O médico, a medicina e as próteses.

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Ainda fervilha na opinião pública, nas redes sociais e em todos os cantos desse país, as denúncias feitas pelo Programa Fantástico envolvendo médicos e uma série de outros profissionais às voltas com vários tipos de crimes e irregularidades. De fato foi algo lamentável, porque não dizer vergonhosa, a matéria veiculada pelo programa da Rede Globo. E, ao que tudo indica, nesse domingo, serão anunciadas, pelo mesmo programa, mais outras irregularidades no mesmo sentido das denúncias de domingo passado. Quanto a participação dos que se dizem médicos nessas irregularidades e crimes, vejo que há uma necessidade de nós, desde logo, separarmos essas práticas das práticas de médicos que de fato assumiram seu compromisso ético com a sua profissão.

Digo isso, porque o médico, essencialmente, em sua singular profissão e no pleno exercício dela, jamais praticaria os atos denunciados pela reportagem. A prática médica se notabiliza, entre outras coisas, pela busca incessante da honradez, da abnegação profissional, da bondade e amor aos outros, do humanismo e, finalmente, pelo cumprimento dos preceitos éticos de Hipócrates. Através desses valores e sob a égide de Deus, buscamos a proteção dos seres humanos, defendendo-os contra as enfermidades, o sofrimento, as angústias e a dor. E, tudo isso realizado com competência, humildade, zelo e dedicação. Esses são seus valores maiores.

Um médico, ao exercer seu soberano compromisso profissional na defesa da saúde e inspirados em sua consciência moral e cristã, jamais provocaria uma doença em alguém para auferir lucro. Jamais, trabalharia pelo ganho ilícito e venal de dinheiro. Jamais, negociaria sua consciência por “pedaços de metal” ou por outra coisa, seja pra qual fim estivesse sendo utilizada, mesmo que para atender necessidades médicas. O médico, jamais, se renderia ás propinas, corrupção, negociatas ou a qualquer outro ato ilícito que não seja o baseado no trabalho ético, honesto e competente.

A reportagem do Fantástico, ao colocar essas denúncias contra o médico, da forma contundente como estão sendo feitas, realçando atividades antiéticas e criminosas por parte desses profissionais, está sendo no mínimo injusta e inconsequente. Injusta, pela generalização, parcialidade e sensacionalismo da matéria, a qual pôs inadvertidamente os médicos e suas práticas no centro de atividades desonestas, criminosas e antiéticas, sem distinguir valores, ferindo sua imagem ética e social. E, inadvertidamente, pelo fato dos repórteres da TV Rede Globo não terem tido o cuidado de investigar melhor e com profundidade o assunto, para verificar as causas profundas de suas denúncias sobre os crimes e as mazelas que há em diferentes setores da saúde desse país, que vai muito mal, por sinal, há muitos anos, pois essa se encontra acéfala e absolutamente desconectada com as reais necessidades de assistência em saúde da população brasileira. Os repórteres, certamente, no afã midiático do sensacionalismo, não souberam separar o joio do trigo. A matéria enfatiza comportamentos espúrios e enfatiza a generalização desses comportamentos como se fossem práticas comuns entre os médicos, atingindo a todos indistintamente, e na história da medicina e em suas práticas, não é isso que se vê.

A matéria desconhece o esforço gigantesco e competente realizado pelo Egrégio Conselho Federal de Medicina – CFM, que há anos vem propondo medidas ético-jurídicas e legislativas, através de resoluções e pareceres e de estudos técnicos sobre esse assunto, no sentido de disciplinar, corrigir distorções e orientar procedimentos quanto a conduta dos colegas, das instituições dessa área, em políticas públicas sobre a temática, inclusive punindo severamente os médicos envolvidos com falcatruas nessa área, sendo excluídos do exercício profissional após terem sido julgados e condenados pelo próprio CFM.

Que esses que se dizem médicos, juntamente com os lobistas, donos de empresas que produzem órteses e próteses, os agenciadores, alguns gestores de unidade de saúde e, vendedores desses produtos, nesse processo os quais tergiversaram e cometeram esses crimes graves, deverão ser penalizados com rigor e sem complacência. Agora, colocar a imagem do profissional médico de forma generalizada e sem escrúpulo no imaginário social como se todos fossem larápios e criminosos e caloteiros, da forma como caracteriza a reportagem, é desconhecer amplamente o papel relevantíssimo que 400 mil médicos, que nesse país trabalham honestamente, honram sua profissão, às vezes ganhando salários aviltantes e mesmo assim permanecem trabalhando, onde sob a égide de seus preceitos éticos, salvam vidas e minimizam a dor e sofrimento dos outros. Essa reportagem está sendo no mínimo, injusta.

As denúncias foram feitas sobre práticas que não estão adstritas aos preceitos éticos e médicos. Foram ações realizadas por caloteiros, propineiros, corruptos, quadrilha de marginais, e não por médicos. Os envolvidos com esses crimes, que foram identificados como tal, não honraram suas profissões, a ética médica e sua consciência humanitária e feriram gravemente os princípios e preceitos sagrados de uma boa prática médica. Esses criminosos não devem macular uma profissão milenar que ao longo dos séculos, o que vem fazendo é proteger a todos contra a morte, a dor e o sofrimento, portanto, não poderiam ser crucificados e desconsiderados drasticamente como fora feito pelo programa Fantástico da Rede Globo.

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