Uso problemático de eletrônicos, de jogos e da internet

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Este é o segundo artigo que publico neste jornal exaltando os problemas que vem surgindo na sociedade moderna a partir do uso disfuncional de objetos eletrônicos, da internet e de jogos.  Para a finalidade desse artigo, definiremos uso disfuncional como sendo o mau uso, ou sem finalidade precípua, ou ainda, uso patológico ou disfuncional que é o realizado por diferentes razões as quais prejudicam a vida ou funções de quem o executa. O uso disfuncional é patológico sem finalidades funcionais e prejudicial a todos, especialmente  o sujeito.

A condição de uso disfuncional de algo pode ocorrer em qualquer contingência, entre as quais o uso da internet em seus diferente aspectos. Pode ocorrer com o uso de álcool e de outras drogas, com sexo, com comida, com mentira, com jogos e com outras ações etc. Em qualquer das condições capazes de provocar esse transtorno, o prazer, o bem estar e a satisfação, se destacam entre suas motivações e reforço. Com o surgimento da internet em 1994 com a perspectiva de facilitar a vida do homem moderno, de ampliar seus conhecimentos,  de incrementar seus estudos, de facilitar as pesquisas, de melhorar as relações entre os seres humanos e o mundo, a internet passou a propiciar muito prazer e contentamento a todos os usuários. Isso tudo reforçado pela forma simples de acessá-la, pois basta digitar um endereço no www e utilizar @, em frações de segundos as pessoas se conectam com tudo e com todos em uma velocidade surpreendente  nunca antes visto.

A internet então redefini o mundo em dois  momentos: um antes e outro depois do seu surgimento. Tudo muito rápido e sem esforço. De fato é um sistema ultra-complexo que levou anos de evolução para chegarmos onde chegamos. Foi uma invenção científica e tecnológica surpreendente em todos os sentidos pois ao longo da vida jamais houve algo assim, apesar dos bilhões de anos vividos  na face da terra.

Foi uma descoberta que proporcionou ao homem contemporâneo muitos privilégios, prerrogativas e muitos ganhos. Transformou-se em algo tão importante que hoje não imaginamos o mundo, uma empresa, um negócio ou uma sociedade, sem a utilização da internet. Fica difícil nós conseguirmos viver sem os recursos dessa ferramenta, sob qualquer ponto de vista, além do mais está sempre evoluindo e aperfeiçoando suas finalidades e seus alcances. Está mudando tudo tanto em nossa volta, quanto dentro de nós mesmos.

Com o advento dos mais variados tidos de artefatos eletrônicos, cada vez mais sofisticados e eficientes, surge uma geração de usuários que estão adoecendo, pois já perderam a noção do uso funcional do www. Se tornaram aficionados, obcecado pela web ao ponto de perderem o limite de seu uso, onde o sentido de suas vida está exclusivamente baseados na relação com esses objetos ou atividades a ela relacionada. Praticamente tudo se torna subordinado à internet: se comunicar, ler as notícias em tempo real, saber tudo sem sair de casa, brincar, se comunicar, falar, sorrir, se distrair conversar com alguém, se relacionar, pesquisar etc., com uma notável expansão nos últimos anos.

Dentro dessa perspectiva e com avanço tecnológico surgem os jogos eletrônicos, que se transforma em são outros desafios. Desde os trabalhos iniciais de Alan Turing em 1950, sobre a  Inteligência Artificial, até os jogos que são praticados atualmente por crianças, adolescentes e adultos, muita coisa mudou e evoluiu muito. Os jogos são atividades que podem ser aplicados a qualquer ambiente virtual: educação (aprendizagem), área terapêutica (no tratamento de diversas doenças), no entretenimento, na competição, na diversão na vida real. Jogar é brincar, brincar constitui uma das maiores aspirações dos seres humanos nas fases da vida e tudo que e divertido gera atração.

