Diagnóstico e tratamento da depressão na infância e na adolescência

Ao contrário do que muitos pensam, crianças e adolescentes podem também sofrer de depressão, uma condição que agrava mais ainda as perspectivas sobre a doença. A depressão que sempre pareceu ser um mal exclusivo dos adultos, hoje atinge cerca de 2% das crianças e 5% dos adolescentes do mundo, conforme dados da Organização Mundial da Saúde – OMS.

A OMS diz, ainda, que nos próximos 20 anos (até 2030), a depressão deverá tornar-se a doença mais comum do mundo, atingindo mais pessoas do que o câncer e as doenças cardiovasculares. Atualmente, mais de 450 milhões de pessoas são afetadas por transtornos mentais diversos, a maioria delas nos países em desenvolvimento.

Entre as crianças, o índice de depressão também é preocupante. Nos últimos 10 anos, o número de diagnósticos de depressão em crianças, entre 6 e 12 anos, passou de 4,5 para 8%, o que representa um problema ascendente. “Setenta por cento dos adultos que apresentam quadro de depressão crônica têm histórico da presença da doença desde a infância. Ou seja, se não tratarmos o paciente enquanto criança, isso pode contribuir para que ele se transforme em um adulto depressivo”, comenta Fábio Barbirato, neuropsiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Pelas próprias características dessas idades, diagnosticar depressão é bem complicado, pois nas crianças, os sintomas depressivos podem ser confundidos com mal-criação, birra, mau humor, tristeza e agressividade, irritabilidade ou nervosismo. Porém, o que vai distinguir uma coisa da outra é a evolução e as características clínicas das queixas apresentadas por essas pessoas. Na adolescência, o diagnóstico de depressão é também complexo, pois a mesma pode se revelar de diferentes maneiras, particularmente, no aspecto das relações sociais: desinteresse, apatia e retraimento social e no bem-estar geral e, nesta fase, o mais preocupante são os elevados índices de suicídio que podem ocorrer, especialmente quando a situação não é adequadamente diagnosticada e tratada.

Não devemos confundir depressão com as angústias provenientes dos conflitos naturais próprios da adolescência, pois o processo do adolescer é muito delicado e se caracteriza, entre outras coisas, pelas contradições, rebeldias, insatisfações constantes e ânsias de mudanças comuns nesta época da vida de tal forma que os sintomas próprios da depressão podem estar mascarados com estas peculiaridades naturais da idade, dificultando muito o diagnóstico da doença.

Entre os principais sintomas de depressão estão: alteração de humor, com irritabilidade e ou choro fácil, ansiedade, desinteresse em atividades sociais, como ir à escola, brincar com os amigos ou com brinquedos, falta de atenção e queda no rendimento escolar, distúrbios de sono, como dificuldade pra dormir ou ter sono o dia inteiro, perda de energia física e mental, reclamações por cansaço ou ficar sem energia, sofrimento moral ou insatisfação consigo mesmo, sentimento de que nada do que faz está certo, dores na barriga, na cabeça ou nas pernas, sentimento de rejeição, condutas anti-sociais e destrutivas, distúrbios de peso (emagrecer ou engordar demais), enurese e encoprese (xixi na cama e eliminação involuntária das fezes). Para a OMS se a pessoa apresentar cinco, entre os 13 sintomas referidos acima, o diagnóstico poderá ser efetivado.

E, neste caso ante os primeiros sinais ou sintomas da depressão, os pais devem encaminhá-los a um profissional o mais rápido possível. Na maioria das vezes, o apoio da família e a psicoterapia são suficientes para ultrapassar a situação. Se, a partir dos 9 anos de idade, persistirem ou se agravarem tais sintomas, faz-se necessário, em alguns casos, intervir com medicamentos. Além do mais a depressão infantil pode desencadear várias outras condições médicas, tais como: anorexia, bulimia, etc.

Um fato importante é que depressão tem base genética e que filhos de pais com depressão têm mais chance de ter a doença, o que não significa que não se possa tratar, prevenir e curar esta condição. O importante é que tanto o diagnóstico quanto o tratamento devem ser o mais precoce possível para evitar cronificação prematura do quadro depressivo. A psicoterapia é recomendada para crianças com até 9 anos, embora a depressão possa ser diagnóstica a partir dos 4 anos. E, a partir dos 9 anos de idade, pode-se recomendar o uso de medicamentos, sempre associados à psicoterapia, pois a associação de ambos pode proporcionar respostas satisfatórias em até 95% dos casos.

