Uso problemático de eletrônicos, de jogos e da internet

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Este é o segundo artigo que publico neste jornal exaltando os problemas que vem surgindo na sociedade moderna a partir do uso disfuncional de objetos eletrônicos, da internet e de jogos.  Para a finalidade desse artigo, definiremos uso disfuncional como sendo o mau uso, ou sem finalidade precípua, ou ainda, uso patológico ou disfuncional que é o realizado por diferentes razões as quais prejudicam a vida ou funções de quem o executa. O uso disfuncional é patológico sem finalidades funcionais e prejudicial a todos, especialmente  o sujeito.

A condição de uso disfuncional de algo pode ocorrer em qualquer contingência, entre as quais o uso da internet em seus diferente aspectos. Pode ocorrer com o uso de álcool e de outras drogas, com sexo, com comida, com mentira, com jogos e com outras ações etc. Em qualquer das condições capazes de provocar esse transtorno, o prazer, o bem estar e a satisfação, se destacam entre suas motivações e reforço. Com o surgimento da internet em 1994 com a perspectiva de facilitar a vida do homem moderno, de ampliar seus conhecimentos,  de incrementar seus estudos, de facilitar as pesquisas, de melhorar as relações entre os seres humanos e o mundo, a internet passou a propiciar muito prazer e contentamento a todos os usuários. Isso tudo reforçado pela forma simples de acessá-la, pois basta digitar um endereço no www e utilizar @, em frações de segundos as pessoas se conectam com tudo e com todos em uma velocidade surpreendente  nunca antes visto.

A internet então redefini o mundo em dois  momentos: um antes e outro depois do seu surgimento. Tudo muito rápido e sem esforço. De fato é um sistema ultra-complexo que levou anos de evolução para chegarmos onde chegamos. Foi uma invenção científica e tecnológica surpreendente em todos os sentidos pois ao longo da vida jamais houve algo assim, apesar dos bilhões de anos vividos  na face da terra.

Foi uma descoberta que proporcionou ao homem contemporâneo muitos privilégios, prerrogativas e muitos ganhos. Transformou-se em algo tão importante que hoje não imaginamos o mundo, uma empresa, um negócio ou uma sociedade, sem a utilização da internet. Fica difícil nós conseguirmos viver sem os recursos dessa ferramenta, sob qualquer ponto de vista, além do mais está sempre evoluindo e aperfeiçoando suas finalidades e seus alcances. Está mudando tudo tanto em nossa volta, quanto dentro de nós mesmos.

Com o advento dos mais variados tidos de artefatos eletrônicos, cada vez mais sofisticados e eficientes, surge uma geração de usuários que estão adoecendo, pois já perderam a noção do uso funcional do www. Se tornaram aficionados, obcecado pela web ao ponto de perderem o limite de seu uso, onde o sentido de suas vida está exclusivamente baseados na relação com esses objetos ou atividades a ela relacionada. Praticamente tudo se torna subordinado à internet: se comunicar, ler as notícias em tempo real, saber tudo sem sair de casa, brincar, se comunicar, falar, sorrir, se distrair conversar com alguém, se relacionar, pesquisar etc., com uma notável expansão nos últimos anos.

Dentro dessa perspectiva e com avanço tecnológico surgem os jogos eletrônicos, que se transforma em são outros desafios. Desde os trabalhos iniciais de Alan Turing em 1950, sobre a  Inteligência Artificial, até os jogos que são praticados atualmente por crianças, adolescentes e adultos, muita coisa mudou e evoluiu muito. Os jogos são atividades que podem ser aplicados a qualquer ambiente virtual: educação (aprendizagem), área terapêutica (no tratamento de diversas doenças), no entretenimento, na competição, na diversão na vida real. Jogar é brincar, brincar constitui uma das maiores aspirações dos seres humanos nas fases da vida e tudo que e divertido gera atração.

O surgimento de um mundo novo, sedutor e apaixonante via internet e o aperfeiçoamento dos jogos eletrônicos como disse anteriormente fez com que um grande números de pessoas adoecessem também com esses jogos. Os estudos em torno desse transtorno cresce a cada dia não só pelo volume cada vez maior de pessoas acometidas por esse problema, quanto pela sua severidade. É tão importante isso que já está sendo cogitada a inserção de novos diagnósticos em manuais psiquiátricos designados de: dependência de jogos eletrônicos e de dependência de Internet. Em escala mundial, estima-se que haja em torno de 3% de dependentes de jogos eletrônicos e 9% apresentando uso problemático ou já são dependentes da internet. Estima-se que haja no Brasil 8 milhões de pessoas dependentes de internet. O transtorno acomete predominantemente pessoas do sexo masculino, especialmente adolescentes e adultos jovens.

Eis algumas dicas que nos auxiliam na identificação do problema: preocupação persistente com a Internet; utilizar a Internet com frequência cada vez maior; insucesso frequentes em controlar, diminuir ou parar o uso da Internet; os usuários passam mal, sentem-se cansados, instáveis, deprimidos ou irritados quando tentam parar o uso da Internet; ficam conectados mais tempo do que planejado; comprometem relacionamentos importantes como o emprego,  os estudos ou outros compromissos, devido ao uso da Internet; mentem para terceiros sobre a quantidade de tempo que utiliza a Internet; usam a Internet como forma de escapismo de problemas cotidianos. No caso de dependentes de jogos eletrônicos, praticamente os sintomas são os mesmos. Portanto, muito cautela para não adoecer nesse sentido pois é uma doença grave, com prognóstico desfavorável e que exige um tratamento especial para a reabilitação desses enfermos.

 

 

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O cérebro cansado

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Muitos problemas de saúde mental que adquirimos no dia a dia advém do fato de não respeitarmos nossas necessidades vitais, uma delas é o repouso. Há pessoas que se vangloriam de trabalhar muito, de não terem folga, de não ter tempo pra nada, de não repousarem,  de não tirar férias como se isto fosse algo vantajoso ou algo de muito valor para elas. O contingente de pessoas que se encontram com esse estilo de vida é cada vez maior, ao ponto dos ergonomistas terem cunhado o terno workaholics (viciados em trabalho) para designá-los.

