A falência da autoridade dos pais II

                                         

             Alguém tem dúvidas, que as relações familiares estão em crise? Os pais estão cuidando de fato de seus filhos? Filhos da modernidade, têm tido respeito por pai ou mãe? Esses filhos reconhecem a autoridade dos pais? Há diálogos, compartilhamento ou companheirismo nas famílias modernas? Nossos filhos estão engajados em alguma atividade social, algum partido político, na comunidade, na igreja, em algum clube de serviço ou esportivo ou em qualquer outra atividade social? Os pais sabem, inteiramente, o que acontece com seus filhos, fora de casa?

              Essas são algumas questões que estão na ordem do dia e devem ser examinadas com rigor e afinco. Pode até parecer que sejam questões duras, incisivas ou inquietantes, mas que devem ser trabalhadas, no dia a dia das famílias, para evitarem maiores problemas nas relações familiares. São situações que fazendo parte das nossas inquietações, do mal-estar geral porque passa a sociedade atual e dos dramas que muitas famílias estão vivendo.

           Quando o assunto é educação familiar, em qualquer roda de conversa, na escola, na universidade, na comunidade, nas ruas, no trabalho ou mesmo dentro da própria família, a percepção de todos é que essa situação vai muito mal e a constatação é a sempre a mesma: a família está se perdendo e não sabem que rumo toma. Parece haver um caos total nesse sentido e isso não é explicado não por um único fator e sim por múltiplos fatores que se interagem, provocando a situação como essa que está aí.

           Portanto, é um tema bastante complexo exige tempo e muito trabalho para mudar a situação e ao se contratar que o problema existe, haveremos de adotar medidas adequadas para mudar o cenário da educação dos filhos e isso exigirá tempo e esforço de todos: do estado, da família, da comunidade e

        Entre os fatores, destaca a visível falência da autoridade dos pais na relação com seus filhos. É uma situação grave pois colabora, sobremaneira, para gerar graves conflitos familiares. Nos dá a impressão que os pais estão perdendo o comando, o controle, as rédeas, a autoridade na educação dos filhos e não é de hoje que isso vem ocorrendo. A impressão é que os pais vêm se tornando reféns dos filhos e estão atônitos sem saber o que fazer.

         Essa falência da autoridadeé demonstrada através de várias maneiras. Uma delas, é se perceber que filhos, cada vez com menos idade, demonstram ter vida própria, independência e autonomia e tocam suas vidas, quase por conta própria. Sabe-se, que os filhos dependem dos pais, se protegem nos pais, se espelham nos pais e se nutrem dos pais, em todos os sentidos e isso vai fomento o crescimento dos mesmos ao longo da vida. Atualmente, percebe-se que esses filhos, desde muito cedo “vão pondo as unhas para fora” e os pais por outro lado se sentem submissos e temerosos ante os mesmos. O comportamento, opositor, desafiador dessas crianças, mesmo muito pequenas, põem em risco a disciplina, o controle das regras, das normas de convivência familiar, indispensáveis, para uma boa educação.

           As crianças estão agindo precocemente, como se fossem autônomos, independentes, cheios de vontade e donos de si e de todos ou como se fossem adultos pequenos. Fazem o que querem, fora e dentro de casa, dão as ordens na casa dos pais, e esses, progressivamente, vão se tornando refém, submissos e receosos, sem força para mudar a situação e isso acaba deixando os filhos tomarem conta da casa, um barco à deriva, sem saber que rumo tomar. Esse é um fato terrível na educação dessas crianças pois muitos pais passam a se acusarem, mutuamente sobre o que está ocorrendo e a situação vai se permanecendo. É um momento de acusações mútuas, atritos, e até embates corporais e de “busca dos culpados”, enquanto o isso, o filho reina sozinho.

         A falência da autoridade dos pais, se revela, também, quando esses adotam atitudes autoritárias, dominadoras, violentas, agressivas e cruéis ou quando adotam comportamentos de indiferença quanto aos filhos, gerando um clima de estranheza e anonimato familiar. Indiferentismos, maus tratos, negligencia, descuidos na segurança e cuidados a esses filhos, são situações que ferem, profundamente, a alma dessas crianças e a hegemonia familiar, provocando enormes alterações emocionais, afetivas, comportamentais e de caráter, na vida desses filhos.

