Saúde Mental e Uso de Cocaína

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A cocaína é um alcalóide extraído da planta Erythroxylon Coca, onde sua concentração gira em torno de 0,5% a 1%. Essa planta é produtiva por períodos de 30 ou 40 anos e, após atingir sua fase adulta, sua colheita pode ser realizada entre 4 a 5 vezes ao ano. É comercializada, em geral, na forma de um pó branco cristalino, inodoro, de sabor amargo e insolúvel em água. É obtida por meio da transformação das folhas de coca em pasta de cocaína (merla) e, a partir daí, transformada em cloridrato, o pó branco, que pode ser administrado por diferentes vias, sendo mais frequente por inalação ou dissolvido em água, via endovenosa. Suas duas outras formas de apresentação são a merla (pasta de coca) e o crack, compostos já conhecidos por muitos, por ser de consumo ser crescente em nosso país.
Estima-se que, no mundo, 13,3 milhões de pessoas, 0,3% da população acima de 15 anos, consumam regularmente cocaína. Pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas – ONU revelou que o consumo de cocaína entre os nove países da América do Sul foi descrito como “estável”, porém, em nosso país, houve aumento do consumo de 1%, em 2001, para 2,6%, em 2005, pela população entre 15 e 64 anos.
A cocaína é absorvida rapidamente pela mucosa oral, nasal, gastrointestinal, retal e vaginal, alvéolos e pulmonar. Por via oral, o pico de concentração plasmática se dá em 60 minutos e, por insuflação nasal, o início de ação é quase imediato. A substância por via intravenosa e inalatória se distribui rapidamente para o sistema nervoso central através da circulação sistêmica, atingindo o cérebro em pouco menos de 7 segundos.
A cocaína é uma droga com grande potencial de causar dependência. Uma pessoa que experimenta a cocaína não pode prever ou controlar a extensão de seu uso, por isso mesmo é que se recomenda não iniciar seu consumo.
Os efeitos físicos do uso da substância incluem constrição nos vasos periféricos, dilatação das pupilas, aumento da temperatura corporal, aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. A duração dos efeitos eufóricos imediatos ao uso da cocaína, que incluem hiperestimulação, redução do cansaço e clareza mental, depende da via de administração. Quanto maior a absorção, maior a intensidade dos efeitos. Por outro lado, quanto maior a absorção, menor o tempo de duração.
Pode ocorrer o desenvolvimento de tolerância, que é a necessidade de se consumir maiores quantidades da coca para se obter os mesmos efeitos que os adquiridos com doses mais baixas. Evidências científicas sugerem que as propriedades do poderoso envolvimento neuropsicológico da cocaína são responsáveis pelo seu uso contínuo, mesmo com as consequências físicas e sociais danosas que todos conhecem.
O paciente sob efeito dessa substância pode apresentar delírios de perseguição, designada popularmente por “nóia”, em que a pessoa acredita estar sendo perseguida ou mesmo que alguém quer lhe fazer mal ou prejudicar-lhe. Essas crenças são, em geral, infundadas e inspiradas em delírios os quais podem, inclusive, dependendo do grau de desorganização psíquica, reaparecer mesmo que a pessoa posteriormente não esteja usando mais a cocaína.
Usuários crônicos, ao interromperem seu uso, frequentemente apresentam depressão severa, muitos dos quais podem apresentar ideias acompanhadas de tentativas de suicídio, devido ao imenso sofrimento acarretado pela falta da substância. A depressão do humor determina alheamento social, retraimento do convívio familiar, desânimo, desinteresse, apatia e tristeza profunda. Relatam ainda, do ponto de vista médico, insônia significativa, medos difusos, insegurança psicológica. As mortes por overdose por uso da cocaína são frequentemente resultado de parada cardíaca ou convulsões seguidas de parada respiratória.
A comorbidade é alta entre usuários de cocaína. Eles podem apresentar, além da dependência, outras doenças mentais, simultaneamente. Há estudos que estimam em cerca de 30% a taxa de comorbidade entre usuários de cocaína: dependência de outras drogas, depressão, ansiedade, esquizofrenia, transtorno de personalidade, fobias etc., além de muitos outros problemas emocionais e psicossociais.
Os transtornos subjacentes são agravados pelo uso concomitante de cocaína, deixando os usuários mais vulneráveis aos efeitos deletérios da droga. Outra comorbidade que vem sendo muito estudada nos últimos anos é a que ocorre entre usuários de cocaína e portadores de TDAH (transtorno de déficit de atenção e hipercinéticos), doença comum entre adultos e crianças, caracterizada, principalmente, por hiperatividade, alterações na atenção e distúrbios no controle dos impulsos.
Muitos pacientes se tranquilizam, ao invés de se excitarem com o uso da coca. Alegam que ficam mais calmos e mais atentos. De fato, isso pode ocorrer pelo efeito paradoxal da cocaína. No decorrer do uso, os seus efeitos são substituídos por quadros psiquiátricos cada vez mais severos e de difícil tratamento.

