Para todos os ouvidos
O primeiro passo foi dado. São Luís já não está mais no mesmo lugar quando o assunto é Jazz e Blues. Embora o Lençóis Jazz e Blues Festival tenha sido concebido e realizado por dois anos consecutivos por Tutuca Viana em Barreirinhas, só na terceira edição São Luís ganhou a sua primeira versão. Foram duas noites, em que esses gêneros deixaram as suas marcas no palco do Teatro Artur Azevedo.
Na minha cabeça vieram uma São Luís de outrora, em que reza a lenda, era invadida por grandes companhias de Jazz, Música Clássica e grupos teatrais de todas as partes do mundo, transformando essa ilha, que virou Patrimônio da Humanidade, em Atenas Brasileira.
Em meio a tantas turbulências por qual passam a música e que não se trata de um problema exclusivamente local, foi possível a realização de um Festival de Jazz e Blues em São Luís. Infelizmente, muita gente encara esses estilos musicais como algo muito ortodoxo, empírico e de difícil compreensão.
Não podemos esquecer que se trata apenas de uma música com história, requinte, mas que podem ser bem ou mal produzidas. Os alunos de escolas públicas da rede estadual puderam constatar assistindo e interagindo aos ensaios dos músicos participantes da primeira noite. Foi o momento marcante da primeira edição do festival em São Luís.
O importante é saber que numa ilha de 1 milhão de habitantes existe uma grande minoria que consegue entender o idioma do jazz e do blues. E lá foi para assistir a mais uma noite do festival. Alguns preferiram a primeira noite. Outros a segunda. Como ossos do ofício me permiti a curtir as duas noites.
Britanicamente lá estava [euzinho] pronto para curtir a primeira atração da última noite do festival em São Luís. E quem aparece é o músico local Marcelo Carvalho. Com o seu instrumento predileto, o teclado, mandou um tema atrás do outro. Uns autorais. Outros de gente que o influenciou ao longo de sua história musical, entre eles, o guitarrista norte-americano Path Metheny. Bem acompanhado por Moisés Mota (bateria), Israel Dantas (violão e guitarra) e dos convidados Nema Antunes (contrabaixo) e de um trombonista [que não foi possível identificá-lo], mas sei que pertence a extinta banda Black Rio.
Depois de uma abertura genuínamente instrumental, veio o som visceral, bluesy e rock da cantora carioca Taryn Szpilman. Um show marcado por um didatismo consistente e sem pieguice em que a artista mostrou músicas do CD “Bluezz”, produzido pelo renomado baterista Cláudio Infante, que traz releituras de clássicos de Billie Holiday, Ray Charles, Willie Dixon, Etta James e Aretha Franklin, até chegar aos psicodélicos anos 60, com a revolução da Soul music, do Blues rock, e da contracultura com os blueseiros Led Zeppelin, Jimi Hendrix e Janis Joplin.
No repertório: “Evil Gal Blues” (L.Feather-L.Hampton), “Maybe I´m Amazed” (Paul McCartney), “Kozmic Blues” (Janis Joplin – G.Mekler), “Don´t Explain” (Billie Holiday-Arthur Herzog Jr.), “Angel” (Jimi Hendrix), “Georgia on my mind” (Hoagie Carmichael), “I Just wanna make love to you” (Willie Dixon), e Rock´n´roll, do Led Zeppelin.
Muito simpática, Taryn fez questão de elogiar o intercâmbio musical com os instrumentistas locais Edinho Bastos (guitarra) e Serginho Carvalho (baixo). A dupla interagiu ao projeto dela com o marido Cláudio Infante numa simbiose de quem já se conhecem de longos carnavais.
Numa noite em que o instrumental era a bola da vez, o festival trouxe mais uma vez a São Luís o violonista gaúcho Yamandu Costa. Ele retribuiu dizendo do privilégio em retornar a ilha para tocar. Assim o fez dedilhando com muita intimidade ao violão, instrumento em que ele passeia por diversos estilos da música, seja ela, do folclore brasileiro, argentino, dos celtas, balcãs. Enfim, o violão de Yamandu sabe ser cosmopolita sem perder as raízes.
Enfim, o Lençóis Jazz e Blues Festival se despediu do público ludovicense. Dentro de um conceito itinerante prossegue neste fim de semana, em Barreirinhas. Aplausos aos idealizadores e em que apostou na ideia. Vida longa ao festival. E que no ano que vem, caso tenha uma nova versão, o festival seja, também, realizado, gratuitamente por um dia, nas ruas, becos e ladeiras de São Luís. Afinal de contas, o artista tem sempre que ir onde o povo está !