Conhece-te a ti mesmo

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É uma a expressão clássica, de origem grega, “nosce te ipsum” significa “conhece-te a ti mesmo”, que segundo a tradição estaria inscrito nos pórticos do Oráculo de Delfos, na Antiga Grécia. É um aforisma histórico, representa a pedra-angular da filosofia de Sócrates e do seu método, a maiêutica, segundo Platão.

O autoconhecimento, sempre foi filosoficamente considerado um pressuposto fundamental e indispensável para nós seres humanos, atingirmos nosso maior crescimento e desenvolvimento pessoal e existencial. O autoconhecimento é uma necessidade indispensável para nos adaptarmos ao mundo e às demandas do homem civilizado. Constitui-se como o principal caminho ao nosso dispor de conquistarmos a supremacia da nossa espécie, e o recurso mais importante, quiçá o único, para garantir nossa humanização definitiva.

A dimensão gregária (social) tão almejada e fundamental para nossa afirmação no mundo se constrói, se instala, se desenvolve a partir do autoconhecimento que, ao nos darmos conta de nós mesmos, passamos a (re)conhecer e viver com o outro. É a construção do social que parte de nós. No processo do autoconhecimento, brota o estado de consciência que é inspirador e donde emanam os sentimentos mais nobres do homem: o altruísmo, a fé, a compaixão e a solidariedade. Nada disso pode nascer sem ser por este caminho, os quais nos distinguem dos outros animais.

Paradoxalmente, vivemos uma época confusa, contraditória, que nos estimula a comportamentos exclusivistas. Uma época em profundas mudanças em seus paradigmas. Vivemos em um tempo, onde a cultura nos incentiva a práticas utilitaristas e pragmáticas e que nos afasta cada vez mais de nós mesmos. Um tempo e uma cultura que não incentiva relações duradouras e profundas entre os humanos, que nos ensina a desfaçatez, a insensatez, a arrogância e descrer. O homem atual ousa pouco em sua direção, fala pouco consigo mesmo, não se ouve nem se enxerga, por isso é solitário, inseguro, presunçoso e egocêntrico em seu mundo.

Estas contradições do mundo contemporâneo, onde a cultura que se notabiliza a cada hora nos leva para um rumo e a sabedoria e a sensatez nos leva em direção de nós mesmos o tornam ameaçador, inexpressivo e repleto de desencanto. A distância que se estabelece entre as aspirações do autoconhecimento e a busca incansável do materialismo dialético nos torna frágeis débeis, onde nós mesmos passamos a nos estranhar. Um mundo onde o imobilismo, a indiferença social, a falta de ética, são suas marcas registradas. Um mundo sem inspiração e sem fé.

Onde andam os inconformados, os indignados, os envergonhados ou os que ainda pedem desculpas? Onde estão os justos, os modestos, os contestadores, os rebeldes, os éticos, os que amam e os líderes? Estão aí, sei disso, embora poucos. Estes poucos convivendo com muitos espertos, indiferentes insensíveis, larápios, sabidos, oportunistas, carreiristas, falsos líderes e aproveitadores, estes a maioria. E, neste momento nossa cultura e nosso tempo, chancelam e legitimam estas figuras e estas contradições.

Quando se exorta a necessidade de nós nos conhecermos a nós mesmo “nosce te ipsum” estamos reclamamos a possibilidade de voltarmos contra esta tendência. Estamos exaltando a prerrogativa de atribuirmos um sentido maior à nossa autoafirmação. O zelo pelos outros, a autoestima, autoconfiança o amor próprio fazem parte nós e para desenvolvermos tais consciências faz-se necessário darmos o passo definitivo em direção do autoconhecimento que sem o qual estaremos fadados ao cinismo.

Na conquista do autoconhecimento é que serão desabrochadas nossa transcendência e as possibilidades de nos amarmos uns aos outros, convivermos sem ameaça à nossa existência e cultivarmos a compaixão. Jean-Jacques Rousseau ao falar sobre a felicidade afirmava que “em vão buscaremos ao longe a felicidade se não a cultivarmos, dentro de nós mesmos”.

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