Consumo de álcool e outras drogas na pandemia – IV

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               O Brasil figura entre os países que mais bebem no mundo. Os índices são alarmantes e cada vez mais ocorrem problemas advindos desse consumo, no plano da saúde, do social, da segurança, da violência urbana e doméstica e da economia e estes problemas se sobressaem, entre os tantos outros que temos em nosso país, ao ponto dessa questão, ser considerada um problema de saúde pública.

           Em média, cada pessoa no mundo bebe 6,2 litros de álcool puro/ano. Apenas 38,3% da população mundial faz uso dessas bebidas. Isso é, a minoria bebe pela maioria. Os que bebem, na verdade, estão consumindo 17 litros/ano, em média. O alto consumo provoca mais de 3,3 milhões de mortes/ no mundo e por volta de 200 doenças, estão relacionadas direta ou indiretamente ao consumo excessivo de álcool.

              Há em nosso país, um milhão de pontos de venda de bebidas alcoólica, isso corresponde, a mais ou menos, um ponto de venda para cada duas mil pessoas e isso é um número bastante elevado considerando que essa aditividade comercial, colabora bastante para as pessoas beberem. Nosso padrão de consumo de álcool é excessivo regular, isto é, as pessoas em geral bebem de forma exagerada (beber em binge), até se embriagarem, padrão de consumo, nefasto à saúde física, social e mental.

            O álcool etílico, farmacologicamente, é uma substância de múltiplas ações no Sistema Nervoso Central- SNC. Ele, deprime as atividades do cérebro, muito embora, o consumo de baixas doses, é euforizante. Paradoxalmente, em doses baixas, reduz a ansiedade e promove certo relaxamento e bem-estar. Porém, em doses excessivas e regulares, faz o contrário, provoca crises de ansiedade e mal-estar difuso, sono irregular, alterações do apetite, da atenção, da memória de curto prazo e do pragmatismo.

            O álcool é também hedônico (induz ao prazer), pois age, preferentemente, em áreas cerebrais responsáveis pelo prazer humano. Essa área é designada, na nomenclatura científica, como área de recompensa cerebral – ARC ou área do prazer. Justamente, por ser uma região do cérebro altamente rica em DOPAMINA, neurotransmissor cerebral, encarregado, entre outras coisas, de proporcionar prazer. Por isso, o álcool ingerido em pequenas doses, melhora o desejo, o desempenho, o apetite sexual, a disposição, o interesse, a capacidade cognitiva e as relações sociais. Em excesso, é altamente patogênico e faz, justamente, o contrário.

                 Outro dado epidemiológico importante, é que 65% da população brasileira bebe e entre 10 a 13% dessa população são dependentes de álcool (alcoólatras). No Brasil, Quase 3% da população, acima de 15 anos de idade é considerada alcoólatra, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Representa mais de 4 milhões de pessoas, nessa faixa etária. Segundo o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (II-LENAD), 32% da população brasileira bebe moderadamente e 16%, bebem de forma nociva.

                Como vimos acima, o uso de álcool ocasiona mais de 3 milhões de mortes por ano no mundo. No Brasil, cerca de 40 mil pessoas morrem por acidente automobilístico e 60 mil por homicídios. Esses dados mostram claramente a relevância desses problemas entre nós, nos chamando a atenção para a gravidade dessas questões.

             A OMS demonstra que o consumo de bebidas alcoólicas em pessoas acima de 15 anos, acelerou na década: em 2006 o consumo per capita/anual, era de 6,2 litros de álcool puro, em 2016 essa média passou para 8,9 litros/ano. O aumento é de 43,5%. Esses índices referendam estudos nos quais constatam que a população jovem brasileira está bebendo muito, ao ponto de, até 17 anos de idade 7% dessa população já serem dependentes de álcool. Isso é um problema muito grave do ponto de vista médico e psiquiátrico, pois todos esses jovens, com esse tipo de doença mental (alcoolismo), irão precisar de ajuda e tratamento profissionais.

             O consumo nacional de álcool está acima da média mundial, que é de 6,4 litros percapta/ano. Além do mais, o Brasil é o terceiro país na América Latina e o quinto em todo o continente com o maior consumo de álcool per capita. O uso de álcool em crianças e adolescentes pode chegar a 7% aos 12 anos e até a 80% aos 18 anos, com riscos de lesões e mortes acidentais, suicídio, gravidez não planejada, sexo não protegido, problemas sociais e escolares, e a longo prazo, maior risco de dependência e lesões estruturais do cérebro.

          Por último, sabe-se que o consumo excessivo do álcool está associado com mais de 60 condições clínicas (agudas e crônicas): entre estas, hipertensão arterial, diabetes e muitas outras doenças agravadas pelo consumo de álcool. Além, evidentemente de todos os outros problemas já citados anteriormente, sobretudo, sociais, como a violência doméstica e urbana, questões laborais, comportamento sexual de risco, entre outros. Sobre isso, o ponto que a OMS mais destaca é o impacto do consumo exagerado de álcool e o sistema imune. E, isso vem ocorrendo nessa época da pandemia do COVI-19. Estudos demonstram que houve um aumento de 50% no consumo de bebidas destilados e de 40% no de bebidas fermentadas.

                Evidentemente, que isso sinaliza para uma situação complicada considerando que o que mais precisamos, no presente momento, é que as pessoas estejam bem de saúde e, sobretudo com seu sistema de defesa arrojado (imunidade pessoal) para se contrapor à infecção pelo Corona vírus, tendo em vista que esse é um sistema é que irá nos defender dessa agressão viral. As angustias individuais, impostas pelas restrições sociais (isolamento social), o medo e pavor das pessoas de se contaminarem pelo vírus, as enormes frustrações por romperem suas atividades sociais e de trabalho, as perdas financeiras, o desemprego e a queda da renda, mortes de parentes e amigos devido a COVID-19. Enfim, todas essas mazelas que estamos passando, são razões suficientes para explicar parte dos motivos das pessoas estarem atualmente bebendo mais.

            Observa-se, que a absoluta maioria dessas pessoas que estão bebendo e usando outras drogas excessivamente, já eram consumidores habituais e a pretexto desses fatores acima, mensionados, aumentaram, sobremaneira, esse consumo. Portanto, não é algo novo ocasionado pela pandemia. Pessoalmente, acredito que os novatos que estão iniciando a beberem agora, são bem menores.

            Outro fato, é que temos um número expressivo de jovens, adultos e da terceira idade, alcoólatras, que se encontram em plena vigência de suas doenças e a maioria deles, sem qualquer tratamento psiquiátrico ou acompanhamento psicossocial, fato esse, os tornam mais vulneráveis às recaídas, tornando-os, portanto, mais propensos a beberem mais.

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O cinismo

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   Vez por outra, ouve-se falar que fulano é cínico, debochado, irônico, sarcástico. Querendo-se referir a alguém, que nas relações pessoais, se comporta de forma desrespeitosa, insolente e arrogante, contrariando o que se espera de alguém quando nós nos relacionamos. Observa-se, nas pessoas consideradas cínicas, que mesmo em situações que exijam atitudes decentes, honestas e reservadas, ela age de forma inconveniente. Por isso, os cínicos “á priori” são antipáticos, rejeitados e desconsiderados.

            Só para aquecer mais um pouco, vejam o que dizem alguns pensadores clássicos contemporâneos, sobre essa temática: O irreverente Nelson Rodrigues dizia: só o cinismo redime um casamento. É preciso muito cinismo para que um casal chegue às bodas de prata. O cineasta e teatrólogo Oscar Wilde dizia: Só o cinismo redime um casamento e por último Olavo de Carvalho, filósofo dizia: Se a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude, o cinismo é a afirmação ostensiva do vício como virtude.

               Historicamente, houve época em que o cinismo não tinha a conotação que tem hoje. Segundo João Francisco P. Cabral, filósofo e Colaborador do Brasil Escola, no período da filosofia clássica, helenística, juntamente com os Epicuristas e Estoicos, o cinismo foi considerado como uma escola ou corrente filosófica a exemplo de outras escolas da época. Essa, propunha que Cinismo, correspondia a um modo de vida diferente ao que predominava na época. Um modo de vida de contestação, de oposição ao estabelechiment, um movimento que se opunha ao modo de vida defendido por outros setores da sociedade da época. O cinismo, propugnava um modo de vida, contrário às transformações que ocorriam na Grécia no período Macedônico.

