Dificuldade em controlar o consumo.
Os dependentes têm dificuldades intensas de interromperem o consumo das drogas quando iniciam o uso tanto no começo, quanto no meio e no fim deste processo. Ao iniciar o consumo não param mais, e prosseguem ininterruptamente, até atingirem altos níveis de intoxicação. Este fato é determinado pela compulsão onde o sujeito fica impossibilitado, literalmente, de frear este consumo. A frase clássica para definir isto é: “fulano quando começa a beber não para mais”.
6 – Presença dos sintomas de tolerância.
Tolerância é um fenômeno biológico, que envolve inúmeros mecanismos biológicos e comportamentais e que surge a partir da relação do sujeito com a substância. Quando a tolerância se instala essas pessoas terão sempre que aumentar a doses da substância consumida para obterem os mesmos efeitos adquiridos quando usavam doses menores. Isto é, vão aumentando indiscriminadamente o consumo da droga.
7 – Sinais de abstinência.
Abstinência diz respeito a uma série de sinais e sintomas de natureza física, psíquica e emocional em geral desagradáveis que surgem sempre que os usuários interrompem ou diminuem a quantidade da droga consumida.
Algumas pessoas dependentes de tabaco ou de álcool ao deixarem de usá-los ou mesmo por diminuírem suas doses consumidas, passam a apresentar tremores, ansiedade, insegurança, sudorese, taquicardia, insônia, dificuldade na concentração, respiração acelerada ou mesmo outros sintomas mais complicados com crises convulsivas, alucinações e delírios (álcool, cocaína, barbituratos etc…), todas estas reações revelam a abstinência.
8 – Persistência do uso, apesar dos danos.
À proporção que a dependência avança os usuários não se dão conta dos inúmeros problemas psicológicos, emocionais, sociais ou outros transtornos e, por conseguinte não param de usá-las. Dependentes de álcool com cirrose, diabetes hipertensão arterial cânceres e diversas outras doenças não param de beber. Fumantes com câncer de pulmão, com problemas cardiovasculares e respiratórios não param de fumar. Pessoas com problemas emocionais, sociais e familiares adquiridos por uso de drogas não impedem que os mesmo parem de usar, e assim por diante.
De conformidade com a OMS, se alguém apresentar pelo menos três, dos oito itens acima citados, os mesmos já apresenta algum grau de dependência.

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Distinção entre compulsão e vontade de beber

