Aberta ao público, na noite de terça-feira (22), na Casa do Maranhão, no Centro Histórico de São Luís, a exposição FM+30, do artista plástico maranhense, radicado no Rio de Janeiro, Fernando Mendonça.
Até o fim de fevereiro, o público poderá apreciar a obra do artista que comemora 30 anos de produção. Com apoio do Governo do Maranhão, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secma) foi lançado, durante a abertura da exposição, o álbum Zeladores de Voduns, como resultado da pesquisa fotográfica do maranhense Márcio Vasconcelos.
Nesta terça-feira (22), a partir das 19h30, na Casa do Maranhão, o fotógrafo maranhense Márcio Vasconcelos lança o livro Zeladores de Voduns. Paralelo ao lançamento acontece a exposição FM + 30, mostra de trabalhos inéditos do artista plástico Fernando Mendonça, maranhense radicado no Rio de Janeiro, que comemora trinta anos de produção. Os eventos contam com o apoio da Secretaria Estadual de Cultura do Maranhão (Secma).
O livro Zeladores de Voduns é fruto da experiência de Márcio Vasconcelos na África, para onde o artista viajou em 2009 na companhia do antropólogo Hippolyte Brice Sogbossi. Durante a viagem a dupla realizou pesquisa e documentação fotográfica da atual situação de terreiros e seus respectivos chefes no Benim e no Maranhão, tomando como inspiração a saga de Nã Agontimé. Rainha expulsa do reino do Daomé (atual Benim), Agontimé teria chegado ao Brasil na condição de escrava, para fundar, em São Luís do Maranhão, uma das mais respeitadas casas de culto afro do país, a Casa das Minas.
Foram 25 dias naquele continente. Com incursões nas cidades de Cotonou, Abomey, Allada, Ouidah, Calavi e Porto, a dupla fez entrevistas e ensaios com personagens de reconhecida importância no cenário do culto aos voduns a fim de perceberem sintonias e diferenças entre os Sacerdotes africanos e os Chefes de Terreiros do Tambor de Mina do Maranhão. O projeto venceu o I Prêmio Nacional de Expressões Afro-brasileiras da Fundação Cultural Palmares. E resultou em exposição apresentada no Museu de Artes Visuais, em São Luís, no Museu Afrobrasil, em São Paulo, no Museu Casa do Benin, em Salvador, na Rio+20, no Rio de Janeiro e na República Dominicana. Agora, seu rico conteúdo é compartilhado em livro que traz textos do editor Bruno Azevedo e dos antropólogos Sergio Ferretti e Hippolyte Brice Sogbossi.
Exposição
Em 12 telas em acrílica que formam 1/3 da exposição, Fernando Mendonça retrata personagens urbanos, os mesmos que o artista vem pintando durante quase toda a sua trajetória: ciclistas, pedestres, cachorros, bicicletas, pombos, travestis, crianças, trabalhadores, seres que circulam em constantes encontros e desencontros no mundo urbano.
Em um segundo recorte da mostra o artista lança mão de outros suportes, estes dialogando com a cultura popular. Inspirados na indumentária do bumba-meu-boi, a mostra segue com trabalhos em veludo preto, bordados e costurados com canutilhos dourados e prateados, sendo esta parte da exposição uma celebração coletiva, onde Fernando Mendonça dividia com artistas populares (Nadir, Paulo, Talyene, Charles, Manoel, Marcigleuber e Wallison, artesãos do Boi da Floresta) a confecção dos trabalhos.
O evento na Casa do Maranhão contará, ainda, com apresentação do cantor Fernando de Carvalho e do DJ Pedro Sobrinho.
São Luís festeja 403 anos nesta terça-feira, dia 8 de setembro. E quem reverencia em um bate-papo informal com o jornalista Pedro Sobrinho, essa cidade cheia de lendas, encantos e mistérios, dona de uma paisagem urbana, natural e arquitetônica de impressionar o mundo, é o artista plástico Fernando Mendonça, natural do município de Bacurituba.
Há mais de 30 anos, ele mora no Rio de Janeiro, onde tem um ateliê entre a rua do Propósito, no bairro da Saúde/Gamboa, zona portuária da Cidade Maravilhosa.