                Nessa perspectiva os cínicos, se opunham e rejeitavam o modo de vida formal que as pessoas adotavam. Procuravam fugir inteiramente das regras impostas pelo formalismo. Contestavam a ciência, e tudo aquilo que os homens em geral consideram indispensável: as regras, a vida em sociedade, a propriedade, o governo, a política, as regras de convivência, etc. Na prática, baseavam-se no impudor deliberado, contrariando as mínimas regras de convivência. O cinismo era uma opção, uma escolha de vida, inspirada na liberdade total e absoluta ou da independência das necessidades inúteis, da recusa ao luxo, vaidade e outros dotes presentes na vida social da época.

           Atribui-se a Antístenes (444-365) a.C., discípulo de Sócrates quem fundou essa escola, o Cinismo. Atribui-se também a ele, a primeira definição de cinismo no século V a.C. Ele foi seguido por Diógenes de Sinope que levou o cinismo aos seus extremos e passou a ser visto como o arquétipo de filósofo cínico, sua “autarkeia (autossuficiência) ” e a “apatheia” perante as vicissitudes da vida eram os ideais do cinismo, condição que os levaria a liberdade total. Esse termo pode ser aplicado em diferentes contextos: economia, em filosofia e na administração pública.

            Autarkeia, autarquia, quer também dizer poder absoluto. Um tipo de governo em que uma pessoa ou um grupo de pessoas concentram todo poder em si mesmos e sobre uma nação. Autarquia, se verifica quando o Estado tem total autonomia sobre si próprio, é autossuficiente.

             Apátheia, do grego, nos remete a páthos “aquilo que afeta o corpo e a alma”. É o estado de uma alma indiferente, que não é suscetível de se emocionar por falta de sensibilidade ou de sentimento. É o estado de uma alma indiferente, que não é suscetível de se emocionar por falta de sensibilidade ou de sentimento.

Do ponto de vista médico, apatia é uma condição psicológica designada por um estado emocional de indiferença. É a falta de emoção ou motivação de um indivíduo perante algo ou alguma situação, tendo como algumas das suas características o desgaste físico, a inércia, a fraqueza muscular e a falta de energia (letargia). Politicamente refere-se a um estado fraco, indiferente, frouxo e sem poder.

            Essa corrente filosófica dos cínicos, se espalhou durante a ascensão do Império Romano no século I quase se tornando um movimento de massa, e assim, os cínicos eram encontrados pedindo e pregando ao longo das cidades do império. Só no final do século V essa doutrina finalmente desapareceu no cenário histórico.

            No século XIX, a ênfase sobre os aspectos negativos dessa corrente filosófica levou ao atual entendimento sobre o seu significado contemporâneo, significando uma disposição de descrença na sinceridade ou bondade das motivações e ações humanas caracterizando tais adeptos como sendo pessoas como as que desprezam as convenções, as regras e as normais sociais.

            Cinismo como é visto hoje, representa uma condição que nos remonta a algo da personalidade, um traço de caráter, algo intrínseco à personalidade, algo constitucional ou a um tipo especial de comportamento. Os cínicos, sempre existiram, nas sociedades humanas, e dependendo da cultura e dos padrões comportamentais que imperam em certas sociedades, estão muito presentes.

           As marcas registradas, mais comuns que se observa no comportamento desses indivíduos são:  indiferença total, independência absoluta de liberdade interior, de impassibilidade, tranquilidade, imperturbabilidade, condições essas que eles consideram divinas. Para os cínicos a virtude é a indiferença absoluta, sobretudo aos valores humanos.

            Os cínicos são descarados, atrevidos e sarcásticos e, despertam nos outros certa repugnância, aversão e desconfiança na convivência. São rejeitados pelo indiferentismo e pela ousadia com que seus atos são praticados. Dificilmente, alguém se dá bem, convivendo com um cínico. Ao lado deles, vive-se sempre com um pé na frente e outro atrás pela desconfiança que inspiram.

            Em Psiquiatria, há uma categoria de transtornos relativos à Personalidade que Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, um desses tipos, o Transtorno de Personalidade Antissocial TPAS, que é um dos mais importantes diagnósticos psiquiátricos dessa categoria, o cinismo aparece como uma caraterística importante desse diagnóstico. Outros sintomas, próprios desses Transtorno de Personalidade (TPAS) são a indiferença pelos sentimentos alheios, a crueldade, a mentira, e o notável desprezo pelas normas e obrigações pessoais e sociais. A baixa tolerância à frustração, a impulsividade e finalmente, pelo baixo limiar para atos violentos (OMS, 1993).

            Então vejam, embora a presença do cinismo não seja um sintoma patognomônico (essencial), para o diagnóstico de TPAS ele se encontra inserido entre um dos mais importantes sintomas encontrados nesses Transtorno, demonstrando o quão marcante é seu significado, na perspectiva médica e psicopatológica. Personalidades vaidosas, excêntricas, portadores de transtorno afetivo bipolar, especialmente na fase na maníaca e hipomaníaca, os portadores de Transtorno de Personalidades Boderlines e de condutas podem assumir atitudes cínicas pela via afora.

           Não é exagero pensar-se que esse homem que está surgindo das entranhas desse novo mundo que se está se construindo, onde os valores éticos, religiosos, e morais ligado a esse inegável modo de vida contemporâneo, onde as pessoas estão se tornando, a cada dia, arrogantes, irônicos, indiferentes, sem regras, sem ética, sem probidade, sem decência e sem pudor, seja o resultado da reedição das aspirações dos antigos postulantes dessa forma de pensar. Talvez, em um futuro próximo, a sociologia, a antropologia, a psicologia e a própria psiquiatria, juntamente, aos culturalistas, psicólogos, sociólogos e historiadores possam nos explicar que homem é esse que vem surgindo, sorrateiramente, nos dias atuais, mais cínico e menos sensato.

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A criança, a tecnologia e as questões psicossociais

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A educação da criança e o desenvolvimento tecnológico são temas que estão interconectados e têm tido ultimamente um impacto significativo na sociedade atual. Esse tema tem despertado muito interesse sobre este assunto, considerando que já existem vários problemas emocionais, mentais psicossociais oriundos do utilização disfuncional ou patológicas das tecnologias da vida moderna.

Sabemos, que o desenvolvimento tecnológico tem proporcionado às crianças acesso fácil a dispositivos eletrônicos, como smartphones, tablets e computadores, desde a mais tenra idade. Isso, certamente, pode trazer benefícios, como acesso a informações e recursos educacionais, ferramentas de aprendizado interativo e comunicação facilitada. No entanto, também pode apresentar desafios, como a necessidade de equilibrar o tempo gasto em dispositivos eletrônicos com outras atividades importantes para o desenvolvimento infantil.

A tecnologia moderna tem transformado a forma como as crianças aprendem e são educadas. Ela oferece oportunidades para o ensino personalizado, o acesso a recursos educacionais online, a interação com conteúdo multimídia e a colaboração virtual. A educação digital pode promover habilidades importantes, como pensamento crítico, resolução de problemas, criatividade e alfabetização digital.

Todavia, sabe-se que o uso excessivo. inadequado ou disfuncional das tecnologias pode representar uma ameaça para a saúde, especialmente a saúde mental, social e para o bem-estar das crianças. Isso inclui problemas de saúde física, como sedentarismo e problemas de visão, e questões relacionadas à saúde mental, como dependência de dispositivos eletrônicos, falta de interação social face a face e exposição a conteúdos inadequados.

Com o rápido avanço tecnológico, a alfabetização digital tornou-se uma habilidade essencial para a participação plena na sociedade atual e futura. A educação das crianças deve incluir o desenvolvimento de habilidades digitais, como o uso responsável da tecnologia, a segurança online, a capacidade de avaliar informações e a compreensão do impacto da tecnologia na sociedade.

Os pais e educadores desempenham um papel fundamental na educação das crianças especialmente em relação à tecnologia. Eles devem promover um uso equilibrado e saudável da mesma, estabelecer limites apropriados, ensinar habilidades de pensamento crítico e promover uma discussão aberta sobre os benefícios e desafios desses recursos.

