Com este titulo muitos podem pensar que nosso país adoeceu, que não esta dormindo bem ou que algo de muito grave o atingiu ao ponto de tirar-lhe o sono, já que se sabe que este adjetivo insone representa uma condição psicopatológica relativa a uma alteração do sono de alguém. Todavia, permitam-me a ousadia, ao propor o titulo deste artigo, minha intenção era tão somente dizer que nosso Brasil continua sintonizado com suas reinvindicações, permanece em alerta, não baixou a guarda, continua na luta e em prontidão, vendo que muitas de suas reinvindicações ainda não foram atendidas.
Portanto, insone aqui, não diz respeito à distúrbios do somo e sim ao fato da população mais jovem deste país manterem-se acordada, atenta e com os olhos acessos para saber-se que rumos darão aos seus pleitos e, para tanto se mantém inquieta, esbravejante, gritando alto para que todos ouçam suas reclamações, ao meu ver justas e plausíveis diante do indiferentismo que vêm ocorrendo com nossa nação na gestão da coisa pública.
Este levante nacional, portanto é, sobretudo uma demonstração de saúde mental do povo brasileiro reveladas pelas atitudes seguras e determinadas e por saberem muito bem o que querem. A demonstração de coragem, espírito de luta, de um caráter altivo e rebelde estão sendo confrontados com as incompetências e negligências do poder público e com a famigerada corrupção que se alastra por este país em todos os cantos e que por tantos anos alimentou os donatários do poder.
No dia 03 deste mês, na última quarta feira foi a vez dos médicos brasileiros se incorporarem às lutas que encantam a todos. E isto aconteceu de forma democrática, ordeira e sensata, que a uma só voz, em todo Brasil, manifestaram sua indignação diante dos problemas graves da nossa saúde pública, ante uma proposta politiqueira do governo federal visando importar milhares de médicos de outros países para aqui exercerem suas atividades profissionais.
Em princípio, nada contra, até porque nós também saímos muito daqui para trabalhar e estudar alhures, além do mais não há nada melhor do que trocar experiências com colegas de outros países, bem como estabelecer alianças internacionais de colaboração mútua para se enfrentar certas situações no âmbito da saúde pública de um povo ou de uma nação.
Ocorre que a proposta do governo Brasileiro desconsidera preceitos institucionais que regulam idas e vindas de profissionais médicos entre países, normas estas criadas e validadas pelos próprios governos entre as quais a validação do diploma destes profissionais – REVALIDA – para exercerem suas atividades em nosso país. Esta norma foi criada com o intuito inclusive de se saber o preparo e qualidade técnica dos serviços que serão prestados ao nosso povo. O governo quer atropelar esta prerrogativa internacional permitindo que os profissionais importados não se submetam a tal avaliação, fato que poderá expor a nossa população a muitos riscos.
A meu ver, se o governo pretende demonstrar sua intenção em resolver os problemas da saúde deste país através desse expediente, irá dar com a “cara na parede”, pois tudo indica que haverá mais confusão e menos solução. Ao mesmo tempo se sabe que esta medica isoladamente passa de longe das soluções aos graves problemas já identificados de nossa saúde pública, por isto eu pergunto: porque não se propor um plano geopolítico de carreira e salário médico como o que já ocorre com o Ministério Público e o Judiciário e outros órgãos importantes da nossa vida profissional? Porque não fiscalizar ainda mais a aplicação dos recursos financeiros destinados a saúde em nossos municípios? Porque que não se oferecer melhores condições de trabalho as médicos que irão trabalhar nos interiores? Porque não garantir salários dignos evitar que os médicos tenham que trabalhar uma carga horária exagerada para garantir uma renda mínima digna a estes profissionais?
Por não responderem estas e muitas outras perguntas é que nos encontramos nesta situação e não é com importação de outros profissionais que iremos resolver estes impasses ou atingir nossos objetivos. Agora, nós médicos e a população brasileira, mais do que nunca, deveram estar atentos, pois cutucamos “a cobra com vara curta” e baseado na lei da inércia insistirão em manter esta situação nos fazendo engolir estas propostas descabidas e ineficazes. Devemos, portanto permanecer insone, pois em um cochilo, podemos colocar tudo a perder perdendo a chance de estabelecermos um grande pacto nacional que garanta uma saúde de qualidade à população brasileira.
Parabéns aos médicos, ao Conselho Federal de Medicina – CFM, à Associação Médica Brasileira – AMB e a Federação Nacional dos Médicos – FENAM e a todas as entidades que fazem saúde em nosso país e que estão apoiando este movimento que visa tão somente readquirir as condições mínimas de trabalho para se poder oferecer uma assistência médica de qualidade ao nosso povo.