Prevenção de recaídas, a grande estratégia em saúde mental

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A Organização Mundial de Saúde – OMS estima que até 2020 a depressão será a principal causa de incapacitação em todo o mundo. Muitas pessoas se tornarão incapazes e improdutivas do ponto de vista laborativo e social. A depressão, além disso, acarretará muitos outros prejuízos: na previdência, na saúde, na economia, na vida afetiva e emocional etc.
Há atualmente, mais de 350 milhões de pessoas que sofrem de depressão e pelo menos 5% dessas pessoas que vivem nas cidades sofrem de depressão. No Brasil, estima-se que existam mais de 17 milhões de pessoas afetadas pela doença. Cerca de 850 mil pessoas morrem, por ano, em decorrência dessa enfermidade, especialmente por suicídio, do qual a depressão corresponde ao principal fator causal. A OMS informa também que, nos próximos 20 anos, essa enfermidade se tornará a mais comum do mundo, afetando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde.
No aspecto socioeconômico, a depressão é, entre as doenças mentais, a que mais acarreta custos econômicos e sociais para os governos, em razão do seu tratamento e por alterar a capacidade produtiva das pessoas. Na Europa, estima-se que a depressão gere um custo de 250 euros por habitante e atinja 21 milhões de europeus, produzindo custos para a economia em torno de 118 bilhões de euros por ano.
Os países pobres serão os que mais sofrerão com esse problema, pois registram mais casos de depressão, comparados com os países desenvolvidos. E os custos da depressão serão sentidos de maneira mais aguda em países em desenvolvimento, pois esses têm menos recursos para tratar desse transtorno mental.
Esses dados mostram claramente que, embora a ciência já tenha desvendado o caráter biológico da doença, o ambiente sócio cultural, as condições psicossociais e econômicas exercem um peso enorme na clínica, na epidemiologia e na recuperação dos pacientes.
O fato de vivermos em uma época e em uma sociedade conflitante, ameaçadora e instável do ponto de vista político, econômico, social e da segurança pública, isso colabora para gerar danos irreparáveis à estabilidade emocional, psicológica e social das pessoas. A descrença, as decepções e a desesperança, sentimentos comuns nos dias atuais, provocam profundas rupturas psicossociais, influenciando sobremaneira comportamentos depressivos. As frequentes mudanças em nossas referências sociais, éticas, religiosas e afetivas, também nos tornam mais vulneráveis a ocorrências depressivas.
O uso crônico de álcool e de outras drogas da forma como vem ocorrendo largamente em nossa sociedade, onde cada dia se bebe mais e, cada vez mais surgem drogas mais poderosas para o consumo indevido, representa uma condição importante entre as causas de depressão na sociedade atual. Isso certamente explicaria o fato de muitos jovens de pouca idade e mesmo crianças estarem apresentando cada vez mais depressões e outras doenças mentais.
Do ponto de vista psicológico, a depressão é considerada uma das piores condições humanas. As que já passaram por crises depressivas a referem como “uma dor na alma”, incomparável a qualquer outro sofrimento. Os depressivos apresentam uma angústia vital que só eles são capazes de senti-la e descrevê-la. A vida perde a cor, o sabor e o sentido. As pessoas estão sempre amarguradas, inexpressivas e infelizes. Se sentem sós no mundo e perdem inteiramente a esperança de se recuperarem de seus problemas. Para muitos, a crise depressiva é uma morte lenta e infindável, por isso muitos recorrem ao suicídio.
Apesar de tudo, os avanços verificados nos últimos 20 anos no tratamento da depressão, foram muito grandes. Os tratamentos são cada vez mais efetivos fazendo com que as pessoas afetadas pela doença se recuperam inteiramente. A depressão é uma doença recorrente, isto é, vai e volta. O recomendável é que, além do tratamento rigoroso da crise, que deve iniciar o mais cedo possível, as pessoas que já tiveram algumas crises na vida realizem “tratamento de prevenção de recaída” que impede que a pessoa volte a adoecer. Isso evoluiu muito nos últimos anos.
É preciso, portanto, que desde o momento em que aparecerem os primeiros sintomas depressivos, como insônia, desânimo inexplicável, desinteresse, apatia retraimento social, angústia insuportável, ideias de ruína ou culpa e outros sintomas depressivos, busque-se socorro médico, para impedir que esses sintomas evoluam. Fazendo isso, as depressões se revertem inteiramente retirando a pessoa de um “buraco sem fim”, como muitos dizem.
Na área da saúde mental faz-se necessário dispormos de ambulatórios especializados para atendimento do paciente depressivo, bem como suas famílias para lidarem com o problema: “A depressão é uma doença como qualquer outra doença e as pessoas têm o direito de ser aconselhadas e receberem os mesmos cuidados médicos que são dados aos portadores de quaisquer outras enfermidades. É uma doença evitável, prevenível e curável”. Infelizmente, ainda existem muitos preconceitos em relação a ela, fato que, a meu ver, complica mais ainda seu manejo.