O surgimento de um mundo novo, sedutor e apaixonante via internet e o aperfeiçoamento dos jogos eletrônicos como disse anteriormente fez com que um grande números de pessoas adoecessem também com esses jogos. Os estudos em torno desse transtorno cresce a cada dia não só pelo volume cada vez maior de pessoas acometidas por esse problema, quanto pela sua severidade. É tão importante isso que já está sendo cogitada a inserção de novos diagnósticos em manuais psiquiátricos designados de: dependência de jogos eletrônicos e de dependência de Internet. Em escala mundial, estima-se que haja em torno de 3% de dependentes de jogos eletrônicos e 9% apresentando uso problemático ou já são dependentes da internet. Estima-se que haja no Brasil 8 milhões de pessoas dependentes de internet. O transtorno acomete predominantemente pessoas do sexo masculino, especialmente adolescentes e adultos jovens.

Eis algumas dicas que nos auxiliam na identificação do problema: preocupação persistente com a Internet; utilizar a Internet com frequência cada vez maior; insucesso frequentes em controlar, diminuir ou parar o uso da Internet; os usuários passam mal, sentem-se cansados, instáveis, deprimidos ou irritados quando tentam parar o uso da Internet; ficam conectados mais tempo do que planejado; comprometem relacionamentos importantes como o emprego,  os estudos ou outros compromissos, devido ao uso da Internet; mentem para terceiros sobre a quantidade de tempo que utiliza a Internet; usam a Internet como forma de escapismo de problemas cotidianos. No caso de dependentes de jogos eletrônicos, praticamente os sintomas são os mesmos. Portanto, muito cautela para não adoecer nesse sentido pois é uma doença grave, com prognóstico desfavorável e que exige um tratamento especial para a reabilitação desses enfermos.

 

 

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O cérebro cansado

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Muitos problemas de saúde mental que adquirimos no dia a dia advém do fato de não respeitarmos nossas necessidades vitais, uma delas é o repouso. Há pessoas que se vangloriam de trabalhar muito, de não terem folga, de não ter tempo pra nada, de não repousarem,  de não tirar férias como se isto fosse algo vantajoso ou algo de muito valor para elas. O contingente de pessoas que se encontram com esse estilo de vida é cada vez maior, ao ponto dos ergonomistas terem cunhado o terno workaholics (viciados em trabalho) para designá-los.

Os estudos sobre o trabalho excessivo e o impacto disso em nossa saúde mental vem crescendo muito e esses vem demonstrando que é uma tremenda ilusão se trabalhar exageradamente em nome de qualquer coisa. Essa prática é insalubre e corresponde a uma espécie de castigo auto imposto, em que tais pessoas estão de fato fazendo muito mal para si mesmos. Nos últimos anos, a higiene mental e a neurociência vem demonstrando que o “ócio” recarrega a bateria e refaz uma séries enormes de percas adquiridas pelo excesso de trabalho. O cérebro semelhantemente ao corpo e os músculos precisa de repouso e de descanso. Muitas empresas hoje no mundo já incorporaram a noção de entremear horas de lazer e horas de trabalho entre seus colaboradores, por perceberem que os mesmos produzem mais e melhor.

A chamada estafa mental é uma condição muito ruim do ponto de vista neurofuncional ou neurofisiológico. É a fase final de um mecanismo de neuroadaptação que o sujeito se impõe como resultado de atividades exageradas. O organismo, sabiamente, se encarregará  de denunciar estes abusos antes de o indivíduo entrar em um estado de falência total por estafa mental. Nestas condições o sujeito apresenta muitas queixas físicas e psicológicas, sendo o cansaço um dos sintomas mais importantes, onde a pessoa parece mesmo que não consegui mais pensar e nem fazer nada. É como se nosso cérebro estivesse exausto, bloqueado e parou total. Nem dormir conseguem.

O neurocirurgião do Hospital das Clínicas de SP, Dr. Fernando Gomes Pinto, explica que quando os lobos frontais, regiões muito importantes de nossa vida mental, são usados em excesso eles entram em processo de esgotamento e exaustão então é preciso parar, relaxar e descansá-los. Muitas funções que são regidas por essas regiões do cérebro se alteram em razão do cansaço, pois sabemos que semelhante ao que ocorre com o lado físico, o mental também precisa de ócio e repouso.

