Uso de drogas associado a outras doenças mentais

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                 Designa-se como comorbidade o fato de em um mesmo indivíduo apresentar mais de uma doença em seu contexto histórico. É uma designação nova em psiquiatria que não tem mais que vinte anos e vem sendo aplicado nesta especialidade com muito rigor considerando que o entendimento deste conceito diagnóstico favorecerá ou não o tratamento das doenças que o médico irá realizar. Na prática clínica o psiquiatra deverá examinar seu paciente com muito maiscuidado, pois vai exigir dele uma apurada avaliação clínica na busca dos diagnósticos existentes e consequentimente aos possíveis tratamentos que este paciente se submeterá.

              Na área específica do uso de drogas e a presença de outras doenças mentais a comorbidade se destaca. O número de dependentes químicos ou abusadores de álcool e outras drogas com comorbidade é muito elevado. Estudos recentes mostram que está acima de 75% o número de paciente que mentais que fazem uso de drogas. Passando, portanto a se constituir como uma das áreas mais importantes em psiquiatria onde se pode aplicar este conceito.

Estes achados clínicos vêm levantando inúmeras polêmicas. Será que a presença de outras doenças mentais favoreceria a busca de drogas por determinada pessoa? O uso de drogas funcionaria tão somente como desencadeador de outras doenças mentais entre os usuários? A presença de comorbidade seria empecilho para a recuperação destes enfermos?  universo destes usuários? Estas são apenas uma das principais questões que haveremos de responder nos próximos anos, muito embora já tenhamos avançado muito nestas questões.

Só a guisa de esclarecimentos o DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Norte-Americana de Psiquiatria, nos informa que o transtorno por uso de substâncias, que engloba o abuso e a dependência de drogas, encontra-se freqüentemente associado a outras patologias psiquiátricas. Assim diante de um paciente com uso problemático de drogas, seja dependência ou uso abusivo, devemos sempre investigar a existência de outra doença emocional; ou por baixo da dependência ou como conseqüência.

É provável até que a existência de outros transtornos emocionais co-mórbidos à dependência dificulte a adesão do paciente ao tratamento, proporcione resultados piores em termos de freqüência e quantidade da droga consumida, bem como do funcionamento psicossocial. É isso mesmo. Nem sempre é a droga em si a responsável exclusiva pela apatia ocupacional do dependente, pelos fracassos sociais e familiares. Muitas vezes sua própria personalidade se mostra algo inviável para a condução da vida.

Outras questões relevantes que aprecem normalmente no âmbito deste debate são: Seriam outros transtornos emocionais que causariam isso tudo? Quais patologias mentais estariam mais freqüentemente associadas ao uso de drogas? Tais doenças teriam uma evolução diferente por culpa das drogas? Quais os tratamentos e as prevenções mais apropriadas?

Em relação às doenças mentais mais severas, temos a esquizofrenia e o transtorno bipolar do humor, em quase metade dos pacientes também aparece a associação com abuso ou dependência de substâncias psicoativas. Transtorno de conduta na infância, transtorno afetivo bipolar na adolescência e transtorno anti-social de Personalidade ou Borderline seriam fortes fatores de risco para uso de drogas. Há muitos relatos que crianças com temperamento considerado “difícil” isto pode representar fatores de risco para o uso futuro de drogas.  Outras comorbidade como depressão e uso de álcool, tabagismo e transtorno de ansiedade, distúrbios de personalidade e uso de crack, são muito freqüentes na prática médica.

Quanto ao tratamento do dependente químico portador também de outra doença mental tem resultados melhores quando se integra o tratamento dos sintomas psíquicos do eventual transtorno com atitudes direcionadas à dependência. A existência de comorbidade aumenta a dificuldade no controle de cada doença isoladamente, ou seja, é mais difícil tratar um paciente deprimido e dependente de cocaína do que o tratamento da depressão ou dependência à cocaína isoladamente.

