A grande insurreição do povo brasileiro ainda está viva. Hoje, passado alguns dias do apogeu das manifestações, setores mais organizados da sociedade se mantêm firme, atenta e lúcida reivindicando seus direitos.
Aqui e acola ainda vê-se focos destas manifestações demonstrando que a população, apesar de tudo, permanece atenta, ligada aos compromissos já firmados. Ocorre que as manifestações agora são mais setorizadas, localizadas revelando queixas e solicitação especifica de setores mais organizados da vida civil. No início eram basicamente os estudantes, e agora o Brasil mostra sua cara revelando insatisfação de todos os tipos através de seus protestos da classe trabalhadora.
Destas manifestações muita coisa boa aconteceu e nos ensinou a todos. Uma delas foi se redescobrir a força gigantesca que nós temos quando nos unimos em torno de ideais. Observe que todo movimento se verificou graças a comunhão de aspirações comuns pretendidas por todos, isto é, todos lutavam pelas mesmas coisas, pelos mesmos ideais e pelos mesmos propósitos através do mesmo espírito de luta e contra as mesmas situações que prejudicam a população: desmandos, incúria e negligência, corrupção e muitas outras mazelas dos dirigentes públicos no trato dos interesses sociais e coletivos.
A moralidade deste movimento social, portanto, ocorre na busca de mais justiça, de igualdade social, de melhores condições salariais, melhores condições de saúde, educação, de melhores condições de moradia entre outras coisas. Ocorre que associado a este grande movimento reivindicatório inspirado na democracia, na dignidade e na ética, surge outro que vem merecendo toda nossa atenção, qual seja, a manifestação de violência e vandalismo entremeado nestas manifestações sociais reivindicatórias.
O quebra-quebra, a badernagem, a violência designadas de vandalismo que ocorre juntamente às manifestações reivindicatórias mais pacatas e ordeiras, também podem sociologicamente representar expressões de insatisfação popular de seguimentos ou grupos de pessoas que se encontram na mesma sociedade que nós fazemos parte. Não são seres de outro planeta, ou de uma sociedade excêntrica diferente, mas pertencem à mesma sociedade que construímos. São pessoas ou grupos, portanto, que expressam os mesmos dilemas, as mesmas insatisfações, inseguranças e contradições reveladas por outros grupos desta mesma sociedade que de forma ordeira e pacata reclamam. Estas ações, todavia, são condenáveis em si mesmas por prejudicarem a todos e serem destituídas de um sentido ético e de direito que deem bases à suas ações. Todos demonstram frustações, desigualdades, injustiças proveniente de um estado desatendo com as questões sociais.
São também manifestações com forma diferente de tratarem as grandes questões, que dizem respeito a todos nós. São pessoas que falam através das pedras nas mãos, com os paus, com o fogo, com os desatinos, com o crime e através da violência revelam suas insatisfações diante de tudo que vem ocorrendo no mundo e em nosso país.
O vandalismo é uma expressão diferente, contrária a ordem e/ou à desordem social. São atitudes disfarçadas onde as condições que as incentivam não se justificam em si mesmas. São comportamentos sem limites, irresponsáveis e criminogênicos, mas que fazem parte do nosso viver e que podem expressar as profundas contradições que nos sustentam.
Veja por exemplo a violência contra nosso patrimônio moral e ético ao vê o Renan Calheiros, um homem que há bem pouco tempo fez o que fez em nossa república, ser presidente do Congresso Nacional a mais importante instituição política deste país; vê os bandidos do mensalão exercem cargos de notoriedade pública na Câmara dos Deputados, embora já julgados e condenados pela Corte Suprema deste país e até hoje soltos por aí; vê políticos chefes de estado passearem de aviões das forças armadas gastando fortunas indo para casa de campo e/ou vê jogo de futebol; ver parlamentares que se omitem em votar as matérias que irão beneficiar a população; vê o ministro de a saúde importar médicos de outros países para atender nossas populações desassistidas por falta de cama, de soro, de medicamentos e de condições dignas para realizar o trabalho médico.
Estas e muitas outras situações revelam as idiossincrasias sociais e políticas que ainda não tivemos forças para impedir, que podem ser consideradas também violências ou formas de vandalismo contra nossa ética, nossa dignidade, nossa cidadania e contra nosso maior e mais importante patrimônio público que é a ingenuidade e a fé do povo brasileiro, fatos que nos inspiram a ser tolerante ante estas contradições.
Portando, sou absolutamente contra qualquer forma de violência ou vandalismo, porém é muito importante que ao se examinar tais manifestações a contextualize com todas as particularidades que lhes digam respeito, para se entender bem o que se passa com este fenômeno neste momento histórico da vida nacional.