Em suma, a educação da criança e o desenvolvimento tecnológico estão entrelaçados na sociedade atual. É necessário um equilíbrio adequado para aproveitar os benefícios da tecnologia na educação, ao mesmo tempo em que se aborda os desafios relacionados à saúde e ao bem-estar. O objetivo é capacitar as crianças a utilizar a tecnologia de forma responsável, construtiva e segura, preparando-as para o mundo digital em constante evolução.

Um dos pontos chaves sobre esse assunto, é que todas essas vantagens descritas acima visando o desenvolvimento de crianças no mundo tecnológico deverão ser amplamente fiscalizadas pelos pais e professores para que não haja excessos ou exageros no manejo dessas tecnologias modernas e isso venha prejudicá-los, especialmente, o funcionamento pessoal e social dessas crianças possibilitando o adoecimento mental e social.

Com o desenvolvimento tecnológico surgiram alguns desafios a serem enfrentados e isto inclui o uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode levar as crianças a passarem longos períodos de tempo em frente a telas, o que pode afetar negativamente seu desenvolvimento físico, social e emocional.

O sedentarismo, outra condição desfavorável e muito frequente que está associado ao uso prolongado de dispositivos eletrônicos pode contribuir para problemas de saúde, como obesidade e falta de condicionamento físico, perda de peso além de muitos outros problemas psicológicos e sociais na vida dessas crianças.

O uso excessivo de tecnologia também pode levar a uma diminuição do tempo dedicado à interação social de forma mais participativa. As interações pessoais são importantes para o desenvolvimento de habilidades sociais, comunicação verbal e não verbal, empatia, formação de relacionamentos e para o desenvolvimento saudável psicológico e social dessas crianças.

A exposição a conteúdo inadequado na internet, como violência, linguagem ofensiva, pornografia ou informações enganosas, é uma preocupação que todos os pais e educadores deveriam estarem atentos, modernamente. É fundamental que os pais e educadores intercedam nesse aspecto quando seus filhos estiverem acessando os meios de comunicação on-line.

A falta de supervisão e orientação adequadas no uso da tecnologia pode expor as crianças a riscos, como cyberbullying, exploração online, exposição a conteúdo inapropriado e problemas de privacidade. É essencial que os pais e educadores estejam envolvidos, estabeleçam regras claras e ofereçam orientação segura sobre o uso responsável da tecnologia.

Outro aspecto relevante é o desenvolvimento de dependência de tecnologias, afetando negativamente o bem-estar emocional e o desempenho escolar e acadêmico das crianças. É importante estabelecer limites saudáveis ​​e promover um equilíbrio entre o tempo gasto em atividades digitais e outras atividades, como brincadeiras ao ar livre, leitura e interação social.

É fundamental que os pais, educadores e sociedade em geral estejam conscientes desses problemas e adotem uma abordagem equilibrada em relação à tecnologia na educação das crianças. Isso inclui estabelecer limites adequados, oferecer supervisão e orientação, promover o uso responsável da tecnologia e incentivar atividades offline que sejam essenciais para o desenvolvimento saudável das crianças.

A responsabilidades, dos pais, das escolas e professores, são cada vez maiores e específicas na educação dessas crianças, sobretudo, como foi sinalizado acima, a fiscalização e orientação contínua e permanente sobre o que está acontecendo no ambiente virtual de filhos e alunos. Havendo falhas nesses processos as crianças e suas famílias pagarão um preço alto.

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MACONHA SINTÉTICA, uma ameaça grave à vida e a saúde mental

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          Em nosso país e no mundo, de uns anos para cá vem surgindo, com força total, uma outra droga psicoativa, de natureza sintética, avassaladora e altamente indutora de dependência, denominada de Spice. Ela é também, conhecida pelo mundo afora com as seguintes designações: K2, K4, K9 (High Legal, Black Mamba, Cannabis Blend, sendo que essencialmente, seu princípio ativo fundamental é uma substância, encontrada entre os mais de 600 princípios ativos da maconha natural, que é o Delta 9 Tetra Hidro Canabinol ou simplesmente THC.

          Esses produtos químicos industriais com moléculas sintéticas de THC pulverizados sobre qualquer erva seca – como capim, folhas secas envoltas em brilhantes e chamativos pacotes coloridos são vendidos sob uma variedade de nomes como (as mais conhecidas), embora centenas de outras marcas são encontrados.

              Ela é projetada com maconha, mesmo não possuindo aroma e a aparência da natural, é acrescentada incenso e ervas aromatizadoras, o que não tem nada a ver com a maconha natural, e por ter como base o THC seu consumo afeta o cérebro de forma diferente do que a droga natural, muito embora nos mesmos receptores cerebrais do THC.

            De acordo com o National Institute on Drug Abuse – NIDA dos Estados Unidos, Instituto que trata das questões das drogas de abuso, informa que os usuários podem experimentar: quadros graves de ansiedade, agitação psíquica e motora, náuseas, vômitos, crises graves de hipertensão arterial, convulsões, alucinações auditivas e visuais, ataques de pânico, incapacidade de comunicação, paranoia, episódios psicóticos agudos, desagregação da orientação quanto a si mesmo e quanto ao espaço, além de levar o usuário a agir com violência e completamente desorganizada. Portanto, a utilização dessa maconha sintética pode ter efeitos imprevisíveis e altamente perigosos para a saúde, não só do ponto de vista da saúde mental quanto física.

              Devido aos riscos à saúde associados à maconha sintética e à falta de regulamentação adequada, muitos países e estados têm proibido ou restringido sua venda e uso. É importante enfatizar que a maconha natural e a maconha sintética são substâncias distintas, com efeitos e riscos diferentes.

             O K2 ou Spice, como podemos notar, é uma das marcas comerciais desse tipo de maconha. A composição exata do K2 e de outras marcas de maconha sintética pode variar, pois os fabricantes alteram as fórmulas para evitar a detecção pelas autoridades. No entanto, em geral, a maconha sintética é feita pulverizando produtos químicos sintéticos em ervas secas ou vegetais cortados.

              Como assinalamos acima, os produtos químicos sintéticos utilizados nessa maconha sintética são projetados para ativar os mesmos receptores de canabinoides encontrados no sistema nervoso central (receptores endocanabinoides) que são estimulados pelo THC, que é o único princípio ativo da maconha natural que age no Sistema Nervoso Central (cérebro) sendo o principal composto psicoativo da maconha natural. Esses receptores estão envolvidos na regulação de várias funções do corpo e no comportamento, como o humor, a memória e a senso-percepção da dor, a atenção, etc.

              No entanto, a maconha sintética pode ser muito mais potente e imprevisível em seus efeitos do que a maconha natural, devido à composição química variável e à falta de controle de qualidade. Além disso, muitas vezes, os produtos químicos sintéticos utilizados no K2 não são bem compreendidos em termos de seus efeitos no corpo humano. Estima-se que a concentração do THC da maconha sintética seja até 100 vezes mais potente que o THC da maconha natural.

                Quando uma pessoa fuma ou consome maconha sintética, os produtos químicos sintéticos entram na corrente sanguínea e afetam os receptores canabinoides do cérebro e provoam os estragos já conhecidos. Isso pode levar a uma série de efeitos colaterais, que podem variar de pessoa para pessoa e dependendo da formulação específica do K2. Alguns dos efeitos colaterais relatados incluem euforia, relaxamento, aumento da sociabilidade, mas também provocam quadros graves de ansiedade, paranoia, alucinações, náuseas, convulsões e problemas cardiovasculares, conforme já havíamos anunciado acima.

              É importante ressaltar que a maconha sintética, incluindo o K2, é considerada ilegal em muitos países e pode representar riscos significativos para a saúde. É altamente recomendado evitar o uso de maconha sintética e, em vez disso, buscar formas mais seguras e legais de lidar com questões relacionadas à cannabis, como o uso medicinal da maconha natural, quando apropriado e legalmente permitido.

             Amaconha sintética ou maconha líquida foi lançada na década de 90, na Carolina do Sul, pelo químico americano John W. Huffmann, o qual começou a sintetizar canabinóides, na busca de medicamentos para o alívio do sofrimento de pacientes de AIDS e câncer, mas que acabou por fim se tornando uma droga poderosa.

