A depressão de final de ano

A depressão de final de ano

 

Na virada do ano, em uma entrevista que concedi  a uma TV local, me perguntaram porque tanta gente se deprimia nessa época. Pois, segundo as informações do jornalista, isso era uma ocorrência frequente e não era tratada com o devido respeito. Na realidade, o comentário do repórter procede, pois de fato a incidência depressão nessa época do ano é comum, embora não se tenha muitos trabalhos científicos no Brasil tratando desse assunto.

A OMS, estima que entre 15 a 18% das pessoas terão depressão em qualquer época da vida, independente do período do ano. As perspectivas atuais sobre o seu tratamento e prevenção, são as melhores possíveis, falta todavia, uma ampla conscientização aos enfermos e às suas famílias, que os faça entender que depressão é uma doença recorrente e que se não preveni-la, fatalmente reaparecerá em outras ocasiões.

Esse comentário acima, serve para mostrar que o aparecimento de depressão em finais de ano pode ser, nada mais na da menos, que um episódio  depressivo que ocorreu nesta época, assim como poderia ocorrer em qualquer outra. Isto é, a partir desse ponto de vista, o episódio depressivo está ligado á natureza  da própria doença e não ás mudanças da época de ano. Pois, como sabemos, a mesma é recorrente, ocorre por fases, podendo portanto, ocorrer em qualquer período.

Outra explicação, é que independente da autonomia da crise depressiva, como vimos acima, sabe-se que o “clima e o tempo” tem uma influência no curso natural em muitas doenças humanas e a depressão não escaparia a esse paradigma. Isto é, o clima exerce uma influência positiva ou negativa sobre nossas enfermidades. Há muito se sabe, que em épocas do inverno os depressivos entram em crise mais facilmente e as mesmas apresentam algumas caraterísticas predominantes: se tornam mais melancólicos, mais inibidos,  mais retraídos e mais entristecidos. Além do mais, referem com muita frequência baixa perspectiva quanto ao futuro e se apegam muito ao passado. Evidentemente que apresentam outros sintomas nessa área porém os acima predominam.

A neurociência e a psiquiatria ainda não dispões de explicações amplas sobre  a relação depressão e inverno, todavia, sabe-se que há mecanismos neuro-hormonais importantes, ligados aos ciclos biológicos vitais que interfeririam com a eclosão das crises nesse período. Algo parecido acontece com a síndrome pré-menstrual,  com o ciclo sono-vigília, e muitas outras mudanças que ocorrem em nossa fisiologia e em nosso comportamento dependendo do horário do dia, do mês,  do ano e do clima. O fato é que há uma relação estreita entre essa época e as doenças metais, configurando as chamadas variações circadianas do nosso estado psiquíco.

Outro aspecto importante é que a época do fim de ano e do natal, as pessoas se tornam mais sensíveis, mais  amáveis, mais emotivas, e por isso mesmo mais  vulneráveis ao clamor afetivo e emocional desse período. Natal e ano novo são datas muitos significativas, sempre carregadas de muitas tradições e emoções onde muitos já se vulnerabilizam independentemente de serem depressivos ou não.

A marca desse período é o contentamento, a alegria envoltos a um clima de devoção, esperança e fé. Muitos, contagiados por essa onda de alegria nem se dão conta de seus problemas do dia a dia. Ficar triste nessa data nem pensar, compartilham dor e sofrimento muito menos. Muitos tem problema de todos os tipos: nas relações familiares, problemas financeiros, problemas no trabalho, problemas de saúde, com drogas e não examinam isso como deveriam examinar ao longo do ano e, quando chega essa data obrigatoriamente terão que rever todas essas mazelas e, muitos, não tem ferramentas ou estrutura emocional para fazê-lo, o que será suficiente  para conduzí-los  a se deprimirem nessas ocasiões.

Esses três aspectos, o psicopatológico, ligado diretamente a doença depressiva; o neuroendócrimo que expressa as variações circadianas do humor; e o psicológico comportamental, relativos a vida de cada um podem, em proporções distintas, colaborara com o surgimento da depressão nesse período do ano. Independente de ser sazonal ou não, teremos que tratá-la a contento, e  preveni-la que é atualmente o que mais se recomenda em psiquiatria. A depressão portanto independente de ocorre de forma sazonal, é uma doença tratável, evitável e prevenível.