Os estudos sobre o trabalho excessivo e o impacto disso em nossa saúde mental vem crescendo muito e esses vem demonstrando que é uma tremenda ilusão se trabalhar exageradamente em nome de qualquer coisa. Essa prática é insalubre e corresponde a uma espécie de castigo auto imposto, em que tais pessoas estão de fato fazendo muito mal para si mesmos. Nos últimos anos, a higiene mental e a neurociência vem demonstrando que o “ócio” recarrega a bateria e refaz uma séries enormes de percas adquiridas pelo excesso de trabalho. O cérebro semelhantemente ao corpo e os músculos precisa de repouso e de descanso. Muitas empresas hoje no mundo já incorporaram a noção de entremear horas de lazer e horas de trabalho entre seus colaboradores, por perceberem que os mesmos produzem mais e melhor.

A chamada estafa mental é uma condição muito ruim do ponto de vista neurofuncional ou neurofisiológico. É a fase final de um mecanismo de neuroadaptação que o sujeito se impõe como resultado de atividades exageradas. O organismo, sabiamente, se encarregará  de denunciar estes abusos antes de o indivíduo entrar em um estado de falência total por estafa mental. Nestas condições o sujeito apresenta muitas queixas físicas e psicológicas, sendo o cansaço um dos sintomas mais importantes, onde a pessoa parece mesmo que não consegui mais pensar e nem fazer nada. É como se nosso cérebro estivesse exausto, bloqueado e parou total. Nem dormir conseguem.

O neurocirurgião do Hospital das Clínicas de SP, Dr. Fernando Gomes Pinto, explica que quando os lobos frontais, regiões muito importantes de nossa vida mental, são usados em excesso eles entram em processo de esgotamento e exaustão então é preciso parar, relaxar e descansá-los. Muitas funções que são regidas por essas regiões do cérebro se alteram em razão do cansaço, pois sabemos que semelhante ao que ocorre com o lado físico, o mental também precisa de ócio e repouso.

Os sintomas mais frequentes que observamos entre as pessoas que trabalham excessivamente e que não repousam, são: fortes dores de cabeça, tonturas, tremores, falta de ar, oscilações de humor, distúrbios do sono, dificuldade de concentração e até problemas digestivos.  Referem ainda perda de memória, inquietação, dificuldade na concentração e déficit de atenção e aprendizagem, quando o cérebro atinge a estafa é porque não estamos conseguindo dividir nossa atenção para todos os pontos. “Funciona mais ou menos como uma estrela em que todas as pontas precisam ser iguais. É muito importante expandir e equilibrar a vida pessoal, emocional, conjugal, financeira, familiar, profissional e sobre tudo separar um tempo para o lazer. E essa equação tem que ser diária”, exemplifica o neurocirurgião.

Outros estudos mostram que o cérebro não consegue raciocinar e se concentrar 100% do tempo, demonstrando que é preciso manter algumas horas do dia sem pensar no trabalho, sem fazer contas e sem se preocupar com qualquer coisa.

A estafa mental além de comprometer o desempenho na rotina diária, especialmente quanto a produtividade e a qualidade do que se faz, muitas outras doenças mentais e físicas podem ser desencadeadas por ela: depressão, hipertensão, fobias, ansiedade e até problemas cardíacos e gástricos. Esses e outros males modernos muitas vezes são frutos das alterações do sistema nervoso central que ocorrem em função do excesso de responsabilidades e tensões acumuladas que provocam um desgaste metabólico e mental muito grande.

Outro grave equívoco, que já esta estabelecido em nossa sociedade e em nossa cultura, é pensarmos que relaxar é beber muito, é se embriagar, é passar noites seguidas em festa, é exagerar em atividades físicas ou mesmo em dietas. Todas estas atividades são muito importantes e já fazem parte do nosso calendário de atividades sociais só, que pra que tudo isso tenha um sentido saudável, relaxante ou antiestafa,  tem que ser praticadas com moderação. O exagero e o excesso nunca serviu para equalizar nossa vida, muito menos para promover e garantir nossa saúde física e mental.

Diante de tudo isso o que recomendamos é que essas pessoas estafadas do ponto de vista laborativo, que estão doentes e não sabem, mudem seu estilo de vida.  Os especialistas recomendam uma série de medidas, entre estas: dieta equilibrada, uso moderado de álcool, exercícios regulares de acordo com a disposição física e a manutenção do equilíbrio emocional para controlar o estresse. Reabilitação fisioterápica e condicionamento físico são fundamentais para a manutenção da atividade física e profissional. Nem só de trabalho vive o homem.

 

 

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O amor, as paixões e o cérebro

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A neurociência caminha a passos largos no sentido de esclarecer a base material dos sentimentos humanos condição por demais importantes para garantir nossa atividade mental, e       que até no momento não haviam sido desenvolvidos estudos suficientes para esclarecer sua natureza e origem.

Um dos sentimentos especiais e um dos mais importantes, que está sendo muito estudado nos últimos anos, é o amor. É um sentimento indispensável a todos nós, ao ponto de todos quererem senti-lo e viver sob seu comando. É um ingrediente  indispensável à nossa felicidade, nos deixa em paz conosco e com os outros, nos faz avançar na vida e nos motiva às conquistas. O amor nos faz tolerantes, amáveis e nos dá a base para as relações sociais, além de garantir a integridade de nossa vida afetiva.

Quem já se apaixonou sabe como são boas, e inesquecíveis estas experiência. Parece que estamos em estado de graça em todos os sentidos. Fisicamente, sentimos um friozinho na barriga todas as vezes que vemos ou falamos com a pessoa amada, o coração bate mais forte, a respiração se torna rápida, falta o ar nos pulmões, as mãos ficam frias, sentimos um medo enorme de perdermos a pessoa que se ama. Quando amando a melhor sensação é a de estarmos vivendo a vida plenamente e com toda sua intensidade.