Os sintomas mais frequentes que observamos entre as pessoas que trabalham excessivamente e que não repousam, são: fortes dores de cabeça, tonturas, tremores, falta de ar, oscilações de humor, distúrbios do sono, dificuldade de concentração e até problemas digestivos.  Referem ainda perda de memória, inquietação, dificuldade na concentração e déficit de atenção e aprendizagem, quando o cérebro atinge a estafa é porque não estamos conseguindo dividir nossa atenção para todos os pontos. “Funciona mais ou menos como uma estrela em que todas as pontas precisam ser iguais. É muito importante expandir e equilibrar a vida pessoal, emocional, conjugal, financeira, familiar, profissional e sobre tudo separar um tempo para o lazer. E essa equação tem que ser diária”, exemplifica o neurocirurgião.

Outros estudos mostram que o cérebro não consegue raciocinar e se concentrar 100% do tempo, demonstrando que é preciso manter algumas horas do dia sem pensar no trabalho, sem fazer contas e sem se preocupar com qualquer coisa.

A estafa mental além de comprometer o desempenho na rotina diária, especialmente quanto a produtividade e a qualidade do que se faz, muitas outras doenças mentais e físicas podem ser desencadeadas por ela: depressão, hipertensão, fobias, ansiedade e até problemas cardíacos e gástricos. Esses e outros males modernos muitas vezes são frutos das alterações do sistema nervoso central que ocorrem em função do excesso de responsabilidades e tensões acumuladas que provocam um desgaste metabólico e mental muito grande.

Outro grave equívoco, que já esta estabelecido em nossa sociedade e em nossa cultura, é pensarmos que relaxar é beber muito, é se embriagar, é passar noites seguidas em festa, é exagerar em atividades físicas ou mesmo em dietas. Todas estas atividades são muito importantes e já fazem parte do nosso calendário de atividades sociais só, que pra que tudo isso tenha um sentido saudável, relaxante ou antiestafa,  tem que ser praticadas com moderação. O exagero e o excesso nunca serviu para equalizar nossa vida, muito menos para promover e garantir nossa saúde física e mental.

Diante de tudo isso o que recomendamos é que essas pessoas estafadas do ponto de vista laborativo, que estão doentes e não sabem, mudem seu estilo de vida.  Os especialistas recomendam uma série de medidas, entre estas: dieta equilibrada, uso moderado de álcool, exercícios regulares de acordo com a disposição física e a manutenção do equilíbrio emocional para controlar o estresse. Reabilitação fisioterápica e condicionamento físico são fundamentais para a manutenção da atividade física e profissional. Nem só de trabalho vive o homem.

 

 

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Tratamento farmacológico das doenças mentais

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               O tratamento das doenças mentais sempre foi um grande desafio à medicina. Por um lado a natureza complexa dessas doenças, por outro, os escassos recursos farmacológicos para realizar tais tratamentos. Além disso, existe o famigerado preconceito, não só sobre as doenças e os doentes mentais, quanto ao próprio tratamento dessas enfermidades. Sobre isso, há pessoas, um tanto radicais, que dizem com toda convicção que as drogas utilizadas para tratar esses doentes são perigosas, fazem mal e que podem viciar. Outros, defendem ardorosamente seu uso, pois acreditam que são drogas que “resolvem tudo” e fazem verdadeira apologia ao seu uso. Há ainda os mais sensatos e cautelosos, que dizem que quem sabe melhor sobre a utilidade destas substâncias, são os médicos, quem de fato estudou e vai tratar os doentes e atribuem ao médico a prerrogativa e a responsabilidade no seu manejo.

Essas drogas são denominadas de psicotrópicas, termo que se origina de dois outros vocábulos, psico e trópica. A primeira provém do grego, que significa psiquê, alma, mente. A segunda, direção, sentido, encaminhamento. Portanto, etimologicamente são drogas que funcionam na mente, mais especificamente, no cérebro, sede material de nossa vida mental.

São largamente utilizadas na prática médica, pois são indicadas para um grande número de condições: na clínica médica, na psiquiatria e na neurologia. Na psiquiatria são efetivas nos tratamento dos transtornos emocionais e comportamentais. Recebem as mais diferentes designações de conformidade com sua área de aplicação: antidepressivo, anticompulsivo, ansiolítico, estabilizadores do humor, antifóbico, antimaníaco, antiepiléptico antistress, etc. Independentes dessa classificação farmacológica ou de sua indicação clínica, todas, são extremamente importante, quando bem usadas, para promover e garantir a recuperação dos portadores dessas condições clínicas.

