Joãosinho Trinta: o criador do Cristo Mendigo
O Cristo mendigo, que deu o que falar no desfile da Beija-Flor em 1989, com o enredo “Ratos e Urubus Larguem a Minha Fantasia”, voltará a chamar atenção na Marquês de Sapucaí. Mas, desta vez, a alegoria fará parte de um tributo ao seu criador Joãosinho Trinta, morto em dezembro do ano passado. A grande novidade é que a escultura, que há 23 anos entrou coberta por um plástico preto, será revelada na avenida. Na sede da escola azul e branco, a informação é de que a nova réplica do Cristo Redentor terá o rosto do carnavalesco maranhense.
De olho no bicampeonato, a Beija-Flor vai contar a história dos 400 anos da cidade de São Luís, terra natal de Joãosinho Trinta. No enredo “São Luís – O Poema encantado do Maranhão”, a escola de Nilópolis mostrará as lendas, a música e os grandes artistas da cidade, prometendo fazer uma homenagem à altura do talento e da criatividade do gênio que revolucionou o Carnaval carioca.
No desfile deste ano, o Cristo mendigo entrará novamente coberto na avenida, mas o plástico será levantado em alguns momentos, revelando o que pode ser o rosto de Joãosinho para o público e jurados. O carnavalesco Fran-Sergio, da Comissão de Carnaval da escola, prefere manter o mistério.
– O Cristo vem coberto, como foi em 89, e com algumas surpresas.
Desfile marcante
Joãosinho, que já tinha confirmado presença no desfile da Beija-Flor, viria no último carro sentado em um trono dentro de uma coroa. Fran-Sergio diz que, após a morte do carnavalesco, a escola decidiu acoplar o Cristo mendigo à alegoria que vai fechar a apresentação da azul e branco no domingo de Carnaval.
– Ele viria no carro que vai homenagear a capital São Luís. Assim que ele morreu, a gente decidiu aumentar a homenagem a ele e acoplar o Cristo mendigo ao último carro. O desfile de 89 foi muito marcante na história dele e da Beija-Flor.
Há 23 anos, a ousadia de Joãosinho Trinta incomodou a cúpula da Igreja Católica no Rio, que conseguiu na Justiça a proibição da imagem na Sapucaí. Em protesto, a réplica do Cristo Redentor ganhou, além do plástico preto, um cartaz escrito “mesmo proibido, olhai por nós”.
Apesar dos gritos de “é campeã” no fim do desfile, a Beija-Flor ficou em segundo lugar. A Imperatriz Leopoldinense levou o título com um enredo sobre o centenário da Proclamação da República.
“Cracudos” na Sapucaí
Além do Cristo, um time de mais de 200 mendigos, escolhidos a ponta de dedo, vai invadir a Sapucaí para completar a homenagem a Joãosinho. Fran-Sergio conta que, como no desfile de Ratos e urubus larguem minha fantasia, os componentes vão produzir os próprios farrapos.
– Os componentes vão montar a própria fantasia como foi em 1989. Várias ideias surgiram como os cracudos [apelido dado aos usuários de crack no Rio].
Joãosinho Trinta foi carnavalesco da Beija-Flor de 1976 a 1992 e deu à escola cinco campeonatos. Com o enredo São Luís, o poema encantado do Maranhão, a escola de Nilópolis também vai homenagear outras personalidades maranhenses como os cantores Alcione, Zeca Baleiro e o escritor Ferreira Gullar.
A Beija-Flor será a penúltima escola a desfilar na segunda-feira (20 de fevereiro) às 2h25 (horário de Brasília).
Perda
O carnavalesco João Clemente Jorge Trinta, conhecido como Joãosinho Trinta, de 78 anos, morreu às 9h55 na manhã de 17 de dezembro de 2011, em um hospital de São Luís.
Foto: Agência Estado