 

 

A doença das relações sociais

Uma das doenças mentais que vem ocorrendo com certa frequência nos consultórios psiquiátricos é o Transtorno da Ansiedade Social, (TAS) também conhecida como Fobia Social ou Transtorno da Fobia Social. É uma doença que se expressa através de sintomas e sinais de ansiedade, em contatos sociais ou em situações de desempenho de uma atividade na frente dos outros.

Existem dois subtipos clínicos de TAS: o tipo generalizado e o específico. O primeiro, se caracteriza pelo surgimento da ansiedade disfuncional ( patológica) em uma grande variedade de situações da vida do indivíduo, onde se inclui: conversar em pequenos grupos sociais, falar com estranhos, conhecer novas pessoas, se expor ou comer em público ou entrar em contato com autoridades. O segundo subtipo clínico, o específico, envolve uma ou duas situações em que a pessoa esteja desempenhando uma atividade social específicas, como falar em público,  paquerar, flertar, ficar com uma pessoa em uma festa. Nestas circunstâncias se sentem absolutamente inseguras e impossibilitadas de enfrentarem a  da situação,  ao ponto de  desistirem de seus intentos.

A doença se inicia na infância ou adolescência, sendo a puberdade um período de alto risco para o início  do transtorno. A instalação pode ser de forma abrupta, após um evento estressante ou de humilhação, ou insidiosa, sendo essa última condição mais frequente. Pode evoluir cronicamente e perdurar pela vida toda da pessoa, caso não seja tratada adequadamente.

No curso desse transtorno pode haver ataques de pânicos (crise aguda de ansiedade), porém sempre ligado a um evento sobre o qual a pessoa se encontre e nunca ataques espontâneos, como ocorre na doença do pânico. Em geral surgem diante de situações temidas, como ter que fazer uma apresentação em público, ser observado realizando uma tarefa, ou em outra condição onde haja indícios de stress social.

Os sintomas que mais incomodam esses paciente são: taquicardia, respiração acelerada e ofegante, opressão no  peito, tremor nas extremidades, sudorese, boca seca, inquietação e medos de ser criticado. Paralelamente podem aparecer dificuldade de pensar de modo ordenado e expectativa de ser ofendido por alguém. Só, que isso ocorre somente nas situações descritas acima e nunca de forma espontânea e sem motivo aparente.

Nessas circunstâncias, muitos pacientes evadem da situação “ameaçadora” ou procuram lugares reservados onde possam realizar qualquer tarefa, porém longe de contatos pessoais. Passado o momento, tudo volta o normal.

Conforme disse acima, os pacientes com Transtorno de Ansiedade Social ( TAS) percebem que a doença vai se instalando de forma lenta, insidiosa e de forma progressiva, onde os mesmos podem se retrair inteiramente de qualquer atividade que implique em contatos sociais. Vai havendo um progressivo prejuízo em outras funções neuroadaptativas e cognitivo-comportamentais, entremeadas com sintomas depressivos, ao ponto de muitos pensarem até em morrer.

Ocorre que apesar de todos os sintomas prejudiciais, limitantes e muito desagradáveis, sabe-se que o TAS (fobia social) apresenta atualmente um prognóstico muito favorável, especialmente com surgimento de medicações que corrigem os mecanismos fisiopatológicos (causadores) dessa doença. Além do mais, outros tratamentos como as psicoterapias, preferencialmente as de base cognitivo-comportamental, são as mais indicadas e as que melhor colaboram para a recuperação de pessoa.

O tratamento farmacológico, hoje recomendado para o TAS são muito efetivos e com alguns outros cuidados em seu manejo, logo se recuperam desse transtorno. O tratamento deve persistir por no mínimo 2 anos, mesmo que o paciente não apresente mais as queixas clássicas de sua doença.

O apoio familiar é importante para garantir o sucesso terapêutico, pois muita gente ainda não entende que as dificuldade patológicas encontradas nas relações sociais que ocorre com essas pessoas não é por que querem, são dificuldades graves e  por mais boa vontade que tenham pra se recuperar, precisam de tratamento médico e psicossocial para se livrarem disso.

 

 

 

 

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