O mundo, o Brasil, os estados e as cidades estão com os olhos virados para a COVID-19. Os esforços, as medidas e ações, surgem, praticamente, todos os seguimentos institucionais, empresariais e sociais para o controle da transmissibilidade do vírus causador dessa doença. A meta é interromper a transmissibilidade desse vírus e assim impedir o adoecimento das pessoas.
Há, uma particularidade importante com a qual devemos nos preocupar, qual seja, as consequências e o impacto que toda essa situação possa causar no comportamento e na saúde mental da nossa população. Temos em nosso pais, indicadores de saúde mental muito desfavoráveis revelados por dados da OMS e do Ministério da Saúde. Ambos informam que temos 50 milhões de doentes mentais no Brasil. Somos o primeiro país do mundo em casos de transtornos de ansiedade e o segundo em depressão.
Quase 10% da população tem algum desses transtornos e só a depressão afeta quase 6% da população e os transtornos de ansiedade, em torno de 9.6%. Mais de 8 milhões de brasileiros, adultos e adolescentes, que corresponde a quase 10% dessa população de adultos e jovens, experimentaram maconha no último ano. Somos o primeiro no mundo com relação ao consumo de craque é estamos entre os primeiros quanto ao consumo de álcool. Dos 65% que bebem em nossa população, 10 a 13% são dependentes de álcool. Diante de todo esse cenário, fatores sócio econômicos, como pobreza e desemprego e ambientais, como o estilo de vida da população, pesam muito na carga global das doenças mentais.
São números expressivos que mostram que a saúde mental de nossa população é precária e a qualidade de vida, ainda pior, justamente se considerarmos as desigualdades sociais que são enormes, o desemprego, o subemprego, um sistema de saúde frágil e repletos de problemas, uma das maiores taxas de criminalidade do mundo, uma população carcerária gigantesca, problemas políticos sociais e econômicos graves, a corrupção e muitas outras mazelas que justapostas configurarão um quadro caótico na saúde, na segurança, na política, na economia e em muitas outras áreas da nossa vida associativa.
É nesse cenário encontrado em nosso país que o vírus se instalará, um país com uma infraestrutura, economia e aspectos sociais bem diferente dos Estados Unidos e dos países europeus que ainda enfrentam essa pandemia. E é também nesse cenário que estão sendo adotadas medidas para o enfrentamento da pandemia e é também nesse cenário que teremos que ter muita prudência, criatividade e bom-senso para não adoecermos mental e emocionalmente, nesses momentos de crise.
Algumas medidas e recomendações as quais nos foram impostas, por recomendações médicas, sanitárias e por políticas públicas na saúde, consideraram, prioritariamente, o controle epidemiológico ou sanitário do Corona-vírus e deram pouca atenção aos riscos à saúde mental das pessoas submetidas a essa situação. Sabe-se,que essasque essas mesmas medidas gerais podem ter um impacto negativo na vida das mesmas, do ponto de psiquiátrico e psicossocial.
O confinamento social, isolamento social ou afastamento físico, uma das medidas mais impactantes, altera, fortemente, entre outras coisas, um dos pilares mais importantes que garantem o bem-estar e a saúde mental da população, que é conviver socialmente, pois essa é uma particularidade ou condição fundamental e inata aos seres humanos, somos seres eminentemente sociais e em sendo alterada essa prerrogativa põe-se em risco a saúde mental e o bem-estar das pessoas.
O fato das pessoas poderem ir e vir, circularem entre si, se darem umas as outras, se relacionarem, se abraçarem, se beijarem, se cumprimentarem socialmente, são prerrogativas fundamentais que fazem parte da sociabilidade humana. A nossa segurança, a saúde física, psíquica, emocional e social, o nosso bem-estar social depende também das relações sociais. Ao estarmos em privação social, mesmo por motivos relevantes como os que estão sendo propostos alteram essas necessidades humanas e naturais, pode gerando descompensações emocionais, pessoais e sociais profundas, quanto ao equilíbrio mental. Essa situação pode ser revelada por: angustias, tristezas profundas, transtornos ansiosos, inseguranças, retraimento social mórbido, sensações de perdas, depressões, estresse social, fobias e muito outros problemas psiquiátricos, emocionais e psicossociais.
O pavor disseminado na enxurrada de informações sobre a doença e o vírus, que todos recebem a cada segundo pelas mídias e pela grande imprensa, muitas de caráter sensacionalistas pode provocar inseguranças, dúvidas, incertezas, apreensões, muito embora em momentos como esses os profissionais da comunicação são fundamentais para o manejo da crise.
Outro fato relevante é a interrupção das atividades laborativas (formais ou informais) que as pessoas realizam, que por imposição da quarentena ou outras medidas de restrições sociais, tornam essas atividades impedidas de serem realizadas. Isso, fatalmente, implicará em danos à saúde mental dos trabalhadores. A possibilidade real de muitos perderem seus empregos, torna-se mais grave a situação pois essas pessoas se tornam mais vulneráveis a apreensões, medos e inseguranças, pondo em risco a saúde mental dos trabalhadores.
O medo iminente da morte, advindo do contágio com o vírus e ao desenvolvimento da COVID -19, sobretudo as pessoas mais vulneráveis: idosos acima de 60 anos, portadores de doenças respiratórias, cardiovasculares e endocrinológicas e outras enfermidades que provocam imunossupressão, tornam essas pessoas mais inseguras preocupadas e apreensivas colaborando destarte para problemas psiquiátricos e emocionais.
Paciente doentes mentais em tratamento médico, os que já estão assintomáticos, por estarem em tratamento de manutenção, ou os que já receberam alta médica, correspondem um grupo especial de pessoas que podem sentir um impacto grande de toda essa situação. Portanto exigem maiores cuidados. Recomenda-se, portanto, que esses pacientes mantenham seus tratamentos em curso.
Que se ofereça atenção especial em saúde mental aos trabalhadores da saúde que estejam não fronte no controle da pandemia, pois também são pessoas que estão mais expostas ao desenvolvimento de transtorno de stress pós-traumático. Desfrutem de suas casas e de suas famílias, até poderem, livremente, sair e conviver. Peçamos a Deus que não demore.
Para agravar mais ainda a situação que se insurge, epidemiologistas alertam que há a possiblidade de COVID – 19 com o surto de gripe comum, que nos assola todos os anos e com surto de dengue, em suas diferentes forma de contágio.