Remorso
Arrependimento, culpa e remorso, são três condições existenciais e psicológicas que, habitualmente, caminham juntas, muito embora, sejam condições autônomas, independentes e de significados distintos. Sobre o remorso, objeto desse artigo, diria que é um fenômeno comportamental comum na condição humana e extremamente importante do ponto de vista existencial.
Expressões como: “fulano, apesar do que fez, não sente um pingo de remorso”. “Cicrano, não se cansa de dizer que, morrerá de remorso pelo ocorrido”. “Apesar da brutalidade, beltrano, parece frio, insensível no que faz”. São situações, diametralmente opostas, que tem em comum a vivência do remorso. Poderíamos imaginar que entre o sentir e o não sentir remorso, inclui várias condições a ele associadas, conferindo à essa experiencia, diferentes níveis e graus de sentimentos, desde o não sentir ao sentir de forma exagerada.
Do ponto de vista antropológico e comportamental, sentir remorso é uma possibilidade humana universal. É um traço da sua personalidade, que se manifesta em condições especiais, é uma forma de reagir a eventos. Estima-se, que desde a adolescência, na idade adulta e no curso natural na vida, o sentimento de remorso pode estar presente.
O remorso revela dor, sofrimento, pesar e tristeza, condições estas com diferentes graus ou intensidade. Pode também gerar sentimento de culpa e arrependimento. Quando isso ocorre, pelo fato da pessoa reconhecer ter feito algo a alguém que a ofendeu, ou gerou dor, sofrimento, prejuízos ou mesmo outros problemas, pode fazer com que essa pessoa tome atitudes de arrepender-se e vir a pedir desculpas.
O remorso expressa um mal estar difuso, inquietante e angustiante podendo prolongar-se e persistir dilacerando a pessoa. Quando mais grave for o erro ou a falha cometida, mais intenso será o remorso e mais difícil se lidar com ele. O remorso se dá no plano da consciência, da autocrítica e da benevolência, e a pessoa tem plena capacidade de avaliar sobre o que fez. Pode também induzir atitudes de arrependimento, sinalizando nessa perspectiva, dignidade no caráter.
Em Wikpédia, encontramos os seguintes comentários: “em algum momento da nossa vida sentiremos remorso. Podendo ser um sinalizador de que nos preocupamos ou deveríamos nos preocupar com algo importante que temos a aprender. E assim servir de aprendizado para que possamos fazer melhores escolhas no futuro”.
Diz ainda: “quando o remorso vira uma sensação de que fracassamos ou quando ficamos desapontados, esse sentimento traz muito sofrimento que pode afetar nossa vida de forma negativa. A tal ponto de nos impedir de vivermos o aqui e agora, o presente. Podemos ficar impotentes para usar nossos recursos internos, impedindo de realizarmos as mudanças positivas em nossa vida”.
Conclui dizendo “quando o remorso ultrapassa esses limites, ele deixa de ser produtivo e útil. As emoções, tanto negativas quanto positivas sempre servem como aprendizado importante. Porém, quando vão além desse limite e passam a trazer problemas e dificuldades que não conseguimos resolver, indica que está na hora de procurar ajuda profissional”.
Nas considerações acima, dependendo da forma com o manejamos, pode ou não gera maiores problemas, inclusive de saúde física e mental em quem sente o remorso. Outro aspecto importante, como já vimos, é que o remorso pode induzir ao arrependimento que segundo a Bíblia é o meio através do qual nos libertaremos dos nossos pecados e receberemos o perdão por tê-los cometidos. A Bíblia diz ainda que o pecado atrasa o progresso espiritual e pode até pará-lo completamente. O arrependimento torna possível que cresçamos e nos desenvolvamos espiritualmente de novo.
Em sendo assim, o arrependimento é o melhor caminho para produzir a reparação dos danos ocasionados por alguém que sente remorso. Da mesma forma como exige da pessoa que praticou, arrepender-se e isso levar a desculpar-se pelos danos ou sofrimentos praticados contra alguém. Em resumo: remorso gera culpa, que gera arrependimento, que gera desculpas, que gera perdão. Nem sempre acontece isso, pois muitos não perdoam o que lhe fizeram.
Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa José Pedro Machado, remorso vem do latim “remorsu” – do verbo remordere (remorder) que significa voltar a morder, morder muitas vezes. Segundo Aurélio, remorso é inquietação da consciência por culpa ou crime cometido; mordimento, remordimento; bicho da consciência. Para Michaelis (2021) remorso é aflição ou dor moral decorrente da constatação de um erro ou uma falta que se tenha cometido; remordimento.
Para Honoré de Balzac (1799-1850) escritor francês, um dos fundadores da Escola Realista na França, dizia: O remorso é uma impotência, ele voltará a cometer o mesmo pecado. Apenas o arrependimento é uma força que põe termo a tudo. Como vimos acima o remorso comporta o reconhecimento (consciência) que a pessoa tem sobre o que ela cometeu. Revela-se por um sentimento, desagradável de tristeza, culpa ou lamentação, de diferentes intensidades, que atrapalha o bem estar dessas pessoas em diferentes níveis. Devido a todos esses sentimentos desagradáveis, isso pode levar as pessoas a se arrependerem de ter agido da forma que agiu.
O remorso também sinaliza para uma espécie de desapontamento, descontentamento e vergonha da pessoa para consigo mesma o que pode gerar atitudes que reparem essas culpas, por terem praticado algo condenável por si mesmo e pelos outros.
Há pessoas que são incapazes de experimentarem sentimentos de remorso, dor ou arrependimentos sobre seus atos ao longo da vida, muito embora tenham plena consciência que a atitude que cometera possa ter gerado sofrimento, dor ou problemas para alguém. São pessoas, frias, indiferentes, insensíveis, que não apresentam quaisquer arrependimentos sobre suas atitudes. Esses traços são comuns em pessoas que apresentam problemas no desenvolvimento de suas personalidades os quais recebem a designação de Transtorno de Personalidade Antissocial – TPAS, conhecidos, vulgarmente, como “psicopata”. Esses transtornos atingem 1% das mulheres e 3% dos homens. Trataremos dessa particularidade no próximo artigo.