O dia mundial da saúde em nosso país, o que comemorar?

Dia 07 desse mês comemorou-se o dia mundial da saúde, certamente um dos temas humanos que pela sua importância e significado é de fato merecedor dessa homenagem. A saúde é a consagração da vida, considerando que só, e tão somente através dela, garantimos e damos sentido a nossa existência. É através dela que nascemos, vivemos, prorrogamos a nossa vida e a da nossa espécie.
Saúde é uma condição complexa, que resulta de uma intrincada rede de fatores inter articulados entre si, de diversas naturezas, que, como resultado dessas inter-relações entre os distintos fatores que a produzem, nos conduzem a um estado de bem estar, físico, psíquico e social. É essa, em um sentido abrangente, o conceito de saúde segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS. Sob essa perspectiva, a saúde é um bem, uma condição inalienável onde a pessoa se encontra em plenas condições de viver e, viver bem, estando em consonância com seu mundo, com os outros e com seu ambiente. Não há saúde em um ambiente inóspito ou onde não haja paz social e, um ambiente inóspito e que não haja paz, não produzirá indivíduos saudáveis. E, esse é o sentido maior: saúde é o bem estar de um sujeito em seu ambiente em relação com os outros, de tal forma que, nessa perspectiva, a saúde deve sempre ser examinada identificando quais os fatores que em determinada momento ou circunstância estão ou não a favorecendo.
Se estendermos as coisas nesse sentido, de forma mais abrangente, incluiríamos obrigatoriamente a saúde mental, que prefiro chama-la de saúde comportamental. Que pode ser entendida por sua vez, como a possibilidade concreta e objetiva dos indivíduos expressarem sua saúde através de seu comportamento. Isto é, não há saúde mental, sem saúde física, muito menos saúde social, pois são condições indispensáveis para um comportamento saudável. A saúde mental se traduz ou se revela em nosso comportamento, seja ele objetivo ou subjetivo, que por sua vez expressa a vivência do bem estar psicológico dos sujeitos em se ambiente e com os outros.
A saúde mental promove e traduz o agrupamento das pessoas em sociedade, no trabalho e nas distintas formas de das relações sociais. O nível de saúde mental e o bem-estar da população é um indicador importante que nos informa como o homem vive e isso sinaliza para a realização dos objetivos dos povos e do planeta.
Epidemiologicamente, as doenças mentais no mundo e particularmente na Europa vêm aumentando. Hoje, nessa região, estima-se que haja 50 milhões de cidadãos, cerca de 11% da população, portador de alguma forma de doença mental, tanto em homens quanto em mulheres. Entre essas, a Depressão já é em muitos Estados-Membros da União Europeia, o problema de saúde mais prevalente. O Suicídio permanece sendo a maior causa de morte nessa região, pois ocorrem cerca de 58.000 suicídios por ano, dos quais 3/4 são cometidos por homens. Oito dos Estados-Membros dessa região estão entre os quinze países com a taxa de suicídio masculina mais alta do mundo.
Nunca é por demais repetir que entre as condições humanas as que mais geram sofrimento e dor para os indivíduos, para suas famílias e para a sociedade em geral, são as doenças mentais, sendo o suicídio entre essas a condição que mais provoca isso.
Pelo aumento vertiginoso dessas doenças, as ações deveriam ser priorizadas em políticas públicas de saúde, através de ações complementares que promovam prevenção, assistência e reabilitação desses enfermos, fortalecendo e priorizando, sobretudo, medidas de prevenção disponibilizando suporte para pessoas que têm problemas de saúde mental e suas famílias. Além disso, poderiam ser adotadas medidas que garantam maior acessibilidade e abrangência dos meios de tratamentos oferecidos a esses enfermos. Portanto, deve-se reconhecer que existe uma necessidade de ações políticas decisivas no sentido de dá prioridade em ações em saúde mental.
Para tanto, necessita-se que haja por parte dos agentes políticos e de dos legítimos representantes de um povo, medidas efetivas que incluam outras áreas de significação e abrangência interligadas á saúde, como a da educação, o sector social, a justiça a economia e muitos outros parceiros sociais, de outras organizações da sociedade civil, para implementar e desenvolver medidas para garantir e promover a saúde dos indivíduos.
É preciso se implementar pesquisas epidemiológicas que nos dê uma fotografia real da saúde mental da população, em diferentes momentos, que nos ajude a identificar as causas ou fatores que estão colaborando para os agravos nessa área. Situações como suicídio, depressão, usa de álcool e outras drogas, violência urbana e rural, desigualdades sociais, má distribuição de renda, desemprego e muitos outros fatores urbanos, psicológicos e ambientais colaboram sobremaneira para o adoecimento mental da nossa população e quando nós vemos o que está sendo feito para se evitar tudo isso, se constata que o que está sendo efetivamente feito é muito pouco ou quase nada para se evitar esses problemas.
Em nosso país, as questões da saúde mental e a saúde em geral estão precarizadas. Há uma dívida histórica dos governos, e desse em particular, com o povo brasileiro em matéria dessas políticas . O que se vê são medidas inconsistentes que não garantem de fato o bem estar de nossa população em todos os sentidos. O sucateamento e ineficiência dos serviços de saúde, inadequação de verbas destinada á saúde, má versação do erário, redução acentuadas do número de leitos na rede pública especialmente na área mental, o contingenciamento dos recursos destinados á saúde, o empobrecimento dos municípios que praticam tais políticas, não dão conta dessa responsabilidade. Está um caos total. É preciso mudar. Feliz 07 de abril Dia Mundial da saúde para todos nós e para o mundo.