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Como diagnosticar um dependente

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Como se distinguir entre consumidores de álcool e outras drogas, quem é dependente ou não é uma das tarefas mais difíceis e mais complicadas para quem trabalha com esses usuários. A inteligência do tratamento está aí. Se, se trata de um usuário que não apresenta qualquer queixa relativa ao consumo, só temos que recomendar medidas preventivas para evitar que essas pessoas não passem a ter problemas com relação ao uso.
Se por acaso, a pessoa já se encontra abusando do consumo, ao ponto de já ter problema com o uso do álcool ou outra droga, teremos que recomendar um conjunto de medidas para que essa pessoa não agrave seu problema. Se, por acaso, a pessoa já é um dependente de qualquer uma dessas substâncias, as recomendações são outras e mais específicas, recomenda-se tratamento imediato antes que a situação se complique mais ainda. Por último, recomenda-se tratamento de reabilitação psicossocial nos casos em que a pessoa já se encontra em estágio final de sua doença e já apresenta muitas perdas ocasionadas pela evolução da doença.
A Organização Mundial da Saúde – OMS traz uma contribuição importante nesta área, quando elaborou critérios que nos permite identificar, entre os usuários de drogas, os que são ou não, dependentes, já que nem todos os consumidores o são. Abaixo discorremos sobre esses critérios com mais detalhes.
1 – Manifestações fisiológicas, comportamentais e cognitivas características.
Usuários ao se tornarem dependentes mudam sua forma de comportamento e estas mudanças, às vezes indisfarçáveis, são acentuadas. A rigor, mudam inclusive traços caracterológicos e de personalidade. Além do mais, sabe-se que muitas destas alterações psicossociais e comportamentais estão associadas diretamente aos efeitos deletérios das drogas sobre o cérebro, órgão responsável pela nossa saúde ou doença mental.
2 – Prioridade ao uso da substância.
A proporção que avança o consumo da droga e proporcionalmente se instala a dependência, vai havendo uma espécie de priorização ao consumo da substância em detrimento a outros comportamentos anteriormente importantes ao indivíduo, onde o consumo da drogas vai se transformando cada vez mais em algo relevante e prioritário à vida da pessoa.
As outras atividades ou interesses, anteriormente importantes, como por exemplo, esporte, artes, estudos, trabalho, responsabilidades do dia a dia, compromissos sociais e familiares e até mesmo pela atividade sexual e afetiva, vão cedendo lugar e sendo substituídos pelo interesse predominante e, cada vez maior, pela substância. Pode acontecer que no futuro, a pessoa não faça outra coisa que não seja beber ou usar drogas.
3 – Forte desejo de consumir a substância.
Popularmente chama-se “fissura”, entre nós e de “craving”, entre os ingleses. Representa um desejo sem limites, incontrolável para consumi-las. Às vezes, isto é tão forte, que os mesmos são capazes de fazerem qualquer coisa, no sentido de adquiri-las: agredir, delinquir, mentir, roubar, matar etc. Esse comportamento compulsivo é atualmente considerado um dos sintomas mais importante elementos de diagnóstico da dependência. E, todos esses comportamentos se agravam á medida que se agrava a doença.
4 – Recaídas, após a abstinência:
Recair significa retomar um padrão de consumo da substância que fora anteriormente rechaçado. Frequentemente muitos dependentes que param de usar e que posteriormente retornam ao uso do álcool ou de outras drogas, reproduzem o mesmo comportamento anterior em proporções piores. Isto é, recair é um fenômeno sempre um estado pior que ocorria antes da parada. O que se sabe é que, independente do tempo que passaram abstinentes, estes usuários ao voltarem a utilizá-las passam a fazê-lo intensamente e de forma descontrolada.
5 – Dificuldade em controlar o consumo.
Os dependentes têm dificuldades intensas de interromperem o consumo das drogas quando iniciam o uso tanto no começo, quanto no meio e no fim deste processo. Ao iniciar o consumo não param mais, e prosseguem ininterruptamente, até atingirem altos níveis de intoxicação. Este fato é determinado pela compulsão onde o sujeito fica impossibilitado, literalmente, de frear este consumo. A frase clássica para definir isto é: “fulano quando começa a beber não para mais”.
6 – Presença dos sintomas de tolerância.
Tolerância é um fenômeno biológico, que envolve inúmeros mecanismos biológicos e comportamentais e que surge a partir da relação do sujeito com a substância. Quando a tolerância se instala essas pessoas terão sempre que aumentar a doses da substância consumida para obterem os mesmos efeitos adquiridos quando usavam doses menores. Isto é, vão aumentando indiscriminadamente o consumo da droga.
7 – Sinais de abstinência.
Abstinência diz respeito a uma série de sinais e sintomas de natureza física, psíquica e emocional em geral desagradáveis que surgem sempre que os usuários interrompem ou diminuem a quantidade da droga consumida.
Algumas pessoas dependentes de tabaco ou de álcool ao deixarem de usá-los ou mesmo por diminuírem suas doses consumidas, passam a apresentar tremores, ansiedade, insegurança, sudorese, taquicardia, insônia, dificuldade na concentração, respiração acelerada ou mesmo outros sintomas mais complicados com crises convulsivas, alucinações e delírios (álcool, cocaína, barbituratos etc…), todas estas reações revelam a abstinência.
8 – Persistência do uso, apesar dos danos.
À proporção que a dependência avança os usuários não se dão conta dos inúmeros problemas psicológicos, emocionais, sociais ou outros transtornos e, por conseguinte não param de usá-las. Dependentes de álcool com cirrose, diabetes hipertensão arterial cânceres e diversas outras doenças não param de beber. Fumantes com câncer de pulmão, com problemas cardiovasculares e respiratórios não param de fumar. Pessoas com problemas emocionais, sociais e familiares adquiridos por uso de drogas não impedem que os mesmo parem de usar, e assim por diante.
De conformidade com a OMS, se alguém apresentar pelo menos três, dos oito itens acima citados, os mesmos já apresenta algum grau de dependência.

