A propaganda de bebida alcoólica, as tragédias e a reação social Há uns 10 dias, nossa cidade fora mais uma vez foi abalada por uma tragédia, ao ser anunciada a morte de Laura Burnett Marão, uma criança de apenas 8 anos de idade, que nem começou a viver que, na companhia de seu pais, fora vítima de mais um grave abalroamento entre o veículo que a conduzia e outro dirigido por uma pessoa em estado de embriaguez alcoólica.
Junto a Laura, se vão milhares de outras vítimas nessas mesmas condições diariamente nesse país. Vão-se sonhos, esperança, e ficam a imensa dor e a tristeza insuperável de se perder um filho, uma filha ou um ente querido nessas condições inaceitáveis. Pais, filhos, mães, e muitas outras pessoas em estado deploráveis por verem seus entes queridos sumirem, como um sopro de mágica, desaparecerem na vida. Como Laura, são milhares de pessoas, que já não estão mais conosco, porque, alguém embriagado, irresponsavelmente sem qualquer condição de dirigir um veículo, lança o contra outrem, que esperava viver mais. Estima-se que no Brasil 45 mil pessoas, morram anualmente nessas condições.
Em consequência dessas tragédias, ontem a litorânea foi sede de mais manifestações sociais, de apoio e de solidariedade à família de Laura e de milhares de outras vítimas desses acontecimentos. A Avenida, repleta de pessoas que foram solidarizar-se com a família dessa criança e com todas as outras famílias vítimas dessas tragédias e que no fundo alimentam uma grande esperança de não se vê mais isso em nosso cotidiano. Esperança de termos medidas mais ostensivas e que sejam aplicadas ás pessoas que irresponsavelmente tiram a vida dos outros protegidos por um manto da impunibilidade e do esquecimento.
Pessoalmente acho que temos que continuar avançando no rumo de medidas mais ostensivas, mais preventivas e mais educativas que nos auxiliem a lidar melhor com tais problemas, muito embora se reconheça que se avançou nessa área nos últimos 5 anos. Temos hoje leis mais pontuais, mais duras definindo medidas mais efetivas, que estão sendo aplicadas em nosso território nacional para controlar todos esses abusos e transgressões á vida e as regras sociais.
Algumas dessas medidas funcionam outras não, pela fiscalização deficiente na aplicabilidade dessas medidas, ou ainda pelo exagerado abrandamento das penalidades sobre os que transgridem, de forma grave, as regras e as leis que existem nesse contexto. Porém, há uma situação que me parece intocável, á vista do que é feito no sentido de controlar o uso de álcool em diferentes contextos, qual seja, a permanência da vigorosa propaganda de bebidas alcoólicas em nossos meios de comunicação. Quanto a isso, nos dá a impressão que estamos diante de algo sagrado, intocável, pois ninguém ousa mexer um dedo sequer, nas diferentes áreas do poder, para se alterar essa questão.
Todos sabem do grande impacto que estas propagandas exercem quanto ao consumo de álcool pela população e os danos que esse consumo ocasiona á saúde pública, ao bem estar social, á segurança da população, aos custos previdenciário, á economia e ao setor trabalhista deste país. Há incongruências estabelecidas na acintosa permissividade de se fazer propaganda de bebidas alcoólica, ante os índices alarmantes e assustadores das mazelas de todos os tipos ocasionados pelo consumo de álcool. E, a questão é mais relevante ao se verificar que essa propaganda é feita em um país como nosso, que tem uma população predominantemente jovem, o seguimento mais influenciado diretamente por essas propagandas.
Só para os senhores terem uma ideia, há altos índices de suicídio entre jovens usuários e dependentes de álcool; 13% dos que bebem são dependentes; 45% dos leitos hospitalares brasileiros são ocupados por alguém com problema relacionado ao consumo de álcool; que 75% dos acidentes automobilísticos com resultados fatais envolvem motorista que dirigia embriagado; mais da metade dos leitos dos hospitais psiquiátricos têm alguém com doenças alcoólicas; e, 90% dos homicídios ocorrem após ingestão de álcool. Volto a dizer são 45 mil pessoa que morre anualmente ocasionado por um motorista dirigindo embriagado.
São índices assustadores que deveriam ser levados em conta quando se analisa a propaganda de bebida alcoólica, cuja capacidade de influenciar condutas no sentido de induzir o consumo é inegável, sobretudo entre os jovens. Esses, com idade entre 14 e 17 anos responde por 6% de todo o consumo anual de álcool do país. O número é preocupante, já que a lei proíbe o consumo de bebidas alcoólicas entre menores de 18 anos. Jovens de 18 a 29 anos são responsáveis por 40% do consumo de álcool e, segundo o IBGE, esse grupo representa 22% (1/5) da população brasileira.
Outro número estarrecedor, 7% da população jovem brasileira com até 17 anos, já são dependentes de álcool, isto é, são alcoólatras. Se pensarmos que apenas pouco mais de 60% da população bebe 40% de todo o consumo anual de álcool e, mais ainda, que são jovens, fica evidente o risco representado pela publicidade que cada vez mais se volta para esse público.
Evidentemente, forças econômicas poderosíssimas estão por trás das decisões políticas de não se tratar nem de proibir essas propagandas. Sei que a indústria gasta, anualmente, 30 bilhões de dólares com publicidade e que emprega 30 mil pessoas de forma direta nesse negócio. Um negócio gigantesco. Só que os custos médicos, sociais, econômicos e outros já apontados acima, deveriam funcionar pelo menos como um incentivador para o debate público sobre essa questão, se não, pelo menos, incentivar um debate ético sobre propaganda dessa droga nesse país.
Quero finalmente me solidarizar com Laura e com sua família com a de todos os milhares de outras famílias que nesse país estão passando por essa dor insuportável, por perder um filho, uma filha ou um ente querido, nessas condições. E, é com muito pesar e tristeza que digo, vamos nos mobilizar cada vez mais para pressionarmos essas autoridades constituídas a combaterem de forma mais ostensiva o consumo de álcool em nossas cidades e com isso, evitar tragédia como a que houve com Laura e com sua família, que nos atingiu a todos.