Ciúme doentio

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Nas relações humanas o ciúme é um dos fenômenos mais comum que ocorre emdiferentes etapas da vida, podendo-se considerá-lo uma experiência normal euniversal que surge em diferentes formas de relacionamentos. É definido como umacondição caracterizada por pensamentos, emoções e sentimentos de ameaça e percasde algo muito querido e desejado. O tema dominante do ciúme é suspeição da infidelidade do parceiro, podendo ocasionar sofrimento para os membros da relação.

Inúmeros estudos realizados em diferentes países e com diferentes populações indicam a presença do ciúme em boa parte dos pesquisados. É um fenômeno que pode aparecer ante uma imensa diversidade de situações, sendo comum em relacionamentos amorosos, entre filhos, pais e filhos, amigos e parentes.

Há níveis diferentes de se experimentar o ciúme, de tal forma que nem sempre esta experiência é patológica. Há ocasiões em que o ciúme tempera a relação e favorece a aproximação entre as pessoas de tal forma que em sua falta total o conflito se manifesta. Este tipo de ciúme é considerado normal ou funcional onde caso haja qualquer conflito por sua presença, uma boa conversa sempre resolve.

Todavia, quando esta fronteira é ultrapassada e a relação é formalmente afetada por dor, desconfiança mórbida, violência e sofrimento entre os envolvidos na relação aí estamos diante do ciúme doentio ou patológico. Este tipo de ciúme se expressa de forma heterogênea, através de idéias obsessivas, idéias prevalentes ou até mesmo atividade delirante. Este tipo de ciúme pode se constituir como um sintoma de diferentes doenças, como transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno delirante, transtorno de personalidade, transtornos graves do humor, esquizofrenia e alcoolismo.

O ciúme patológico pode coexistir em pacientes internados em hospitais psiquiátricos em uma faixa de 1,1 % deles e a prevalência diagnóstica é a seguinte: psicoses orgânicas (doenças cérebro-vasculares, demências etc.) 7%; distúrbios paranóides 6,7%; psicoses alcoólicas 5,6% e esquizofrenias 2,5%.

Em pacientes ambulatoriais está muito presente entre os quadros de depressivos, ansiosos e obsessivos. A maioria absoluta dos portadores de ciúme patológico, entretanto, não está dentro dos hospitais, nem nos ambulatórios e sim nas ruas especialmente entre casais e muitos destes portadores deste tipo de ciúme estão sem tratamento médico e quando procura o especialista a relação já se encontra muito desgastada, restando tão somente a separação pela impossibilidade de recuperar a convivência.

Entre os dependentes de álcool é muito comum apresentarem delírios de ciúme, sintoma que pode ser considerado como característico do alcoolismo, especialmente entre alcoólicos crônicos. Neste caso a impotência sexual comum entre alcoólatras é um importante fator no desenvolvimento de idéias de infidelidade, sentimentos de inferioridade e rejeição. A prevalência do ciúme patológico no alcoolismo é muito alta e gira em torno de 34%. A evolução comum do ciúme patológico como sintoma do alcoolismo, pode ser, inicialmente, apenas durante a intoxicação alcoólica e, posteriormente, também nos períodos de sobriedade. Nas mulheres, fases de menor interesse sexual ou atratividade física, como ocorre na gravidez e menopausa, produz redução da auto-estima, aumentando a insegurança e a ocorrência do ciúme patológico.

Por se tratar de uma condição mórbida o portador de ciúme patológico deve sempre procurar tratamento médico e psicossocial, só assim estas pessoas podem se recuperar. A utilização de medicamentos é uma estratégia importante especialmente quando este ciúme é secundário a outros transtornos mentais: dependência de drogas, alcoolismo, depressões graves, quadros psicóticos esquizofrênicos etc. As psicoterapias se constituem armas poderosas na recuperação destes enfermos especialmente as terapias cognitivo – comportamentais – TCC.

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