Um dos temas sobre os quais mais se debate em nosso país, na atualidade, é a questão das diferentes modalidades de internação que se deve oferecer ao dependente de álcool e outras drogas. Boa parte da celeuma gira em torno do tratamento involuntário e compulsório, previstos em lei. E, no foco da atenção, estão os pacientes que já se encontram em condições precárias do ponto de vista médico e psicossocial, não dispondo de recursos neuropsicológicos e emocionais para decidir se querem ou não se tratar.
A moral da lei é garantir proteção da saúde e da vida dos enfermos e dos outros. Ela regulamenta procedimentos das instituições, dos profissionais e das famílias, além de definir as atribuições de cada um no curso do tratamento dos dependentes.
Como especialista na área, entendo que só as garantias já definem a lei como um grande instrumento jurídico a favor da vida e da saúde. Pois, contrariamente ao que muita gente ainda pensa, os usuários de álcool e drogas, quanto mais afetados em sua saúde mental pelo uso da substância, perdem progressivamente sua capacidade de decidir, optar ou escolher o que é o melhor para si, sendo que, na maioria das vezes, quando o fazem, estão sob a influência dos efeitos da droga.
Toda essa situação provoca dramas pessoais e sociais graves, em geral, afetando gravemente as famílias dos dependentes químicos, que ficam desesperadas, desiludias e descrentes, não sabendo onde encontrar ajuda. Muitas já perderam tudo financeiramente, seja por conduta transgressora do dependente, que vende tudo de casa para se drogar, ou por já terem perdido o controle total da situação. Muitos familiares têm sua saúde metal abalada pelo sofrimento e frustração impostos pela situação e já perderam a esperança na recuperação.
O que agrava mais ainda a situação é que há deficiências grosseiras na política de saúde sobre este assunto, pela inexistência de leitos hospitalares para desintoxicação dos enfermos, pronto-socorro especializado para agudos, ambulatórios de especialidades que sejam referências às famílias e aos pacientes e, por último, deficiência de pessoal treinado e especializado para garantir a exequibilidade da assistência aos enfermos.
Duas estratégias relevantes nesta área e ainda muito pouco debatidas são prevenção e reinserção social de dependentes químicos, mas negligenciadas pelo poder público na composição de suas medidas. Elas compõem o quadripé das políticas públicas sobre este assunto: redução da oferta (tráfico de drogas), tratamento e reabilitação (saúde), prevenção e reinserção social (educação e social). Em nosso país a ênfase é dada prioritariamente a assistência e redução do tráfico de drogas, executadas muito bem pelas polícias, apesar de deficiências apontadas acima. Porém, sobre estratégias de prevenção e reinserção social, trata-se muito pouco ou quase nada.
Na linha do tempo, temos que preparar nossa juventude para assumir os papéis que hoje assumimos na vida social, na vida pública e na economia etc. Temos que promover mecanismos que garantam o crescimento e desenvolvimento saudável de nossa juventude, livre de drogas e que se reconheça que usar drogas é uma prática insalubre e nefasta que só traz problemas e que o prazer advindo do uso é uma espécie de arapuca em que, ao entrar nela, é difícil sair. Temos que garantir uma juventude que se perceba importante, participativa, de valor no cenário da vida social e institucional de nosso país. E, isto tudo deve ser construído e fomentado em políticas educacionais, sociais e de saúde bem elaboradas e bem executadas.
Reinserção social de dependentes de drogas deveria ser prioritária na política sobre este assunto, pois são estratégias que favorecem reaquisição de tudo, ou parte de tudo, que foi perdido do ponto de vista psicossocial em razão do uso de drogas, além de evitar um dos maiores problemas encontrados entre os enfermos, que é são as recaídas. A reinserção social resgata a cidadania, os direitos individuais e sociais e o valor dessas pessoas e de suas famílias. Saem da condição de pária social, uma pecha maldosamente atribuída aos enfermos, para se transformarem em cidadãos dignos, livres e produtivos.
É cada vez mais desanimadora a possibilidade de nós, nos próximos anos, vivermos em uma sociedade que viva em paz, muito embora seja o grande clamor nos dias atuais. Todos clamam por paz, por justiça, por mais igualdade e, sobretudo por segurança. Este último apelo cresce em proporções avassaladoras em consequência do aumento dos índices de violência em nossa sociedade.