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Os Caminhos das Drogas no Brasil e no Mundo

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Ruy Palhano

Psiquiatra

Nesta semana Nacional sobre Drogas, precisamente no dia 26 deste mes, a Organização das Nações Unidas – ONU através do setor especializado em crimes e drogas – UNODC lança o seu Relatório Mundial sobre a situação do tráfico e uso de drogas, fato que já era esperado, pois tradicionalmente nesta ocasião a ONU nos informa sobre esta situação.

Um dado que chamou muito atenção neste documento foi o incremento do mercado de drogas sintéticas, comparativamente ao mercado das drogas tradicionais como cocaína, heroína e maconha que segundo estas informações, estão estabilizados. “A diminuição dos níveis gerais de cultivo e produção de ópio e de coca foi contrabalanceada pelo aumento de produção de drogas sintéticas”, explicou a ONU.

A apreensão anual no mundo de metanfetamina (ICE como é denominada esta droga) duplicou entre 2008 à 2010 e chegou a 45 toneladas, graças às operações realizadas na América Central e Ásia. Na Europa, as apreensões de ecstasy foram de 1,3 tonelada em 2010.  Os consumidores de anfetaminas se situam entre 14 e 52 milhões de pessoas, enquanto o número de usuários de ecstasy fica entre 10 e 28 milhões de pessoas no mundo.

Estas drogas sintéticas, são excitantes, atingem com rapidez surpreendente o cérebro dos usuários, provocam uma hiperatividade acentuada deste órgão e pode por descuido provocar facilmente a morte dos usuários, por “over dose”. São drogas poderosas, fabricadas de forma clandestina, com ingredientes de substâncias conhecidas, e com alta letalidade.

Outra informação importante é que segundo o Relatório, 5% da população adulta mundial, entre 15 a 64 anos de idade perfazendo um total de 230 milhões de pessoas no mundo, consumiu alguma droga pelo menos uma vez em 2010, número parecido com dos relatórios anteriores, o que levou a ONU a afirmar que o consumo “parece ter se estabilizado no mundo todo”.  Os “consumidores problemáticos de drogas”, em sua maioria viciados em cocaína e heroína, são 27 milhões de pessoas, ou 0,6% da população adulta mundial.

“A heroína, a cocaína e outras drogas seguem matando cerca de 200 mil pessoas todos os anos e permanecem destruindo famílias e causando sofrimento a milhares de pessoas, disseminam insegurança e contribuem para a propagação do HIV”, afirmou o diretor-executivo da UNODC, Yuri Fedotov.  Este cidadão diz ainda: existe “um crescente reconhecimento de que o crime organizado e as drogas ilícitas obstaculizam a execução dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio”.  Isto comprova que a interface entre droga e crime constitui-se como uma das piores conseqüências que se pode prever entre os inúmeros problemas provocados pelo consumo e tráfico de drogas.

O cultivo de coca diminuiu 18% entre 2007 e 2010, sobretudo pela redução na Colômbia, enquanto o número estimado de consumidores de cocaína oscilou em 2010 entre 13,3 e 19,7 milhões, ou seja, entre 0,3% e 0,4%  da população adulta mundial. Os principais mercados desta droga estão nos EUA e na Europa.  Excepcionalmente houve no Brasil aumentou no consumo de cocaína provavelmente pela explosão do consumo de crack que segundo a Federal Nacional dos Municípios, mais de 90% dos nossos municípios já fazem uso regular desta substância.

Tradicionalmente, a maconha é a substância ilícita mais consumida no mundo. Com taxas que variam entre 119 e 224 milhões de pessoas provaram a droga em 2011, sendo a Europa seu principal mercado.

Dois outros fatos relevantes apontados no Relatório. Um é sobre o crescente consumo de substâncias obtidas pela internet fato que podem representar um sério risco para a saúde. O outro é que “o uso indevido de tranqüilizante e sedativo pode se transformar em um hábito crônico entre as mulheres”, embora a maioria dos usuários de drogas tradicionalmente sejam os homens, advertiu a ONU.