Dono de uma postura artística marcada pela mundanidade, inquietação, um discurso afiado e lúcido, Fernando tem sua trajetória de vida e artística três amores: o Rio de Janeiro, Bacurituba e São Luís.
Blog: Fale da importância do Rio de Janeiro, Bacurituba e São Luís em sua vida e como fonte de inspiração para a sua produção como artista plástico ?
Fernando Mendonça: As cidades, seus cotidianos, os acontecimentos, as transformações… Tudo isso é primordial para a arte antenada e em sincronia. Como um jornalista, um gari, um transeunte, um motorista de táxi… que sem se dar conta estão embrenhados e impregnados disso. A artista não é diferente. Pertencimento generalizado. Eu não conseguiria ser de outro jeito. Arte, arte, arte…
Blog: Você utiliza o mosaico como uma das linguagens do do seu trabalho. Essa opção tem alguma relação com a azulejaria, que desponta nas fachadas dos casarões antigos de São Luís ?
Fernando Mendonça: Tem a ver com uma multivisão tipo olho de peixe ou casa de abelha. Óbvio que essa alma decorativa e esmaltada de significados não pode ser ignorada, mesmo porque seria uma pretensão desconsiderar os domínios imensuráveis do inconsciente. Tudo é agregador e, em se tratando dos universos da arte, sou um cronista de pluri possibilidades.
Blog: Como é sua relação com São Luís ?
Fernando Mendonça: Amor. Essa ilha me arrebata. Acho que mais que a ilha, a serpente me enlaça e enfeitiça. Pretensioso às vezes, me sinto quando falo em saudades, pois que ela nunca sai de dentro de mim. Sou uma ilha dentro da ilha. Uma pintura emoldurada de serpente. Uma rede social a se balançar na sacada da alma assobradada e assombrada. Com tudo e por tudo sou amor e ilha. Sou mundo e província.
Blog: E como a cidade serve de ponto de equilíbrio e inspiração no seu trabalho ?
Fernando Mendonça: O cotidiano. As mazelas e a poesia que acontecem full time e em toda parte. O olhar afiado qual navalha. Tudo pira, tudo inspira. A cidade é uma dama afoita mas as vezes leva horas pra chegar. Fascínio e descaso. Visíveis e invisíveis: trama fascinante: visual e cega.; Violência e sinfonia. Tudo isso é uma usina de idéias que vão de um croqui até a arte final. A cidade é um caderno de desenhos em movimento.
Blog: Como é o olhar do artista plástico inquieto e mundano de Fernando Mendonça a cada retorno a Bacurituba, sua terra natal, e especialmente, a São Luís, que festeja 403 anos, nesta terça-feira, dia 8 de setembro ?
Fernando Mendonça: Estive fora de Bacurituba por três décadas. Confesso que meu retorno foi temeroso mas, ao contrário de Drummond com Itabira, eu encontrei um retrato multicolorido na parede e vontade de voltar lá mais e mais vezes. E um lugar especial e vale mais atenção.
São Luís é minha ama de leite, minha raiz aérea, o trampolim que me arremessou pro mundo. Minha ilha do amor, do meu amor. Meus amores primeiros e meu remanso. Amor seta de siga. Amor de bolso. Amor geral.
Blog: Qual um presente que você daria a São Luís pelos 403 anos ?
Fernando Mendonça: Fiz uma mostra pelos 400 anos na Galeria Hum no São Francisco onde fui doce como um bolo confeitado ou Guaraná Jesus. Foi linda, sem .modéstia pois foi uma entrega despretensiosa. Agora três anos depois gostaria de por uma obra num espaço publico onde todos pudessem ter acesso e com total visibilidade, sonho meu. Mas, antes de mais nada, desejo que a cidade nunca perca sua vocação para a alegria. Apesar das agruras. Parabéns Ilha do Amor.
Blog: Pra fechar a entrevista, quando São Luís terá o privilégio de uma exposição de Fernando Mendonça ?
Fernando Mendonça: Pretendo comemorar meus 30 anos na praia da arte. É dispendioso, mas gostaria de brindar com a minha gente linda dessa ilha, ainda este ano.