Com o avanço das pesquisas e dos conhecimentos em neurociências, a natureza biológica e psicossocial das doenças mentais se tornou mais conhecida. Sabe-se que essas doenças, entre outras coisas, se originam de disfunções que ocorrem no cérebro e, dependendo da forma, do local, e de como isto ocorre, é que serão definidas clinicamente as enfermidades mentais.

Ocorre que, como dissemos acima, pela imensa complexidade que se reveste as doenças mentais, e pela presença de muitos outros fatores que colaboram para sua manifestação, nem todas deverão ser tratadas somente com medicamentos, pois, do ponto de vista médico e psicossocial, há outras intervenções e abordagens, que são tão úteis quanto o uso de tais drogas na recuperação desses enfermos, de tal forma que o uso indiscriminado destas drogas, como vem acontecendo no mundo e em nosso país, pode provocar graves problemas de saúde aos usuários.

Há atualmente estudos que demonstram o uso exagerado de psicotrópicos, especialmente de tranquilizantes e dos hipnoindutores (indutores do sono), e muitos desses usuários já são dependentes, isto é, fazem uso dessas medicações não por indicação médica, e sim pela dependência que já se instalou. Estima-se que no Brasil sejam consumidos 4 toneladas/ano de tranquilizantes. Em 2005, através do I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas verificou-se que o consumo de Benzodiazepínicos (tranquilizante) é maior na faixa etária igual ou superior que 35 anos e que houve um predomínio no consumo destes medicamentos pelo sexo feminino, comparado ao masculino, em todas as faixas etárias. Nesse levantamento, identificou-se 0,54% de homens dependentes, sendo que a prevalência entre mulheres, maiores que 35 anos, foi 1,02%.

O fato é que, o exagero no uso e na prescrição irá colaborar para o surgimento de um contingente muito grande de pessoas que ao invés de se beneficiarem dos mesmos, irão adoecer tornando-os dependentes dos mesmos ou mesmo adquirindo outras patologias por uso indiscriminado dessas drogas.

A sociedade pós moderna, por outro lado, de qualquer forma, incentiva o uso abusivo dessas drogas. A corrida desenfreada pela felicidade e pelo prazer fez com que o uso de alguns desses medicamentos se transformassem  no meio mais fácil de se adquirir isso. A exigência para se adquirir prazer, ter paz de espírito e ser feliz se tornou compulsiva, por isso mesmo, empurra muitos indivíduos a fantasiosa expectativa de que tem que adquirir tudo isso de qualquer forma, mesmo que seja à custas de tranquilizantes ou de soníferos. Essa prática abusiva no uso destes medicamentos psicotrópicos colabora para impedir que as pessoas percebam que o sofrimento e os dissabores da vida podem fazer parte do nosso amadurecimento e do nosso crescimento existencial.

A medicalização dos sentimentos,  da saúde, da dor, do insucesso, da vitória ou do fracasso e da tristeza, ocasionada pelo desencanto e pelas intempéries da vida, não deveriam ser consideradas motivo de se tomar ou prescreverem esses medicamentos, pois essas condições correspondem a eventos naturais entre os seres humanos e deveriam ser superadas com garra, com tenacidade e com determinação pessoal e não através de medicamentos seja de que tipo for, pois tais pessoas correm o risco iminente de adoecerem.

Esse entendimento, todavia, tem sido muito difícil de ser assimilado e acaba colaborando para uma corrida desenfreada em busca de algo que possa, mesmo de forma efêmera e imediata, provocar a ilusão de acabarmos com os problemas.

 

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O amor, as paixões e o cérebro

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A neurociência caminha a passos largos no sentido de esclarecer a base material dos sentimentos humanos condição por demais importantes para garantir nossa atividade mental, e       que até no momento não haviam sido desenvolvidos estudos suficientes para esclarecer sua natureza e origem.

