A medicina pede apoio aos parlamentares maranhenses

Com todo respeito aos caros leitores deste importante Jornal Pequeno me dirigirei especialmente aos parlamentares maranhenses, Deputados Federais e Senadores, pois na terça feira dia 20 votarão dois temas polêmicos neste país: os vetos que a Presidente Dilma Rousseff concedeu à lei denominada Lei do Ato Médico e o MP 621 que trata do Programa Mais Médico.

Ambas as matérias são muito importante para a saúde pública brasileira. Uma a meu ver técnica e ética, pois trata da vinda de médicos estrangeiros para trabalharem em nosso país sem o exame tradicional de reavaliação do diploma destes médicos (REVALIDA), fato que poderá causar problemas à população por não se saber sobre a competência, a experiência e as habilidades técnicas destes médicos.

A outra situação que será votada pelos Srs. diz respeito aos 10 vetos, realizados pela Presidente Dilma Rousseff, sobre a lei que institui o Ato Médico que nada mais é que um conjunto de normais e regras que estabelecem e definem a função do médico brasileiro. Esta lei já tinha sido aprovada pelos Senhores no Congresso Nacional na íntegra e, de forma desrespeitosa e antiética rasgam-na desconsiderando todo o esforço que os Senhores parlamentares desprenderam, juntamente com o órgão que representam a nossa classe médica, bem como outros órgãos representativos de outras profissões ao longo destes 12 últimos anos.

Todos os vetos foram largamente examinados tecnicamente e se constatou que os mesmos carecem de sentido técnico e ético para garantir sua aplicabilidade. Entre todos os vetos o mais acintoso é o que concerne ao artigo 4º desta Lei que tira literalmente do profissional médico a prerrogativa do diagnóstico e respectivamente do tratamento das enfermidades humana. Este veto simplesmente mutilou nossa profissão, foi um ato inconsequente e impensado do ponto de vista técnico, histórico e político que entre outras coisas rasga a tradição da medicina umas mais antigas profissões do mundo.

Só a guisa de esclarecimento: Diagnóstico é um termo proveniente do grego que significa conhecer (dia= através de; e gnos = conhecimento). É uma das mais importantes etapas da prática médica, pois é através dele que se garante a efetivação de um tratamento. Não se faz tratamento sem diagnóstico. Sem diagnóstico estamos cegos e não sabemos o que fazer a nenhum enfermo que nos procura. Quando alguém busca o médico entre outras coisas ele espera que este médico lhes diga o que ele tem, o que pode acontecer com ele e como será realizado seu tratamento.

Quando a Presidente da República retira do médico esta prerrogativa ela mata a lei e o médico, o mesmo que lhe salvou a vida. Todo seu argumento alega que o Art 4º desta lei provocaria problemas na execussão de alguns programas do SUS tais como o de prevenção e controle à malária, da tuberculose, da hanseníase e das doenças sexualmente transmissíveis. Alegando ainda que a sanção do texto original poderia comprometer as políticas públicas da área de saúde, além de introduzir elevado risco de judicialização da matéria.

Diante disso os órgãos que representam a classe médica argumentam que os diagnósticos realizados por outros profissionais da área da saúde estão garantidos pelo § 2º do Art. 4º e pelo § 7º do Art. 4º. É uma interpretação errônea dizer que a prerrogativa do diagnostico médico e o respectivo tratamento (Inciso I) impediria a continuidade de programas do SUS. Quanto aos programas de prevenção e controle citados são conduzidos por equipes multiprofissionais que contam com a presença do médico. No ingresso de um paciente em um programa de saúde pública, quem faz o diagnóstico, por exemplo, de tuberculose, é o médico e a equipe conduz o programa terapêutico que foi elaborado por toda a equipe, com a participação do médico. Lembramos ainda que o § 7º do Art. 4º resguarda as competências próprias das outras profissões. Como exemplo de competência de outras profissões nos programas de saúde pública citamos a Lei 7498/1986 que regulamenta o exercício da enfermagem.

Estas competências do Enfermeiro e dos outros profissionais estão resguardadas pelo §7º do Art. 4º desta Lei. Assim, fica bastante claro que esta Lei do Ato Médico não compromete as políticas públicas da área de saúde nem oferece risco de judicialização da saúde do nosso país. Trabalhar em equipe não significa que diversos profissionais possam realizar os atos uns dos outros. Mas sim, que cada membro da equipe realiza os atos próprios de sua profissão de maneira harmônica com os demais. Não existem rotinas e protocolos consagrados nos estabelecimentos privados de saúde nos quais profissionais que não são médicos realizem diagnóstico das doenças.