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Entre os dependentes de drogas (álcool e outras drogas), existem diferentes sintomas que, de conformidade com a evolução da doença vão se estabelecendo progressivamente ao ponto de posteriormente passarem a ser típicos dessas pessoas. “Neste artigo, tratarei da compulsão vulgarmente chamada de “fissura” ou craving”, que é entre os sintomas de dependência um dos mais importantes para o diagnóstico dessas doenças. Esse sintoma interfere diretamente na disposição do enfermo para se tratar, bem como nas sucessivas recaídas que se observa no processo de recuperação e tratamento.
Fissura e compulsão são dois termos já largamente conhecidos pelo público em geral, graças às centenas de artigos já publicados a seu respeito, embora ainda não se tenha pleno conhecimento sobre sua natureza biológica e comportamental.
“Fissura” é um termo popular em nosso idioma. Entre os ingleses é denominada de “craving”, que nada mais é do que um desejo ardente, incontrolável, irrefreável de consumir a droga da qual dependa. Em princípio, só sente fissura quem é dependente, seja de que droga for. É um sintoma que pode estar presente em outros transtornos psiquiátricos, portanto não é exclusivo dos dependentes de drogas. Os alcoólatras e outros dependentes, portanto, sentem essa fissura sempre que param ou reduzem o volume de ingesta das substâncias das quais dependem. Este fenômeno apresenta as seguintes características:
1 – está presente na síndrome de dependência;
2 – surge quando o consumo da droga é interrompido;
3 – a ânsia (compulsão) de consumir é quase sempre superior ao seu controle;
4 – favorece sempre a recaída;
5 – a obtenção da droga cessa os sintomas;
6 – é classificada como leve, moderada ou grave.
7– sua intensidade está associada à intensidade da dependência;
8 -é involuntário, evolutivo e envolve mecanismos neurobiológicos, circunstanciais/psicológicos;
9 – há drogas que aliviam os sintomas do “craving”;
10 – interfere na decisão de se tratar;
A compulsão é uma distorção psicopatológica da vontade e/ou da volição. É uma disfunção volitiva. Enquanto que na vontade a pessoa exercita livremente sua capacidade de querer ou não usar uma substância, o compulsivo se vê obrigado imperiosamente ou compelido a fazê-lo. Portanto a grande distinção é essa. O dependente químico, não usa drogas porque quer, e sim por que é obrigado. Eis, o grande problema, porque a partir do momento em que alguém se vicia no uso de uma droga, ele se escraviza perde sua autonomia, sua capacidade de escolher o que quer e o que não quer, perde sua disposição e sua liberdade nas escolhas e nas opções que fará na vida daí pra frente. Será comandado por ações compulsivas em que o comando das mesmas já não se dará de forma efetiva, pois ele irá consumir a substância por motivos incontroláveis.
Estes 10 itens acima mostram claramente a gravidade deste problema e todos são muito importantes em sua caracterização, a dificuldade de aderir a um tratamento e as recaídas são indiscutivelmente as mais importantes consequências do “craving”, justamente por interferir no tratamento e na recaída.
Do ponto de vista da neurobiologia do “craving”, já temos acumulado um vasto conhecimento sobre como ele surge, muito embora se saiba que ainda falta muito para esclarecer totalmente sua natureza. O fato é que tudo se dá em determinadas áreas do cérebro intermediado por reações envolvendo os neurotransmissores cerebrais: dopamina, serotonina, acetilcolina e outros.
Estudos de neuroimagem utilizando técnicas como a tomografia por emissão de pósitrons (PET) têm permitido a identificação de tais anormalidades neurofuncionais criando condições favoráveis para que em um futuro próximo se possa manejar melhor com este sintoma. Além do mais, graças aos recentes os avanços da ressonância magnética (RM) funcional, já se pode vislumbrar as áreas afetadas pela compulsão, fato que está certamente favorecendo uma maior compreensão da fisiopatologia desse fenômeno.
Do ponto de vista do tratamento, nos últimos 15 ano avançou-se muito no tratamento da compulsão. Na área farmacológica os avanços foram expressivos, sobretudo com o surgimento de drogas denominadas de anti-compulsivas, anti-fissura ou ainda, anticraving, as quais, impedem ou reduzem a busca incontrolável por álcool ou por outras drogas, e diminuem drasticamente o mal estar físico, psicossocial e emocional ocasionado pela privação do uso dessas drogas. Esses dois mecanismos de ação farmacológicos, são considerados atualmente como fundamentais para o manejo adequado dos dependentes de drogas.
Entre os transtornos que mais se beneficiaram com estes medicamentos foram o alcoolismo e o tabagismo. Outras drogas estão sendo testadas e que deverão ser lançadas em breve se destinam ao controle do “craving” dos dependentes de cocaína, através de mecanismos, diferentes aos anteriores.
Outros avanços significativos ocorreram na área ocupacional e psicossocial com técnicas avançadas no tratamento e reabilitação destes pacientes, as quais possibilitarão diretamente maior adesão aos tratamentos propostos, impedindo também, por conseguinte, altos índices de recaídas frequentemente encontrados ente estes doentes.

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Álcool prejudica o descanso

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1acerveja

Pesquisa mostra que, apesar de inicialmente atuar como sedativo, substância provoca um aumento na potência de determinadas ondas cerebrais associadas a um sono agitado e pouco reparador