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Distinção entre compulsão e vontade de beber

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Entre os dependentes de drogas (álcool e outras drogas), existem diferentes sintomas que, de conformidade com a evolução da doença vão se estabelecendo progressivamente ao ponto de posteriormente passarem a ser típicos dessas pessoas. “Neste artigo, tratarei da compulsão vulgarmente chamada de “fissura” ou craving”, que é entre os sintomas de dependência um dos mais importantes para o diagnóstico dessas doenças. Esse sintoma interfere diretamente na disposição do enfermo para se tratar, bem como nas sucessivas recaídas que se observa no processo de recuperação e tratamento.
Fissura e compulsão são dois termos já largamente conhecidos pelo público em geral, graças às centenas de artigos já publicados a seu respeito, embora ainda não se tenha pleno conhecimento sobre sua natureza biológica e comportamental.
“Fissura” é um termo popular em nosso idioma. Entre os ingleses é denominada de “craving”, que nada mais é do que um desejo ardente, incontrolável, irrefreável de consumir a droga da qual dependa. Em princípio, só sente fissura quem é dependente, seja de que droga for. É um sintoma que pode estar presente em outros transtornos psiquiátricos, portanto não é exclusivo dos dependentes de drogas. Os alcoólatras e outros dependentes, portanto, sentem essa fissura sempre que param ou reduzem o volume de ingesta das substâncias das quais dependem. Este fenômeno apresenta as seguintes características:
1 – está presente na síndrome de dependência;
2 – surge quando o consumo da droga é interrompido;
3 – a ânsia (compulsão) de consumir é quase sempre superior ao seu controle;
4 – favorece sempre a recaída;
5 – a obtenção da droga cessa os sintomas;
6 – é classificada como leve, moderada ou grave.
7– sua intensidade está associada à intensidade da dependência;
8 -é involuntário, evolutivo e envolve mecanismos neurobiológicos, circunstanciais/psicológicos;
9 – há drogas que aliviam os sintomas do “craving”;
10 – interfere na decisão de se tratar;
A compulsão é uma distorção psicopatológica da vontade e/ou da volição. É uma disfunção volitiva. Enquanto que na vontade a pessoa exercita livremente sua capacidade de querer ou não usar uma substância, o compulsivo se vê obrigado imperiosamente ou compelido a fazê-lo. Portanto a grande distinção é essa. O dependente químico, não usa drogas porque quer, e sim por que é obrigado. Eis, o grande problema, porque a partir do momento em que alguém se vicia no uso de uma droga, ele se escraviza perde sua autonomia, sua capacidade de escolher o que quer e o que não quer, perde sua disposição e sua liberdade nas escolhas e nas opções que fará na vida daí pra frente. Será comandado por ações compulsivas em que o comando das mesmas já não se dará de forma efetiva, pois ele irá consumir a substância por motivos incontroláveis.
Estes 10 itens acima mostram claramente a gravidade deste problema e todos são muito importantes em sua caracterização, a dificuldade de aderir a um tratamento e as recaídas são indiscutivelmente as mais importantes consequências do “craving”, justamente por interferir no tratamento e na recaída.
Do ponto de vista da neurobiologia do “craving”, já temos acumulado um vasto conhecimento sobre como ele surge, muito embora se saiba que ainda falta muito para esclarecer totalmente sua natureza. O fato é que tudo se dá em determinadas áreas do cérebro intermediado por reações envolvendo os neurotransmissores cerebrais: dopamina, serotonina, acetilcolina e outros.
Estudos de neuroimagem utilizando técnicas como a tomografia por emissão de pósitrons (PET) têm permitido a identificação de tais anormalidades neurofuncionais criando condições favoráveis para que em um futuro próximo se possa manejar melhor com este sintoma. Além do mais, graças aos recentes os avanços da ressonância magnética (RM) funcional, já se pode vislumbrar as áreas afetadas pela compulsão, fato que está certamente favorecendo uma maior compreensão da fisiopatologia desse fenômeno.
Do ponto de vista do tratamento, nos últimos 15 ano avançou-se muito no tratamento da compulsão. Na área farmacológica os avanços foram expressivos, sobretudo com o surgimento de drogas denominadas de anti-compulsivas, anti-fissura ou ainda, anticraving, as quais, impedem ou reduzem a busca incontrolável por álcool ou por outras drogas, e diminuem drasticamente o mal estar físico, psicossocial e emocional ocasionado pela privação do uso dessas drogas. Esses dois mecanismos de ação farmacológicos, são considerados atualmente como fundamentais para o manejo adequado dos dependentes de drogas.
Entre os transtornos que mais se beneficiaram com estes medicamentos foram o alcoolismo e o tabagismo. Outras drogas estão sendo testadas e que deverão ser lançadas em breve se destinam ao controle do “craving” dos dependentes de cocaína, através de mecanismos, diferentes aos anteriores.
Outros avanços significativos ocorreram na área ocupacional e psicossocial com técnicas avançadas no tratamento e reabilitação destes pacientes, as quais possibilitarão diretamente maior adesão aos tratamentos propostos, impedindo também, por conseguinte, altos índices de recaídas frequentemente encontrados ente estes doentes.