As pesquisas que são realizadas em neurociência para se esclarecer a natureza do amor são complexas e sofisticadas. São utilizados equipamentos avançados de neuroimagem, tais como o PET- SCAM, ressonância magnética nuclear e outros métodos. Os cientistas passaram a ter um enorme interesse em decifrar os enigmas do amor semelhantemente ao que ocorria com outros sentimentos, como o medo a raiva, onde os estudos estavam mais avançados. Esses estudos demonstram que quando se ama algumas regiões do cérebro reagem de forma específica a esse sentimento e que esses estímulos ocorrem de maneira muito semelhante ao que ocorre no cérebro de alguém que usa drogas, as mesmas que viciam, com o álcool, tabaco e outras.

Estas conclusões foram obtidas através de imagens de ressonância magnética do cérebro de mulheres e homens que afirmaram estarem apaixonados, em períodos de tempo que variavam de um mês a dois anos.

A parte do cérebro dos participantes apaixonados reagiam igualmente aos estímulos da mesma forma como as partes do cérebro de pessoas envolvidas com o prazer originários do uso de drogas. Portanto havia um local comum para ambas as experiências. Esta região foi designada de área de recompensa cerebral. É uma área profunda do cérebro, formado por outras pequenas subestruturas localizadas no hipotálamo. Os neurocientistas concluíram, entre outras coisas, que o amor é uma dos sentimentos mais poderosos que podemos ter e esta região relacionada com esses sentimento é essencial e indispensável para garantir a nossa sobrevivência. É ela que nos ajuda a reconhecer se algo é bom ou não para nossa existência.

Como vimos acima, é uma  área riquíssima dopamina, um neurotransmissor cerebral envolvido com o prazer, com a alegria e com a felicidade. A dopamina nesta região do cérebro é abundante, especialmente quando há estimulação dessa área. É uma região que estabelece relações profundas com muitas outras áreas do cérebro, através das quais são garantidas as funções necessárias ao nosso equilíbrio mental, emocional social.

Esses trabalhos são unanimes em afirmar, que amar é uma experiência altamente prazerosa e indispensável para nossa vida. Através dele nós nos sentimos mais aptos, mais inteligentes, e com mais disposição. Sentimo-nos com mais coragem e mais seguros. Todo nosso corpo funciona melhor, a auto-estima e autoconfiança se ampliam ainda mais. Os que amam se sentem mais tranqüilos, mais companheiros e mais solidários, demonstrando que o amor desperta em cada um de nós, sentimentos de fraternidade e companheirismo os quais tornando as pessoas mais sociáveis e mais sensíveis.

Quem ama tem mais saúde, pois todos os sistemas biológicos, entre os quais  imunológico, cardiorrespiratório, renal, digestivo e osteomuscular, se tornam mais aptos e se articulam melhor em todo corpo. Do ponto de vista sexual há uma melhora no desempenho, na qualidade e na intensidade das relações.

Porém, nem tudo são flores. Há os que adoecem expressando o amor, esses são disfuncionais os quais apresentam alterações profundas neste sentimento ao ponto de cometerem crimes e atitudes violentas, hostilidades, submissão, indiferença afetiva entre si. Estes sentimentos patológicos respondem por muitos crimes (crimes passionais), em geral abomináveis. Uns chegam ao cúmulo de matar e se suicidar por amor.

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A depressão de final de ano

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A depressão de final de ano

 

Na virada do ano, em uma entrevista que concedi  a uma TV local, me perguntaram porque tanta gente se deprimia nessa época. Pois, segundo as informações do jornalista, isso era uma ocorrência frequente e não era tratada com o devido respeito. Na realidade, o comentário do repórter procede, pois de fato a incidência depressão nessa época do ano é comum, embora não se tenha muitos trabalhos científicos no Brasil tratando desse assunto.

A OMS, estima que entre 15 a 18% das pessoas terão depressão em qualquer época da vida, independente do período do ano. As perspectivas atuais sobre o seu tratamento e prevenção, são as melhores possíveis, falta todavia, uma ampla conscientização aos enfermos e às suas famílias, que os faça entender que depressão é uma doença recorrente e que se não preveni-la, fatalmente reaparecerá em outras ocasiões.

Esse comentário acima, serve para mostrar que o aparecimento de depressão em finais de ano pode ser, nada mais na da menos, que um episódio  depressivo que ocorreu nesta época, assim como poderia ocorrer em qualquer outra. Isto é, a partir desse ponto de vista, o episódio depressivo está ligado á natureza  da própria doença e não ás mudanças da época de ano. Pois, como sabemos, a mesma é recorrente, ocorre por fases, podendo portanto, ocorrer em qualquer período.

Outra explicação, é que independente da autonomia da crise depressiva, como vimos acima, sabe-se que o “clima e o tempo” tem uma influência no curso natural em muitas doenças humanas e a depressão não escaparia a esse paradigma. Isto é, o clima exerce uma influência positiva ou negativa sobre nossas enfermidades. Há muito se sabe, que em épocas do inverno os depressivos entram em crise mais facilmente e as mesmas apresentam algumas caraterísticas predominantes: se tornam mais melancólicos, mais inibidos,  mais retraídos e mais entristecidos. Além do mais, referem com muita frequência baixa perspectiva quanto ao futuro e se apegam muito ao passado. Evidentemente que apresentam outros sintomas nessa área porém os acima predominam.

A neurociência e a psiquiatria ainda não dispões de explicações amplas sobre  a relação depressão e inverno, todavia, sabe-se que há mecanismos neuro-hormonais importantes, ligados aos ciclos biológicos vitais que interfeririam com a eclosão das crises nesse período. Algo parecido acontece com a síndrome pré-menstrual,  com o ciclo sono-vigília, e muitas outras mudanças que ocorrem em nossa fisiologia e em nosso comportamento dependendo do horário do dia, do mês,  do ano e do clima. O fato é que há uma relação estreita entre essa época e as doenças metais, configurando as chamadas variações circadianas do nosso estado psiquíco.