Diagnóstico e tratamento da depressão na infância e na adolescência

Há algum um tempo, dificilmente se fazia diagnóstico de depressão na infância e, mais raramente, na adolescência e isso era devido, entre outras coisas, a falta de instrumentos de diagnósticos mais precisos desse transtorno e aos imensos e prejudiciais preconceitos que ainda há em torno dessa doença. Nesse sentido, avançou-se muito nos últimos anos quanto ao manejo dessa transtorno, pois houve uma retração desses preconceitos, houve avanços científicos sobre o conhecimento da natureza da depressão, e simultaneamente, aperfeiçoaram-se as técnicas e instrumentos no seu diagnóstico e tratamento.
Segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde – OMS a depressão atinge cerca de 2% das crianças e 5% dos adolescentes do mundo. A OMS informa que até 2025, a depressão se tornará a doença mais comum do mundo, e a mais invalidante laboral e socialmente, atingindo mais pessoas do que o câncer e as doenças cardiovasculares. Atualmente, mais de 450 milhões de pessoas no mundo são afetadas por transtornos mentais diversos, sendo a depressão a principal e, a maioria delas ocorre em países em desenvolvimento.
Entre as crianças, o índice de depressão também é preocupante. A depressão incide em torno de 6 a 10 % na população geral e nos últimos 15 anos, o número de diagnóstico de depressão em crianças, entre 6 e 12 anos, passou de 4,5 para 8%, o que representa um problema ascendente. Muitos adultos que apresentam quadro de depressão têm histórico da doença na infância, de tal forma que se não os tratarmos bem cedo, isso contribuirá para a cronificação dessa doença, (Fábio Barbirato, Neuropsiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria -ABP).
Do ponto de vista clínico, diagnosticar depressão na infância não é fácil, pois nessa fase, os sintomas depressivos podem ser confundidos com alguns comportamentais naturais visto nessa etapa da vida: má-criação, birra, mau humor, tristeza, agressividade, irritabilidade ou nervosismo, impaciência, inquietude, condições psicossociais e emocionais frequentes e que fazem parte das características do desenvolvimento psicológico dessas crianças. O que vai distinguir uma coisa da outra é a evolução, a avaliação neuropsicológica e laboratorial e as características clínicas dessas queixas.
Na adolescência, o diagnóstico de depressão é também complexo, pois o mesmo também se insere no espectro das caraterísticas próprias dessa etapa da vida, tais como: desinteresse, apatia e retraimento social, irritabilidade, negativismo e comportamento contestatório, mudanças do humor etc. Tem que haver experiência, acuidade e competência do profissional para se fornecer esse diagnóstico até porque são elevados índices de suicídio na adolescência especialmente se a situação não for adequadamente diagnosticada e tratada.
Não devemos confundir depressão com as angústias provenientes dos conflitos naturais próprios da infância ou da adolescência, já que adolescer é uma condição delicada e que se caracteriza, entre outras coisas, pelas contradições, rebeldias, insatisfações constantes e ânsias de mudanças onde alguns sintomas da depressão podem se mascarar com estas peculiaridades naturais da idade.
Entre os principais sintomas de depressão estão: mudanças de humor, irritabilidade e/ou choro fácil, desinteresse geral, falta de atenção e de concentração, queda no rendimento escolar, insônia, ou hipersônia, anedonia (falta de prazer) perda de energia física e mental, reclamações por cansaço, sofrimento moral ou insatisfação consigo mesmo, sentimento de que nada do que faz está certo, dores difusas no corpo, sentimento de auto rejeição, condutas anti-sociais e destrutivas, distúrbios de peso (emagrecer ou engordar demais), enurese e encoprese (xixi na cama e eliminação involuntária das fezes).
Para a OMS se a pessoa apresentar cinco, entre os sintomas acima, o diagnóstico poderá ser efetivado.E, neste caso ante os primeiros sinais ou sintomas da depressão, os pais devem encaminhá-los a um profissional o mais rápido possível. Na maioria das vezes, o apoio da família e a psicoterapia são suficientes para ultrapassar a situação. Se, a partir dos 9 anos de idade, persistirem ou se agravarem tais sintomas, faz-se necessário, em alguns casos, intervir com medicamentos. Além do mais a depressão infantil pode desencadear várias outras condições médicas, tais como: anorexia, bulimia, etc.
A depressão, como outros transtornos psiquiátricos, tem causas multifatoriais, nunca uma única causa, por isso mesmo o tratamento e a reabilitação devem envolver uma fama de procedimentos onde o uso de medicamentos é um dos procedimentos. Aspectos genéticos, ambientais e socioculturais são condições relevantes como causadores dessas doenças.
Portanto, o mais importante é que tanto o diagnóstico quanto o tratamento sejam realizados o mais cedo possível para evitar que a doença se cronifique, dificultando muito a recuperação dessas pessoas e, graças aos avanços, sobretudo em farmaterapia da depressão, as respostas aos tratamentos atualmente empregados são sempre muito favoráveis e efetivos.

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