             Apesar de sua comercialização ser proibida, a ‘maconha sintética’ não possuí um fabricante específico. São muitos fornecedores, o acesso é relativamente fácil, pois basta uma rápida pesquisa pela internet que você consegue achar vendas de pacotes individuais e até lotes da substância, inclusive no Brasil. O seu custo gira a cerca de US$ 1, no Brasil em torno de 5 reais.

                              Resumidamente, como essa droga funciona no cérebro que é a sede material de nossa saúde mental ou de nossas doenças psíquicas seus efeitos incluem:

            Transtornos de ansiedade: Muitos usuários de K2 experimentam sintomas intensos de ansiedade, como nervosismo, agitação, preocupação excessiva e ataques de pânico. A ansiedade pode ser temporária, mas em alguns casos pode persistir e se tornar um distúrbio de ansiedade crônica.

            Paranóia: O uso de K2 pode levar a um aumento significativo da paranoia, resultando em pensamentos persecutórios, desconfiança extrema e medo irracional. A paranoia pode ser intensa e causar uma disrupção significativa na vida cotidiana do indivíduo.

            Episódios psicóticos: Em casos mais graves, o uso de K2 pode desencadear sintomas psicóticos, com a presença de delírios e alucinações. A psicose relacionada ao uso de maconha sintética pode ser temporária ou persistente, exigindo tratamento psiquiátrico especializado.

            Transtornos do humor: O uso de K2 também tem sido associado a alterações do humor, como oscilações de humor, irritabilidade, depressão e até mesmo comportamento suicida.

            Dependência e abstinência: A maconha sintética, incluindo o K2, causa dependência psicológica e, em muitos casos, dependência física física. A interrupção repentina do uso pode levar a sintomas de abstinência severa, como ansiedade, agitação, insônia, irritabilidade e ânsias intensas, tremores, agitação vômitos etc.

            É importante destacar que cada indivíduo pode reagir de maneira diferente ao uso de maconha sintética e que a predisposição genética, histórico pessoal e outros fatores podem influenciar a suscetibilidade a distúrbios mentais relacionados ao uso de K2. Buscar ajuda profissional, como de um psiquiatra ou terapeuta especializado em dependência química, é fundamental para avaliar e tratar eventuais problemas de saúde mental decorrentes do uso de K2

           Além disso, já foram observadas em usuários da maconha sintética complicações graves como rabdomiólise (degradação do tecido muscular), lesão renal aguda, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico, pneumotórax (colapso do pulmão) e exacerbação de asma.

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Sofrimento entre os doentes mentais

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             Em artigos anteriores, tratando sobre as doenças mentais, destaquei que as mesmas, entre as doenças humanas, são as que mais provocam uma ampla gama de problemas que resultam em grandes sofrimentos para esses enfermos, para seus familiares e para os que com os quais convivem.

              Evidentemente, que toda essa carga de dor e sofrimento que recai sobre os doentes mentais, deverá ser atribuída, a um grande número de fatores, já que se sabe que absoluta maioria das enfermidades mentais são ocasionadas por múltiplos fatores que interagem entre si, resultando na expressão da enfermidade. 

           O fenômeno do adoecer psíquico é complexo e não estão adstritos a um órgão ou sistema biológico com estão a maioria absoluta das outras doenças humanas as quais são a rigor diagnosticadas através dos conhecimentos exuberantes da clínica médica ou por exames laboratoriais cada vez mais precisos e sofisticados. No caso dos transtornos mentais, a sua maior expressão se dá no comportamento, interno ou externamente ao sujeito. 

            O comportamento, abrange todas as formas de ações expressão de uma pessoa. É o modo de agir, de funcionar e desenvolver ações e reações dos seres humanos, perante o seu ambiente, interno ou externo à pessoa. Por isso, é que consideramos o comportamento como algo extremamente complexo porque muitos fatores podem interferir na materialidade da expressão de alguém. E, é através dele que inferimos sobre as condições de saúde ou doença mental, as quais, embora não saibamos completamente como surgem ou os motivos do seu aparecimento, é através do comportamento que elas se revelam.

           Resumidamente podemos afirmar que enquanto as outras doenças humanas se revelam através de sinais ou sintomas próprios das disfunções de órgãos e sistemas da nossa economia biológica e isso define a saúde ou a doença de alguém, nas doenças mentais, o que está disfuncional é o comportamento propriamente dito dos indivíduos em distintas áreas afetiva, emocional, cognitiva, executiva e sensorial tais disfunções irão influenciar a forma efetiva no comportamento dessas pessoas.   Destacamos: 

  • A  dor é o sofrimento imposta pela própria doença mental
  • A dor é o sofrimento impostas pelos preconceitos sofridos pelos pacientes
  • A dor é o sofrimentos por serem doenças invalidastes invalidantes
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A Psiquiatria no curso do Covid-19

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A pandemia do Corona Vírus ocasionou um dos maiores problemas de saúde pública do século. As consequências foram devastadoras em todos os sentidos. Os índices de morbimortalidade são surpreendentes e nunca vistos. Todas os ramos da medicina e de outras áreas da saúde foram pegas de surpresas e as consequências foram devastadoras. A Psiquiatria, como especialidade médica e secularmente carregada de preconceitos e discriminações, passou a ser, no curso da pandemia, “a menina dos olhos das especialidades médicas”. O incremento de casos psiquiátricos e em saúde mental na população em geral, a imensa diversidade de casos psiquiátricas e as ocorrências de casos em crianças e adolescente e em outras faixas etárias, desencadeados pela virulência e pelos enormes impactos psicoemocionais da pandemia na população infantil e infantojuvenil, são os principais fatos nessa rede de situações.
As doenças mentais, caminham inexoravelmente para cronificação, muito embora muito delas possar aparecer, abruptamente (condições agudas). Porém em ambas as condições se recomenda tratamento precoce. Apesar de tudo, sabe-se que essa evolução não é prorrogativa única das doenças psiquiátricas, pois, a maioria absoluta das doenças humanas, evoluem também em ambos os sentidos.
Os tratamentos das doenças mentais, evoluíram muito, ao ponto de muitas dessas enfermidades hoje já não representarem grandes ameaças, mesmo sabendo-se que elas poderão caminhar para o “status de doença crônica”. Os modernos conhecimentos sobre a fisiopatologia das grandes síndromes psiquiátricas, e as modernas técnicas diagnósticas e tratamentos nessa área da Medicina e, principalmente na área farmacológicas e da neurociência. Ocorre que, os preconceitos e os estigma que ainda existe em torno dessas doenças (assunto tratado em diversos artigos escritos por mim para esse jornal), permanecem sendo os grandes entraves dessa especialidade médica.
Esses preconceitos são enormes, desumanos, segregadores e marginalizadores e o preço que se paga são gigantescos. As enfermidades mentais dispõem de uma fisiopatologia, de um curso natural, de uma evolução, de um prognóstico, de um diagnóstico e de um tratamento, isto é, de tudo que outras doenças humanas apresentam, não têm nada de sobrenatural, de divino, muito menos de diabólico. E
Essas crenças e pechas sobre elas são seculares e provêm de época onde imperava o obscurantismo no pensamento psiquiátrico, épocas, em que não se sabia nada comparativamente ao que se sabe hoje, sobre essas enfermidades. Hoje, a Psiquiatria moderna, se inspira neurobiologia, na farmacologia. na neuroquímica, na genética, na imunologia e a neurofisiopatologia e na clínica das doenças mentais.
Enfim, os tempos mudaram, acabaram-se as bruxas e as bruxarias. A doença mental não é mais um “bicho de sete cabeças” que nos assustava e sobre as quais poderíamos fazer muito pouco. Hoje, já sabemos bastante sobre elas e as perspectivas são cada vez melhores para os próximos anos.

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Bullying e Ciberbullying

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              Iniciaremos, tratando da humilhação. Ser humilhado, é certamente, uma das piores experiências que alguém pode passar na vida. É uma ocasião de muita dor, revolta e sofrimento. Dependendo do grau da humilhação, porque elas passam pode marcá-las para sempre e essas lembranças permanecerão incólume a vida toda, não se esquecendo jamais desse fato.