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Álcool prejudica o descanso

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Pesquisa mostra que, apesar de inicialmente atuar como sedativo, substância provoca um aumento na potência de determinadas ondas cerebrais associadas a um sono agitado e pouco reparador

Tomar uma taça de vinho ou outra bebida antes de se deitar pode ajudar uma pessoa a dormir mais rápido, mas apesar de inicialmente atuar como sedativo, o álcool provoca perturbações no sono que atrapalham mais o descanso, diz estudo publicado ontem on-line em adiantamento à edição de fevereiro do periódico científico “Alcoholism: Clinical & Experimental Research”. Segundo os pesquisadores, embora a substância promova a atividade das chamadas ondas delta no cérebro, associadas a estágios de sono profundo sem sonhos, ela também traz um aumento na potência das ondas alfa na região frontal do órgão, vistas como reflexo de um sono agitado.
— As pessoas tendem a se focar nos relatos das propriedades sedativas do álcool, que se traduzem em um menor tempo para dormir, particularmente em adultos, do que nas perturbações que ele provoca mais tarde na noite — critica Christian L. Nicholas, cientista do Laboratório de Pesquisas do Sono da Universidade de Melbourne, na Austrália, e um dos autores do estudo.
A atividade das ondas delta no cérebro costuma ser maior na infância e vai caindo com a idade, passando por reduções significativas entre os 12 e 16 anos. Os cientistas acreditam que é por isso que as crianças e jovens dormem mais que os adultos e idosos, já que elas estão ligadas ao chamado “Sono de Ondas Lentas” (SWS, na sigla em inglês) e ao “Sono sem Movimento Rápido dos Olhos” (NREM, também na sigla em inglês), ambos estágios sem sonhos do período em que estamos dormindo. O problema é que também é justamente nesta época da juventude que as pessoas experimentam o álcool pela primeira vez, com o consumo em geral se elevando com o tempo.
— A redução na frequência das ondas delta nos eletroencefalogramas que observamos com a idade é vista como uma representação do processo normal de maturação do cérebro à medida que o cérebro adolescente continua a se desenvolver rumo à maturidade — lembra Nicholas. — E embora a função exata do sono NREM, e em particular do SWS, ainda seja motivo de debates, acredita-se que eles refletem as necessidades de sono e sua qualidade. Assim, qualquer perturbação neles pode afetar as propriedades restauradoras do sono e serem prejudiciais à funcionalidade durante o dia.
No estudo, Nicholas e sua equipe recrutaram 24 voluntários (12 mulheres e 12 homens) saudáveis com entre 18 e 21 anos de idade que beberam “socialmente”, isto é, menos de sete doses-padrão por semana, nos 30 dias anteriores. Cada um dos participantes da pesquisa foi então analisado com exames de polissonografia e eletroencefalogramas enquanto dormia sob duas condições: tendo consumido álcool antes de se deitarem ou apenas um placebo. Os resultados mostraram que o álcool de fato aumentou a atividade das ondas delta durante o SWS, mas que também houve simultaneamente uma alta nos registros de ondas alfa na região frontal do cérebro.
— Elevações similares na atividade das ondas delta e alfa, que estão associadas com um sono pobre ou pouco reparador, também foram observadas em indivíduos com dores crônicas — destaca Nicholas. — Assim, se o sono está sendo perturbado regularmente pelo consumo de álcool antes de dormir, particularmente ao longo de grandes períodos de tempo, isso pode ter efeitos prejudiciais significativos no bem-estar durante o dia e em funções neurocognitivas como os processos de aprendizado e memória. A mensagem a se levar deste estudo é que o álcool na verdade não é um bom auxílio para o sono mesmo que ele pareça te ajudar a dormir mais rápido. De fato, a qualidade do sono que você obtém foi significativamente alterada e perturbada por ele.

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Estimulação magnética transcraniana e dependência química

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Estimulação magnética transcraniana e dependência química

USP testa estímulo cerebral em viciados em drogas

FERNANDA BASSETTE DE SÃO PAULO

Pesquisadores do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo) estão testando o uso da estimulação magnética do cérebro para conter a fissura de pessoas dependentes de cocaína em pó e reorganizar o funcionamento cerebral. A técnica, chamada estimulação magnética transcraniana, é usada aqui desde 2006 no tratamento de depressão.

Segundo os médicos, não é invasiva e quase sem efeitos colaterais. Essa é a primeira vez que pesquisadores brasileiros resolvem investigar se os benefícios do método podem ser estendidos para dependentes crônicos da droga. Um grupo de Israel, por exemplo, estudou os efeitos da estimulação contra a fissura provocada pelo tabaco.

Os resultados mostram uma queda no desejo pela droga nos primeiros três meses. Segundo o último levantamento da Senad (Secretaria Nacional de Políticas Antidrogas), 2,9% da população brasileira já usou cocaína ao menos uma vez na vida. E 7,7% dos universitários experimentaram a droga ao menos uma vez. O psiquiatra Phillip Leite Ribeiro, responsável pelo teste na USP, explica que a ação da cocaína desorganiza os circuitos cerebrais, alterando o funcionamento das redes de neurônios. “A consequência é uma pessoa dependente da cocaína, com dificuldade de raciocínio e de decisão”, diz Ribeiro.

