O Medo

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É certamente, um dos mais importante e poderosos sentimentos humanos. E, em conjunto com outras importantes ferramentas de sobrevivência, promoção e proteção da vida, é um dos que mais se utiliza ao longo do tempo. O medo nos faz chorar, refletir, recuar, evitar, reagir, fugir e enfrentar situações de perigos e ameaças, e tudo isso, com um único propósito, garantir a vida. Essa busca permanente e incessantemente de proteção da vida é comum também em todos os outros seres vivos, dos mais simples aos mais complexos na cadeia zoológica, e em todas as reações de medo, aparecessem como fundamentais para mantermos tais prerrogativas.

                Hoje, modernamente, em psiquiatria, psicologia, e neurociência, sabe-se que dispomos de inúmeras outras ferramentas ou dispositivos neurofuncionais, psicológicas, emocionais, cognitivas, intelectivas, afetivas e outras, que estão à nossa disposição para garantir os pressupostos básicos da existência: comer, dormir, procriar, proteger etc.

              São dispositivos endógenos, que a natureza nos brindou, que se bem-dispostos podermos viver adequadamente, em todos os sentidos. Todas essas funções, das mais simples às mais complexas, representam um sistema ultra complexo de funções, as quais garantirão de forma efetiva e saudável, nossas vidas. A mobilização e a utilização de cada uma dessas ferramentas ou desses dispositivos, ocorrerão sempre em bloco, em respostas aos mais distintos eventos que se nos impõem e, dependendo das circunstâncias, iremos utilizá-las predominantemente, uma ou outra, para atender a tais demandas. Isto é, para que haja uma plena harmonia nas vivências humanas, deve haver permanente mobilização de tais ferramentas, para fazer face a cada situação. Atitudes e/ou comportamentos, são respostas em bloco dessas diferentes formas de nos reagirmos adaptamos nesse conjunto de estímulos.

                 Por exemplo, quando alguém, dirige, essas funções todas praticamente estão presentes, porém a ferramenta que mais se sobressair entre as demais, será a atenção, muito a embora a memória, a concentração, as funções executivas, e outras funções cognitivas, estejam presentes, colaborando para a execução do ato de dirigir. A atenção, nesse caso, é a ferramenta mais importante, entre as outras, muito embora as outras estejam presentes. Esse entendimento é um dos mais atuais do ponto de vista neuropsicológico que existe para se explicar os comportamentos humanos.

                  Faço essa preleção, para inserir o medo, nesse contexto. Ele, é indubitavelmente, quem nos faz perceber ameaças, perigos ou outras situações adversas a nossa segurança. É quem nos afasta de tais ameaças e adversidades, que podem ser desfavoráveis à nossa vida. É o medo, que nos diz o que fazer quando algo ameaçador se aproxima.

                 O medo se manifesta desde a mais tenra idade, e prossegue ao longo da vida, até a morte. O choro, o desespero e o espernear incontrolável de uma criança que ocorre ao nascer, tem muito medo por trás dessas reações. E, dentro dessa perspectiva, as sensações e reações fisiológicas e comportamentais, específicas, observadas nessas condições, são respostas complexas de uma emaranhada rede de eventos neuro funcionais e circunstâncias que se sucedem, hierarquicamente e em cadeia dentro de nosso cérebro, onde o hipocampo, órgão da memória e importante componente do sistema límbico, irá comparar as experiências de medo, vividas anteriormente pela pessoa. Simultaneamente, o córtex pré-frontal, região também complexa do Sistema Nervoso Central – SNC, estrutura que comanda outras funções nobres do nosso comportamento, integrará as informações sensoriais, emocionais e culturais para formular os planos de ação a ser utilizada em situações de risco e emergência. Por último, a amígdala, uma outra estrutura do sistema límbico, dispara as reações de alarme, medo, com diferentes intensidades, ante as situações de perigos a que estamos submetidos. Essas reações se dão em cadeia e, a partir de então, serão executadas um enorme conjunto de reações, psicossociais, próprias desse estado, para enfrentar ou fugir do perigo.

             Essas reações de medo, são universais e todos organismos que dispõe dessas estruturas cerebrais, certamente responderão da mesma forma. Cada pessoa tem uma forma própria de reagir ao medo, por isso mesmo, há pessoa mais vulneráveis e outros menos vulneráveis aos medos, definindo-se aí os mais ou menos corajosos, que enfrentam melhor as situações de perigo e os mais ou menos medrosos, que enfrentam com menos habilidades tais situações.

