“Falta um querer político”, disse Yuka
Marcelo Yuka, ex-baterista da banda O Rappa, mostrou mais uma vez ser politizado e consciente do seu papel como cidadão. Vítima da violência urbana pela terceira vez no Rio de Janeiro, Yuka não entrega as armas em defesa da Paz. Disse ele em entrevista à imprensa que vai continuar morando no bairro da Tijuca, na zona norte do Rio, e participando da organização não-governamental (ONG) Brigada Organizada de Cultura Ativista (Boca), voltada para a recuperação de detentos da 52ª DP (Nova Iguaçu), na Baixada Fluminense.
Questionado sobre a agressão sofrida, no último sábado, no bairro em que está boa parte de sua história de vida, Yuka foi enfático em dizer que a violência existe devido a falta de um “querer político”. Sugeriu a necessidade da implantação de uma “política de segurança inteligente” como tentativa de reverter a caótica situação.
Diante do constrangimento e de mais um momento de perigo de vida, Yuka declarou que “não iria entrar nesta de parte da sociedade que confunde justiça com vingança. “Quero justiça”, exigiu.
Agressão
A agressão contra Marcelo Yuka ocorreu na Rua Uruguai, a menos de um quilômetro do local onde ele foi baleado em 2000 e ficou paraplégico. No verão de 2005, o músico já havia sido vítima de um arrastão no bairro.
Segundo o músico, ele parou o carro em uma padaria e pediu para o seu motorista comprar um jornal. Quando estava sozinho em sua Cherokee adaptada, ele foi abordado por dois homens. “Eles tentaram me tirar do carro, falei que não andava e mostrei o adesivo (de deficiente)”, contou.
Mesmo assim, segundo Yuka, os assaltantes o agrediram com socos e pontapés e o empurraram para fora do veículo. “Tive escoriações leves. Eu caí, mas a perna ficou presa no carro”, afirmou durante entrevista coletiva nesta segunda-feira.
“Depois, eles conseguiram jogar a perna para fora e ela ficou embaixo da roda. Pensei: ‘consegui escapar de ser arrastado, mas o carro vai passar por cima da perna’. Minha sorte é que não conseguiram dar partida e saíram correndo”, acrescentou.
Surpreendentemente, de acordo com ele, pouco tempo depois, um dos assaltantes voltou ao local e disse que não iria deixá-lo daquele jeito. “Pedi só para me deixar numa posição melhor, no chão. Depois, ele falou ‘foi mal’ e saiu correndo”, disse.
O músico registrou queixa na 19ª DP (Tijuca) e deve ser ouvido pelo delegado ainda nesta segunda-feira. Yuka negou que pretenda se mudar do bairro, cercado por 13 favelas. “Nunca tive problemas na minha rua, que é calma e bucólica. Onde vou achar um estúdio adaptado para cadeirantes como aqui?”, questionou o ex-baterista do Rappa, que prepara seu primeiro disco solo.