Outro aspecto importante é que a época do fim de ano e do natal, as pessoas se tornam mais sensíveis, mais  amáveis, mais emotivas, e por isso mesmo mais  vulneráveis ao clamor afetivo e emocional desse período. Natal e ano novo são datas muitos significativas, sempre carregadas de muitas tradições e emoções onde muitos já se vulnerabilizam independentemente de serem depressivos ou não.

A marca desse período é o contentamento, a alegria envoltos a um clima de devoção, esperança e fé. Muitos, contagiados por essa onda de alegria nem se dão conta de seus problemas do dia a dia. Ficar triste nessa data nem pensar, compartilham dor e sofrimento muito menos. Muitos tem problema de todos os tipos: nas relações familiares, problemas financeiros, problemas no trabalho, problemas de saúde, com drogas e não examinam isso como deveriam examinar ao longo do ano e, quando chega essa data obrigatoriamente terão que rever todas essas mazelas e, muitos, não tem ferramentas ou estrutura emocional para fazê-lo, o que será suficiente  para conduzí-los  a se deprimirem nessas ocasiões.

Esses três aspectos, o psicopatológico, ligado diretamente a doença depressiva; o neuroendócrimo que expressa as variações circadianas do humor; e o psicológico comportamental, relativos a vida de cada um podem, em proporções distintas, colaborara com o surgimento da depressão nesse período do ano. Independente de ser sazonal ou não, teremos que tratá-la a contento, e  preveni-la que é atualmente o que mais se recomenda em psiquiatria. A depressão portanto independente de ocorre de forma sazonal, é uma doença tratável, evitável e prevenível.

 

 

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Violência e tolerância: condições insuportáveis

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Talvez não haja, na atualidade, nada que chame tanto nossa atenção quanto os fatos relacionados à violência. É o prato cheio dos jornais, das tvs, dos noticiosos, dos blogs, enfim todos os meios de comunicação que nos abastecem de notícias todos os dias. Além do mais, é o assunto corriqueiro nas rodas sociais, dos encontros, das conversas informais das quais todos nós participamos.

Nesses diferentes momentos, é unânime a perplexidade de todos ante esse fenômeno, que cresce a cada dia e vem tomando proporções gigantescas  e insuportáveis do ponto de vista social e pessoal. Todos se mostram assustados, inseguros e sem saber onde buscar saídas. Diante disso, o que nos incomoda a todos, é o fato de haver cada vez menos lugares seguros onde as pessoas possam se encontrar, sem sentirem-se ameaçadas ou perseguidas.

Passou-se a criar rotinas tão estreitas em nosso dia a dia que se afunilam em rotas diárias supostamente seguras por medo de mudar a rota  e ver-se surpreendido por um marginal, um bandido, assaltante ou assassino. Nem dentro das próprias casas, nos restaurantes, nas escolas, nas universidades, nos ambientes de lazer, há sensação de segurança. A situação é tão séria, que há os que dizem que os cidadão estão presos e os marginais soltos. Vejam onde chegamos com tanta violência.

Sobre a violência, tenho dito que se trata de um epifenômeno, isto é, por trás dela é que estão os verdadeiros problemas, que a rigor, não aparecem mas somente os seus efeitos. É um fenômeno abrangente que quando se manifesta outras questões já se insinuaram e não se percebeu. Para que a violência possa ser plenamente examinada, temos sempre que contextualizá-la. A violência não se encerra por si mesma e não tem vida própria, é um sintoma grave de um ser enfermo que a qualquer momento pode morrer.

Veja, por exemplo, o que está havendo em nossa capital. De uma cidadezinha linda, livre e pacata, virou um inferno onde prevalecem práticas de intensa corrupção em órgãos públicos, falcatruas de todos os tipos, negligência ostensiva dos dirigentes no trato da coisa pública, omissão generalizada. Nunca se matou tanta gente quanto se mata hoje nessa cidade e nesse estado. A cada dia, se tem a impressão de que foi costurado um pacto de banalização da morte e um desrespeito assumido pela vida humana. Mata-se mais proporcionalmente em São Luís do que nas grandes guerras. O pior é não observar medidas concretas contextualizadas e estruturantes que demonstrem sensibilidade ao problema, que já é um drama local, objeto de notícia internacional, acompanhada por pressão de organismos internacionais que condenam o que está havendo nessa cidade.

 

Veja o estado vergonhoso a que chegamos: a Organização dos Estados Americanos – OEA,  através da Corte Interamericana de Direitos Humanos – CIDH, determinou que nosso país adote medidas urgentes para interferir com a situação de superlotação  dos presídios do Maranhão, onde já foram registrados mais de 50 mortes ocorridas neste ano. É de fato algo lamentável e que nos dá uma sensação de indignação total. Essa medida internacional atesta a negligência absoluta e falta de comando do Poder Público em manter um sistema prisional tão importante para o equilíbrio e segurança sociais.

Apesar de tudo, há uma espécie de tolerância assustadora ante a violência que vem ocorrendo em nossa cidade e em nosso país. A impressão é que não sabem o que fazer nem onde vai parar. Enquanto a violência toma conta da cidade, há uma demonstração de resiliência do Poder Público com a barbárie. Os assassinatos são cometidos das formas mais absurdas, em todos os lugares, dentro das casas, nos presídios, nos bares, nas ruas, nas festas, onde quer que seja, as mortes estão acontecendo. E pior, ora com requinte de extrema crueldade, como a que se viu na Penitenciária de Pedrinhas, ora de inexplicável banalidade do agressor.  Ao mesmo tempo clama-se por medidas emergenciais para sustar essa onda de crime e de  horror, e nada. Estamos de fato por conta da sorte pois se formos esperar que o poder pública tome alguma iniciativa para garantir nosso direito mínimo que é o de assegurar nossa segurança, não acredito.