Um dos sentimentos especiais e um dos mais importantes, que está sendo muito estudado nos últimos anos, é o amor. É um sentimento indispensável a todos nós, ao ponto de todos quererem senti-lo e viver sob seu comando. É um ingrediente  indispensável à nossa felicidade, nos deixa em paz conosco e com os outros, nos faz avançar na vida e nos motiva às conquistas. O amor nos faz tolerantes, amáveis e nos dá a base para as relações sociais, além de garantir a integridade de nossa vida afetiva.

Quem já se apaixonou sabe como são boas, e inesquecíveis estas experiência. Parece que estamos em estado de graça em todos os sentidos. Fisicamente, sentimos um friozinho na barriga todas as vezes que vemos ou falamos com a pessoa amada, o coração bate mais forte, a respiração se torna rápida, falta o ar nos pulmões, as mãos ficam frias, sentimos um medo enorme de perdermos a pessoa que se ama. Quando amando a melhor sensação é a de estarmos vivendo a vida plenamente e com toda sua intensidade.

As pesquisas que são realizadas em neurociência para se esclarecer a natureza do amor são complexas e sofisticadas. São utilizados equipamentos avançados de neuroimagem, tais como o PET- SCAM, ressonância magnética nuclear e outros métodos. Os cientistas passaram a ter um enorme interesse em decifrar os enigmas do amor semelhantemente ao que ocorria com outros sentimentos, como o medo a raiva, onde os estudos estavam mais avançados. Esses estudos demonstram que quando se ama algumas regiões do cérebro reagem de forma específica a esse sentimento e que esses estímulos ocorrem de maneira muito semelhante ao que ocorre no cérebro de alguém que usa drogas, as mesmas que viciam, com o álcool, tabaco e outras.

Estas conclusões foram obtidas através de imagens de ressonância magnética do cérebro de mulheres e homens que afirmaram estarem apaixonados, em períodos de tempo que variavam de um mês a dois anos.

A parte do cérebro dos participantes apaixonados reagiam igualmente aos estímulos da mesma forma como as partes do cérebro de pessoas envolvidas com o prazer originários do uso de drogas. Portanto havia um local comum para ambas as experiências. Esta região foi designada de área de recompensa cerebral. É uma área profunda do cérebro, formado por outras pequenas subestruturas localizadas no hipotálamo. Os neurocientistas concluíram, entre outras coisas, que o amor é uma dos sentimentos mais poderosos que podemos ter e esta região relacionada com esses sentimento é essencial e indispensável para garantir a nossa sobrevivência. É ela que nos ajuda a reconhecer se algo é bom ou não para nossa existência.

Como vimos acima, é uma  área riquíssima dopamina, um neurotransmissor cerebral envolvido com o prazer, com a alegria e com a felicidade. A dopamina nesta região do cérebro é abundante, especialmente quando há estimulação dessa área. É uma região que estabelece relações profundas com muitas outras áreas do cérebro, através das quais são garantidas as funções necessárias ao nosso equilíbrio mental, emocional social.

Esses trabalhos são unanimes em afirmar, que amar é uma experiência altamente prazerosa e indispensável para nossa vida. Através dele nós nos sentimos mais aptos, mais inteligentes, e com mais disposição. Sentimo-nos com mais coragem e mais seguros. Todo nosso corpo funciona melhor, a auto-estima e autoconfiança se ampliam ainda mais. Os que amam se sentem mais tranqüilos, mais companheiros e mais solidários, demonstrando que o amor desperta em cada um de nós, sentimentos de fraternidade e companheirismo os quais tornando as pessoas mais sociáveis e mais sensíveis.

Quem ama tem mais saúde, pois todos os sistemas biológicos, entre os quais  imunológico, cardiorrespiratório, renal, digestivo e osteomuscular, se tornam mais aptos e se articulam melhor em todo corpo. Do ponto de vista sexual há uma melhora no desempenho, na qualidade e na intensidade das relações.

Porém, nem tudo são flores. Há os que adoecem expressando o amor, esses são disfuncionais os quais apresentam alterações profundas neste sentimento ao ponto de cometerem crimes e atitudes violentas, hostilidades, submissão, indiferença afetiva entre si. Estes sentimentos patológicos respondem por muitos crimes (crimes passionais), em geral abomináveis. Uns chegam ao cúmulo de matar e se suicidar por amor.