                 A humilhação é uma experiência emocional negativa, traumática que pode ser descrita situações onde a pessoa humilhada apresenta sensações desagradáveis de ser rebaixado, envergonhada ou desrespeitada por outra pessoa ou por grupos de outras pessoas. A humilhação pode ser causada por diversas situações, como ser exposto a uma falha em público, ser insultado ou ridicularizado, ser vítima de bullying ou discriminação, entre outras.

                Humilhar é o também um ato de fazer alguém se sentir inferior ou inadequado em uma situação social. É um comportamento intimidatório e desrespeitoso que pode levar à perda de autoestima e autoconfiança. A humilhação pode ser feita através de palavras depreciativas, críticas injustas, gestos agressivos ou através do isolamento social. Infelizmente, a humilhação pode ocorrer em vários ambientes, como em casa, no trabalho, na escola, entre outros. É importante lembrar que a humilhação é um comportamento inaceitável e que todas as pessoas merecem ser tratadas com respeito e dignidade. Caso você esteja sendo humilhado, procure ajuda de amigos ou profissionais capacitados para lidar com a situação.

              A humilhação pode causar uma série de emoções negativas, como raiva, frustração, ansiedade e vergonha. Ela pode afetar a autoestima e a autoconfiança de uma pessoa, bem como suas relações sociais e profissionais. A humilhação pode ser uma experiência muito dolorosa e é importante que as pessoas aprendam a reconhecer e lidar com ela de forma saudável.

              Humilhar, é tornar alguém desacreditado, mal afamado; é vexar-se, rebaixar-se. É uma espécie de menosprezo a; tratar com desdém a, é desprezar. Ou ainda, tornar alguém, algo ou a si mesmo, sujeito a; submeter-se, sujeitar-se. Se origina do latim, humilĭo,as, āvi, ātum, āre, abaixar, abater, humilhar. Humilhar é uma condição de mão dupla, a pessoa tanto pode humilhar a alguém quanto pode ser humilhado, nas mesmas ou diferentes ocasiões que o fato ocorra.

            Humilhar e passar vexame que são coisas similares. Outros sinônimos como: espezinhar, rebaixar, achincalhar, ridicularizar, desonrar, diminuir, acabrunhar, ultrajar, são também sinônimo de humilhação bastante aplicados na linguagem coloquial. Vexar vem do latim vexare, é o mesmo que afligir, atormentar, maltratar alguém, causar vergonha a si mesmo ou a outrem.  Enfim todas essas designações servem para revelar a humilhação.

            Em meados da década de 70, quando os educadores do leste europeu notaram que vinha ocorrendo um grande aumento de violência entre os alunos nas escolas desses países, professores estudiosos da área, passaram a se interessar por esse assunto e a desenvolverem estudos de forma mais científica para compreenderem melhor esses fatos. 

           Foi o professor e pesquisador norueguês Dan Olweus quem primeiramente relacionou a palavra Bullying a esse fenômeno de comportamento de violência escolar. E, nesses casos, não se trata, somente, de violência física, embora essas possa estar presente, mais também violência moral, psicológica, social ou de qualquer outro tipo, envolvendo alunos das escolas. 

            Na década de 90, vários países como Espanha, Canadá, Portugal, Inglaterra e Noruega se tornaram os pioneiros, em estudos sobre o bullying, estudos esses considerados fundamentais pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Como resultado, criaram campanhas Antibullying por todo o mundo, tendo resultados positivos. No Brasil só em 2004 que o tema se tornou mais conhecido, devido aos inúmeros casos que vinham ocorrendo nas escolas.

         Bully, é um termo inglês e que significa, valentão(ona), tirano, sendo, frequentemente, usado para descrever um tipo de assédio interpretado por alguém que está de alguma maneira, em condições de exercer o seu poder sobre outro ou sobre um grupo mais fraco. É o mais forte contra o mais fraco. É uma situação que se distingue por agressões verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva e intencional. Ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por uma ou mais pessoas contra um ou mais colegas.

          No ambiente escolar, onde mais, frequentemente, ocorre esse fenômeno se revelam quase sempre através de brincadeiras, em geral de mal gosto, praticados por estudantes. Pode surgir através de risadas ofensivas e discriminatórias, de empurrões ou agressões físicas, dos maiores contra os menores, fofocas ou comentários desairosos que ofendem ou denigrem a imagem ou conceitos sobre as pessoas, apelidos agressivos, etc.  

           O objetivo dos que praticam bullyies é sempre a de amedrontar ou agredir o outro. Supostamente, a vítima não teria a possibilidade ou a capacidade de reagir a altura ou de se defender, por ser considerado mais fraco, frágil ou covarde. Nesses casos há uma relação de desigualdade de força, profunda. Portanto, esses comportamentos, estão muito longe de serem encarados como comportamento normal, inofensivo ou como uma brincadeira de crianças. Há, sim maldade, violência, opressão e profunda humilhação inominável presentes nessas atitudes.

          Nos últimos anos, mais precisamente com o desenvolvimento da era tecnológica e das tecnologias sociais gerou-se um outro fenômeno dentro do espectro do bullying e que ocorre virtualmente, designado de Cyberbullying. Esse acontece na perspectiva do ambiente virtual, e não presencial como acontece com o bullying. Nesse caso as pessoas envolvidas não se veem umas às outras, a não ser de forma virtual. Passando, por isso mesmo, a ser mais um agravante para o problema, já que o anonimato dessas pessoas que se comunicam, permite o aumento de atitudes cruéis, como comentários e ameaça e ofensas e de tudo mais que possa humilhar as outras pessoas, tornando tais efeitos muitas vezes mais graves. 

          Para muitos, o Cyberbullying é o Bullying da era digital, onde as modernas tecnologias da informação e da comunicação, se destacam. Essas tecnologias vieram para ficar e a cada dia ampliam seu alcance e seu papel na vida de cada um, por isso mesmo deram novas versões a esse tipo de problema. E-mails ameaçadores, difamação em redes sociais, mensagens que denigrem as pessoas, comentários inverídicos, fake news, postados em sites de relacionamento, blogs e nas chamadas redes sociais, através de fotos e textos constrangedores, são em geral as formas mais comuns de se praticar o Cyberbullying.

              Do ponto de vista psiquiátrico e psicodinâmico, as sucessivas ocorrências de humilhação vivida por alguém podem ser responsáveis por enormes prejuízos, emocionais, sociais e psiquiátricos de todos os tipos. O isolamento social é uma das principais consequências da humilhação, sobretudo se for por assédio (sexual, moral), devido ao enorme constrangimento vivido pela vítima. É uma sensação muito ruim, carregada de dor e sofrimento, e muito prejudicial à saúde mental dessa pessoa. Se a humilhação ocorre no ambiente de trabalho a pessoa pode passar a ter ideia fixa, obsessiva de ser demitida, de perder o emprego, de ser taxada de negligente, irresponsável incompetente etc. 

          Quadros graves de depressão, transtornos desadaptativos que podem suceder a uma humilhação, pode sobrevir também ideação suicida e até o suicida propriamente dito. 

          Além da depressão e outros transtornos psicológicos e emocionais, a pratica da humilhação, por qualquer motivo, pode provocar também outros transtornos de ansiedade como síndrome do pânico, stress pós-traumático, Síndrome de Burnout (a doença do esgotamento profissional), reações psicóticas, comportamentos ansiosos-depressivos, fobias e gerar quadros graves de desadaptações psicossociais. 

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O Medo

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É certamente, um dos mais importante e poderosos sentimentos humanos. E, em conjunto com outras importantes ferramentas de sobrevivência, promoção e proteção da vida, é um dos que mais se utiliza ao longo do tempo. O medo nos faz chorar, refletir, recuar, evitar, reagir, fugir e enfrentar situações de perigos e ameaças, e tudo isso, com um único propósito, garantir a vida. Essa busca permanente e incessantemente de proteção da vida é comum também em todos os outros seres vivos, dos mais simples aos mais complexos na cadeia zoológica, e em todas as reações de medo, aparecessem como fundamentais para mantermos tais prerrogativas.