É um tema que abastece a grande mídia nacional. Vejam que boa parte do tempo dos noticiosos, dos telejornais e de outras mídias é dedicado a anunciar fatos de conteúdos violentos e muitos com requinte de crueldades, inaceitáveis. Os anos passam, as reclamações se avolumam e parece que estamos imobilizados diante do avanço sistemático da violência entre nós.
A violência, sob qualquer ótica que a examinemos, nos conduz a considerá-la como um epifenômeno que tem suas raízes nas dimensões individuais e sociais, onde um grande número de fatores de diferentes matizes concorre para sua expressão final. Há uma corrente de pensadores e de estudiosos, entre os quais sociólogos, antropólogos, juristas, psiquiatras e outros tantos profissionais, que consideram a violência como uma espécie de “ponta de um iceberg”, onde os verdadeiros problemas estariam submersos e o comportamento violento seria o pano de fundo para não os vislumbrar. Isto é, a violência seria um sintoma que esconde a verdadeira doença a que estamos submetidos, e esta, por sua vez, expressaria as profundas contradições e desagregações tanto individuais quanto sociais da atualidade.
Por outro lado, há os que acreditam que devido ao alto grau da sua presença e dos graves problemas a ela relacionados, ela própria se tornaria fenomenologicamente “o problema” com identidade, autonomia e independência no contexto social. Portanto, a violência seria um fenômeno independente, com vida própria, não sendo um “sintoma” de algo que nos constrange, como vimos acima, mas ela, em si, seria a doença.
Há verdades em ambas as afirmações. Acredito que a presença da violência em uma sociedade reflete tanto uma coisa quanto a outra, isto é, sintoma e doenças caminham juntos, de tal forma que o melhor seria entendermos a violência como um fenômeno composto de ambos os argumentos. Ocorre que passa a ser tão comum e frequente a prática da violência, que se torna banalizada.
As pessoas só se dão conta de suas inseguranças e nada mais. O fato violento passa ser banal, comum e corriqueiro. As manifestações de indignação se dão de forma localizada e isolada, dissonante das medidas públicas que são utilizadas para seu enfrentamento. E como isto se daria? Através da criação de um ser humano violento, autor e vítima do próprio comportamento violento. Não somos violentos em nossa natureza, mas estamos nos transformando em seres violentos. E é este homem violento que produz, fabrica e cultiva a violência. É um novo ser que está sendo construído pela sociedade moderna, indiferente à dor e ao sofrimento do outro, um homem que a cada dia pratica a maldade com requintes de crueldade, um homem distante da ética, da bondade da crença, da fé, um homem que cultiva o desamor, arrogância, onipotência, ávido pelo poder, pela posse, sem solidariedade e sem humanidade, entre outras coisas. Posso afirmar que este homem contemporâneo expressa a própria violência em sua natureza, embora não o sejamos. A sociedade que se constrói reflete o que se passa por dentro de cada um.
A impressão que se tem é que cada um de nós vive como se fosse morrer amanhã e temos que fazer tudo de forma rápida e ao nosso modo. Matamos os outros como se não fizessem parte de nós, ou como se nós mesmos fôssemos nossos próprios inimigos. Destruímos as plantas, os animais, como se não fizessem parte de nosso universo, exortamos o ódio como se fosse um instrumento de defesa, não sabendo que o ódio destrói a quem o sente e não aos outros. O homem que está sendo construído está destruindo-se a si mesmo.
Esta é a matriz da violência. E tudo que venha a surgir com este colorido brotará daí. Não é o trânsito que mata, as drogas que destroem a humanidade, muito menos a injustiça que nos destrói, muito embora se saiba que cada um desses itens são sumamente importantes na avaliação da situação e tenha sua importância relativa, mas o essencial está dentro de cada um de nós, e o pior é que muitos não sabem nem para onde querem ir.
Estamos vivendo um período magnifico da neurociência, um capítulo do conhecimento científico relacionado com a atividade cerebral e nosso comportamento. É uma das áreas da ciência mais importantes, pois, a cada dia os avanços são significativos no sentido de se saber como funciona este órgão magnifico e a repercussão de suas atividades em nosso comportamento tanto na saúde quanto na doença. É composto por um trilhão de células nervosas, sendo cem bilhões só de neurônios. Cada um destes neurônios tem identidade própria em forma e função daí por que sabem muito bem o que fazer neste emaranhado conjunto de células que compõe o tecido nervoso.
É um órgão que pesa 1/20 avos de nosso peso corporal, aproximadamente 1,300 kg e, consome cerca de 20% de todo oxigênio que precisamos para viver. É o órgão que comanda todas as atividades humanas desde um simples piscar de olhos, até atividades ultra-complexas como pensar, sentir, decidir, ter vontade, amar e ter consciência. Portando, o cérebro é a sede material onde são processadas todas as vivências humanas.