COMO FUNCIONA

A estimulação magnética transcraniana é aplicada em consultório, sem anestesia. O paciente usa uma touca de natação e o médico aproxima o aparelho na região do cérebro a ser tratada. As ondas penetram cerca de 2 cm. No caso da cocaína, o local exato da aplicação não foi divulgado por se tratar de algo ainda em estudo.

As sessões são feitas durante 20 dias e duram 15 minutos. Custam, em média, R$ 400 cada uma. Após um mês, o paciente faz tratamento para prevenir recaídas.

Por enquanto, os resultados preliminares mostram que há, de fato, uma diminuição na fissura. E, ao contrário do que parece, a estimulação magnética não provoca choques. É bem diferente da eletroconvulsoterapia -método em que o cérebro recebe uma descarga elétrica generalizada, entrando em convulsão. A estimulação transcraniana gera um campo magnético com uma pequena corrente elétrica. A ação é local, afirma Ribeiro.

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POUCO USADA

Segundo Paulo Silva Belmonte de Abreu, chefe do serviço de psiquiatria do HC de Porto Alegre e presidente da Associação Brasileira de Estimulação Magnética Transcraniana, embora seja reconhecida, a técnica não é muito usada no país. Ela tem efeitos positivos na depressão, em psicoses que provocam alterações auditivas [como esquizofrenia], no tratamento da dor fantasma. Mesmo assim, poucos centros a usam, ainda tem muito preconceito, avalia.

Para Abreu, é importante que o método seja testado para tratar outros problemas. É uma ferramenta não invasiva que não lesa o cérebro. Quando não atinge os efeitos desejados, ela não faz mal. Segundo Abreu, a única contraindicação é para pessoas com histórico de convulsão a aplicação pode desencadear uma crise.

Os principais efeitos colaterais são leve dor local e desconforto durante a aplicação. O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, diretor do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp, é mais cauteloso. É uma técnica que está sendo estudada para vários tipos de transtornos, mas não é totalmente eficaz. O que se sabe é que ela modifica circuitos neuronais, mas ainda não é possível dizer que resolve o problema, diz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Há quatro anos trabalho com essa ferramenta (recurso) aqui em São Luis e modestamente fui o pioneiro  a trazer a EMT para nosso meio. Atualmente, minha filha Ludmila Palhano e eu fazemos esse tratamento no Instituto Ruy Palhano. Posso garantir que a EMT é um excelente método para se tratar paciente com depressões de diferentes tipos e alucinações auditivas e pacientes esquizofrênicos. A indicação para se tratar dependente de drogas ainda não foi autorizado pelo Conselho Federal de Medicina – CFM, nesse sentido, são as pesquisas que estão a todo vapor, especialmente por pesquisadores da  UNIFESP.

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A Angústia

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Angústia é uma condição que sempre despertou muito interesse em todos nós. E isso se deve à incógnita sobre sua natureza e ao imenso sofrimento que provoca nas pessoas, que a descrevem como algo insuportável. É um sentimento profundo de dor, de amargura, de solidão, de irrealização e de intenso sofrimento que ocorre nos seres humanos. É a pior expressão de amargura e de fracasso diante de nós mesmos. Traduz a insignificância humana, sua incompletude e sua pequenez.

Desde a antiguidade clássica que a filosofia, através de suas diferentes escolas, tenta descrever a angústia, desenvolvendo estudos importantes para compreendê-la. O mesmo ocorre com psicólogos, psiquiatras, geneticistas, neurocientistas, antropólogos, para desvendarem a natureza da angústia e suas diferentes formas de expressão. Por isso mesmo é que nessas áreas do saber não faltam teorias que buscam explicá-la. O fato é que, apesar de todos os avanços nessas áreas de conhecimento, permanece até os dias atuais uma grande incógnita.

Nesse artigo, trato do enfoque médico, em que a angústia é considerada um sintoma grave de distintas doenças, entre as quais a doença mental. Esse enforque, todavia, não desconsidera que a angústia possa estar presente em muitas outras condições humanas.

O termo angústia se origina do latim “angustia”. Indica algo desconfortável ou doloroso como apertar, sufocar, esganar, atormentar, estreitar, brevidade, escassez, concisão. É um mal estar profundo, inexplicável, indefinível e inarrável, um medo sem objeto determinado (que é diferente de outros tipos de medo e que possuem um objeto definido). A sensação é de “estreiteza, limite, redução, restrição, aflição intensa, ânsia, agonia, sofrimento, tormento, tribulação”. Em todas essas conotações depreende-se algo que estreita a própria existência das pessoas nessas condições. Vejam que uma expressão comum dos que padecem de angústia é a de aperto insuportável no peito que o sufoca e o deixa sem respirar, põem a mão no peito como se sufocados.

Já vimos que, como sintoma, a angústia pode estar presente em muitas condições médicas e psicossociais e, entre essas, a mais referida é na depressão, considerada por muitos como uma das piores doenças humanas. Não é à toa que a depressão responde por mais de 80% dos suicídios, fato que já demonstra o grau de significância dessa doença na nosologia médica. Boa parte do sofrimento intenso relatado pelos depressivos relaciona-se à angústia, a qual se confunde com a própria depressão, antítese primária da condição fundamental aspirada por todos nós que é o prazer.