 

A violência como marca assustadora da sociedade

É cada vez mais desanimadora a possibilidade de nós, nos próximos anos, vivermos em uma sociedade que viva em paz, muito embora seja o grande clamor nos dias atuais. Todos clamam por paz, por justiça, por mais igualdade e, sobretudo por segurança. Este último apelo cresce em proporções avassaladoras em consequência do aumento dos índices de violência em nossa sociedade.

É um tema que abastece a grande mídia nacional. Vejam que boa parte do tempo dos noticiosos, dos telejornais e de outras mídias é dedicado a anunciar fatos de conteúdos violentos e muitos com requinte de crueldades, inaceitáveis. Os anos passam, as reclamações se avolumam e parece que estamos imobilizados diante do avanço sistemático da violência entre nós.

A violência, sob qualquer ótica que a examinemos, nos conduz a considerá-la como um epifenômeno que tem suas raízes nas dimensões individuais e sociais, onde um grande número de fatores de diferentes matizes concorre para sua expressão final. Há uma corrente de pensadores e de estudiosos, entre os quais sociólogos, antropólogos, juristas, psiquiatras e outros tantos profissionais, que consideram a violência como uma espécie de “ponta de um iceberg”, onde os verdadeiros problemas estariam submersos e o comportamento violento seria o pano de fundo para não os vislumbrar. Isto é, a violência seria um sintoma que esconde a verdadeira doença a que estamos submetidos, e esta, por sua vez, expressaria as profundas contradições e desagregações tanto individuais quanto sociais da atualidade.

Por outro lado, há os que acreditam que devido ao alto grau da sua presença e dos graves problemas a ela relacionados, ela própria se tornaria fenomenologicamente “o problema” com identidade, autonomia e independência no contexto social. Portanto, a violência seria um fenômeno independente, com vida própria, não sendo um “sintoma” de algo que nos constrange, como vimos acima, mas ela, em si, seria a doença.

Há verdades em ambas as afirmações. Acredito que a presença da violência em uma sociedade reflete tanto uma coisa quanto a outra, isto é, sintoma e doenças caminham juntos, de tal forma que o melhor seria entendermos a violência como um fenômeno composto de ambos os argumentos. Ocorre que passa a ser tão comum e frequente a prática da violência, que se torna banalizada.

As pessoas só se dão conta de suas inseguranças e nada mais. O fato violento passa ser banal, comum e corriqueiro. As manifestações de indignação se dão de forma localizada e isolada, dissonante das medidas públicas que são utilizadas para seu enfrentamento. E como isto se daria? Através da criação de um ser humano violento, autor e vítima do próprio comportamento violento. Não somos violentos em nossa natureza, mas estamos nos transformando em seres violentos. E é este homem violento que produz, fabrica e cultiva a violência. É um novo ser que está sendo construído pela sociedade moderna, indiferente à dor e ao sofrimento do outro, um homem que a cada dia pratica a maldade com requintes de crueldade, um homem distante da ética, da bondade da crença, da fé, um homem que cultiva o desamor, arrogância, onipotência, ávido pelo poder, pela posse, sem solidariedade e sem humanidade, entre outras coisas. Posso afirmar que este homem contemporâneo expressa a própria violência em sua natureza, embora não o sejamos. A sociedade que se constrói reflete o que se passa por dentro de cada um.

A impressão que se tem é que cada um de nós vive como se fosse morrer amanhã e temos que fazer tudo de forma rápida e ao nosso modo. Matamos os outros como se não fizessem parte de nós, ou como se nós mesmos fôssemos nossos próprios inimigos. Destruímos as plantas, os animais, como se não fizessem parte de nosso universo, exortamos o ódio como se fosse um instrumento de defesa, não sabendo que o ódio destrói a quem o sente e não aos outros. O homem que está sendo construído está destruindo-se a si mesmo.

Esta é a matriz da violência. E tudo que venha a surgir com este colorido brotará daí. Não é o trânsito que mata, as drogas que destroem a humanidade, muito menos a injustiça que nos destrói, muito embora se saiba que cada um desses itens são sumamente importantes na avaliação da situação e tenha sua importância relativa, mas o essencial está dentro de cada um de nós, e o pior é que muitos não sabem nem para onde querem ir.

 

 

 

 

 

O cérebro, a consciência e a saúde mental.