Através dos estudos de neurofisiologia e da neuroquímica sabe-se que o cérebro se renova constantemente, não é um órgão estático, como se pensava antes, ao contrário graças às atividades de suas células ele se renova continuamente para garantir suas diferentes tarefas. É um órgão que registra todas as experiências vividas e a partir delas criam-se novos circuitos cerebrais específicos para cada uma delas. Só o fato de você sair de uma rotina, por ex., optar por fazer um trajeto novo, diferente do que é feito regularmente, os neurônios já desenvolvem novos circuitos cerebrais que se agregaram aos já conhecidos para garantir esta nova atividade e assim por diante, de tal forma que as experiências diárias mudam o cérebro constantemente, para novas adaptações.
Sabe-se hoje que quanto maior forem as experiências positivas na vida do indivíduo, seu cérebro funcionará melhor, e como ele funciona em consonância com outros órgãos e sistemas do nosso corpo, as atividades deles também funcionaram melhor.
Todas estas prerrogativas podem ser sintetizas imaterialmente através do se conhece pelo nome de mente que é a representação abstrata e simbólica que nos orienta, nos comanda, nos controla, interpreta e traduz em expressão material o comportamento. De tal forma que quando o cérebro não está bem, isto repercutirá na mente e esta, por sua vez, em ações. Portanto o cérebro não cria o seu próprio destino, embora se autorregule sendo a genética que lhe fornece as bases para seu funcionamento regulando a si mesmo e o restante do corpo.
A parte do cérebro, denominada de neocortex, que é a estrutura mais nova hierarquicamente desenvolvida a partir da evolução humana, é dotado de uma enorme responsabilidade para nossa vida que é, entre outras coisas, a de tomar decisões, optar, escolher sobre o que queremos, além de discriminamos, de adoramos, estimamos, controlamos e evoluímos em nossa cadeia biológica como seres humanos. Muitos outros comportamentos relacionados com nosso modo de vida estão todos irremediavelmente ligados às inúmeras outras áreas e funções específicas de nosso cérebro. Um fato notório e muito importante é que nossa saúde mental e social depende diretamente da forma como estas distintas funções se relacionam umas com as outras, de tal forma que qualquer alteração por menor que seja, alterará o funcionamento global deste sistema interconectado, resultando no aparecimento das chamadas doenças mentais.
Os psiquiatras e outros estudiosos do comportamento humano recomendam algumas atitudes que colaboraram muito para a proteção, promoção e garantia de nossa saúde mental: procure cultivar bons amigos; participe de tudo que puder e não se isole; procure manter um relacionamento com um companheiro ou companheira estável e duradouro; engaje-se em projetos pessoais ou sociais que lhe ocupem a mente e que valham a pena; dê valor e importância para si mesmo; aproxime-se de pessoas que possuem um bom estilo de vida e que tenham hábitos saudáveis e lhe inspire confiança; tenha um propósito em sua vida; deixe tempo para lazer, praticar esportes e brincar; aborde as questões que o fizeram ficar com raiva e não as guarde sobre qualquer pretexto; mantenha uma boa e frequente atividade sexual; evite a qualquer custo tudo que lhe gere stress e, se não puder evitar procure administrá-lo; evite ou saiba lidar com condutas impulsivas e com os rompantes negativos; quando você tiver uma reação negativa, pare, volte atrás, respire, e observe como você está se sentindo; procure fazer o bem ao próximo, isto nos ajuda muito a vivermos melhor e não cultive inveja ou ódio por ninguém. Estas recomendações são simples, mas funcionam no sentido de promover nossa saúde mental e vivermos bem melhor, pois seu cérebro irá prosperar, mesmo que a vida se apresente com altos e baixos. Você é que vai liderar o seu cérebro.
Com este titulo muitos podem pensar que nosso país adoeceu, que não esta dormindo bem ou que algo de muito grave o atingiu ao ponto de tirar-lhe o sono, já que se sabe que este adjetivo insone representa uma condição psicopatológica relativa a uma alteração do sono de alguém. Todavia, permitam-me a ousadia, ao propor o titulo deste artigo, minha intenção era tão somente dizer que nosso Brasil continua sintonizado com suas reinvindicações, permanece em alerta, não baixou a guarda, continua na luta e em prontidão, vendo que muitas de suas reinvindicações ainda não foram atendidas.
