Violência e tolerância: condições insuportáveis

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Talvez não haja, na atualidade, nada que chame tanto nossa atenção quanto os fatos relacionados à violência. É o prato cheio dos jornais, das tvs, dos noticiosos, dos blogs, enfim todos os meios de comunicação que nos abastecem de notícias todos os dias. Além do mais, é o assunto corriqueiro nas rodas sociais, dos encontros, das conversas informais das quais todos nós participamos.

Nesses diferentes momentos, é unânime a perplexidade de todos ante esse fenômeno, que cresce a cada dia e vem tomando proporções gigantescas  e insuportáveis do ponto de vista social e pessoal. Todos se mostram assustados, inseguros e sem saber onde buscar saídas. Diante disso, o que nos incomoda a todos, é o fato de haver cada vez menos lugares seguros onde as pessoas possam se encontrar, sem sentirem-se ameaçadas ou perseguidas.

Passou-se a criar rotinas tão estreitas em nosso dia a dia que se afunilam em rotas diárias supostamente seguras por medo de mudar a rota  e ver-se surpreendido por um marginal, um bandido, assaltante ou assassino. Nem dentro das próprias casas, nos restaurantes, nas escolas, nas universidades, nos ambientes de lazer, há sensação de segurança. A situação é tão séria, que há os que dizem que os cidadão estão presos e os marginais soltos. Vejam onde chegamos com tanta violência.

Sobre a violência, tenho dito que se trata de um epifenômeno, isto é, por trás dela é que estão os verdadeiros problemas, que a rigor, não aparecem mas somente os seus efeitos. É um fenômeno abrangente que quando se manifesta outras questões já se insinuaram e não se percebeu. Para que a violência possa ser plenamente examinada, temos sempre que contextualizá-la. A violência não se encerra por si mesma e não tem vida própria, é um sintoma grave de um ser enfermo que a qualquer momento pode morrer.

Veja, por exemplo, o que está havendo em nossa capital. De uma cidadezinha linda, livre e pacata, virou um inferno onde prevalecem práticas de intensa corrupção em órgãos públicos, falcatruas de todos os tipos, negligência ostensiva dos dirigentes no trato da coisa pública, omissão generalizada. Nunca se matou tanta gente quanto se mata hoje nessa cidade e nesse estado. A cada dia, se tem a impressão de que foi costurado um pacto de banalização da morte e um desrespeito assumido pela vida humana. Mata-se mais proporcionalmente em São Luís do que nas grandes guerras. O pior é não observar medidas concretas contextualizadas e estruturantes que demonstrem sensibilidade ao problema, que já é um drama local, objeto de notícia internacional, acompanhada por pressão de organismos internacionais que condenam o que está havendo nessa cidade.

 

Veja o estado vergonhoso a que chegamos: a Organização dos Estados Americanos – OEA,  através da Corte Interamericana de Direitos Humanos – CIDH, determinou que nosso país adote medidas urgentes para interferir com a situação de superlotação  dos presídios do Maranhão, onde já foram registrados mais de 50 mortes ocorridas neste ano. É de fato algo lamentável e que nos dá uma sensação de indignação total. Essa medida internacional atesta a negligência absoluta e falta de comando do Poder Público em manter um sistema prisional tão importante para o equilíbrio e segurança sociais.

Apesar de tudo, há uma espécie de tolerância assustadora ante a violência que vem ocorrendo em nossa cidade e em nosso país. A impressão é que não sabem o que fazer nem onde vai parar. Enquanto a violência toma conta da cidade, há uma demonstração de resiliência do Poder Público com a barbárie. Os assassinatos são cometidos das formas mais absurdas, em todos os lugares, dentro das casas, nos presídios, nos bares, nas ruas, nas festas, onde quer que seja, as mortes estão acontecendo. E pior, ora com requinte de extrema crueldade, como a que se viu na Penitenciária de Pedrinhas, ora de inexplicável banalidade do agressor.  Ao mesmo tempo clama-se por medidas emergenciais para sustar essa onda de crime e de  horror, e nada. Estamos de fato por conta da sorte pois se formos esperar que o poder pública tome alguma iniciativa para garantir nosso direito mínimo que é o de assegurar nossa segurança, não acredito.

 

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