Ruy Palhano
Ex.Pres. Da Academia Maranhense de Medicina – AMM
Prof. de Psiquiatria do Curso de Medicina da UFMA

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Tratamento do alcoolismo

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A dependência do álcool é um dos maiores  problemas de saúde pública na atualidade, é um tema que está relacionado com centenas de milhares de diferentes problemas, entre os quais: óbitos prematuros, grandes despesas arcadas pelos cofres públicos na área da saúde, acidentes de trânsito, suicídio, homicídio, sendo responsável por gastos vultosos e diretos pela Previdência Social, pois ocasiona perda da produtividade, absenteísmo no trabalho, aposentadorias precoces e, finalmene, o imenso sofrimento ocasionado às familias quando as mesmas apresentam esses problemas com algum parente.

Por isso mesmo a ciência busca incessantemente tratar esta questão com rigor e seriedade. Tratar alcoolismo envolve  principalmente tres grandes abordagens: a comportamental, que visa, antes de tudo, utilizar meios psicológicos  para orientar os enfermos a mudarem seus comportamentos diante da doença. Apsicoterapia atualmente mais recomendada para se tratar do alcoolismo é a terapia cognivo-comportamental. A outra abordagem á a de reabilitação psicossocial, que vis reparar os problemas adquiridos que a pessoa e a família adquirem por conta da doença. Muitos destes enfermos alcoólicos desenvolvem profundos problemas familires e sociais ocasionados diretamente pela doença e isto requer tratamento. E, por úiltimo, a abordagem psicofarmacológica, que através de medicamentos especializados visa reduzir ou aliviar os sintomas ocasionados pela interrupção do uso uso do  álcool (abstinência), bem como evitar que as pessoas  voltem a beber após pararem de usar o álcool ( recaída).

O estudo epidemiológico de maior abrangência e confiabilidade realizada nos Estados Unidos, envolvendo 20.291 pessoas da  comunidade, estima prevalência da dependência em álcool em 13,5% e, entre esses, 37% apresentam, além do alcoolismo, outros  transtornos psiquiátricos: dependência de outras drogas, transtorno de personalidade anti-social, transtorno de humor, esquizofrenia, depressão, etc. Demonstrou-se, assim, maiores evidências de que há interação de fatores biológicos,  psicológicos e sociais envolvidos nas causas do etilismo.

Tolerância e dependência física

São duas condições biológicas que resultam do uso crônico de álcool – a tolerância parece estar relacionada ao aumento do metabolismo do álcool etílico. Através da tolerância, o usuário passa a beber cada vez mais para sentir os mesmos efeitos que sentia quando bebia pouco. Isto é, a pessoa passa a beber cada vez mais. Um sinal de agravamento da dependência ocorre quando o usuário reduz  a ingestão da bebida e isso provoca um grande desconforto, vindo a apresentar sintomas e sinais subjetivos pela falta da bebida (abstinência). Os sintomas incluem hiperatividade, ansiedade, taquicardia, hipertensão,  arritmias, aumento do tônus muscular e tremores, náuseas e vômitos, insônia e um leve estado confusional com  irritabilidade ou agitação. Entre os sintomas pronunciados de excitação neuronal estão os distúrbios de percepção (ex: ilusões auditivas ou visuais, alucinações) e hiperreflexia; alguns dos pacientes podem apresentar uma ou mais crises de convulsões tônico-clônicas. A manifestação mais grave da abstinência é o delirium tremens, um estado confusional  severo caracterizado por profunda agitação, delírio, hiperatividade autonômica grave, hiperpirexia, tremores e convulsões.  Esta condição, em geral, deve ser tratada em ambiente hospitalar segura.

O alcoolismo é uma doença crônica. É fundamental que se mantenha a continuidade do tratamento com o objetivo de prevenir as recidivas. Em 95% dos alcoolistas, a abstinência é expressa como síndrome leve a moderada. O início e o pico dos  sintomas, em geral, ocorrem em seis a oito e em 24 a 36 horas, respectivamente após a suspensão da bebida. Nos outros  5% dos alcoolistas, os sintomas são mais graves e podem ser ameaçadores: geralmente atingem um pico em 96 a 120 horas,  regredindo gradualmente nas 72 horas seguintes. O delirium tremens ocorre em menos de 5% dos pacientes hospitalizados.
 A taxa de mortalidade é menor que 2% em indivíduos com síndrome de abstinência que recebem tratamento, mas chega a 15-20%  em pacientes não tratados. Do ponto de vista farmacolóigico dois grupos de fármacos são utilizados na atualidade com muita efetividade para prevenção de recaídas de alcoólatras: os medicamentos ditos aversivos, que são os que não podem e não devem ser utilizados simultaneamente com  álcool, pois as reações são insuportáveis podendo inclusive chegar à morte do  usúario por parada cardiorespiratória. O protótipo desses grupos é o antabuse. O outro grupo são os anticompulsivos ou designados  pelos ingleses como anti craving. O protótipo é a naltrexona, substância que tira  a vontade de beber. Em ambos os grupos  a recomendação número um é que ambas as substâncias sejam prescritas por médicos, considerando que o uso indevido por conta própria pode gerar  graves problemas de saúde para o dependente e para seus familiares.

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