 

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O consumo de álcool e outras drogas na gravidez

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O impacto do uso de drogas na gestação é surpreendente e cada vez mais se acumulam conhecimentos médicos e psicossociais que demonstram as graves consequências para o bebê, em diferentes momentos gestacionais. A vida intrauterina é crucial para definição de tudo que pode vir a acontecer na vida de uma pessoa, de tal forma que esse período deveria ser experimentado de forma absolutamente saudável para garantir o futuro da criança.

Em nosso país existem poucos estudos epidemiológicos correlacionando gestação com consumo de drogas, além de haver pouca modificação no comportamento das gestantes em relação ao uso de drogas, tanto no Brasil quanto em outros países, especialmente quanto ao álcool. No Brasil pesquisas demonstram que, nos últimos dez anos, as mulheres estão bebendo cada vez mais.

Abaixo as principais consequência do consumo de algumas das drogas em mulheres grávidas:

Álcool

Não há uma quantidade considerada “segura” para grávidas consumirem álcool. A abstinência nessa situação é considerada a melhor atitude, pois o etanol atravessa facilmente a barreira hematoplacentária e pode determinar efeitos teratogênicos no feto. A Síndrome Alcoólico Fetal – SAF é a principal consequência do uso de álcool nesse período e se caracterizada por retardo do crescimento intra-uterino, déficit mental, alterações músculo-esqueléticas, geniturinárias e cardíacas. As alterações neurológicas determinadas pelo etanol incluem alterações na mielinização e hipoplasia do nervo óptico. A família terá que conduzir esse problema pela vida toda, pois são poucos os recursos médicos e psiquiátricos para se tratar  o problema.

Cocaína

A prevalência do uso da cocaína e seus derivados, crack, merla e oxi, tem aumentado dramaticamente na população gestante nas últimas décadas. Estima-se que até 10% das mulheres norte-americanas tenham utilizado cocaína durante a gravidez, tendo ocorrido parto pré-termo ou descolamento prematuro de placenta na maioria dessas pacientes, além de outras complicações, tanto maternas quanto perinatais.

A cocaína provoca doença hipertensiva gestacional e suas complicações também são dramáticas para o feto, pois entre outras coisas provocará exacerbação do sistema simpático, provocando hipertensão, taquicardia, arritmias e até falência miocárdica e morte. Essa substância atravessa rapidamente a barreira placentária sem sofrer metabolização, agindo diretamente nos vasos dos fetos determinando vasoconstrição, além de malformações urogenitais, cardiovasculares e do sistema nervoso central. Além disso, como o fluxo sanguíneo uterino não é auto-regulado, a sua diminuição provoca insuficiência útero-placentária e baixa oxigenação sanguinea.

Maconha

Provavelmente seja a droga ilícita mais frequentemente utilizada na gestação, com incidência variando entre 10% e 27%. Os efeitos psicoativos, especialmente alucinógenos são decorrentes do princípio ativo delta-9-tetra-hydrocannabinol (THC), que facilmente atravessa a barreira placentária. A maconha, diminui a perfusão útero-placentária e prejudica o crescimento fetal. O uso de maconha levaria ao retardo da maturação do sistema nervoso fetal, além do aumento dos níveis plasmáticos de noradrenalina ao nascimento, o que provocaria distúrbios neurológicos, psiquiátricos e comportamentais precoces.

Nas mãe a maconha determina descarga de adrenalina, com taquicardia, congestão conjuntival e ansiedade, enquanto que o uso crônico pode provocar letargia, irritabilidade, além de alterações no sistema respiratório, como bronquite crônica e infecções de repetição.

Tabaco

O monóxido de carbono e a nicotina, e muitas outras substâncias que compõem o tabaco passam também facilmente pela placenta. 
O monóxido de carbono apresenta uma alta afinidade pela hemoglobina do feto, impedindo que esta se ligue ao oxigênio, favorecendo a falta de oxigênio fetal. A nicotina determina vasoconstrição e o aumento da resistência vascular. Além disso, a placenta de mães tabagistas apresenta características sugestivas de diminuição do fluxo de sangue, e, como consequência, há uma maior incidência de retardo do crescimento intra-uterino, descolamento prematuro de placenta e rotura prematura das membranas ovulares.

Fumar no puerpério (após parto) também é prejudicial ao bebê, pois os produtos do tabaco passam pelo leite da mãe, além de ocorrer diminuição de sua produção. Apesar disso, somente 20% das gestantes que fumam interrompem o tabagismo durante a gravidez.

 

 

 

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A oração, a fé e a longevidade

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 Já somos sabedores das competentes orientações médicas sobre o que devemos fazer para se viver bem, melhor e por mais tempo. Recomendações como: evite gorduras, sal, excessos de açucar, vida sedentária, obesidade, stress, beba poco, nao fume e muitas outras recomendações, já são por demais conhecidas. Todas, com o propósito de garantir a saúde, a qualidade de vida e a longevidade.

Nesse sentido, foi anunciado recentimente, o resultado de uma importante pesquisa sobre a longevidade humana realizada pelo médico Lewis Terman da Universidade Stanford, na Califórnia, tendo ele iniciado seus estudos em 1921, selecionando um grupo de 1 500 crianças para acompanhá-las durante os anos seguintes. Terman, faleceu em 1958, mas seus assistentes proseguiram com esses estudos acompanhando todo o grupo por décadas, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, até que suas mortes os separassem.

Em 2012, as conclusões desses estudos foram anunciadas e entre estas, a confirmação da importância dos conselhos médicos clássicos, descritos acima. Os pesquisadores chegaram a conclusões surpreendentes, por exemplo: trabalhar muito é um caminho para viver muito, otimismo de mais pode ser prejudicial e a genética não é assim tão determinante para prever seu futuro, pois há pessoas que por terem pais longevos, acreditam que também o serão e por isso não se cuidam.

Entre as outras conclusões uma nos chamou a atenção pelo fato de confirmar algo que já estava no senso popular há anos: a fé cura e influencia a longevidade e, quem comparece à missa, culto, centro espírita, sinagoga, terreiro etc. em geral vive mais. Esta conclusão gerou um dilema: religiosos vivem mais porque rezam ou rezam porque vivem mais? Os dados não permitem concluir se a saúde dos anciãos é beneficiada pela experiência ou se, na verdade, quem tem disposição para ritos religiosos são justamente os mais saudáveis. Moral da história: na dúvida, tenha fé em alguma coisa.