Nessa perspectiva, a angústia reforça os efeitos do nosso pior inimigo, a dor, já que por natureza somos hedônicos. Na angústia, porém, a sensação de dor não é na carne, no corpo, muito menos localizada em qualquer região, é uma dor na alma, no seu sentido mais profundo e aqui não há um local que ela possa se manifestar, é uma dor na existência. Contrariamente a outro tipo de dor, não se origina do corpo, embora essa possa ser uma de suas vias de expressão. Dá-se na alma, a sede de expressão. Por isso é uma dor indefinida, inexplicável, insuportável e impalpável. Por isso mesmo o poder, o dinheiro, a arrogância, o egoísmo, a vaidade, o ostentação, o orgulho, aspirações comuns do homem contemporâneo, perdem seu sentido nas vivências angustiantes.

Do ponto de vista psicopatológico, a angústia nos recolhe para dentro de nós mesmos e nos conduz a nossa própria intimidade. Só que esse caminho é repleto de dor, medo e sofrimento. Eis porque tanta gente se mata ao se deprimir. Esses perdem a importância e valor da vida, os torna sem rumo e sem destino. Emudece-nos, isola-nos e deixa-nos sós. Há algo pior que isso? Um homem sem rumo, sem valor e sem destino?

Eis a angústia, o pior sentimento dos seres humanos. É uma experiência dentro de nós mesmos, da qual poucos sobrevivem. A sensação da angústia como fenômeno do adoecer é de morte iminente. As pessoas não conseguem descrevê-la e dizem abertamente que não queriam aquilo nem para seu pior inimigo. Essa sensação revela uma disfunção severa entre o homem, os outros e sua ambiência.

Como outros fenômenos existenciais, a angústia tem intensidades variadas, manifesta-se desde uma sensação leve até severa. E surge, em geral, de forma lenta e sorrateira, aprofundando-se inexplicavelmente para o interior do ser, podendo surgir em diferentes situações.

Atualmente, verifico um tipo de angústia que se desenvolve no homem tecnológico e contemporâneo, que nasce da relação dele com a máquina (tecnologia). Verifica-se que todos esses bens e serviços tecnológicos a seu serviço têm contribuído para a construção de um ser solitário, imediatista, materialista e muito afastado de si mesmo. Os sentimentos tonam-se raros e sem profundidade, superficial e fugaz. Quando os fatos conduzem-nas para dentro de si mesmas, as pessoas se deparam com muitas dificuldades em manejar com seus próprios sentimentos, valores e senso ético, conduzindo a sensações de insegurança, perplexidade, medos e incertezas. Isso gera uma angústia que se insere no homem moderno.

Isso o define como um ser simplório, voraz, imediatista e superficial, que não se aprofunda em nada que faz, muito menos ante sua própria realidade interna. Mantêm relações superficiais com os outros e são frágeis. Não experimentam relações profundas, são conformados e se contentam com pouca coisa. Estão despreparados para grandes investidas na vida e são débeis. Não é uma angústia gerada por condições psicopatológicas obrigatoriamente, como a que vimos acima, mas produzidas por uma sociedade tecnocrática que pensa e sente muito pouco. Esse ser de consumo, oportunista e improvisado e sem origem consistente, voltado exclusivamente para uma modernidade, se angustia por pouco.

 

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Eu, os outros e o mundo

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Conversando recentemente sobre diferentes assuntos com um dos ícones da medicina brasileira e um dos mais respeitados médicos desse estado, Dr. Haroldo Silva e Sousa, meu mestre, professor e amigo, exímio cardiologista, houve certo instante que me disse: “Ruy, temos que entender o homem em sua relação consigo, com os outros e com o mundo”, é dessa forma que entenderemos o que acontece conosco e todos na vida.

Disse-lhe, Prof. Haroldo o Senhor tem razão temos que sempre ter essa visão do homem para poder entendê-lo. Depois dessa conversa, prosseguimos, tratando de outros assuntos. Já em casa, voltei a pensar na conversa que tínhamos tido e vi que a relação: eu, os outros e o mundo, representam de fato o paradigma de nossa existencialidade. Tudo ocorre e funciona a partir disso. Veja que tudo que nos diz respeito e o que se passa conosco está subjugado a essa realidade. Nada ocorre sem ser por essa via.

As circunstâncias, as rotas que traçamos para nós mesmos, nossas relações com os outros e com o mundo são atribuições e consequências diretos dessa tríade de fatores justapostos uns aos outros. De tal forma que quando algo se distancia desse triângulo, as consequências aparecerão cedo ou tarde na vida de alguém.

Atrevo-me a dizer que aquilo que entendemos como felicidade, que todos querem alcança-la, essencialmente só brota em nossos corações quando estamos em absoluto consonância e equilíbrio com essas dimensões. Só somos felizes quando essas três entidades se alcançam, a um só tempo, se unem em um único sentido por isso é difícil a alcançarmos a todo o momento, pois não é a todo o momento que estamos nesse equilíbrio desejado.