Portanto, caros parlamentares maranhenses, o que nós queremos não é impedir que outros profissionais sejam lesados em suas prerrogativas profissionais no exercício da saúde brasileira e sim que nós médicos semelhantemente aos outros profissionais que trabalham na saúde pública e privada deste país tenha sua identidade profissional estabelecida e com isto desenvolver com dignidade suas ações. Aos Srs. Parlamentares que terão esta histórica responsabilidade nas mãos no dia 20 lhes pedimos que votem com razão e de forma suprapartidária garantindo com seus votos a forma original da Lei do Ato Médico derrubando os vetos que só trazem problemas para a saúde pública deste país.

Depressão: é melhor prevenir do que remediar

Esse é um provérbio antigo e que tem um significado especial, apesar de muito pouco ser feito no sentido de sua ampla aplicação. Prevenir significa antecipar-se, chegar antes, impedir que algo aconteça evitar que um fato conhecido reapareça e cause danos ou problemas já conhecidos. A prevenção é uma das mais importantes ferramentas na área da saúde, embora não seja de fato aplicada em sua plenitude.

Do ponto de vista da saúde pública existem três modalidades de prevenção: primária, secundária e terciária. A prevenção primária evita que um fato por demais conhecido ocorra a um indivíduo ou a uma sociedade. Como exemplo, temos o processo de vacinação da população, através da qual evita-se que inúmeras doenças apareçam na população em  geral.

Na prevenção secundária, o problema já aconteceu, todavia, procura-se impedir que o mesmo evolua e gere mais danos ao indivíduo ou à sociedade. Na prevenção terciária, procura-se reparar os danos ocasionados pelos problemas, isto é, procura-se reabilitar os indivíduos em suas diferentes funções físicas ou psicossociais.

Nesse sentido, a depressão é uma das doenças mais prejudicadas por não se prevenir sua recorrência. Sabe-se que é um transtorno que reaparece ao longo da vida, que até 2030 será a doença mais prevalente entre os seres humanos, que é a segunda principal causa de incapacidade funcional até 2020, e, mesmo assim, ainda não se dispõe de políticas em saúde que impeçam seu reaparecimento.

A depressão atinge mais de 120 milhões de pessoas no mundo e responde por mais da metade dos suicídios, acarretando muitos sofrimentos à humanidade. Uma em cada 4 mulheres e um em cada 10 homens terão depressão ao longo da vida e um terço dos que já tiveram, recairão. Quem já teve uma crise de depressão na vida terá 50% de chance de ter outra; quem já teve duas crises, terá mais de 65% de chance de ter a terceira e, quem já teve mais de três crises de depressão na vida, terá 100% de chance de ter outras. Sendo assim, atualmente, recomenda-se que a partir da segunda crise depressiva, o médico institua inexoravelmente medidas preventivas para evitar que esta doença reapareça.

Devemos, portanto, adotar três grandes medidas diante da depressão: tratar a crise atual; prevenir a ocorrência de outras e reparar os danos que as crises anteriores determinaram na vida desta pessoa (reinserção). Se forem adotadas todas essas medidas já consagradas pela experiência e pelo conhecimento científico, estes enfermos não mais adoecerão. Essas medidas deverão ser tomadas em bloco para serem efetivas. Um relatório recente a OMS mostra que 45% das recaídas de depressão são atribuídas a pacientes que deixaram de tomar seus medicamentos ou interrompem o uso de forma inadequada, tornando-os vulneráveis a mais crises da doença. Neste contexto, conclui-se que o uso correto destes medicamentos evitará que haja recaídas.

Além da utilização criteriosa dos medicamentos, dispomos de dois outros meios físicos para se prevenir recaídas largamente utilizadas na Europa no Canadá e Estados Unidos: a Estimulação Magnética Transcraniana – EMT e a Eletroconvulsoterapia – ECT, ambos os tratamentos efetivos na prevenção de recaídas de depressão.

Sem prevenção, fatalmente ocorrerá sucessivas recaídas, os pacientes se tornarão refratários aos efeitos dos medicamentos, sua recuperação será mais difícil, as crises se tornam mais longas, profundas e mais severas e tenderão a se cronificar. Ao contrário, se forem prevenidas tais crises tudo pode se evitado, pois se manterão assintomáticos por muitos anos.

Devemos investir maciçamente na prevenção de recaídas entre os depressivos, pois é umas das poucas doenças em que a recuperação é plena, isto é, as pessoas se recuperam completamente, o que não ocorre quando o paciente recai várias vezes. Além do mais, já se dispõe de um vasto conhecimento de suas causas, de seu tratamento e do seu prognóstico.

Os avanços com novos fármacos para depressão e o surgimento de modernas técnicas de psicoterapia e reabilitação psicossocial através da terapia ocupacional deram um grande passo no tratamento, na recuperação e na prevenção de recaídas da doença. Portanto, vamos evitar que os pacientes voltem a adoecer, agora é a vez da prevenção.

 

 

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