                Hoje, modernamente, em psiquiatria, psicologia, e neurociência, sabe-se que dispomos de inúmeras outras ferramentas ou dispositivos neurofuncionais, psicológicas, emocionais, cognitivas, intelectivas, afetivas e outras, que estão à nossa disposição para garantir os pressupostos básicos da existência: comer, dormir, procriar, proteger etc.

              São dispositivos endógenos, que a natureza nos brindou, que se bem-dispostos podermos viver adequadamente, em todos os sentidos. Todas essas funções, das mais simples às mais complexas, representam um sistema ultra complexo de funções, as quais garantirão de forma efetiva e saudável, nossas vidas. A mobilização e a utilização de cada uma dessas ferramentas ou desses dispositivos, ocorrerão sempre em bloco, em respostas aos mais distintos eventos que se nos impõem e, dependendo das circunstâncias, iremos utilizá-las predominantemente, uma ou outra, para atender a tais demandas. Isto é, para que haja uma plena harmonia nas vivências humanas, deve haver permanente mobilização de tais ferramentas, para fazer face a cada situação. Atitudes e/ou comportamentos, são respostas em bloco dessas diferentes formas de nos reagirmos adaptamos nesse conjunto de estímulos.

                 Por exemplo, quando alguém, dirige, essas funções todas praticamente estão presentes, porém a ferramenta que mais se sobressair entre as demais, será a atenção, muito a embora a memória, a concentração, as funções executivas, e outras funções cognitivas, estejam presentes, colaborando para a execução do ato de dirigir. A atenção, nesse caso, é a ferramenta mais importante, entre as outras, muito embora as outras estejam presentes. Esse entendimento é um dos mais atuais do ponto de vista neuropsicológico que existe para se explicar os comportamentos humanos.

                  Faço essa preleção, para inserir o medo, nesse contexto. Ele, é indubitavelmente, quem nos faz perceber ameaças, perigos ou outras situações adversas a nossa segurança. É quem nos afasta de tais ameaças e adversidades, que podem ser desfavoráveis à nossa vida. É o medo, que nos diz o que fazer quando algo ameaçador se aproxima.

                 O medo se manifesta desde a mais tenra idade, e prossegue ao longo da vida, até a morte. O choro, o desespero e o espernear incontrolável de uma criança que ocorre ao nascer, tem muito medo por trás dessas reações. E, dentro dessa perspectiva, as sensações e reações fisiológicas e comportamentais, específicas, observadas nessas condições, são respostas complexas de uma emaranhada rede de eventos neuro funcionais e circunstâncias que se sucedem, hierarquicamente e em cadeia dentro de nosso cérebro, onde o hipocampo, órgão da memória e importante componente do sistema límbico, irá comparar as experiências de medo, vividas anteriormente pela pessoa. Simultaneamente, o córtex pré-frontal, região também complexa do Sistema Nervoso Central – SNC, estrutura que comanda outras funções nobres do nosso comportamento, integrará as informações sensoriais, emocionais e culturais para formular os planos de ação a ser utilizada em situações de risco e emergência. Por último, a amígdala, uma outra estrutura do sistema límbico, dispara as reações de alarme, medo, com diferentes intensidades, ante as situações de perigos a que estamos submetidos. Essas reações se dão em cadeia e, a partir de então, serão executadas um enorme conjunto de reações, psicossociais, próprias desse estado, para enfrentar ou fugir do perigo.

             Essas reações de medo, são universais e todos organismos que dispõe dessas estruturas cerebrais, certamente responderão da mesma forma. Cada pessoa tem uma forma própria de reagir ao medo, por isso mesmo, há pessoa mais vulneráveis e outros menos vulneráveis aos medos, definindo-se aí os mais ou menos corajosos, que enfrentam melhor as situações de perigo e os mais ou menos medrosos, que enfrentam com menos habilidades tais situações.

             Por se tratar de uma função vital à sobrevivência humana, ela pode, como outras funções, apresentar diferentes alterações. Uma delas é a fobia, condição psicopatológica grave, que altera a funcionalidade emocional, afetiva, e social das pessoas e as predispõe a comportamentos díspares, sem os propósitos originais de sua base geradora. Fobia é, portanto, um medo inadequado, persistente e duradouro, que merece tratamento médico especializado.

            Outras condições são: ataques de pânico, pavor súbito, avassalador, onde as pessoas sentem que irão morrer repentinamente, sem qualquer razão plausível. A fobia social, um medo, imobilizante, inexplicável de ser criticado e/ou ridicularizado, em público. Episódios depressivos, onde os temerosos são infundados. Estados agudos e crônicos de ansiedade, são também condições que podemos encontrar indícios de disfuncionalidade do medo. Há ainda os frios, insensíveis patologicamente indiferentes às ameaças, são os falsos corajosos, psicopatas, que não possuem mecanismos adequado para avaliarem corretamente as ameaças e perigos, entre outras coisas.

             Ainda há, os portadores de uma síndrome rara chamada Urbach-Wiethe, em que, até onde se sabe, é um distúrbio genético em que haveria uma calcificação da amígdala cerebral e essas pessoas, que são apenas 400 portadores no mundo, se tornaram impossibilitados de sentirem medo, portanto, não esboçarão todo o cortejo de sinais e sintomas, previstos nessas reações. Além da impossibilidade de não sentirem medo, apresentam voz rouca, pequenas saliências ao redor dos olhos e acúmulo de cálcio no cérebro, fato que pode levar ao desenvolvimento de epilepsia ou outras anomalias neuropsiquiátricas.

               Outro aspecto importante relacionado ao medo é o elevado nível de tensão (stress) e ansiedade que estamos submetidos na atualidade. Vivemos sobre pressão e tensão em boa parte do nosso tempo. Pressão familiar, no trabalho, nas atividades sociais, recreativas, na escola e em muitos outros ambientes que frequentamos e que deles fazemos parte. Essa situação acaba gerando níveis sérios e patogênicos de desconforto emocional e afetivo, insegurança psicossocial e temores, muitos infundados outros factuais que atrapalham ainda mais a vida das pessoas.

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Modernidade nas placas de sinalização para idosos

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                   Há 7 anos atras publiquei um artigo em nossos jornais denominado A bengala o idoso e o sinal de trânsito, nele tratava sobre as placas de sinalizações as quais asseguram vagas em logradouros, públicos e privados, destinados a essa população. Destacava também no referido artigo que este símbolo nas placas sempre me incomodara bastante, porquanto, a imagem nessas placas representara a figura de um idoso, encurvado e segurando uma bengala, configurando um quadro, ao meu  ver, bizarro e inadequado.

                   Ao ver tais imagens nas placas, me perguntava: o que levaria alguém propor tal imagem para garantir esses direitos a esses idosos?  No artigo citado, pressupunha, entre outras coisas, que as mesmas apontavam para uma época onde havia e ainda há, muitos preconceitos, discriminação, segregação aos idosos, da mesma forma como existe ainda hoje uma visão distorcida sobre a pessoa idosa. A imagem do idoso encurvada e com bengala sugere indiscutivelmente, decrepitude, enfermidade e debilidade, etc.

                  Quando eu atingi meus sessenta anos, por um lado me tornei mais atento aos fatos e circunstâncias que estão relacionados a essa idade, no que diz respeito às minhas novas expectativas, planos, modo de vida e anseios, etc. Quando cheguei aos 60 e hoje já na casa dos setenta tenho uma sensação gostosa e agradável de ter chegado a uma idade com saúde e disposto a trabalhar e prosseguir com a vida com os mesmos compromissos que me fizeram chegar a essas idades.

                 Ao mesmo tempo em que passei a desfrutar dos direitos assegurados na Lei N.º 10.741, de 1.º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso), entre os quais, acessar tais espaços e outros direitos à educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que são prerrogativas da minha idade. Nesse aspecto, ir para uma fila de idosos, estacionar em determinados locais, ter algumas prioridades em certa circunstância, etc.  Mas, sempre me incomodou o símbolo dessas placas, por isso mesmo passei a discutir em diferentes ambientes a possibilidade de mudarem isso.

              Em minas pesquisas sobre o assunto, pude perceber que essas placas geravam incômodos em muitas outras pessoas as quais também já haviam chamado a atenção para essa discriminatória e preconceituosa situação e, por isso mesmo, tentavam propor mudanças na construção de outra imagem dos idosos nessas placas.