Quando se diz, a fé cura, a fé remove montanhas, a fé salva e muitas outras afirmações oriundas da crença popular, nesse trabalho ficou demonstrado a veracidade científica dessas afirmações. A neurociência nesse sentido, há muito tempo, vem afirmando que a fé como vivência humana, está programada em nosso cérebro, e que tal vivência produziria, de diferentes maneiras, benefícios para a saúde.

Charles Darwin, criador da teoria da evolução há 150 anos, já havia registrado no livro, A descendência do homem, em 1871: “Uma crença em agentes espirituais onipresentes parece ser universal”. “Somos predispostos biologicamente a ter crenças, entre elas a religiosa”.

Outro neurocientista, Andrew Newberg, da Universidade da Pensilvânia – EUA, que estuda as manifestações cerebrais da fé há pelo menos 15 anos, demonstrou que as práticas religiosas estimulam, entre outras regiões do cérebro, os lobos frontais, responsáveis pela capacidade de concentração e os lobos parietais, que nos dão a consciência de nós mesmos e do mundo. Outros estudos em andamento pretendem compreender melhor a meditação e a prece, mas a pesquisa de Newberg mostra que, durante essas atividades, o lobo frontal fica mais ativo que o lobo parietal demonstrando efetivamente a ação dessas atividades em nossa vida.  Em seu novo livro,“Como Deus muda seu cérebro”, Newberg explora os efeitos da fé sobre o cérebro e o impcato disso na vida das pessoas. Estudos anteriores nesta àrea verificavam os efeitos à curto prazo de práticas como a meditação e a oração. Agora, ele e seu grupo, pretendem responder à seguinte questão: o que acontecerá se você adotar, com frequência, uma prática como a meditação ou a prece?

 

Robert Hummer, sociólogo e professor da Universidade do Texas que também desenvolve trabalhos nesta àrea, que acompanha um grupo de pessoas desde 1992, estudando a relação entre a religião e a saúde, garante que, quem nunca praticou uma religião tem um risco duas vezes maior de morrer nos próximos oito anos do que alguém que a pratica pelo menos uma vez por semana. As evidências da influência da fé na saúde são promissoras afirma o neurologista brasileiro Jorge Moll, diretor do Centro de Neurociência da Rede Labs-D’Or: para ele o desafio é quantificar a influência da fé e tentar compará-la com os efeitos de outras práticas sem conotação religiosa.

Alguém duvida que a oração sob inspiração da fé e do amor, em momentos de sofrimentos, angustia, e dor, não juda? Que a fé influencia muitas pessoas a se recuperarem de graves problemas, como dependência de drogas e em outras doenças? Que a oração, nos dá paz e serenidade? Todos esses efeitos estão ligados a capacidade humana de ter fé e de amar.

Portanto, orar, rezar ter fé, entrar em comunhão com Deus, ir a igreja com a finalidade religiosa não é tão somente só uma atitude social, e sim são atitudes eficazes que garantem mais bem estar, saúde e longevidade. Nesse natal que se aproxima, vamos rezar muito e cultivar a fé para vê-la brotar em Deus, em nós e nos homens.

 

 

 

 

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A Decisão Enferma II

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Dependentes de álcool e outras drogas padecem de um dilema há muito conhecido por todos: o de postergar a decisão de parar o uso a droga. Algumas expressões são por demais conhecidas e já fazem parte do cotidiano de muitas pessoas: “essa foi a última vez que bebi” ou “depois dessa não bebo mais” e assim por diante. Essas afirmações são quase sempre precedidas de um consumo descontrolado ou exagerado de bebidas ou outras drogas e a pessoa, em geral, sente-se culpada e muito arrependida de ter abusado. E qual é nossa surpresa? Pouco tempo depois ou no próximo final de semana,  tudo acontece novamente, às vezes até pior que na semana anterior. E assim vai, dia após dia, semana após semana, mês a mês, ano a ano.

Pela dificuldade em cumprir suas promessas, perdem o crédito quando dizem que vão parar, especialmente na família. Muitas vezes, os familiares atribuem o desejo de parar à famosa ressaca da segunda-feira, como se fosse conversa fiada: “fulano só diz isto depois da ressaca”.

Esse dilema pessoal, verificado entre os dependentes de substâncias como álcool e de drogas, foi por muitos anos entendido como um problema de caráter ou um problema moral. Muitos os consideravam – e ainda hoje, lamentavelmente, – como fracos, frouxos, covardes, sem vergonha e mentirosos.

O próprio sujeito que tem esse problema se sente muito mal com tudo isso, pois percebe que bebendo e consumindo drogas vai gerar mais problema a cada dia que passa e que se não mudar, a situação vai piorar. Ocorre que, muitas vezes, o seu desejo sincero é o de deixar de beber ou de usar drogas, pois sempre exagera, mesmo assim não sabe o que o leva a repetir tudo de novo, apesar de todos os aborrecimentos e constrangimentos que beber demais provocara.

Passam então a viver com mais um problema angustiante, de não conseguir, por si, mudar a situação que tanto o prejudica e aos outros.

Muitas contribuições vem surgindo nos últimos anos do ponto de vista médico e psicossocial, procurando esclarecer essa dificuldades e os conflitos que isso provoca nos dependentes e seus familiares. Todavia, embora haja muito esforço nesse sentido ainda permanecem obscuras as causas  desse problema.

Do ponto de vista psicopatológico, a dependência de drogas compromete uma das aspirações fundamentais dos seres humanos que é a de ser livre, isto é, de poderem ter o domínio pleno de sua vida e disporem amplamente de sua consciência e por isso mesmo garantir sua autonomia para escolher e decidir sobre o que querem e para onde querem ir. Essa prerrogativa garante sua saúde mental e sua sobrevivência.