Tomar uma taça de vinho ou outra bebida antes de se deitar pode ajudar uma pessoa a dormir mais rápido, mas apesar de inicialmente atuar como sedativo, o álcool provoca perturbações no sono que atrapalham mais o descanso, diz estudo publicado ontem on-line em adiantamento à edição de fevereiro do periódico científico “Alcoholism: Clinical & Experimental Research”. Segundo os pesquisadores, embora a substância promova a atividade das chamadas ondas delta no cérebro, associadas a estágios de sono profundo sem sonhos, ela também traz um aumento na potência das ondas alfa na região frontal do órgão, vistas como reflexo de um sono agitado.
— As pessoas tendem a se focar nos relatos das propriedades sedativas do álcool, que se traduzem em um menor tempo para dormir, particularmente em adultos, do que nas perturbações que ele provoca mais tarde na noite — critica Christian L. Nicholas, cientista do Laboratório de Pesquisas do Sono da Universidade de Melbourne, na Austrália, e um dos autores do estudo.
A atividade das ondas delta no cérebro costuma ser maior na infância e vai caindo com a idade, passando por reduções significativas entre os 12 e 16 anos. Os cientistas acreditam que é por isso que as crianças e jovens dormem mais que os adultos e idosos, já que elas estão ligadas ao chamado “Sono de Ondas Lentas” (SWS, na sigla em inglês) e ao “Sono sem Movimento Rápido dos Olhos” (NREM, também na sigla em inglês), ambos estágios sem sonhos do período em que estamos dormindo. O problema é que também é justamente nesta época da juventude que as pessoas experimentam o álcool pela primeira vez, com o consumo em geral se elevando com o tempo.
— A redução na frequência das ondas delta nos eletroencefalogramas que observamos com a idade é vista como uma representação do processo normal de maturação do cérebro à medida que o cérebro adolescente continua a se desenvolver rumo à maturidade — lembra Nicholas. — E embora a função exata do sono NREM, e em particular do SWS, ainda seja motivo de debates, acredita-se que eles refletem as necessidades de sono e sua qualidade. Assim, qualquer perturbação neles pode afetar as propriedades restauradoras do sono e serem prejudiciais à funcionalidade durante o dia.
No estudo, Nicholas e sua equipe recrutaram 24 voluntários (12 mulheres e 12 homens) saudáveis com entre 18 e 21 anos de idade que beberam “socialmente”, isto é, menos de sete doses-padrão por semana, nos 30 dias anteriores. Cada um dos participantes da pesquisa foi então analisado com exames de polissonografia e eletroencefalogramas enquanto dormia sob duas condições: tendo consumido álcool antes de se deitarem ou apenas um placebo. Os resultados mostraram que o álcool de fato aumentou a atividade das ondas delta durante o SWS, mas que também houve simultaneamente uma alta nos registros de ondas alfa na região frontal do cérebro.
— Elevações similares na atividade das ondas delta e alfa, que estão associadas com um sono pobre ou pouco reparador, também foram observadas em indivíduos com dores crônicas — destaca Nicholas. — Assim, se o sono está sendo perturbado regularmente pelo consumo de álcool antes de dormir, particularmente ao longo de grandes períodos de tempo, isso pode ter efeitos prejudiciais significativos no bem-estar durante o dia e em funções neurocognitivas como os processos de aprendizado e memória. A mensagem a se levar deste estudo é que o álcool na verdade não é um bom auxílio para o sono mesmo que ele pareça te ajudar a dormir mais rápido. De fato, a qualidade do sono que você obtém foi significativamente alterada e perturbada por ele.

Portal Araruna Online

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Estimulação magnética transcraniana e dependência química

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Estimulação magnética transcraniana e dependência química

USP testa estímulo cerebral em viciados em drogas

FERNANDA BASSETTE DE SÃO PAULO

Pesquisadores do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo) estão testando o uso da estimulação magnética do cérebro para conter a fissura de pessoas dependentes de cocaína em pó e reorganizar o funcionamento cerebral. A técnica, chamada estimulação magnética transcraniana, é usada aqui desde 2006 no tratamento de depressão.

Segundo os médicos, não é invasiva e quase sem efeitos colaterais. Essa é a primeira vez que pesquisadores brasileiros resolvem investigar se os benefícios do método podem ser estendidos para dependentes crônicos da droga. Um grupo de Israel, por exemplo, estudou os efeitos da estimulação contra a fissura provocada pelo tabaco.

Os resultados mostram uma queda no desejo pela droga nos primeiros três meses. Segundo o último levantamento da Senad (Secretaria Nacional de Políticas Antidrogas), 2,9% da população brasileira já usou cocaína ao menos uma vez na vida. E 7,7% dos universitários experimentaram a droga ao menos uma vez. O psiquiatra Phillip Leite Ribeiro, responsável pelo teste na USP, explica que a ação da cocaína desorganiza os circuitos cerebrais, alterando o funcionamento das redes de neurônios. “A consequência é uma pessoa dependente da cocaína, com dificuldade de raciocínio e de decisão”, diz Ribeiro.