            A falência da autoridade dos pais se revela também quando na família não houver mais diálogo, quando se silenciam mutuamente e quando um, não sabe mais sobre o outro. Esse anonimato familiar, produz monólogos e silencia a todos. O silêncio é um veneno e quando impera entre pai e mãe, entre irmãos, entre os pais e filhos, é a derrocada total e muitos pais tornam-se permissivos, frouxas e sem autoridade e com medo de dizer não e de cobrá-los. Se sentem endividadas e submissos. A falta de limites, das normas e regras da casa, também expressa essa falência.

          Muitas vezes, para encobrir esses conflitos, os pais apresentam desculpas, ora esfarrapas ora convincentes sobre tudo isso, sendo a mais comum, a falta de tempo para se dedicarem mais aos filhos, pois os compromissos no trabalho ou a corrida frenética por dinheiro, não permitem que esses pais estejam mais presentes em casa. Outros, atribuem essas tarefas, exclusivamente às mães, como se estas fossem as únicas a educarem os filhos, outros ainda atribuem à correria do dia a dia, (pagar as contas) e quando não, atribuem à internet, às redes sociais, aos games etc. os motivos para tantos descuidos na educação dos filhos.

          A internet, os games, as redes sociais e outros entretenimentos via online passaram a ser a “bola da vez”, para explicar conflitos familiares. Todos esses recursos eletrônicos são próprios da vida moderna e instrumentos no dia a dia das pessoas. O que pode estar em jogo é a forma inadequada de utilização desses instrumentos e não eles em si mesmos. Atribuir aos mesmos a responsabilidade dos problemas familiares, é não querer ver a realidade ou tentar tapar o sol com a peneira, isso não me convence. O uso desses instrumentos, por crianças e adolescentes, deverá ser feito com regras e disciplinas para o bom uso dos mesmos. De tal forma, que o abuso ou uso indiscriminado e sem controle que ocorre dentro e fora de casa por crianças e adolescentes, às vezes, incentivados pelos próprios pais, já podem por si só, serem sinais, inequívocos da desagregação profunda porque passa essa família.

             Portanto, fiquemos atentos aos fatos que ocorrem em nossas famílias com vista a garantirmos sua sagada missão de assegurar a saúde, a segurança e o bem social e o pleno desenvolvimento das nossas crianças e adolescentes.

A ganância na sociedade moderna

                                       

           A ganância é um sentimento, caracterizado pela volúpia incontida, pela vontade incontrolável de possuir tudo, especialmente o que essas pessoas admiram para si próprio. É ambição desmedida, é a avidez por algo, é a cobiça, a avareza, a concupiscência, a usura e a cupidez. É a vontade exagerada, incontrolável e apetitosa de possuir as coisas. É um desejo excessivo direcionado principalmente à riqueza material, qual seja, o dinheiro. Quase sempre realizam ganhos ilícitos, ou estão sempre atras de outras formas de poder, onde os gananciosos influenciam outras pessoas a se deixarem corromper, manipular e a enganar para garantir suas intenções.

           Em Aurélio, a palavra ganância vem do espanhol, ganancia, esp. Ganar, ganhar, significa ambição de ganho, ganho ilícito, usura, ambição desmedida. Em Michaelis trata-se de uma ambição desmedida de ganho, ou lucro, ambição, avidez, cupidez. Em Dicio dicionário online, ganância é ambição, cobiça ou desejo intenso, imoderado por bens e riquezas. É busca incessante pelo lucro; agiotagem, usura. Vontade intensa e permanente de possuir ou de ganhar mais do que os demais.

            Para Charles Caleb Colton (1780 – 1832) clérigo inglês “a ambição comete, em relação ao poder, o mesmo erro que a ganância em relação a riqueza: começa a acumulá-la como meio de felicidade e acaba a acumulá-la como objetivo”. É o que ocorre na prática dos ambiciosos.

             A ganância, portanto, é um traço abominável da condição humana. Ela nasce com o homem, é um traço de sua personalidade, desde cedo aparece na vida das pessoas e pode prosseguir com ela a vida toda. Muitos podem nascer com esse traço, porém, ao longo da vida, pode se desfazer dele. É uma condição humana, comportamental, trans-histórica e transcultural.