De tal sorte que, quando alguém está dependente de uma droga, conforme vimos acima, o que está em jogo é sua capacidade de tomar decisão, que nesses casos está muito prejudicada, ao ponto dessas pessoas não a executarem corretamente.

Na realidade, não é tão nova esta constatação clínica, pois há alguns anos se sabia que uma das maiores dificuldades apresentadas pelos dependentes químicos era a de decidir a seu favor, isto é, tomar uma decisão que interferisse diretamente nos mecanismo intrínsecos da compulsão para consumo da droga da qual dependem.

Tomar decisão é uma atitude que tem a ver com o equilíbrio neurofisiológico e comportamental, de tal forma que qualquer alteração que haja nas áreas cerebrais que controlam esta função cognitiva acarretará prejuízos em diferentes atividades mentais. A tomada de decisão implica também em integrar estímulos recebidos, relacionar valores, verificar objetivos e o estado emocional e situação social. Envolvem flexibilidade e planejamento e, sobretudo pensar nas consequências sociais e pessoais de sua atitude.

Sobre isso, não há dúvidas que nos últimos anos a neurociência tem oferecido relevantes contribuições para melhor se compreender a fisiopatologia de diferentes comportamentos psicopatológicos.

Hoje se sabe que dependentes químicos apresentam alterações severas nas áreas cerebrais responsáveis pelo processo de decidir sendo um dos transtornos mas bem estudados sobre esses doentes. Uma das mais importantes contribuições da neurociência, ramo da ciência que estuda essas assunto, ocorreu há pouco mais de 15 anos, quando os cientistas identificaram a região cerebral denominada córtex órbito-frontal, área responsável por esta disfunção na tomada de decisão.

Essa região, anatomicamente, compõe uma superestrutura cerebral das mais importantes para o comportamento humano. Trata-se de uma região neurofuncional, que torna o homem diferenciado dos outros animais.

É uma parte do córtex cerebral que está situada logo abaixo dos olhos. O papel desta região  não pode ser definido precisamente, pois o comportamento que depende dessa região não pode ser categorizado facilmente. Todo comportamento tem relação com córtex órbito-frontal, mas não se pode classificar a sua função em relação ao comportamento em uma única categoria, justamente porque ela estabelece amplas ligações neurofuncionais com dezenas de outra regiões cerebrais responsáveis por inúmeras atividades humanas.

Portanto, o córtex órbito-frontal é uma região extremamente importante para processar, avaliar e filtrar informações sociais e emocionais e garantir nossa saúde mental. Lesão nesta área ocasiona déficit na habilidade de tomar decisões que é o que ocorre entre os dependentes de álcool e doutras drogas.

Esses novos achados abrem janelas para a conquista de novos tratamentos, bem como inauguram novas perspectivas e oportunidades de se compreender melhor a clínica da indecisão patológica desses enfermos.

 

 

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Sexo compulsivo: as contradições do prazer

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O desejo sexual se manifesta de diversas formas e diferentes intensidades. Uma das condições muito estudada pela psiquiatria e pela neurociência, é o comportamento sexual compulsivo (sexo compulsivo) ou hipererosia. Para as mulheres, denomina-se ninfomania, termo que lembra as ninfas dos bosques greco-romanos que estariam sempre disponíveis ao sexo, e messalina, relativa à imperatriz romana que diziam sair às noites, disfarçada para orgias nas tabernas, além de manter escravos para satisfazer suas necessidades sexuais.

Mitologicamente a figura utilizada para designar esse fenômeno foi Príapo, para configurar a necessidade de excesso de sexo (criaturas metade bode e metade homem com chifres) que corriam atrás das ninfas dos bosques. Daí o nome priapismo ou satiríase, que diz respeito a uma ereção anormal, prolongada e dolorosa em que o pênis permanece ereto e intumescido por tempo indeterminado sendo, às vezes, necessária intervenção cirúrgica para torná-lo flácido.

Semelhante à outras disfunções, o sexo compulsivo se manifesta clinicamente com o seguinte quadro: pensamentos sexuais ou atos compulsivos recorrentes: “só pensam naquilo”, os pensamentos giram em torno da sexualidade: idéias, imagens ou impulsos que entram na mente do indivíduo repetidamente de uma forma estereotipada podendo ser angustiantes (violentos, repugnantes ou obscenos), sem sentido, e a pessoa não consegue resistir a eles. Podem ainda apresentar comportamentos sexuais impróprios, exagerados ou cognições que causam sofrimento subjetivo e comprometimento das funções ocupacionais e interpessoais. Esse comportamento tem sido comparado a uma espécie de dependência (adição ao sexo). Há outras designações como: sexo impulsivo e aditivo para descrever esses transtornos.

Ocorre frequentemente em pessoas na faixa dos 40 anos. O processo tende a ser mais denso e “aperfeiçoado” com o correr dos anos. Essas pessoas em geral não admitem ter o problema e dificilmente se dispõe a se tratar. Atinge em torno de 3% a 6% da população, predominantemente homens, e costuma ter início no final da adolescência ou no início da terceira década de vida.

O sexo compulsivo é um transtorno de natureza crônica, com episódios de piora e melhora. Existem quatro etapas na sua manifestação clínica: a primeira é a preocupação, na qual a pessoa apresenta um afeto semelhante ao do transe, estando completamente absorta em pensamentos de sexo e partindo para a busca obsessiva de se relacionar sexualmente. A segunda é uma ritualização: a pessoa desenvolve uma rotina que leva ao comportamento sexual, que serve para intensificar a excitação. A terceira é da gratificação sexual, mediante o ato sexual em propriamente dito, onde a pessoa se sente incapaz de controlar seu desejo. A quarta é o desespero, que vem após o comportamento sexual compulsivo e se caracteriza por uma sensação de impotência e desânimo.