             Por se tratar de uma função vital à sobrevivência humana, ela pode, como outras funções, apresentar diferentes alterações. Uma delas é a fobia, condição psicopatológica grave, que altera a funcionalidade emocional, afetiva, e social das pessoas e as predispõe a comportamentos díspares, sem os propósitos originais de sua base geradora. Fobia é, portanto, um medo inadequado, persistente e duradouro, que merece tratamento médico especializado.

            Outras condições são: ataques de pânico, pavor súbito, avassalador, onde as pessoas sentem que irão morrer repentinamente, sem qualquer razão plausível. A fobia social, um medo, imobilizante, inexplicável de ser criticado e/ou ridicularizado, em público. Episódios depressivos, onde os temerosos são infundados. Estados agudos e crônicos de ansiedade, são também condições que podemos encontrar indícios de disfuncionalidade do medo. Há ainda os frios, insensíveis patologicamente indiferentes às ameaças, são os falsos corajosos, psicopatas, que não possuem mecanismos adequado para avaliarem corretamente as ameaças e perigos, entre outras coisas.

             Ainda há, os portadores de uma síndrome rara chamada Urbach-Wiethe, em que, até onde se sabe, é um distúrbio genético em que haveria uma calcificação da amígdala cerebral e essas pessoas, que são apenas 400 portadores no mundo, se tornaram impossibilitados de sentirem medo, portanto, não esboçarão todo o cortejo de sinais e sintomas, previstos nessas reações. Além da impossibilidade de não sentirem medo, apresentam voz rouca, pequenas saliências ao redor dos olhos e acúmulo de cálcio no cérebro, fato que pode levar ao desenvolvimento de epilepsia ou outras anomalias neuropsiquiátricas.

               Outro aspecto importante relacionado ao medo é o elevado nível de tensão (stress) e ansiedade que estamos submetidos na atualidade. Vivemos sobre pressão e tensão em boa parte do nosso tempo. Pressão familiar, no trabalho, nas atividades sociais, recreativas, na escola e em muitos outros ambientes que frequentamos e que deles fazemos parte. Essa situação acaba gerando níveis sérios e patogênicos de desconforto emocional e afetivo, insegurança psicossocial e temores, muitos infundados outros factuais que atrapalham ainda mais a vida das pessoas.

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Modernidade nas placas de sinalização para idosos

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                   Há 7 anos atras publiquei um artigo em nossos jornais denominado A bengala o idoso e o sinal de trânsito, nele tratava sobre as placas de sinalizações as quais asseguram vagas em logradouros, públicos e privados, destinados a essa população. Destacava também no referido artigo que este símbolo nas placas sempre me incomodara bastante, porquanto, a imagem nessas placas representara a figura de um idoso, encurvado e segurando uma bengala, configurando um quadro, ao meu  ver, bizarro e inadequado.

                   Ao ver tais imagens nas placas, me perguntava: o que levaria alguém propor tal imagem para garantir esses direitos a esses idosos?  No artigo citado, pressupunha, entre outras coisas, que as mesmas apontavam para uma época onde havia e ainda há, muitos preconceitos, discriminação, segregação aos idosos, da mesma forma como existe ainda hoje uma visão distorcida sobre a pessoa idosa. A imagem do idoso encurvada e com bengala sugere indiscutivelmente, decrepitude, enfermidade e debilidade, etc.

                  Quando eu atingi meus sessenta anos, por um lado me tornei mais atento aos fatos e circunstâncias que estão relacionados a essa idade, no que diz respeito às minhas novas expectativas, planos, modo de vida e anseios, etc. Quando cheguei aos 60 e hoje já na casa dos setenta tenho uma sensação gostosa e agradável de ter chegado a uma idade com saúde e disposto a trabalhar e prosseguir com a vida com os mesmos compromissos que me fizeram chegar a essas idades.

                 Ao mesmo tempo em que passei a desfrutar dos direitos assegurados na Lei N.º 10.741, de 1.º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso), entre os quais, acessar tais espaços e outros direitos à educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que são prerrogativas da minha idade. Nesse aspecto, ir para uma fila de idosos, estacionar em determinados locais, ter algumas prioridades em certa circunstância, etc.  Mas, sempre me incomodou o símbolo dessas placas, por isso mesmo passei a discutir em diferentes ambientes a possibilidade de mudarem isso.