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A depressão de final de ano

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A depressão de final de ano

 

Na virada do ano, em uma entrevista que concedi  a uma TV local, me perguntaram porque tanta gente se deprimia nessa época. Pois, segundo as informações do jornalista, isso era uma ocorrência frequente e não era tratada com o devido respeito. Na realidade, o comentário do repórter procede, pois de fato a incidência depressão nessa época do ano é comum, embora não se tenha muitos trabalhos científicos no Brasil tratando desse assunto.

A OMS, estima que entre 15 a 18% das pessoas terão depressão em qualquer época da vida, independente do período do ano. As perspectivas atuais sobre o seu tratamento e prevenção, são as melhores possíveis, falta todavia, uma ampla conscientização aos enfermos e às suas famílias, que os faça entender que depressão é uma doença recorrente e que se não preveni-la, fatalmente reaparecerá em outras ocasiões.

Esse comentário acima, serve para mostrar que o aparecimento de depressão em finais de ano pode ser, nada mais na da menos, que um episódio  depressivo que ocorreu nesta época, assim como poderia ocorrer em qualquer outra. Isto é, a partir desse ponto de vista, o episódio depressivo está ligado á natureza  da própria doença e não ás mudanças da época de ano. Pois, como sabemos, a mesma é recorrente, ocorre por fases, podendo portanto, ocorrer em qualquer período.

Outra explicação, é que independente da autonomia da crise depressiva, como vimos acima, sabe-se que o “clima e o tempo” tem uma influência no curso natural em muitas doenças humanas e a depressão não escaparia a esse paradigma. Isto é, o clima exerce uma influência positiva ou negativa sobre nossas enfermidades. Há muito se sabe, que em épocas do inverno os depressivos entram em crise mais facilmente e as mesmas apresentam algumas caraterísticas predominantes: se tornam mais melancólicos, mais inibidos,  mais retraídos e mais entristecidos. Além do mais, referem com muita frequência baixa perspectiva quanto ao futuro e se apegam muito ao passado. Evidentemente que apresentam outros sintomas nessa área porém os acima predominam.

A neurociência e a psiquiatria ainda não dispões de explicações amplas sobre  a relação depressão e inverno, todavia, sabe-se que há mecanismos neuro-hormonais importantes, ligados aos ciclos biológicos vitais que interfeririam com a eclosão das crises nesse período. Algo parecido acontece com a síndrome pré-menstrual,  com o ciclo sono-vigília, e muitas outras mudanças que ocorrem em nossa fisiologia e em nosso comportamento dependendo do horário do dia, do mês,  do ano e do clima. O fato é que há uma relação estreita entre essa época e as doenças metais, configurando as chamadas variações circadianas do nosso estado psiquíco.

Outro aspecto importante é que a época do fim de ano e do natal, as pessoas se tornam mais sensíveis, mais  amáveis, mais emotivas, e por isso mesmo mais  vulneráveis ao clamor afetivo e emocional desse período. Natal e ano novo são datas muitos significativas, sempre carregadas de muitas tradições e emoções onde muitos já se vulnerabilizam independentemente de serem depressivos ou não.

A marca desse período é o contentamento, a alegria envoltos a um clima de devoção, esperança e fé. Muitos, contagiados por essa onda de alegria nem se dão conta de seus problemas do dia a dia. Ficar triste nessa data nem pensar, compartilham dor e sofrimento muito menos. Muitos tem problema de todos os tipos: nas relações familiares, problemas financeiros, problemas no trabalho, problemas de saúde, com drogas e não examinam isso como deveriam examinar ao longo do ano e, quando chega essa data obrigatoriamente terão que rever todas essas mazelas e, muitos, não tem ferramentas ou estrutura emocional para fazê-lo, o que será suficiente  para conduzí-los  a se deprimirem nessas ocasiões.

Esses três aspectos, o psicopatológico, ligado diretamente a doença depressiva; o neuroendócrimo que expressa as variações circadianas do humor; e o psicológico comportamental, relativos a vida de cada um podem, em proporções distintas, colaborara com o surgimento da depressão nesse período do ano. Independente de ser sazonal ou não, teremos que tratá-la a contento, e  preveni-la que é atualmente o que mais se recomenda em psiquiatria. A depressão portanto independente de ocorre de forma sazonal, é uma doença tratável, evitável e prevenível.