Essas enfermos podem desenvolver complicações clínicas em decorrência direta de seu comportamento sexual, que incluem lesões genitais (contusões) e doenças sexualmente transmissíveis (hepatite B, herpes simples ou infecção pelo vírus da imunodeficiência humana). Pode ocorrer lesões físicas nos comportamentos sexuais de alto risco ou na atividade sadomasoquista. Nas mulheres, podem ocorrer gestações não-desejadas e complicações de aborto.

As causas do sexo excessivo, embora haja poucos estudos, há evidências de diferentes sistemas cerebrais envolvidos em sua causa. Lesões frontais, por exemplo, podem ser acompanhadas por desinibição, por resposta hipersexual impulsiva. Lesões ou disfunções estriatais podem ser acompanhadas por desencadeamento repetitivo de padrões de resposta gerados internamente. Lesões límbicas temporais podem ser acompanhadas por desequilíbrios do próprio apetite sexual, inclusive alteração do direcionamento do impulso sexual. Enfim, a neurobiologia desse transtorno está sendo muito estudada e acredita-se que em um futuro próximo o fato seja melhor esclarecido.

As repercussões desse comportamento se dão em várias áreas: social, pode ocorrer desafetos com amigos e familiares, envolvimentos policiais, perda de emprego, perda da reputação social e moral e toda sorte de desadaptação social e familiar em decorrência direta de investidas, assédios e relacionamentos sexuais. Familiar: costumam ter relações cônjuges complicados. Primeiramente devido ao apetite sexual exagerado, vindo a submeter o parceiro(o) a uma atividade nem sempre prazerosa ou desejada. Em segundo, devido às maiores probabilidades à infidelidade e, em terceiro, devido à maior possibilidade de envolvimentos sexuais com amigos ou familiares, aumentando mais ainda o constrangimento. Por últimos os problemas pressoais, pois apesar dos inúmeros problemas que o transtorno pode ocasionar o mesmo não se dispõe a se tratar nem a mudar seus hábitos inspirados nessa condição.

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A prevenção é a melhor arma contra o suicídio

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Pesquisa do núcleo de epidemiologia psiquiátrica da Universidade de São Paulo (USP) concluiu que 9,5% da população urbana brasileira já tiveram pensamentos suicidas e 3,1% tentaram tirar a própria vida. O resultado deste trabalho foi apresentado às vésperas do Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, comemorado dia 10 de setembro em todo mundo. A intenção, ao se comemorar este dia, é justamente chamar a atenção do mundo para um dos temas mais importantes em psiquiatria, saúde mental e em saúde pública e que precisa ser melhor tratado para evitar que milhares de pessoas no mundo percam suas vidas.

O impacto afetivo, econômico e social do suicídio, como um fenômeno humano é gigantesco e sempre despertou muito interesse na esfera científica, para se conhecer suas bases fisiopatológicas e psicopatológicas, pois apesar de já se ter grandes conhecimentos sobre o assunto, ainda precisamos avançar muito para se ter uma compreensão fenomenológica e clínica, mais consistente.

Na data de sua comemoração foram desenvolvidas inúmeras atividade pelo Brasil afora com o mesmo objetivo, chamar a atenção da população brasileira para um dos mais importantes problema da saúde pública do mudo e deste país. O Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul são os dois estados que permanecem com os maiores índices de suicídio entre os demais estados brasileiros.

Ainda sobre o Brasil, estima-se que ocorram 24 suicídios por dia, e a quantidade de tentativas é de dez a 20 vezes mais alta que a de mortes. Entre os jovens, a taxa multiplicou-se por dez de 1980 a 2000: de 0,4 para 4%. De tal forma que nos últimos 45 anos o número de suicídios cresceu 60%, de acordo com a OMS.

A OMS estima que, de 2002 a 2020, o aumento será de 74%, chegando a um suicídio a cada 20 segundos, hoje, a taxa é de um a cada 40 segundos. E, o que se sabe o que há de mais concreto é a associação de suicídio com transtornos mentais, principalmente a depressão. O Brasil é o país com a menor taxa de suicido no mundo, variando entre 3,9 a 4,5/100 mil habitantes. Mas, como somos um país de dimensões continentais e um dos mais populosos, estamos entre os 10 países com maior número absoluto de suicídio. O que mais nos comove é que esta taxa cresce entre os adolescentes, uma das mais importantes fases do nosso desenvolvimento pessoal e social.

Entre nós existe o Centro de Valorização da Vida – CVV, uma das mais respeitadas e importantes instituições que tata deste tema e nos informa que de 2005 a 2009, foram atendidas mais de um milhão de pessoas que apresentavam ideias sobre o assunto. O Ministério da Saúde (MS) trata o suicídio como um problema de saúde pública e recentemente reconheceu o CVV como a única entidade do terceiro setor, no Brasil, que faz o trabalho de prevenção de suicídio e valorização da vida. Isso demonstra a validade do trabalho da entidade, durante os mais de 48 anos de atuação, e aumenta a sua credibilidade junto ao público.

Este Centro de Valorização da Vida completou 50 anos, no ano passado, conta com aproximadamente 2.000 voluntários em 39 postos distribuídos pelo Brasil, e oferece apoio emocional 24h por dia através do telefone número 141. O apoio pode ser feito pessoalmente, por telefone, carta, e-mail e via internet, no portal www.cvv.org.br.

Um assunto que cada vez mais desperta interesse entre os investigadores é a relação entre suicídio e outras doenças mentais, isto é, o suicídio não tem vida própria, ocorre sempre secundariamente à existência de outra condição psicopatológica, entre estas a depressão responde por mais de 60% destas ocorrências.

O uso de álcool e de outras drogas especialmente os dependentes destas substâncias são também pessoas muito vulneráveis a cometerem suicídio. O próprio uso desregrado e disfuncional dessas drogas já pode ser considerado formas veladas de se auto – destruir.

Como sintoma, o suicídio pode ser prevenido como qualquer outro sintoma. Particularmente na depressão na maioria das vezes isto ocorre quando as pessoas estão se recuperando de episódio depressivo e nunca ou quase nunca no franco processo depressivo. De qualquer forma é um assunto que deve ser tratado na vigência de um tratamento por depressão.

 

 

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