              Verifiquei que havia um publicitário de nome Max Petrucci, que com a ajuda de cem mil internautas encontrados nas redes sociais, propuseram uma nova simbologia que traduzisse melhor esse direito da pessoa idosa com acesso aos estacionamentos, públicos e privados, simbolizada de forma diferente, isto é, que fosse menos discriminatório e mais adequado à situação.

               Passado todos esses anos depois da publicação do meu artigo, qual foi minha surpresa, ao tomar conhecimentos que o Conselho Nacional do Trânsito – CONTRAN, em junho de 2022, através de Resolução mudou o feitio dessas placas, propondo a retirada da bengala das mãos dos idosos, não o recurvassem e colocasse com letras bem visíveis nas placas, a expressão 60 +.

                 Acredito que tenha sido um ganho para todos os idosos desse país, que apesar de suas grandes conquistas advindo do seu Estatuto ainda precisa avançar muito mais na direção de outras conquistas quanto aos seus direitos e prerrogativas.

                O símbolo anterior era, indiscutivelmente, segregador, preconceituoso e dava ênfase a uma imagem constrangedora, pejorativa, sinalizando para decrepitude, fragilidade ou enfermidade de pessoas nessa idade, o que não condiz coma verdade dos fatos sobre o idoso. Diz o publicitário e criador da nova proposta: “evidentemente que a terceira idade tem suas fragilidades, mas não precisa ressaltar tão negativamente até porque não é esse o retrato da terceira idade no Brasil”. Diz, ainda, que “essa proposta que elaborei, é ao meu ver, bem mais representativa e simbolicamente mais adequada, quando se compara com essa que está aí”.

                Com esse trabalho, o publicitário esperava traduzir o idoso de hoje, que vive uma condição de vida saudável, e participativo que vive bem melhor e completamente diferente da vida que levava há anos. Um sujeito com bengala e encurvado não demonstra alguém que esteja vivendo a plenitude da terceira idade propriamente dita. Resta saber se as mudanças ora propostas pelo CONTRAN (2022) foram produzidas pelas sugestões dos internautas e o publicitário ou se foram medidas tomadas pelo próprio CONTRAN baseadas nos movimentos nacionais que pediam mudanças nessas placas.

               Soube a terceira idade, sabe-seque com a evolução dos conhecimentos médicos, especialmente na área da nutrologia, da fisioterapia, da atividade física, do sono, ocupacionais e de outras especialidades científicos, sociais, econômicos, verificou-se que nas últimas três décadas a terceira idade, bem como outras etapas da vida, tiveram ganhos fabulosos quanto a promoção e manutenção da vida em seus diversos sentido especialmente na direção de uma vida longa e saudável.

             Dados obtidos polo novo levantamento realizado pela Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que pessoas com 60 anos ou mais representam 14,7% da população residente no Brasil em 2021. Em números absolutos, são 31,23 milhões de pessoas. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Continua) publicada em 22 de julho de 2022.

             Os idosos, na atualidade, vivem mais, querem participar ativamente da vida querem ter uma vida social ativa, praticar esportes, frequentar academias, se cuidar e promovem sua saúde, produzindo e colaborando da melhor forma possível com a vida e com o mundo. E não fazem mais porque temos uma política pública segregacionista, desvalorizante, discriminadora e violenta contra os idosos. Não fora isso, os idosos estariam bem mais inseridos na história nacional, social e psicossocial do seu tempo, de sua cidade e de seu país.

       Só à guisa de curiosidade, sobre a bengala propriamente dita, sabe-se que historicamente, ela tinha um outro sentido. Em conversa com meu genro Diogo Guagliardo Neves, grande advogado e historiador desse estado e desse país, ele me explicara que a bengala, por volta do século 19, era considerada um artigo de elegância e de status social masculino, inclusive. Homens jovens desfilavam em diferentes ambientes para demonstrar beleza, elegância e posição social em cenários da época, simbolizando que isso fazia parte da cultura e da tradição da moda inglesa. Cartola, colete e bengala faziam parte dessa indumentária.

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Novos paradigmas: o cérebro e as doenças mentais

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A Psiquiatria, ao longo de sua história, sempre tentou localizar no cérebro as origens das doenças mentais ao ponto de, por muitos anos, esta especialidade ter sido designada como Neuropsiquiatria. As contribuições nesse sentido foram muitas, desde a possibilidade de identificar pontos no cérebro responsável por esse ou aquele sintoma ou até mesmo explicar a totalidade das doenças psiquiátricas. Outras áreas do conhecimento, além da área medicina, propriamente dito, como a religião, a psicologia, a filosofia, a antropologia, trouxeram contribuições importantes no sentido de se explicar e se compreender as origens dessas doenças.

Na atualidade, com bases sólidas nos atuais conhecimentos neurocientíficos e baseadas em evidências clínicas e laboratoriais, descobriu-se que as doenças mentais derivam de uma intricada rede de fatores, como os genéticos, a bioquímica, a imunologia, a neurofisiologia, a neuroquímica, o ambiente e as condições sociais, que interligadas umas às outras, colaboram para a expressão final do nosso equilíbrio ou desequilíbrio mental e emocional. Portanto, a saúde e a doença mental em última análise decorrem do equilíbrio desses distintos aspectos, relacionados aos comportamentos humanos.

            Portanto, qualquer fator que ocorra que seja suficientemente capaz de interceder com esse equilíbrio dinâmico ou disfuncionar essas atividades que se materializam no cérebro, por menor que seja, são capazes de provocar respostas psicopatológicas ou transtornos psiquiátricos e emocionais. Há, por outro lado, pessoas que herdam condições geneticamente desfavoráveis, para o desenvolvimento de distintos tipos de doenças mentais com gravidades variáveis, são as chamadas doenças mentais geneticamente determinadas. Por último, há um outro grupo de transtornos psiquiátricos que são ocasionadas, predominantemente, por injunções sociais, ambientais e culturais, desfavoráveis, esses são designados de distúrbios ou transtornos psicossociais.

            A visão atual, portanto, mostra que doença mental, seja qual for, nunca será determinada por um único fator, pois se originam de múltiplos fatores: exógenos, endógenos, genéticos e/ou ambientais sociais e culturais onde, em todas essas dimensões, de forma isolada ou conjuntamente, exercerão sua influência direta na origem dessas enfermidades.

            Há um fato que devemos notar, nessa rede complexa de causas dessas doenças, qual seja, em cada pessoa, portadora de uma doença mental, haverá fatores preponderantes, uns sobre os outros em distintas proporções. Por exemplo, as doenças psicóticas, tais como esquizofrenia, transtorno afetivo-bipolar, os transtornos da personalidade, quadros delirantes e alucinatórios e alguns tipos de sociopatias, as causas são, predominantemente genéticas, mesmo assim não se pode descartar a participação de outros fatores, não genéticos, para o aparecimento de tais doenças.  Volto a dizer: não há uma causa única que determine tais doenças, vários fatores contribuem para seu aparecimento.

            Outras doenças mentais, como os transtornos de ansiedade, do humor, da Síndrome de Burnout, do Transtorno de Stress pós-traumático e os diferentes tipos de stress, as depressões situacionais, as angustias existências, que são bastante prevalentes na atualidade, são transtornos predominantemente situacionais, ambientais, sociais e culturais, reafirmando, por conseguinte que a origem desses transtornos psiquiátricos, são, de fato, todos de origens multifatoriais.

             Considerando os graves problemas porque passa sociedade contemporânea, podemos afirmar com segurança, que a sociedade atual está enferma mentalmente. As condições gerais de vida da população, as privações econômicas e sociais, a pobreza, a violência, as decepções de cada um, a violência doméstica, na cidade ou no campo, ou na vida urbana, o desamor, a falta de fé e de compaixão, a insegurança rpedominante, a desconfiança nas pessoas, tem favorecido para o surgimento de muitos problemas emocionais, psiquiátricos e comportamentais, que tem como base esses conflitos pelos quais estamos passando nos dias atuais. E, a tendência é que esses transtornos se incrementem cada dia mais, por conta dos avanços da tecnologia (redes sociais), a possibilidade de liberação de drogas (maconha e outras), as questões econômicas e políticas, as anomias do estilo de vida, etc. Todos esses indicadores conflitantes, de qualquer natureza: econômicos, éticos, políticos e, sociais são fatores francamente desfavoráveis ao desenvolvimento de nossa saúde mental.