COMO FUNCIONA

A estimulação magnética transcraniana é aplicada em consultório, sem anestesia. O paciente usa uma touca de natação e o médico aproxima o aparelho na região do cérebro a ser tratada. As ondas penetram cerca de 2 cm. No caso da cocaína, o local exato da aplicação não foi divulgado por se tratar de algo ainda em estudo.

As sessões são feitas durante 20 dias e duram 15 minutos. Custam, em média, R$ 400 cada uma. Após um mês, o paciente faz tratamento para prevenir recaídas.

Por enquanto, os resultados preliminares mostram que há, de fato, uma diminuição na fissura. E, ao contrário do que parece, a estimulação magnética não provoca choques. É bem diferente da eletroconvulsoterapia -método em que o cérebro recebe uma descarga elétrica generalizada, entrando em convulsão. A estimulação transcraniana gera um campo magnético com uma pequena corrente elétrica. A ação é local, afirma Ribeiro.

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POUCO USADA

Segundo Paulo Silva Belmonte de Abreu, chefe do serviço de psiquiatria do HC de Porto Alegre e presidente da Associação Brasileira de Estimulação Magnética Transcraniana, embora seja reconhecida, a técnica não é muito usada no país. Ela tem efeitos positivos na depressão, em psicoses que provocam alterações auditivas [como esquizofrenia], no tratamento da dor fantasma. Mesmo assim, poucos centros a usam, ainda tem muito preconceito, avalia.

Para Abreu, é importante que o método seja testado para tratar outros problemas. É uma ferramenta não invasiva que não lesa o cérebro. Quando não atinge os efeitos desejados, ela não faz mal. Segundo Abreu, a única contraindicação é para pessoas com histórico de convulsão a aplicação pode desencadear uma crise.

Os principais efeitos colaterais são leve dor local e desconforto durante a aplicação. O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, diretor do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp, é mais cauteloso. É uma técnica que está sendo estudada para vários tipos de transtornos, mas não é totalmente eficaz. O que se sabe é que ela modifica circuitos neuronais, mas ainda não é possível dizer que resolve o problema, diz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Há quatro anos trabalho com essa ferramenta (recurso) aqui em São Luis e modestamente fui o pioneiro  a trazer a EMT para nosso meio. Atualmente, minha filha Ludmila Palhano e eu fazemos esse tratamento no Instituto Ruy Palhano. Posso garantir que a EMT é um excelente método para se tratar paciente com depressões de diferentes tipos e alucinações auditivas e pacientes esquizofrênicos. A indicação para se tratar dependente de drogas ainda não foi autorizado pelo Conselho Federal de Medicina – CFM, nesse sentido, são as pesquisas que estão a todo vapor, especialmente por pesquisadores da  UNIFESP.

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Para onde estão indo as crianças doentes mentais?

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Nos últimos meses tenho utilizado esse veículo de comunicação para manifestar minha indignação sobre as incongruências da política brasileira que trata das questões da saúde mental. Dada a complexidade desse assunto e sua abrangência epidemiológica, a política de saúde mental deveria ser uma das políticas prioritárias dos governos, todavia verifica-se o contrário.

Especificamente sobre saúde mental, é lamentável aonde chegamos. Uma política mal aparelhada, desarticulada, sem referência, com poucos recursos financeiros e, confusa em sua aplicabilidade. A situação é mais preocupante quando se trata de saúde mental na infância e na adolescência. Etapas da vida que pela sua natureza deveriam dispor do que há de melhor nesse sentido, para dela desfrutarem. Mas, aqui reina o contrário, crianças e adolescentes estão literalmente desassistidos quanto aos seus direitos constitucionais de ter acesso á saúde no mais amplo sentido.  É mais um setor que vai muito mal nesse país entre tantos outros e, algumas iniciativas aqui tomadas pelo poder público passam á margem da tolerância quanto aos cuidados que deveriam ter sido tomados em benefícios de crianças e  adolescentes. Dão-nos a impressão que os problemas nessa área não existem ou não tem a menor importância.