Portanto, insone aqui, não diz respeito à distúrbios do somo e sim ao fato da população mais jovem deste país manterem-se acordada, atenta e com os olhos acessos para saber-se que rumos darão aos seus pleitos e, para tanto se mantém inquieta, esbravejante, gritando alto para que todos ouçam suas reclamações, ao meu ver justas e plausíveis diante do indiferentismo que vêm ocorrendo com nossa nação na gestão da coisa pública.
Este levante nacional, portanto é, sobretudo uma demonstração de saúde mental do povo brasileiro reveladas pelas atitudes seguras e determinadas e por saberem muito bem o que querem. A demonstração de coragem, espírito de luta, de um caráter altivo e rebelde estão sendo confrontados com as incompetências e negligências do poder público e com a famigerada corrupção que se alastra por este país em todos os cantos e que por tantos anos alimentou os donatários do poder.
No dia 03 deste mês, na última quarta feira foi a vez dos médicos brasileiros se incorporarem às lutas que encantam a todos. E isto aconteceu de forma democrática, ordeira e sensata, que a uma só voz, em todo Brasil, manifestaram sua indignação diante dos problemas graves da nossa saúde pública, ante uma proposta politiqueira do governo federal visando importar milhares de médicos de outros países para aqui exercerem suas atividades profissionais.
Em princípio, nada contra, até porque nós também saímos muito daqui para trabalhar e estudar alhures, além do mais não há nada melhor do que trocar experiências com colegas de outros países, bem como estabelecer alianças internacionais de colaboração mútua para se enfrentar certas situações no âmbito da saúde pública de um povo ou de uma nação.
Ocorre que a proposta do governo Brasileiro desconsidera preceitos institucionais que regulam idas e vindas de profissionais médicos entre países, normas estas criadas e validadas pelos próprios governos entre as quais a validação do diploma destes profissionais – REVALIDA – para exercerem suas atividades em nosso país. Esta norma foi criada com o intuito inclusive de se saber o preparo e qualidade técnica dos serviços que serão prestados ao nosso povo. O governo quer atropelar esta prerrogativa internacional permitindo que os profissionais importados não se submetam a tal avaliação, fato que poderá expor a nossa população a muitos riscos.
A meu ver, se o governo pretende demonstrar sua intenção em resolver os problemas da saúde deste país através desse expediente, irá dar com a “cara na parede”, pois tudo indica que haverá mais confusão e menos solução. Ao mesmo tempo se sabe que esta medica isoladamente passa de longe das soluções aos graves problemas já identificados de nossa saúde pública, por isto eu pergunto: porque não se propor um plano geopolítico de carreira e salário médico como o que já ocorre com o Ministério Público e o Judiciário e outros órgãos importantes da nossa vida profissional? Porque não fiscalizar ainda mais a aplicação dos recursos financeiros destinados a saúde em nossos municípios? Porque que não se oferecer melhores condições de trabalho as médicos que irão trabalhar nos interiores? Porque não garantir salários dignos evitar que os médicos tenham que trabalhar uma carga horária exagerada para garantir uma renda mínima digna a estes profissionais?
Por não responderem estas e muitas outras perguntas é que nos encontramos nesta situação e não é com importação de outros profissionais que iremos resolver estes impasses ou atingir nossos objetivos. Agora, nós médicos e a população brasileira, mais do que nunca, deveram estar atentos, pois cutucamos “a cobra com vara curta” e baseado na lei da inércia insistirão em manter esta situação nos fazendo engolir estas propostas descabidas e ineficazes. Devemos, portanto permanecer insone, pois em um cochilo, podemos colocar tudo a perder perdendo a chance de estabelecermos um grande pacto nacional que garanta uma saúde de qualidade à população brasileira.
Parabéns aos médicos, ao Conselho Federal de Medicina – CFM, à Associação Médica Brasileira – AMB e a Federação Nacional dos Médicos – FENAM e a todas as entidades que fazem saúde em nosso país e que estão apoiando este movimento que visa tão somente readquirir as condições mínimas de trabalho para se poder oferecer uma assistência médica de qualidade ao nosso povo.
Há algumas semanas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, através do Boletim de Farmacoepidemiologia, nos surpreendeu com uma notícia QUE aponta para o aumento no consumo de metilfenidato na população brasileira, esta substância é conhecida comercialmente pelo nome de Ritalina, e está indicada para o tratamento de pessoas portadoras de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Pelo relatório o aumento foi de 75% e os consumidores foram crianças e adolescentes com idade de 6 a 16 anos, entre 2009 e 2011. Segundo o órgão da vigilância isto indica que está havendo “um diagnóstico mais apurado das alterações de conduta especialmente com hiperatividade e déficit de atenção” e que os médicos têm sido mais atentos quanto ao diagnóstico e efetivo tratamento do TDAH.