              Estamos vivendo um período magnifico da neurociência, um capítulo do conhecimento científico relacionado com a atividade cerebral e nosso comportamento. É uma das áreas da ciência mais importantes, pois, a cada dia os avanços são significativos no sentido de se saber como funciona este órgão magnifico e a repercussão de suas atividades em nosso comportamento tanto na saúde quanto na doença. É composto por um trilhão de células nervosas, sendo cem bilhões só de neurônios. Cada um destes neurônios tem identidade própria em forma e função daí por que sabem muito bem o que fazer neste emaranhado conjunto de células que compõe o tecido nervoso.

             É um órgão que pesa 1/20 avos de nosso peso corporal, aproximadamente 1,300 kg e, consome cerca de 20% de todo oxigênio que precisamos para viver. É o órgão que comanda todas as atividades humanas desde um simples piscar de olhos, até atividades ultra-complexas como pensar, sentir, decidir, ter vontade, amar e ter consciência. Portando, o cérebro é a sede material onde são processadas todas as vivências humanas.

Através dos estudos de neurofisiologia e da neuroquímica sabe-se que o cérebro se renova constantemente, não é um órgão estático, como se pensava antes, ao contrário graças às atividades de suas células ele se renova continuamente para garantir suas diferentes tarefas. É um órgão que registra todas as experiências vividas e a partir delas criam-se novos circuitos cerebrais específicos para cada uma delas. Só o fato de você sair de uma rotina, por ex., optar por fazer um trajeto novo, diferente do que é feito regularmente, os neurônios já desenvolvem novos circuitos cerebrais que se agregaram aos já conhecidos para garantir esta nova atividade e assim por diante, de tal forma que as experiências diárias mudam o cérebro constantemente, para novas adaptações.

Sabe-se hoje que quanto maior forem as experiências positivas na vida do indivíduo, seu cérebro funcionará melhor, e como ele funciona em consonância com outros órgãos e sistemas do nosso corpo, as atividades deles também funcionaram melhor.

Todas estas prerrogativas podem ser sintetizas imaterialmente através do se conhece pelo nome de mente que é a representação abstrata e simbólica que nos orienta, nos comanda, nos controla, interpreta e traduz em expressão material o comportamento. De tal forma que quando o cérebro não está bem, isto repercutirá na mente e esta, por sua vez, em ações. Portanto o cérebro não cria o seu próprio destino, embora se autorregule sendo a genética que lhe fornece as bases para seu funcionamento regulando a si mesmo e o restante do corpo.

A parte do cérebro, denominada de neocortex, que é a estrutura mais nova hierarquicamente desenvolvida a partir da evolução humana, é dotado de uma enorme responsabilidade para nossa vida que é, entre outras coisas, a de tomar decisões, optar, escolher sobre o que queremos, além de discriminamos, de adoramos, estimamos, controlamos e evoluímos em nossa cadeia biológica como seres humanos. Muitos outros comportamentos relacionados com nosso modo de vida estão todos irremediavelmente ligados às inúmeras outras áreas e funções específicas de nosso cérebro. Um fato notório e muito importante é que nossa saúde mental e social depende diretamente da forma como estas distintas funções se relacionam umas com as outras, de tal forma que qualquer alteração por menor que seja, alterará o funcionamento global deste sistema interconectado, resultando no aparecimento das chamadas doenças mentais.

Os psiquiatras e outros estudiosos do comportamento humano recomendam algumas atitudes que colaboraram muito para a proteção, promoção e garantia de nossa saúde mental: procure cultivar bons amigos; participe de tudo que puder e não se isole; procure manter um relacionamento com um companheiro ou companheira estável e duradouro; engaje-se em projetos pessoais ou sociais que lhe ocupem a mente e que valham a pena; dê valor e importância para si mesmo; aproxime-se de pessoas que possuem um bom estilo de vida e que tenham hábitos saudáveis e lhe inspire confiança; tenha um propósito em sua vida; deixe tempo para lazer, praticar esportes e brincar; aborde as questões que o fizeram ficar com raiva e não as guarde sobre qualquer pretexto; mantenha uma boa e frequente atividade sexual; evite a qualquer custo tudo que lhe gere stress e, se não puder evitar procure administrá-lo; evite ou saiba lidar com condutas impulsivas e com os rompantes negativos; quando você tiver uma reação negativa, pare, volte atrás, respire, e observe como você está se sentindo; procure fazer o bem ao próximo, isto nos ajuda muito a vivermos melhor e não cultive inveja ou ódio por ninguém. Estas recomendações são simples, mas funcionam no sentido de promover nossa saúde mental e vivermos bem melhor, pois seu cérebro irá prosperar, mesmo que a vida se apresente com altos e baixos. Você é que vai liderar o seu cérebro.

 

Rolar para cima