O Brasil, segundo a UNICEF, possui uma população de quase 200 milhões de pessoas, dos quais 60 milhões têm menos de 18 anos de idade, o que equivale a pouco mais de um terço de toda a população de crianças e adolescentes da América Latina e do Caribe. São dezenas de milhões de pessoas que possuem direitos e deveres e que necessitam de condições para se desenvolverem com plenitude.

Segundo ainda a UNICEF, essas crianças estão especialmente vulneráveis às violações de direitos, à pobreza e à iniquidade no País. Por exemplo, 29% da população vivem em famílias pobres, mas, entre as crianças, esse número chega a 45,6%. As crianças negras, por exemplo, têm quase 70% mais chance de viver na pobreza do que as brancas; o mesmo pode ser observado em crianças que vivem em áreas rurais, onde 70% das 13 milhões que vivem nessas condições são classificadas como pobres. Essas condições socioeconômicas são absolutamente desfavoráveis e incompatíveis à um bom desenvolvimento emocional, social e comportamental do ponto de vista psiquiátrico e da saúde mental, fatos que agravam mais ainda o problema.

Em, nosso país, 21 milhões de adolescentes com idade entre 12 e 17 anos e as crianças são especialmente afetados pela violência. As estatísticas mostram um cenário desolador em relação à violência contra esses jovens. A cada dia, são registrados 129 casos de violência psicológica e física, incluindo a sexual, e outras negligências contra esses jovens, conforme o Disque Denúncia 100. Isso quer dizer que, a cada hora, cinco casos de violência contra meninas e meninos são registrados no País. Imaginem o impacto dessas experiências na mente de um ser em desenvolvimento, pois tais ocorrências poderão também marcá-las para sempre.

Tanto as injúrias socioeconômicas quanto as violências dos quais são vítimas esses pequenos seres humanos provocarão uma carga muito grande de dor e sofrimento que interferirá na sua estrutura afetivo-emocional, comportamental e na própria formação da personalidade dos mesmos, com consequências imprevisíveis em sua dimensão moral, comportamental e biopsicossocial.

Por conta dessas experiências traumáticas e muitos outros fatores psicopatológicos que esses jovens são vítimas, estima-se que entre 12 e 20% da população infanto-juvenil apresentará na vida, algum transtorno mental e entre esses: autismo, depressão, distúrbios ansiosos, distúrbios hipercinéticos, distúrbios da atenção, distúrbios de comportamentos, alcoolismo, esquizofrenia, retardo mental e outras dependências químicas.  Entre esses que apresentam tais distúrbios, 2 a 3 % exigirão cuidados intensivos para seu enfrentamento, portanto apresentarão condições psiquiátricas graves que necessitarão atenções especiais.

Só o alcoolismo, doença mental severa e prevalente entre nós, será desenvolvido por 7% da população masculina até 17 anos e, uma em cada 4 crianças e adolescentes, com idade entre 10 e 18 anos, estarão expostos ao abuso de álcool no ambiente familiar.   Os índices de consumo de outras drogas crescem assustadoramente, sem qualquer controle.

E o que está sendo feito a essa juventude enferma em matéria de assistência, de prevenção ou de reabilitação psicossocial? Para onde os pais dessas crianças e adolescentes portadoras desses transtornos estão levando seus filhos na área pública? E os dependentes de álcool e outras drogas, onde estão sendo tratados? E os pais angustiados e desesperados como os vejo quase sempre, onde irão buscar apoio?  Se houver necessidade, onde internar os mais graves? As perguntas estão postas, o desafio agora é saber quem do poder público vai responder. Essa população de jovens brasileiros e maranhenses sofredores desassistidos que estão a mercê da sorte ou da boa vontade dos outros, quem vai cuidar? Eles estão aí entre nós. Precisamos dá um rumo decente, digno e humanizado á politica de segurança, social e de saúde para essa juventude que tanto esperam da gente, nesse estado e nesse país.