Há alguns anos este transtorno, predominantemente infanto juvenil, era designado pelo nome de Disfunção Cerebral Mínima – DCM e até 1994 esta síndrome era conhecida, tão somente, pela intensa hiperatividade que acometia estas crianças e adolescentes, daí por que muitas delas eram consideradas atrapalhadas, bagunceiras, peraltas, mal educadas e pelas dificuldades comportamentais que as mesmas apresentavam eram segregadas psicológica e socialmente.
Muitas destas crianças não conseguiam superar isto, indo com estes problemas até a vida adulta com todas as conseqüências que o fato de não terem sido tratadas acarretaria. Com o surgimento do metilfenidato ou Ritalina na década de 70 abriram-se novas perspectivas no prognóstico, no tratamento e na reinserção social destas crianças e adolescentes considerando que de fato trata-se de uma medicação efetiva no controle clinico desta síndrome.
As crianças de agitadas, desatentas e agressivas se tornam mais tolerantes, dóceis, amáveis e com melhor rendimento escolar pelo fato da substância melhorar a performance de várias funções cognitivas e conseqüentemente a desatenção, comum nestes pacientes. Por outro lado sabe-se que o metilfenidato é uma substância psicoestimulante poderosa (excitante cerebral) que age em nosso cérebro semelhantemente às anfetaminas e a cocaína exigindo, portanto, dos órgãos de fiscalização federa e estadual um rigoroso controle tanto na prescrição médica quanto na utilização desta droga especialmente por serem os usuários crianças e adolescentes.
Ouro fato importante é que temos notícias do abuso (sem indicação médica) de metilfenidato entre adolescentes e adultos jovens que estão utilizando-o para outras finalidades que não seja aquelas para as quais seu uso é indicado do ponto de vista médico.
Então podemos estar entrando em mais uma tremenda enrascada do ponto de vista da saúde pública diante do aumento surpreendente de metilfenidato pela população brasileira, isto é se de fato, o aumento do consumo, for atribuído por indicação médica devemos aplaudir a classe médica por ter melhorado os instrumentos de diagnóstico e tratamento destes jovens paciente com TDAH e certamente estarão colaborando para a melhoria da saúde mental e social desta população se, por outro, lado este aumento estiver atrelado ao uso abusivo desta substância será lamentável, pois, o abuso de metilfenidato , que parece que é o que também está havendo estaremos entrando em mais um problema grave de abuso de drogas. Vejam, por exemplo, que em 2009, foram vendidas 156.623.848 miligramas (mg) do medicamento, já em 2011, o mercado atingiu um montante de 413.383.916 mg do produto.
O boletim aponta ainda que, em 2011, foram comercializadas 1.212.850 caixas do referido medicamento nas farmácias e drogarias do país. Esse número representa uma alta de 28,2 % em relação a 2009 (557.588 caixas de metilfenidato), já considerando o aumento do fluxo de informações recebidas pelo sistema da ANVISA neste período. Portanto vamos ficar muito atentos a este fato para evitarmos maiores problemas.
Ontem, comemorou-se em todo mundo, o dia mundial da atividade física certamente um das datas mais importantes que temos para referenciar a uma atividade, a meu ver, indispensável para garantir e promover a nossa saúde, bem maior da nossa existência.
No mundo, nos últimos trinta anos, a prática e o conceito de atividade e exercício físico, coisas diferentes, vêm se transformando. Na década 70 houve a introdução do famoso método Cooper que provocou uma verdadeira revolução no mundo todo no conceito e na prática da atividade física, movimento internacional sumarizado na famosa expressão “mexa-se” onde as pessoas começaram a perceber o quanto era importante prática da atividade e o exercício físico na promoção da saúde.
Na década de 80, prevaleceu o movimento universal da atividade física aeróbica nesta época surgem as academias e a figura do “personal training”, profissionais importantes na orientação e execução das atividades. Na década de 90 deflagra-se o culto ao corpo através do exercício físico, o fisiculturismo, e todos, homens e mulheres indo atrás do corpo belo e “sarado”, uns passaram a viver quase compulsivamente na nas academias de ginástica e fisiculturismo, atrás do corpo musculoso e bonito. Finalmente nesta evolução histórica surge a propostas designada de Wellness que é a busca de um novo estilo e qualidade de vida, através da atividade física regular, de uma dieta equilibrada e de uma atitude mental positiva, constituindo-se o bem-estar geral e como se pode alcançá-lo, que, como se pode notar esta proposta coincide com a designação de saúde conforme a OMS: bem estar físico, psíquico e social.