              A ganância é e já foi objeto de muitos estudos e especulações, sobretudo do ponto de vista psicossocial e sócio antropológico. Entre os católicos, é um dos sete maiores pecados humanos, já identificados desde o final do século VI no Papado de Gregório Magno e aqui, a ganância se confunde com avareza.

            Gananciosos são figuras insaciáveis, têm um apetite voraz por tudo, especialmente por dinheiro e poder. São avaros e nada os satisfaz, sempre querem mais e mais, de forma desenfreada. Agem compulsivamente atrás de ganhos e dificilmente se desfazem do que têm.

          Na história recente de nosso país, por ocasião da Lava-Jato, assistíamos, frequentemente, pela grande mídia, casos notórios de grandes gananciosos serem denunciados ao Ministério Público, devido a uma intensa roubalheira ao erário. Eram pessoas que exerciam papéis importantes no cenário das atividades pública e política, e se comportavam como agentes insaciáveis na obtenção do dinheiro, mesmo por meios ilícitos. Os bandidos se organizavam em quadrilhas, regidas por meios sofisticados de cometem esses crimes e o faziam de forma absolutamente natural, na cara limpa, sem qualquer remorso, pudor ou arrependimento por estarem roubando o que era do povo. Eram gananciosos.

           Essas figuras, em geral, são disfarçadas, insensatos, arrogantes e indiferentes, são dissimulados. sentem-se sempre acima de tudo. São indiferentes e se apropriam indiferentemente do erário público de forma natural e tergiversam dentro das circunstâncias que vivenciam.

           São também evasivas. Quando são pegos, se sentem injustiçados ante tais medidas. A maioria sequer manifesta arrependimento e sempre procura explicar seus atos. São indiferentes aos danos cometidos pelos seus crimes. Avidez por ganho, lucros, vantagens, tanto por via lícita quanto ilícita são de valores enormes, incalculáveis. É a ganância se revelando em cada uma dessas pessoas. Tornam-se cegos e avaliam mal as consequências de seus atos. Esquecem-se da ética, dos sentimentos de dó e piedade, do dever e da cidadania. Esquecem-se que têm filhos, esposas, amigos e que ainda há quem sinta vergonha no mundo. Seus atos revelam uma disposição desmedida de ter, possuir, dispor de algo, e o pior, que não lhes pertence. É um egoísmo excessivo, inconsequente e incomensurável.

             Vejam o que ocorreu com os ladrões da Lava-Jato, a volúpia por dinheiro era suas grandes marcas. Em condições normais de vida, jamais gastariam todo dinheiro que roubaram, a não ser em extravagâncias e na perspectiva de uma vida desmedida, mesmo assim roubaram compulsivamente.

            A ganância, como outros comportamentos humanos, é muito influenciada pela cultura e pelo ambiente onde se vive. Vive-se em uma cultura e em uma sociedade que incentiva e estimula a prática da ganância. O egocentrismo, a vaidade, a insinceridade, a superficialidade nos comportamentos pueris são comportamentos comuns na sociedade atual, gerando pessoas arrogantes, presunçosas, desumanas, blasfemadoras e desrespeitosas. E tudo isso acaba por incentivando gananciosos a pretender se dar bem na vida.

            O ambicioso, dificilmente, estabelece relações seguras e confiáveis com alguém, pois suas motivações, nas relações interpessoais, são sempre interesseiras, pragmáticas e visam ganhos. São pessoas envolventes e sedutoras e sempre tem na cabeça “dá o golpe” com o intuito de atingir seus objetivos, quaisquer que sejam eles, independente se suas atitudes mesmo que isso possa gerar problemas para alguém, para a comunidade ou para a sociedade. Para os gananciosos a vida e todas as suas relações são inspiradas em um balcão de negócios, por isso mesmo estão sempre atentas as vantagens que pode extrair em suas atividades.

              A ganância, está diretamente relacionado com transtornos de personalidade antissocial, isto é um traço forte dos psicopatas, pelo seu absoluto indiferentismo, ausência de sentimentos de culpa ou remorso oriundos de suas atitudes. São figuras malévolas, frias e e insensíveis, sem remorsos, culpa ou arrependimentos, portanto “temos que ter sempre um pé atrás com essas pessoas” pois você pode representar um trampolim para essas maus-caracteres alcançarem seus cruéis objetivos.

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