Nessa perspectiva cada dimensão desta, eu o outro e o mundo, têm identidade própria, importâncias e valores distintos entre si. São dimensões diferentes uns dos outros, porém não se sustentam isoladamente. Da mesma forma como nós, só nos tornamos seres humanos havendo plena harmonia entre nós, os outros e o e o mundo. Nessa triangularidade é que serão construídos e garantidos todos os pressupostos necessários para uma vida promissora e feliz. E, entendo que o resultado dessa triangulação é que vai dar sentido á nossa existência.

Há teorias que julgam que nós humanos somos o centro do universo, e as outras coisas secundárias á isso – antropocentrismo. Outras vêm na natureza (o mundo), o centro de tudo e a razão da própria vida – geocentrismo. Por último, há os que afirmam serem as relações sociais a razão maior da vida humana(sociogênese). Todas essas teorias têm suas razões, mas vejo que nenhuma dessas sozinhas, faz qualquer sentido. A primazia da existência está nas relações entre essas diferentes forças especiais e singulares interagindo entre si, isso faz brotar a vida que temos e o que somos.

O ambiente, o ar, as árvores, os animais, os rios, o mar, os sons, a lua o sol, o céu, a noite, as estrelas, o infinito, o outro e tudo mais, que nos toca, nos diz respeito e que ocupa nossa consciência, nos compõem. O mundo, nós e os outros formamos um único ser através da qual nos definimos, damos sentido á nossa existência. Essa relação triangular é tão estreita, que se tornam inseparáveis, íntimas imprescindíveis umas as outras, surgindo, por isso mesmo, algo novo e uma nova ordem nessa relação. Essa nova realidade, somos nós.

No transcurso da vida, dependendo das circunstâncias, haverá momentos em que o eu se sobressairá sobre o outro e sobre o mundo. Em outros, o mundo se sobressairá sobre o eu e o ou outro e haverá outros momentos em que o outro se sobressaíra sobre o eu e o mundo. Mas nunca se separam na relação. Essas dimensões estão ligadas intestinamente uma a outras garantindo a viabilidade da vida. É através dessa dialética e dessa dinâmica existencial que a vida caminha. A flexibilidade entre essas dimensões é que irá definir e garantir a primazia da nossa existência

Portanto, nós, os outros e o mundo somos facetas distintas de um mesmo fenômeno, onde reside a essência da vida humana. Achar que somos uma coisa totalitária independente é um tremendo equívoco. Temos que ter e desenvolver uma consciência plena e total, onde somos uma parte importante no processo do viver, mas sem o outro e o mundo os quais nos cercam, fatalmente iremos fracassar.

Essa é a visão singular da vida que nos dá autonomia e a certeza de nossa existência. É a partir dessa visão biopsicossocial e geopolítica do ser, que garantiremos e damos sentido da de nossa existência. A valorização só de um aspecto dessa trindade sagrada desrespeitaria, em principio, a universalidade da nossa existência.

 

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A marca social da violência

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É cada vez mais improvável que, nos próximos anos, venhamos a viver a paz social. As guerras, os crimes, as injustiças, as desigualdades e, sobretudo, a violência em suas diferentes formas de expressão, provocam em cada sujeito marcas indeléveis de indignação, insegurança e medo. São práticas tão comuns que além de provocarem sensações graves de insegurança, nos dão a impressão de que já estão incorporadas em nossa cultura e em nosso modo de vida.

A violência social e pessoal é um tema que abastece a grande mídia nacional. Vejam que boa parte do tempo dos noticiosos, dos telejornais e de outras mídias é dedicado ao anúncio de fatos violentos, sendo muitos com requinte de crueldade. Os anos passam, as queixas se avolumam e parece que estamos cada vez mais imobilizados diante do avanço sistemático dessa violência entre nós.

A violência, do ponto de vista comportamental e fenomenológico, pode ser considerada sob dois aspectos: como um epifenômeno, em que suas as raízes estariam ligadas a fatores pessoais e sociais de diferentes matizes, os quais colaborariam para sua expressão final. Seria, então, a “ponta do iceberg”, uma espécie de sintoma cujas causas verdadeiras estariam escondidas. Isto é, a violência como um sintoma que esconde a verdadeira doença e, esta, por sua vez, expressaria as profundas contradições e desagregações, tanto individuais quanto sociais, comuns na atualidade.

Por outro lado, por se tratar de algo frequente, comum e, quiçá, já incorporado à cultura, a violência seria fenomenologicamente “a própria doença” e não sintoma, com identidade e autonomia no contexto psicossocial. Portanto, a violência se transformaria em um padrão de comportamento psicossocial a inspirar outros comportamentos sociais.

Há verdades em ambas as afirmações. A presença da violência em grande escala e sem controle social, como a vemos na atualidade, provocaria tanto uma coisa quanto a outra, representaria duas faces distintas de uma mesma moeda.

Comumente, as pessoas só se dão conta de seus efeitos revelados por medos e inseguranças e nada mais. A indiferença ao fato causador, entremeada à banalidade de sua ocorrência, passa a ser a regra. As manifestações de indignação dão-se de forma localizada e isolada, dissonantes das medidas públicas que são precariamente utilizadas para seu enfrentamento.

