Consumo de álcool começa aos 11 anos
Pesquisa divulgada ontem revelou que 37% dos jovens em tratamento por uso abusivo de álcool no Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) começaram a beber entre os 11 e 13 anos. E que metade dos 512 pacientes entre 12 e 17 anos atendidos lá têm pais ou parentes próximos com problemas relacionados ao consumo de álcool. O psicólogo Wagner Abril Souto, autor da pesquisa e coordenador do Programa de Adolescentes do Cratod, diz que, apesar de, na amostra, o número de meninos ser maior que o de meninas, não há diferença entre a quantidade de álcool consumida. Segundo ele, quanto mais cedo o contato com o álcool, maiores os problemas causados e maior a chance de dependência. “Jovens que bebem podem ter prejuízos na formação da personalidade.” O psicólogo explica um dos riscos: “O jovem pode usar o álcool para resolver problemas emocionais típicos da adolescência.” Outros problemas são: baixo rendimento escolar, maior suscetibilidade à transtornos psiquiátricos (como ansiedade e depressão) e, como revelou pesquisa da Universidade de Washington, nos EUA, maior dificuldade na tomada de decisões na vida adulta. Outro dado preocupante revelado pela pesquisa é a influência de parentes no consumo de álcool entre os mais novos. A presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), Analice Gigliotti, explica que isso se dá de duas formas: hereditariedade e pelo exemplo dado em casa. A psiquiatra, que é coordenadora do Setor de Dependência Química do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, explica que a tolerância ao álcool pode passar de pais a filhos. “Isso pode passar hereditariamente”, diz. Ou por meio do comportamento. Ela cita a frase “dar o exemplo não é a melhor maneira de educar, é a única” para dar a dimensão do poder dos pais de influenciar os jovens. O outro problema apontado por ela é a facilidade com que um jovem tem contato com bebidas alcoólicas. “Nossa sociedade é muito permissiva.”