 

 

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A doença das relações sociais

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Uma das doenças mentais que vem ocorrendo com certa frequência nos consultórios psiquiátricos é o Transtorno da Ansiedade Social, (TAS) também conhecida como Fobia Social ou Transtorno da Fobia Social. É uma doença que se expressa através de sintomas e sinais de ansiedade, em contatos sociais ou em situações de desempenho de uma atividade na frente dos outros.

Existem dois subtipos clínicos de TAS: o tipo generalizado e o específico. O primeiro, se caracteriza pelo surgimento da ansiedade disfuncional ( patológica) em uma grande variedade de situações da vida do indivíduo, onde se inclui: conversar em pequenos grupos sociais, falar com estranhos, conhecer novas pessoas, se expor ou comer em público ou entrar em contato com autoridades. O segundo subtipo clínico, o específico, envolve uma ou duas situações em que a pessoa esteja desempenhando uma atividade social específicas, como falar em público,  paquerar, flertar, ficar com uma pessoa em uma festa. Nestas circunstâncias se sentem absolutamente inseguras e impossibilitadas de enfrentarem a  da situação,  ao ponto de  desistirem de seus intentos.

A doença se inicia na infância ou adolescência, sendo a puberdade um período de alto risco para o início  do transtorno. A instalação pode ser de forma abrupta, após um evento estressante ou de humilhação, ou insidiosa, sendo essa última condição mais frequente. Pode evoluir cronicamente e perdurar pela vida toda da pessoa, caso não seja tratada adequadamente.

No curso desse transtorno pode haver ataques de pânicos (crise aguda de ansiedade), porém sempre ligado a um evento sobre o qual a pessoa se encontre e nunca ataques espontâneos, como ocorre na doença do pânico. Em geral surgem diante de situações temidas, como ter que fazer uma apresentação em público, ser observado realizando uma tarefa, ou em outra condição onde haja indícios de stress social.

Os sintomas que mais incomodam esses paciente são: taquicardia, respiração acelerada e ofegante, opressão no  peito, tremor nas extremidades, sudorese, boca seca, inquietação e medos de ser criticado. Paralelamente podem aparecer dificuldade de pensar de modo ordenado e expectativa de ser ofendido por alguém. Só, que isso ocorre somente nas situações descritas acima e nunca de forma espontânea e sem motivo aparente.

Nessas circunstâncias, muitos pacientes evadem da situação “ameaçadora” ou procuram lugares reservados onde possam realizar qualquer tarefa, porém longe de contatos pessoais. Passado o momento, tudo volta o normal.

Conforme disse acima, os pacientes com Transtorno de Ansiedade Social ( TAS) percebem que a doença vai se instalando de forma lenta, insidiosa e de forma progressiva, onde os mesmos podem se retrair inteiramente de qualquer atividade que implique em contatos sociais. Vai havendo um progressivo prejuízo em outras funções neuroadaptativas e cognitivo-comportamentais, entremeadas com sintomas depressivos, ao ponto de muitos pensarem até em morrer.

Ocorre que apesar de todos os sintomas prejudiciais, limitantes e muito desagradáveis, sabe-se que o TAS (fobia social) apresenta atualmente um prognóstico muito favorável, especialmente com surgimento de medicações que corrigem os mecanismos fisiopatológicos (causadores) dessa doença. Além do mais, outros tratamentos como as psicoterapias, preferencialmente as de base cognitivo-comportamental, são as mais indicadas e as que melhor colaboram para a recuperação de pessoa.

O tratamento farmacológico, hoje recomendado para o TAS são muito efetivos e com alguns outros cuidados em seu manejo, logo se recuperam desse transtorno. O tratamento deve persistir por no mínimo 2 anos, mesmo que o paciente não apresente mais as queixas clássicas de sua doença.

O apoio familiar é importante para garantir o sucesso terapêutico, pois muita gente ainda não entende que as dificuldade patológicas encontradas nas relações sociais que ocorre com essas pessoas não é por que querem, são dificuldades graves e  por mais boa vontade que tenham pra se recuperar, precisam de tratamento médico e psicossocial para se livrarem disso.

 

 

 

 

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