Tais fatos colaboram para a construção de um novo ser humano, autor e vítima do próprio comportamento. Um homem indiferente, frio e insensível às questões sociais. Um homem que só se preocupa consigo e com seus interesses e nada mais. É um novo ser que está sendo construído pela sociedade moderna, indiferente à dor e ao sofrimento do outro, um homem que a cada dia pratica a maldade com requintes de crueldade, um homem distante da ética, da bondade da crença, da fé, um homem que cultiva o desamor, arrogância, onipotência, ávido pelo poder, pela posse, sem solidariedade e sem humanidade, entre outras coisas. Um homem que expressa a própria violência em sua natureza.

O legado dessas transformações antropológicas e sociais contemporâneas produz um homem sem autocrítica. Por isso mesmo, matam-se uns aos outros, como se não fizéssemos parte uns dos outros. Destruímos as plantas, os animais e o meio ambiente, como se fôssemos alheios aos mesmos. Exortamos e praticamos o ódio como se fosse um instrumento de defesa, não de autodestruição. Eis a matriz da violência. Não é o trânsito que mata, as drogas que destroem a humanidade, muito menos a injustiça que nos destrói, muito embora se saiba que cada um desses fatos é sumamente importante na definição de nossa sociedade. O essencial é que tudo isso nós mesmos inventamos e seremos nós que haveremos de mudar.

Somos autores, atores e diretores de nossa história, de tal forma que para mudar nosso script atual, temos de rever o que está escrito dentro de cada um de nós para podermos alterar nosso destino.

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Homenagem justa ao Delegado Silas Amaral

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http://www.marcoaureliodeca.com.br/2014/04/11/delegado-maranhense-recebe-segunda-homenagem-internacional/

 

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A família e o tratamento de dependentes de drogas

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A dependência química é uma patologia grave, em que inúmeros fatores colaboram para sua configuração clínica e psicossocial. Desenvolve-se de forma lenta e insidiosa e vai aos poucos tomando conta do sujeito. Considero, entre todas as doenças mentais, ser a que tem o maior poder deletério, considerando que praticamente todas as dimensões humanas são destruídas pela doença. Aos poucos vai (re)definindo a vida e o comportamento dos usuários, provocando uma verdadeira “mutação ontológica” chegando a ser tão patogênica que os próprios usuários não se dão conta  das mudanças que estão ocorrendo.

Baseando-se nas transformações que vão ocorrendo nesse sujeito devido à progressão do consumo das drogas, pode-se dizer que há uma personalidade antes e depois de se adoecer. Adotam um novo estilo de vida e quanto mais dependentes, maiores serão tais mudanças. As novas características comportamentais que vão surgindo se dão com a evolução da doença, os comportamentos anteriores vão dando lugar a comportamentos antiéticos, irresponsáveis, desajustados, violentos, podendo inclusive surgir sintomas psicopatológicos graves provocados pelos danos cerebrais por uso dessas substâncias.

Por outro lado sabe-se que as pessoas que adentram ao mundo das drogas são sujeitos sociais, que não estão desvinculadas dos contextos sócio-ambientais e que não estão sós na vida. Têm família, amigos, patrões, colegas e se relacionam com muitas áreas que fazem parte de sua existência. Além do mais, muitos estudam, trabalham, produzem, de tal forma que as transformações nele provocadas certamente atingirão outras dimensões relacionais de diferentes maneiras.

Em razão disso, a família, por ser a instância mais próxima de nós e a mais importante da formação de nossa personalidade, é a mais afetada por esse problema. Concomitantemente às mudanças que vão ocorrendo com o usuário de droga, existirão progressivamente novas adaptações funcionais na sua família.

Passam então a travar uma luta inglória e ferrenha contra o problema que se insurge. Resistirão a se “ajustar” a esse “novo sujeito”. Passam, então, a viver uma vida cruel e sofrida onde o sentimento predominante é de desalento, desamparo, revolta, indignação, pena, tristeza e solidão, além de frustração e impotência.

A família não é apenas a mais afetada, é também a primeira a buscar ajuda e apoio diante do problema. Buscam esse apoio primeiro entre si, depois em outros parentes, amigos, vizinhos, padre, pastor, patrão e assim por diante.  Mesmo assim, a ajuda e a mudança esperada muitas vezes não chegam.

A angústia, a revolta, o medo crescerão, passarão a fazer parte dessa família, ao ponto de algumas delas se desesperarem sem saber o que fazer. Apesar de ser nela que desaguarão todas essas mazelas, é também nela que estão as bases para se ajudar o usuário. É na família que haveremos de encontrar  apoio e orientação para se ajudar um dependente químico. Desde a motivação para fazer um tratamento, até mudanças comportamentais entre os próprios membros da família, necessárias à recuperação desse enfermo.

É tão importante o apoio que a família deve dar a essas pessoas, que pode definir o prognóstico de recuperação dos doentes. Os dependentes químicos que têm apoio familiar recuperam-se bem mais se comparados com aqueles que não têm esse apoio. Apesar disso, nessa luta, nem sempre os pais são vitoriosos, tendo em vista a gravidade desse transtorno. Ao mesmo tempo, não se pode pensar em desistência, pois há sempre uma esperança de recuperação .

Porém, quando ocorre o infortúnio de a família também adoecer, juntamente com o dependente químico, o que é muito comum nos dias atuais, a ponto de se fragilizarem e não terem mais condições de ajudar o dependente, recomenda-se que busquem tratamento não só para o doente, mas em seu próprio benefício.

 

 

 

 

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