        Veja por exemplo, a questão do consumo de álcool, tabaco e de outras drogas, que ocorre nos dias atuais. São condições, absolutamente, insalubres que fatalmente colaboram para os índices assustadores de doentes mentais, suicídios, homicídios, feminicídios e muitas outras situações negativas que vem ocorrendo na população em geral.

        Independentemente, de quais sejam os fatores predominantes, na etiopatogenia dessas enfermidades psiquiátricas, há um denominador comum: eles se entrelaçam e interagem uns com os outros para expressarem clinicamente a disfuncionalidade cerebral. O cérebro é, portanto, a sede material dessas doenças, pois é lá que se processa o desfeixe final, quiçá inicial, desses transtornos. É a partir do cérebro que desenvolvemos nossa consciência, nossos pensamentos, nossas emoções, nossos desejos, aspirações e julgamentos. A regulação e o equilíbrio emocional, do humor da nossa memória, do controle dos impulsos e das nossas relações sociais dependem basicamente da atividade cerebral e das nossas relações com os outros e com o mundo. Finalmente, o comportamento, personalidade, a percepção, a atenção, a cognição e muitas outras funções essenciais à vida dependem da atividade do nosso cérebro, ao ponto de, em havendo disfunção do mesmo todas essas funções e atividades se alterarão. Tratemos nosso cérebro com zelo e só nós ganhamos!

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A maconha dita medicinal e suas incongruências

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                              A maconha dita medicinal e suas incongruências

                   Um artigo importantíssimo, publicado no dia 18/12/22 no Jornal O Globo, por dois  grandes psiquiatras brasileiros, o Dr Alexander Moreira-Almeida, com pós-doutorado na Duke University (EUA), e professor titular de psiquiatria na Universidade Federal de Juiz de Fora, e Antônio Geraldo da Silva, com doutorado na Universidade do Porto, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria- ABP e membro do comitê permanente de seções científicas da World Psychiatric Association, nos brindaram com esse artigo, atual, oportuno e esclarecedor sobre um assunto polêmico, complexo e abrangente que é a utilização da maconha na perspectiva medicinal e ausência de bases científicas para fazê-lo e por isso mesmo podendo gerar graves problemas na saúde mental.

                O artigo trata de um tema que está na pauta do dia, dos noticiosos nacionais e internacionais e destaca o uso, a legalização e industrialização da maconha para múltiplas finalidades medicinais. O título do artigo é “Debate sobre maconha ignora pesquisas científicas” e informa que não existe evidência consistentes que justifique o uso de canabinoides para tratar qualquer transtorno mental.

                    O debate sobre a legalização do uso recreativo ou medicinal da maconha e de seus derivados é antigo, polêmico e envolve muitas “paixões e interesses políticos e financeiros, nos informa os autores do trabalho”. Os autores dizem ainda: “Impressiona quanto grande parte dos debates é pautada pela indústria da Cannabis ou por grupos de pressão, ignorando fatos oriundos de pesquisas científicas de qualidade e o posicionamento das principais associações médicas e científicas”.

              O artigo, tornou-se mais rico ainda pelo fato de os autores terem apresentado um resumo das melhores pesquisas sobre maconha e saúde mental publicadas pelas principais revistas médicas do mundo (para ter acesso a estas pesquisas, acesse: www.abp.org.br/maconha). Segundo os mesmos, “o uso recreativo, segundo dezenas de estudos de alta qualidade, os usuários de maconha têm maior chance de desenvolver tentativas de suicídio (duas a seis vezes mais), depressão (37% a mais), psicose (duas a quatro vezes mais chances de esquizofrenia), pior qualidade de vida, dependência da maconha (16 vezes) e de outras drogas (sete vezes), mortalidade geral (100% de aumento), por overdose (três vezes mais) e por homicídio (três vezes).

               Os autores dizem, ainda: “O uso também gera problemas cognitivos — atenção, motivação, memória, controle de impulsos e menor inteligência — e alterações nas estruturas cerebrais, que tornam três vezes menos provável a conclusão do ensino médio ou da faculdade, com mais chance de dependência de apoio financeiro dos pais ou do governo. Em todos esses efeitos, quanto maior o uso, maior o impacto deletério.

              Sobre as Revisões sistemáticas das pesquisas, referidas no artigo, com um mínimo de qualidade sobre essa temática, concluíram que “não há evidência consistente que justifique o uso de canabinoides para qualquer transtorno mental (incluindo ansiedade, depressão, insônia, autismo etc.) e informaram ainda: A FDA, agência de saúde americana a qual se equivale a ANVISA no Brasil, “não aprovou o uso de Cannabis ou de seus derivados para qualquer quadro psiquiátrico, assim como desconhecemos importantes associações médicas que o tenham feito. Ao contrário, as Associações de Psiquiatria do Brasil e dos EUA publicaram recentemente posicionamentos afirmando que não há indicação como tratamento para nenhum transtorno mental”.

             Os referidos autores deste importante artigo, garantem: as autorizações legais ou judiciais para o uso “medicinal” da Cannabis geralmente têm ocorrido por pressão de grupos, e não por causa de evidências ou solicitação de associações médicas. A pergunta é: por que o uso “medicinal” da maconha e de seus derivados deve ser feito sem os cuidados e pesquisas exigidos para quaisquer outros tratamentos?

               Os autores ainda informam: “Sabe-se que os estados dos EUA que liberaram o uso “medicinal” da Cannabis tiveram aumento do uso recreativo e de dependência de Cannabis em comparação com os que não o autorizaram. A disseminação de seus alegados potenciais terapêuticos gera menor percepção de risco do uso da Cannabis, implicando maior consumo. Nos EUA, pela primeira vez, o uso de maconha ultrapassou o de tabaco”.

            No artigo, duas outras substâncias de uso abusivo nos Estados Unidos, foram citadas à guisa de consubstanciar os argumentos sobre o uso da maconha. “Similar ao que se diz agora sobre a maconha, o uso de opioides e de tabaco também é milenar em contextos terapêuticos e espirituais. Eles foram industrializados e promovidos como inofensivos e terapêuticos. A disseminação de seu uso gerou bilhões em lucro e dezenas de milhões de mortes. A epidemia de opioides nos EUA — que, pela primeira vez, diminuiu a expectativa de vida naquele país — começou nos anos 1990 com seu uso terapêutico para dor crônica, ampla cobertura da mídia e marketing agressivo. Em 2020, mais de 68 mil morreram por overdose de opioides nos EUA (o equivalente à soma das mortes por homicídios e por acidentes de trânsito no Brasil).

             Os autores, destacaram ainda, a corrida desenfreada da indústria do tabaco onde o fator relevante que está sendo o grande declínio da indústria do tabaco, acarretando a busca por novas fontes de renda, como a maconha. Esta, embora menos tóxica que o tabaco para o corpo, é muito mais danosa para a mente e o comportamento de seus usuários.

             Os autores concluíram seu trabalho afirmando: Somos a favor de pesquisas de qualidade sobre os potenciais terapêuticos dos canabinoides, mas não é razoável apoiar a precipitação atual, com indicações amplas e sem avaliação de riscos e benefícios. O sofrimento e a morte gerados pela promoção irrefletida do tabaco e dos opioides deveriam ter nos ensinado mais rigor científico, maior preocupação humanitária, menos precipitação e paixões.

             Como podemos perceber, o problema está posto. Realmente é um assunto abrangente, polêmico e complexo, onde muitos fatores exercem distintas pressões sobre esse assunto. Todavia, manifesto meu total acordo ao que foi posto no artigo referido, considerando, que do ponto de vista da saúde pública, o mais recomendável é que as drogas ao serem liberadas para o uso pela população, seja feito com rigor científico, através de trabalhos e pesquisas científicas que comprovem a utilização eficaz e segura de tais produtos e não por pressões de qualquer natureza ou por grupos que querem descer de goela a baixo uma substância como a maconha, de forma industrial ou “in natura”, em que há décadas já conhecemos de forma consistente, o mal que ela pode fazer a nossa saúde.

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