Todas estas fases colaboraram para a construção de uma consciência individual e social que vem a cada dia ganhando força total que é a de que praticar atividade física é um recurso indispensável para a promoção da saúde em seus diferentes sentidos.
Do ponto de vista neurofuncional, emocional e psiquiátrico sabe-se que uma boa parte das doenças mentais que acometem a população em geral advém de uma vida sedentária, desvinculada de qualquer atividade física. Depressão, transtornos de ansiedade, fobias, por exemplo, são enfermidades que poderiam evoluir de forma diferente, caso seus portadores praticassem uma atividade ou exercícios físicos. Nosso cérebro, que é a sede material das nossas vivências e de grande parte destas doenças, produz várias substâncias neurobiológicas e neuroquímicas indispensáveis à saúde mental e muitas delas só se efetivam na vigência de atividades física, e, por conseguinte, sem as quais irão fatalmente provocar problemas de saúde mental.
Danos precoces de memória, déficits de atenção, isolamento social, fobias distúrbios de relação social, são entre outros, os distúrbios onde o exercício físico exerce um papel muito importante na recuperação destes enfermos. Muitas doenças senis, pré-senis e neurológicas como doenças de Parkinson, Alzheimer, acidentes vasculares cerebrais, epilepsias, etc, melhoram clinicamente e se recuperam mais facilmente quando praticam estas atividades.
O prazer, uma das mais importantes aspirações humanas, só é garantido quando os níveis de produção das endorfinas cerebrais são adequados e, caso haja o contrário, teremos vários problemas médicos e comportamentais. Esta substância além de garantir o prazer é um poderoso analgésico endógeno. E, a atividade física é que garante a disponibilidade deste aminoácido.
Enfim, viva o dia 06 de abril, viva a atividade física, viva os professores de educação física, os personais training e todos que dedicam suas vidas promovendo saúde e bem estar de todos e se de fato querem ter mais saúde, mexam-se.
Estamos em plena festa do carnaval, certamente uma das mais importantes festas populares do planeta especialmente aqui no Brasil, que lidera o ranque dos países que brincam o carnaval com fervor e paixão por isto mesmo é considerado de “país do carnaval” pela exuberante alegria, riqueza e arte da festa, sempre inspirado pelo ritmo contagiante e frenético do samba.
É uma das festas mais esperadas por todos, onde as pessoas se transforma completamente para dele participar e não é para menos, pois se descontraem, liberam suas tensões e frustrações, relaxam e brincam par valer.
Ocorre que nos últimos anos, vem se registrando muitas tragédias pessoais e sociais graças aos exageros de muitos destes brincantes que perdem a noção de responsabilidade, e transformam este período de contentamento, alegria e entusiasmo em momentos paradoxalmente de dor, angústia e sofrimentos pelas imprudências cometidas nesta ocasião.
No centro destas inconseqüências está o abuso de álcool e drogas. Condição estreitamente ligada à homicídios, suicídios, desastres automobilísticos, brigas separações conjugais, perdas matérias, mortes e muitos outros problemas que já estamos acostumados a ouvir depois do carnaval.
Nestes 2013, surgiu um fato novo, que foi a edição reforçada da lei seca que, embora tenha desagradada à muitos foi uma medida austera, rigorosa e oportuna para frear os abusos e as conseqüências nefastas das atitudes inconseqüentes praticadas neste período.
Como já foi amplamente anunciado a Lei 12.760/12 conhecida como a nova lei seca reforçada pelo Decreto nº do Conselho Nacional do Trânsito, regulamentou penas mais severas para quem dirige sob efeitos de álcool e estabelece outra penalidade neste sentido, veio para atender um clamor social antigo, que era o de se ter leis mais severas para os que atropelam, matam ou provocam muitos danos e sofrimentos à outrem, por dirigirem embriagados
Duas situações também, a meu ver, precisam ser esclarecidas: penas aos que dirigem sobre o efeito de outras drogas sem ser o álcool e as campanhas esclarecedores sobre estes problemas.
Quanto ao primeiro ponto, Vivi-se praticamente sob a égide das drogas e sob os auspícios de uma cultua e uma sociedade atônica, amedrontada, despreparada sem saber o que fazer com esse problema. E isto, nos torna vulneráveis a estes problemas um dos quais é dirigir sob o efeito de outras drogas que não seja o álcool.
