O Pânico em época de pandemia

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              Pouco tempo depois que a OMS anunciou a pandemia da COVID 19, em abril deste ano, em maio passou-se a falar sobre as “ondas” que poderia ocorrer na disseminação dessa doença. E, as ondas, nada mais seriam que as flutuações epidemiológicas que ocorreria no curso natural da pandemia.  Destacava-se, quatro grandes “ondas”, sendo que a quarta onda, corresponderia ao incremento de doenças emocionais, mentais e comportamentais que surgiriam no curso natural da pandemia.

              A OMS estava certa. De fato, o que houve foi um gigantesco incremento de ocorrências psiquiátricas, emocionais e comportamentais de diversos aspectos clínicos e diagnósticos que surgiram no curso da pandemia. Os transtornos de ansiedade são as ocorrências mais frequentes no conjunto desses fatos, especialmente o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), o transtorno de ansiedade generalizada (TAG), a síndrome do pânico e outros transtornos mentais. Na sequência, houve o incremento de transtornos do humor, especialmente a depressão, de bipolaridade e abuso de álcool e de outras drogas. Além de todas essas ocorrências não podemos deixar de destacar no espectro desses transtornos o aumento do número de suicídios, de feminicídio, de violência doméstica, de separação conjugal e muitos outros problemas na área criminológica e social.

               Nesse artigo tratarei, especificamente, da síndrome, ou doença ou ainda transtorno do pânico, uma condição absolutamente desagradável, ameaçadora e angustiante que algumas pessoas apresentam na vida. Ressalta-se, que a palavra “pânico” remonta da Grécia antiga, da figura mitológica do Deus Pan. Segundo a mitologia grega, Pan era um Deus extremamente feio (metade homem, metade cabra) vivia isolado entre as montanhas da Arcádia (província da Grécia antiga), para não ser visto pelas pessoas. Quando Pan aparecia em Ágora (um local ou espécie de praça pública) onde as pessoas se reuniam, elas ficavam horrorizadas, assustadas, desesperadas com a presença horripilante do Pan.  Sentiam verdadeiro horror e pavor, e procuravam se afastar de lá imediatamente, por isso o nome, pânico.

              Nos últimos anos, inúmeros estudos e pesquisas tem sido desenvolvido, no mundo todo, com o intuito de se conhecer melhor a denominada “Síndrome do Pânico”, tanto nos aspectos clínicos, quanto os tratamentos psicológicos, biológicos ou psicossociais realizados para seu controle.

               Historicamente, desde Freud, já havia referências sobre essa doença. Na época ele analisava pessoas que apresentavam sintomatologia da doença de pânico, muito embora, na ocasião, as descreviam como portadoras de “ataques de ansiedade”, incluídas na categoria das chamadas neuroses atuais. Em um desses casos, detectou um “retorno de experiência traumática relacionadas com algum acontecimento trágico do passado”. Mas as teorias psicanalíticas, mesmo depois de muito aperfeiçoamento, esbarram em sérias dificuldades para explicar por que os pacientes apresentam tais quadros clínicos.

                Na atualidade, os mais importantes estudos sobre o Transtorno do Pânico ocorrem na área da Psiquiatria e da Neurociência, as quais explicam esse transtorno a partir de disfuncionalidade do sistema nervoso central- SNC, do ponto de vista, biológico e neuroquímico. Haveria, por assim dizer, uma disfunção acentuada e específica na regulação da ansiedade, em áreas especiais desse sistema (septo, amigdala e hipocampo), levando a produção dos sintomas hoje conhecidos que fazem parte da doença do Pânico.

                Outra área muito importante que abriu fabulosos caminhos para desvendar esse transtorno é a psicofarmacologia clínica, capítulo da farmacologia que trata dos psicotrópicos, medicamentos largamente utilizados em psiquiatria e outras especialidades médicas. 

                Outros avanços, verificados nos últimos anos foi na psicoterapia desses pacientes. Entre as várias abordagens psicoterápicas, a mais recomendada atualmente a terapia cognitivo-comportamental – TCC. Os melhores resultados socorrem quando associamos essa terapia com a abordagem médica.

            Os ataques de Pânico (TP) ocorrem de forma súbita, repentina e inesperada, sem motivo aparente, sendo um estado de intensa ansiedade. Nesses momentos os pacientes se sentem apavorados, com um terrível medo de morrer ou ficar “louco”. Esses ataques são acompanhados de sintomas físicos, psíquicos e comportamentais, intensos e difusos. Os enfermos passam mal subitamente, independente de onde estão ou o que estão fazendo, e rapidamente atinge uma intensidade máxima em poucos minutos, pois cada ataque, dura em média entre 25 a 30 minutos e mesmo sem intervenção médica, o ataque se encerra. Os sintomas físicos e psicológicos estão descritos abaixo. Outra particularidade, é que, para se firmar o diagnóstico definitivo de Transtorno de Pânico (TP), esses ataques deverão ocorrer no mínimo uma vez por semana associados aos outros requisitos, apontados acima. Eis, alguns dos seus sintomas:

1) Falta de ar (dispneia) ou sensação de asfixia

2) Vertigem, sentimentos de instabilidade ou sensação de desmaio

3) Palpitações ou ritmo cardíaco acelerado (taquicardia)

4) Tremor ou abalos

5) Sudorese

6) Sufocamento

7) Náusea ou desconforto abdominal

8) Despersonalização ou desrealização

9) Anestesia ou formigamento (parestesias)

10) Ondas de calor ou frio

11) Dor ou desconforto no peito

12) Medo de morrer

13) Medo de enlouquecer ou cometer ato descontrolado.

           Há Transtorno do Pânico com ou sem agorafobia, que é um medo de estar em espaços abertos ou no meio de multidões. Agorafobia, muitas das vezes, é consequência de sucessivos tratamentos malsucedidos ou mal orientados, ou por uso inadequado de medicações, ou pelo fato da pessoa não ter tido a oportunidade de procurar   um especialista precocemente, antes mesmo da doença se tornar crônica.

             Vale a pena lembrar que, para o médico formular o diagnóstico de Transtorno do Pânico, faz-se necessário, a realização de exames clínicos e laboratoriais, para saber se o paciente não é portador de outras doenças, que podem provocar também ataques agudos de ansiedade.

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