Evite o primeiro gole

Recentemente, publiquei um artigo tratando da recaída como algo que ocorre frequentemente entre pacientes que se submetem a tratamentos de dependência química, mostrando ser um fenômeno que faz parte do diagnóstico e da clínica dos pacientes.

Dizia que recair é retomar um padrão de consumo de uma substância (droga) de forma pior ou semelhante ao padrão de consumo anterior ao tratamento e que devido à alta frequência e aos graves danos provocados, especialmente para os familiares dos enfermos, a prevenção da recaída é considerada hoje como uma das mais importantes estratégias a serem utilizadas no tratamento e na recuperação.

Procurei mostrar também que, independente de alguém se tratar voluntária ou involuntariamente, haverá a possibilidade de recair e que o resultado do tratamento depende muito das medidas preventivas de recaídas adotadas.

Por sua importância, a prevenção de recaída é considerada um dos aspectos mais relevantes da prática médica em relação aos dependentes de drogas, que se dará através de um conjunto de técnicas psicossociais que o profissional e a equipe utilizarão ao longo do tratamento proposto para o enfermo.

Nesse sentido, os Alcoólicos Anônimos – AA, uma das mais importantes instituições internacionais que abordam a recuperação de pacientes dependentes de álcool, de forma sábia, cunhou uma expressão basilar que corresponde a uma espécie de “lei” na realização do tratamento que eles desenvolvem, qual seja, “evite o primeiro gole”. Para o AA, trata-se de um princípio fundamental para o doente garantir sua sobriedade. 

Embora leigos, os alcoólicos anônimos, com essa expressão, dão um show de sensatez e competência, pois quando alguém se torna dependente de uma droga desenvolve em seu cérebro uma espécie de “memória química” da substância, provocada pelo o uso continuado e sistemático. Essa memória nada mais é do que um circuito neuroquímico registrado no sistema nervoso central a partir da ação da substância no órgão, de tal forma que quando um dependente químico interrompe o uso, o contato com a droga reascende imediatamente a “memória” que desenvolveu no curso da doença, tornando a pessoa vulnerável à recaída.

Nesse caso, a droga passa a fazer parte da estrutura neurofuncional do cérebro, de tal forma que quando se volta a usar, a doença se reinstala.

Assim, não é por acaso que o AA constitui-se como uma das mais importantes instituições do mundo na recuperação desses enfermos, representando uma grande esperança aos dependentes de álcool.

Inspirado nos princípios do AA, foi criado a AL-ANON, destinado ao tratamento e recuperação de familiares afetados pelos problemas dos dependentes de álcool. Os “AL-ANONS” também utilizam os princípios e os doze passos do AA na recuperação dos familiares.

Portanto, evitar o primeiro gole e manter-se abstinente pelas próximas 24 horas é o grande legado da irmandade, uma das mais importantes orientações propostas por eles, sendo certo que para o dependente de álcool ou outras drogas o melhor mesmo é sempre evitar o contato com a substância.

 

Gritos pela Paz

Há três semanas assistimos a duas grandes mobilizações sociais que ocorreram respectivamente nos dias 18 e 23 de novembro em nossa cidade na Avenida Litorânea. Uma promovida pela Maçonaria denominada Dia Mundial em Memória às Vítimas de Trânsito, a outra organizada pelo Ministério Público do Estado, denominada “Conte até Dez”.

Em ambas a manifestação observou-se a participação de muitas pessoas que juntos aos organizadores buscavam sensibilizar e chamar a atenção dos outros para os graves problemas da violência em suas várias expressões bem como a necessidade de buscarmos continuamente a paz social.

“Conte até 10” é uma expressão antiga que foi muito utilizada em uma novela, onde Paulo Gracindo em seus rompantes contava até dez para controlar seu ímpeto para não agir com violência. Só a guisa de informação em 2010 no Brasil foram cometidos 49.932 homicídios por pessoas que nunca mataram antes e que mataram por impulso. Sendo as situações mais comuns, brigas de trânsito, discussões em bares e outros desentendimentos por motivos fúteis que acabaram tendo um final trágico. Portanto o grande mérito da campanha é termos serenidade mesmo em momentos de exaltação de nosso ânimo para não engrossarmos a lista de crimes cometidos de forma intempestiva e impulsiva.

A campanha da Maçonaria realçando a memória pelas vítimas de trânsito revelou a dor, o sofrimento pelas perdas inaceitáveis de pessoas que morreram prematuramente e de forma violenta, ocasionadas por um trânsito desorganizado, cruel e criminoso em consequência da incúria do poder público em não nos oferecer um trânsito seguro e saudável, pois falta entre outras coisas, leis mais ostensivas contra os que cometem tais crimes.

Na realidade sob qualquer enfoque, vive-se em uma sociedade insegura, temerosa e assustada. As pessoas parecem estranhar uma as outras, pois a impressão geral que se tem é que todos podem lhe dá o calote ou tirar proveito uns dos outros. Há uma espécie de desconfiança mórbida entre todos e, a partir destas incongruências psicossociais surge a violência como uma característica desta mesma sociedade.          Devidos os altos índices de problemas médicos, econômicos, sociais e previdenciários, a violência em nosso país se tornou predominantemente uma questão de saúde pública provocando altos índices de morbi-mortalidade em nossa população.

No Brasil nos últimos cinco anos 850 mil pessoas morreram por fatores diretamente ligados a violência, número este que não é qualquer doença chega a atingir epidemiologicamente. Ocorre que o mais preocupante de tudo, é o fato de não dispormos de medidas de claras e bem definidas a serem aplicadas de curto, médio e longo prazo ara controlar esta situação, pois se verifica que muito pouca coisa efetivamente está sendo feita para o controle social e epidemiológico da violência na sociedade. Psicológica e socialmente toda pratica violenta guarda consigo algo em comum que é a dor e o sofrimento em suas vítimas, só isto ao meu ver, deveria influenciar os distintos poderes na priorização das medidas para o enfrentamento da situação psicossocial social da violência, justamente para garantir o bem maior que todos aspiram, que é o de vivermos em paz.

Por isso quero parabenizar o ministério público que juntamente com outros órgãos, entre os quais o poder judiciário, por desenvolverem esta campanha, bem como a Maçonaria de nosso Maranhão pelo brilhantismo de sua  iniciativa e que sirvam de exemplos e inspiração para outros seguimentos da sociedade lutar para a garantirmos a PAZ para todos.

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