“Um ponta – pé na bunda”

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Finalmente encerran-se os debates em torno da
redação final da chamada “Lei Geral da Copa”, um texto que regulamentará os jogos
da copa do mudo de 2014. Alguns temas polêmicos desde o início esquentaram os
debates sobre a lei, entre os quais, a liberação do consumo de bebidas
alcoólicas nos estádios brasileiros por ocasião dos jogos.

Da forma como o projeto foi apresentado para o debate no
Congresso Nacional não havia muito que fazer para mudar as exigências da FIFA.
Mesmo assim, esperava-se que os parlamentares, especialmente acerca da
liberação de bebidas alcoólicas nos estádios, pudessem dar outro rumo à questão,
já que sabidamente o consumo de álcool neste país é um grave problema de saúde
pública.

Mas isso não aconteceu. Enquanto na Câmara dos Deputados passou-se
mais de seis meses debatendo a assunto, no Senado Federal, sob rigorosa pressão
do executivo, pelo menos é o que alegam alguns, não houve demora e logo a
matéria foi aprovada na íntegra, conforme texto enviado pela Câmara.

Que pena! O parlamento brasileiro, ao aprovar essa lei, perdeu uma
grande chance de demonstrar seu compromisso em defender nossos interesses e não
se subordinar à pressão econômica de grupos internacionais que não querem saber
se temos ou não problemas com álcool.

O consumo de álcool entre nós representa um grave problema na
área da saúde pública. Infelizmente não disseram isso ao aprovarem a lei, mas
ao contrário, demonstram-se indiferentes às inúmeras questões do consumo de
álcool. Apresentaram à população brasileira desculpas esfarrapadas para
justificar seus votos. Mas nós sabemos que, no fundo, o que estava em jogo são
lobbys poderosos de representantes das indústrias internacionais fabricantes de
cervejas e de outras bebidas. Nosso país se curvou aos interesses da FIFA,
muito bem representada pelos Srs. Blatter e Jérôme, este último protagonista do
episódio do “pé na bunda” na comissão organizadora da copa.

O que fizeram com a aprovação desta lei foi rasgar um
dispositivo histórico que tínhamos em nossas mãos, o Estatuto do Torcedor, que
proibia a venda destas bebidas nos estádios há 10 anos, interferindo nos
gravíssimos problemas que tivemos com essa prática nesses ambientes. Com o Estatuto,
houve uma redução drástica da violência nos estádios, que resultou em redução
de mortes de muitos torcedores.  Nada disso
adiantou, rasgaram o documento e autorizaram a venda de álcool.

Os parlamentares aprovaram um documento que, entre outras coisas,
mantém os índices de 70% dos acidentes de trânsito que estão relacionados ao
uso de bebida alcoólica. Ignoraram que, destes acidentes, 60% dos envolvidos
morrem no local; que mais de 90% dos homicídios brasileiros são cometidos sob a
influência de álcool; que 1/3 dos suicídios, idem; que 25% dos acidentes de
trabalho estão relacionados ao consumo de álcool e altos índices de absenteísmo
laboral.

Então vejam: o que o parlamento nacional fez, ao aprovar a Lei
Geral da FIFA, foi referendar outros interesses que não os nossos. Desconsideraram
o sofrimento da população na luta pela redução do consumo de álcool entre nós. Agora
o Sr. Blatter e o Sr. Jérôme não se preocuparão mais com os atrasos das obras, muito
menos com a votação de seu projeto no Brasil, “país do futebol”. Agora, seus
interesses estão garantidos, tudo é festa e sorrisos de ambos os lados. Jamais
mandariam de novo um “ponta-pé na bunda” de ninguém,
porém nós brasileiros envolvidos com a saúde coletiva, com a moralidade
pública, com o bem estar e a segurança de nossa população, poderiam tê-lo feito.

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