 

 

 

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A depressão de final de ano

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A depressão de final de ano

 

Na virada do ano, em uma entrevista que concedi  a uma TV local, me perguntaram porque tanta gente se deprimia nessa época. Pois, segundo as informações do jornalista, isso era uma ocorrência frequente e não era tratada com o devido respeito. Na realidade, o comentário do repórter procede, pois de fato a incidência depressão nessa época do ano é comum, embora não se tenha muitos trabalhos científicos no Brasil tratando desse assunto.

A OMS, estima que entre 15 a 18% das pessoas terão depressão em qualquer época da vida, independente do período do ano. As perspectivas atuais sobre o seu tratamento e prevenção, são as melhores possíveis, falta todavia, uma ampla conscientização aos enfermos e às suas famílias, que os faça entender que depressão é uma doença recorrente e que se não preveni-la, fatalmente reaparecerá em outras ocasiões.

Esse comentário acima, serve para mostrar que o aparecimento de depressão em finais de ano pode ser, nada mais na da menos, que um episódio  depressivo que ocorreu nesta época, assim como poderia ocorrer em qualquer outra. Isto é, a partir desse ponto de vista, o episódio depressivo está ligado á natureza  da própria doença e não ás mudanças da época de ano. Pois, como sabemos, a mesma é recorrente, ocorre por fases, podendo portanto, ocorrer em qualquer período.

Outra explicação, é que independente da autonomia da crise depressiva, como vimos acima, sabe-se que o “clima e o tempo” tem uma influência no curso natural em muitas doenças humanas e a depressão não escaparia a esse paradigma. Isto é, o clima exerce uma influência positiva ou negativa sobre nossas enfermidades. Há muito se sabe, que em épocas do inverno os depressivos entram em crise mais facilmente e as mesmas apresentam algumas caraterísticas predominantes: se tornam mais melancólicos, mais inibidos,  mais retraídos e mais entristecidos. Além do mais, referem com muita frequência baixa perspectiva quanto ao futuro e se apegam muito ao passado. Evidentemente que apresentam outros sintomas nessa área porém os acima predominam.

A neurociência e a psiquiatria ainda não dispões de explicações amplas sobre  a relação depressão e inverno, todavia, sabe-se que há mecanismos neuro-hormonais importantes, ligados aos ciclos biológicos vitais que interfeririam com a eclosão das crises nesse período. Algo parecido acontece com a síndrome pré-menstrual,  com o ciclo sono-vigília, e muitas outras mudanças que ocorrem em nossa fisiologia e em nosso comportamento dependendo do horário do dia, do mês,  do ano e do clima. O fato é que há uma relação estreita entre essa época e as doenças metais, configurando as chamadas variações circadianas do nosso estado psiquíco.

Outro aspecto importante é que a época do fim de ano e do natal, as pessoas se tornam mais sensíveis, mais  amáveis, mais emotivas, e por isso mesmo mais  vulneráveis ao clamor afetivo e emocional desse período. Natal e ano novo são datas muitos significativas, sempre carregadas de muitas tradições e emoções onde muitos já se vulnerabilizam independentemente de serem depressivos ou não.

A marca desse período é o contentamento, a alegria envoltos a um clima de devoção, esperança e fé. Muitos, contagiados por essa onda de alegria nem se dão conta de seus problemas do dia a dia. Ficar triste nessa data nem pensar, compartilham dor e sofrimento muito menos. Muitos tem problema de todos os tipos: nas relações familiares, problemas financeiros, problemas no trabalho, problemas de saúde, com drogas e não examinam isso como deveriam examinar ao longo do ano e, quando chega essa data obrigatoriamente terão que rever todas essas mazelas e, muitos, não tem ferramentas ou estrutura emocional para fazê-lo, o que será suficiente  para conduzí-los  a se deprimirem nessas ocasiões.

Esses três aspectos, o psicopatológico, ligado diretamente a doença depressiva; o neuroendócrimo que expressa as variações circadianas do humor; e o psicológico comportamental, relativos a vida de cada um podem, em proporções distintas, colaborara com o surgimento da depressão nesse período do ano. Independente de ser sazonal ou não, teremos que tratá-la a contento, e  preveni-la que é atualmente o que mais se recomenda em psiquiatria. A depressão portanto independente de ocorre de forma sazonal, é uma doença tratável, evitável e prevenível.