Sabe-se que o uso de crack, maconha, anfetamina opiáceos e mesmo os tranqüilizantes estão na lista dos causadores de acidentes, crimes e outros problemas por alterarem nossa atenção, memória, controle motor e as habilidades psicossociais, favorecendo condições para desastres acidentes, que nem o álcool, fato que exige maior atenção das autoridades para lidar com a situação
O outro ponto, de igual importância, é entendermos que não é só através de leis que por mais adequadas que sejam, iremos enfrentar um problema como este que estamos passando. É preciso que haja campanhas de diferentes matizes para colaborar com as leis que são sancionadas em nosso país. Campanhas publicitárias longas, competentes, profundas que interfiram com a motivação do uso de drogas e colaborem com a formação de uma cultura antidrogas. Campanhas em escolas, empresas, comunidades, também consistentes e inspiradas em educação preventivas que possam formar cidadãos independentes e livres para optarem pela vida e não por uso de droga. Em fim medidas mais consistentes e abrangentes para se frear os problemas ocasionados pelo consumo destas substâncias.
Um dos mais graves problemas psiquiátricos e comportamentais que se verifica na clínica é quando alguém apresenta graus variados de dificuldade em controlar um desejo, um impulso ou mesmo uma atitude quando o mesmo se insurge na sua consciência. É o que se verifica com os dependentes de drogas que se tornam escravos dessas substâncias e não conseguem controlar seu uso.
Devido o grande interesse científico que sempre houve sobre o tema das compulsões, em 1992 a OMS inclui uma nova categoria de transtornos onde a compulsão é um elemento chave do diagnóstico e designou-a transtornos dos hábitos e dos impulsos e, quando isto ocorre no âmbito alimentar, denominam-se Transtornos Alimentares.
Em ambas as categorias o ponto central nas queixas dos pacientes é o fracasso em resistir a um impulso ou tentação de realizar um ato perigoso para a si ou para outros. Além do mais, referem ainda uma tensão exagerada e crescente ou uma excitação muito grande antes de cometerem o ato que, após cometê-lo, pode ou não haver arrependimento, auto-recriminação ou culpa.
Na categoria dos Transtornos Alimentares estão inclusos: Anorexia Nervosa (AN), Bulimia Nervosa (BN) e Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP). Na categoria dos transtornos dos hábitos e dos impulsos, temos: Transtorno Explosivo Intermitente (em geral designadas de pavio-curto) que não resistem aos impulsos agressivos. A Cleptomania (roubo compulsivo) impulso de roubar objetos desnecessários para o uso pessoal ou em termos de valor monetário. A Piromania, comportamento incendiário por prazer e, por último, a Tricotilomania ato de arrancar de forma recorrente os próprios cabelos por prazer, acarretando uma perda perceptível em diferentes locais do couro cabeludo.
A bulimia se caracteriza por um impulso irresistível de comer excessivamente; evitação dos efeitos “de engordar” da comida pela indução de vômitos e/ou abuso de purgativos; e medo mórbido de engordar.
O Jogo Patológico é um comportamento mal-adaptativo, recorrente e persistente, relacionado a jogos de azar e apostas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) o reconheceu como doença partir de 1992 e o definiu pela incapacidade da pessoa em controlar o hábito de jogar, a despeito de todos inconvenientes que isso possa provocar como problemas financeiros, familiares, profissionais, etc.
O Transtorno do Comer Compulsivo ou Trans. Compulsivo Alimentar (TCA) muito parecido à bulimia, só se diferi da mesma pelo fato dos pacientes não praticar o vômito após se alimentar ou tomar laxantes a pretexto de não engordar. O TCA é um problema mais comum em mulheres, com prevalência de 1,8 a 2% da população e, freqüentemente está associado a outros transtornos psiquiátricos principalmente à depressão e a transtornos de ansiedade.
Por último, no sexo compulsivo a área afetada é o impulso sexual levando-o a praticá-lo com muita freqüência e de forma voraz. Apresentam ainda pensamentos obsessivos por sexo ao ponto de não poderem pensar sobre outras coisas e tudo gira em torno de sexo. São inúmeros os problema que isto acarreta, tanto para o paciente quanto para o (a) outro(a).
O paradoxo de todas estas patologias é que ocorrem em pessoas lúcidas, que têm plena consciência do problema e são incapazes, por si mesma, de mudar o padrão deste comportamento. O tratamento é favorável especialmente quando não há co-morbidade com outros transtornos psiquiátricos. Para o tratamento utiliza-se medicamentos anti-compulsivos como os antidepressivos e a psicoterapia cognitivo-comportamental – TCC, que são as abordagens mais indicadas.