              Em minas pesquisas sobre o assunto, pude perceber que essas placas geravam incômodos em muitas outras pessoas as quais também já haviam chamado a atenção para essa discriminatória e preconceituosa situação e, por isso mesmo, tentavam propor mudanças na construção de outra imagem dos idosos nessas placas.

              Verifiquei que havia um publicitário de nome Max Petrucci, que com a ajuda de cem mil internautas encontrados nas redes sociais, propuseram uma nova simbologia que traduzisse melhor esse direito da pessoa idosa com acesso aos estacionamentos, públicos e privados, simbolizada de forma diferente, isto é, que fosse menos discriminatório e mais adequado à situação.

               Passado todos esses anos depois da publicação do meu artigo, qual foi minha surpresa, ao tomar conhecimentos que o Conselho Nacional do Trânsito – CONTRAN, em junho de 2022, através de Resolução mudou o feitio dessas placas, propondo a retirada da bengala das mãos dos idosos, não o recurvassem e colocasse com letras bem visíveis nas placas, a expressão 60 +.

                 Acredito que tenha sido um ganho para todos os idosos desse país, que apesar de suas grandes conquistas advindo do seu Estatuto ainda precisa avançar muito mais na direção de outras conquistas quanto aos seus direitos e prerrogativas.

                O símbolo anterior era, indiscutivelmente, segregador, preconceituoso e dava ênfase a uma imagem constrangedora, pejorativa, sinalizando para decrepitude, fragilidade ou enfermidade de pessoas nessa idade, o que não condiz coma verdade dos fatos sobre o idoso. Diz o publicitário e criador da nova proposta: “evidentemente que a terceira idade tem suas fragilidades, mas não precisa ressaltar tão negativamente até porque não é esse o retrato da terceira idade no Brasil”. Diz, ainda, que “essa proposta que elaborei, é ao meu ver, bem mais representativa e simbolicamente mais adequada, quando se compara com essa que está aí”.

                Com esse trabalho, o publicitário esperava traduzir o idoso de hoje, que vive uma condição de vida saudável, e participativo que vive bem melhor e completamente diferente da vida que levava há anos. Um sujeito com bengala e encurvado não demonstra alguém que esteja vivendo a plenitude da terceira idade propriamente dita. Resta saber se as mudanças ora propostas pelo CONTRAN (2022) foram produzidas pelas sugestões dos internautas e o publicitário ou se foram medidas tomadas pelo próprio CONTRAN baseadas nos movimentos nacionais que pediam mudanças nessas placas.

               Soube a terceira idade, sabe-seque com a evolução dos conhecimentos médicos, especialmente na área da nutrologia, da fisioterapia, da atividade física, do sono, ocupacionais e de outras especialidades científicos, sociais, econômicos, verificou-se que nas últimas três décadas a terceira idade, bem como outras etapas da vida, tiveram ganhos fabulosos quanto a promoção e manutenção da vida em seus diversos sentido especialmente na direção de uma vida longa e saudável.

             Dados obtidos polo novo levantamento realizado pela Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que pessoas com 60 anos ou mais representam 14,7% da população residente no Brasil em 2021. Em números absolutos, são 31,23 milhões de pessoas. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Continua) publicada em 22 de julho de 2022.

             Os idosos, na atualidade, vivem mais, querem participar ativamente da vida querem ter uma vida social ativa, praticar esportes, frequentar academias, se cuidar e promovem sua saúde, produzindo e colaborando da melhor forma possível com a vida e com o mundo. E não fazem mais porque temos uma política pública segregacionista, desvalorizante, discriminadora e violenta contra os idosos. Não fora isso, os idosos estariam bem mais inseridos na história nacional, social e psicossocial do seu tempo, de sua cidade e de seu país.

       Só à guisa de curiosidade, sobre a bengala propriamente dita, sabe-se que historicamente, ela tinha um outro sentido. Em conversa com meu genro Diogo Guagliardo Neves, grande advogado e historiador desse estado e desse país, ele me explicara que a bengala, por volta do século 19, era considerada um artigo de elegância e de status social masculino, inclusive. Homens jovens desfilavam em diferentes ambientes para demonstrar beleza, elegância e posição social em cenários da época, simbolizando que isso fazia parte da cultura e da tradição da moda inglesa. Cartola, colete e bengala faziam parte dessa indumentária.

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