 

 

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A doença das relações sociais

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Uma das doenças mentais que vem ocorrendo com certa frequência nos consultórios psiquiátricos é o Transtorno da Ansiedade Social, (TAS) também conhecida como Fobia Social ou Transtorno da Fobia Social. É uma doença que se expressa através de sintomas e sinais de ansiedade, em contatos sociais ou em situações de desempenho de uma atividade na frente dos outros.

Existem dois subtipos clínicos de TAS: o tipo generalizado e o específico. O primeiro, se caracteriza pelo surgimento da ansiedade disfuncional ( patológica) em uma grande variedade de situações da vida do indivíduo, onde se inclui: conversar em pequenos grupos sociais, falar com estranhos, conhecer novas pessoas, se expor ou comer em público ou entrar em contato com autoridades. O segundo subtipo clínico, o específico, envolve uma ou duas situações em que a pessoa esteja desempenhando uma atividade social específicas, como falar em público,  paquerar, flertar, ficar com uma pessoa em uma festa. Nestas circunstâncias se sentem absolutamente inseguras e impossibilitadas de enfrentarem a  da situação,  ao ponto de  desistirem de seus intentos.

A doença se inicia na infância ou adolescência, sendo a puberdade um período de alto risco para o início  do transtorno. A instalação pode ser de forma abrupta, após um evento estressante ou de humilhação, ou insidiosa, sendo essa última condição mais frequente. Pode evoluir cronicamente e perdurar pela vida toda da pessoa, caso não seja tratada adequadamente.

No curso desse transtorno pode haver ataques de pânicos (crise aguda de ansiedade), porém sempre ligado a um evento sobre o qual a pessoa se encontre e nunca ataques espontâneos, como ocorre na doença do pânico. Em geral surgem diante de situações temidas, como ter que fazer uma apresentação em público, ser observado realizando uma tarefa, ou em outra condição onde haja indícios de stress social.

Os sintomas que mais incomodam esses paciente são: taquicardia, respiração acelerada e ofegante, opressão no  peito, tremor nas extremidades, sudorese, boca seca, inquietação e medos de ser criticado. Paralelamente podem aparecer dificuldade de pensar de modo ordenado e expectativa de ser ofendido por alguém. Só, que isso ocorre somente nas situações descritas acima e nunca de forma espontânea e sem motivo aparente.

Nessas circunstâncias, muitos pacientes evadem da situação “ameaçadora” ou procuram lugares reservados onde possam realizar qualquer tarefa, porém longe de contatos pessoais. Passado o momento, tudo volta o normal.

Conforme disse acima, os pacientes com Transtorno de Ansiedade Social ( TAS) percebem que a doença vai se instalando de forma lenta, insidiosa e de forma progressiva, onde os mesmos podem se retrair inteiramente de qualquer atividade que implique em contatos sociais. Vai havendo um progressivo prejuízo em outras funções neuroadaptativas e cognitivo-comportamentais, entremeadas com sintomas depressivos, ao ponto de muitos pensarem até em morrer.

Ocorre que apesar de todos os sintomas prejudiciais, limitantes e muito desagradáveis, sabe-se que o TAS (fobia social) apresenta atualmente um prognóstico muito favorável, especialmente com surgimento de medicações que corrigem os mecanismos fisiopatológicos (causadores) dessa doença. Além do mais, outros tratamentos como as psicoterapias, preferencialmente as de base cognitivo-comportamental, são as mais indicadas e as que melhor colaboram para a recuperação de pessoa.

O tratamento farmacológico, hoje recomendado para o TAS são muito efetivos e com alguns outros cuidados em seu manejo, logo se recuperam desse transtorno. O tratamento deve persistir por no mínimo 2 anos, mesmo que o paciente não apresente mais as queixas clássicas de sua doença.

O apoio familiar é importante para garantir o sucesso terapêutico, pois muita gente ainda não entende que as dificuldade patológicas encontradas nas relações sociais que ocorre com essas pessoas não é por que querem, são dificuldades graves e  por mais boa vontade que tenham pra se recuperar, precisam de tratamento médico e psicossocial para se livrarem disso.

 

 

 

 

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