Define-se prevenção de recaída, como estratégia de natureza médica e psicossocial aplicada por diferentes técnicas e métodos com o intuito de evitar o reaparecimento de diferentes doenças, posterirormente a um tratamento. Recair, é retomar, retornar, vir a acontecer, reaparecer etc. Em medicina, muitas doenças são insinuantes e sempre tendem a reaparecer, de tempos em tempos, independente do tratamento que receberam.
Em artigos anteriores tomamos a depressão como exemplo de uma das doenças mentais que mais tendem a recair, mesmo que tenho sido bem feito o tratamento da crise. Dissemos, também que quanto maior o número de crises depressivas que alguém venha a ter, maiores serão as chances dessas pessoas, voltarem a adoecer. Daí porque, no tratamento das depressões, exige-se que o médico estabeleça desde cedo as orientações devidas para prevenir outras crises que poderão surgir ao longo da vida desses enfermos.
Os fármacos, são medicamentos altamente eficazes, tanto para o tratamento de crises agudas, quanto de prevenirem recaídas entre essas patologias. Os estabilizadores do humor, os antipsicóticos e ansiolíticos são medicamentos altamente efetivos que são aplicados com finalidade preventiva. Todavia, é bom que se diga, que prevenção de recaída, não ocorre somente através da utilização de medicamentos, embora esses sejam os mais utilizados. Pode se também utilizar meios físicos, como Eletroconvulsoterapia – ECT e Estimulação Magnética Transcraniana – EMT, para se chegar a essa finalidade. Técnicas de psicoterapia, terapia comportamental e ocupacional são outros procedimentos e estratégias muito efetivas, largamente utilizadas em terapêuticas para se prevenir a recorrência de uma doença. A preferência ou escolha de uma dessas estratégias, ou várias dessas estratégias, dependerá do diagnóstico e da situação clínica do enfermo.
Graças aos novos conhecimentos da clínica psiquiátrica, da neurociência e dos conhecimentos baseados em evidências clínicas, que não se pode pensar em tratar somente das crises agudas desses enfermos. Deve-se, desde o início, pensar em prevenir recaídas. A equação é mais ou menos essa, em se tratando de depressão: quem teve uma crise na vida, terá cerva de 30% de chance de ter a segunda. Se, essa mesma pessoa relatar que já sofrera de duas crises depressivas, sua chance de ter a terceira será de 50 a 60%. Se, por acaso, já tiver tido três crises ou mais de depressão, sua chance de ter outras será de mais de 75% de chance. Mais de três crises na vida terá 100% de chance de ter outras. Esse conhecimento da evolução dessa doença serve de base para se garantir a necessidade de se fazer prevenção e não permitir que esse enfermos voltem a adoecer.
Nos guide lines, (orientações para se realizar os tratamentos) psiquiátricos, todos recomendam a adoção de prevenção de recaídas, independente do tratamento que seja oferecido a esses enfermos em suas crises atuais, justamente pela certeza da recorrência dessas enfermidades.
Pode e dever ser instituída praticamente em todas as grandes doenças mentais, entre essas: esquizofrenias, dependência química, transtorno bipolares, depressões etc. Ela está sendo utilizada em muitas outras especialidades médias. Todas as doenças humanas que evoluem cronicamente, independentes de sua natureza, atualmente se recomenda essa estratégia. Entre essas, destacamos doenças metabólicas, doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e muitas outras. De tal forma que é cada vez mais imperioso prevenir que remediar.
Só á guisa de informações, a Organização Mundial de Saúde – OMS em seu relatório anual sobre doenças mentais/2014 mostrou que 45 % dos doentes depressivos recaem por desuso ou uso incorreto de medicamentos, (interrupção indevida do uso de medicamentos, subdoses terapêuticas, reduzido tempo de tratamento, doses irregulares, etc).
Outro aspecto relevante são os custos financeiros com os tratamentos de crises. As famílias sabem que pesa muito no bolso custear o tratamento desses doentes. Pois, o tempo previsto de tratamento, os custos com internação hospitalar, com os medicamentos ou outros procedimentos utilizados para esses tratamentos, acabam onerando muito as famílias, provocando mais sofrimento para todos.
Dissemos acima que a resposta aos medicamentos é muito influenciada pela condição evolutiva dessas doenças. Quanto menor número de crises, melhor será a evolução, melhor será sua recuperação e melhor será sua qualidade de vida. Como são enfermidades que evoluem cronicamente, as recaídas sucessivas, dificultam a recuperação desses enfermos pela baixa resposta aos medicamentos de tal forma que o melhor que pode fazer é prevenir.