 

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A depressão vai além da dor e do sofrimento

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Ruy Palhano

Psiquiatra

Há alguns dias, a grande mídia nacional destacou os rumos que a depressão seguirá nos próximos anos. Os dados foram surpreendentes, pois de acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS, até 2020, a depressão será a principal causa de incapacitação em todo o mundo. Muitas pessoas se tornarão incapazes e improdutivas do ponto de vista laborativo (absenteísmo) e social, fato que acarretará mais prejuízos econômicos para o país e mais ônus para o caixa da previdência.

Há no globo, atualmente, mais de 120 milhões de pessoas que sofrem de depressão e estima-se que, só no Brasil, existam acima de 17 milhões de pessoas afetadas pela doença. Cerca de 850 mil pessoas morrem, por ano, em decorrência da enfermidade, especialmente por suicídio, onde a depressão corresponde ao principal fator de risco. A OMS informa também que nos próximos 20 anos a depressão deve se tornar a doença mais comum do mundo, afetando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde, incluindo câncer e doenças cardíacas.

No aspecto sócio-econômico, a OMS nos informa que a depressão será a doença que mais acarretará custos econômicos e sociais para os governos, devido aos gastos com seu tratamento e por afetar a capacidade produtiva das pessoas. Na Europa, estima-se que a depressão gere um custo de 250 euros por habitante e atinja 21 milhões de europeus, produzindo custos para a economia em torno de 118 bilhões de euros por ano.

Ainda de acordo com o órgão, os países pobres são os que mais sofrerão com o problema, já que são registrados mais casos de depressão nestes lugares do que em países desenvolvidos. E os custos da depressão serão sentidos de maneira mais aguda em países em desenvolvimento, já que eles registram mais casos da doença e têm menos recursos para tratar de transtornos mentais.

Esses dados mostram claramente que, embora a ciência já tenha desvendado o caráter biológico da doença, o ambiente sócio cultural, as condições psicossociais e econômicas exercem um peso enorme na clínica, na epidemiologia e na recuperação destes pacientes.

O fato de vivermos em uma época conflitante, ameaçadora e instável do ponto de vista político, econômico e social, acarreta danos irreparáveis na estabilidade emocional, psicológica e social das pessoas, afetando diretamente os predispostos a desenvolverem a doença. A descrença, as decepções e a desesperança, sentimentos comuns nos dias atuais, provocam profundas rupturas psicossociais, resultando também na geração de comportamentos depressiogênicos (geradores de depressão). Por último, as frequentes e rápidas mudanças em nossas referências sociais, éticas, religiosas e afetivas promovem a ocorrência de depressão.

As perdas também foram objeto de estudo da OMS, que estima que em 2030, a depressão será isoladamente a maior causa de perdas (materiais, sociais e afetivas) entre todos os problemas de saúde, afirmou à BBC o médico Shekhar Saxena, do Departamento de Saúde Mental da OMS.

Além de todas estas conseqüências graves que a doença provoca em diferentes setores de nossa vida e de toda evolução que vem ocorrendo quanto ao conhecimento de sua origem e seu tratamento, a depressão permanece como sendo uma das doenças humanas que mais causa sofrimento intenso e dor nas pessoas, sendo às vezes, insuportável, ao ponto de levar muitos enfermos a se voltarem contra si mesmos.

É preciso, portanto que haja urgência nas mudanças de atitudes em relação a este problema: “A depressão é uma doença como qualquer outra doença física e as pessoas têm o direito de ser aconselhadas e receberem os mesmos cuidados médicos que é dado aos portadores de qualquer outra doença. É uma doença evitável, prevenível e curável”, Infelizmente, ainda existem muitos preconceitos em relação a ela fato que ao mer ver complica mais ainda seu manejo.

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