As mãos além do celular, Ipad, Iphone e do Tablet

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Um fim de semana diferente em São Luís. Eu me refiro ao Festival Sesi de Bonecos do Mundo, no sábado (15) e domingo (16), na Praça Maria Aragão. Infelizmente, não assisti, no sábado (15),  ao show do Pato Fu, “Música de Brinquedo”. Mas o que valeu foi o intercâmbio, não só de linguagens, mas também cultural, com atrações de vários lugares do mundo, como companhias da Holanda, Itália, Rússia, Hungria, República Tcheca, Peru, Brasil. Enfim, todos reunidos numa autêntica viagem ao mundo da imaginação.

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Que maravilhoso ver a Praça Maria lotada, com crianças de todas as idades compartilhando desse momento lúdico, com direito a cortejo dos mineiros do Giramundo e Marionentes Gigantes ocupando a praça que é de todos nós.

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Fecho o texto pegando carona na frase da jornalista maranhense Rosa Santos, postada no perfil dela no Facebook: “o Festival Sesi de Bonecos do Mundo serviu para despertar nas crianças, de hoje, a utilidade das mãos que vai além do uso do celular, Ipad, Iphone, Tablet, entre outras ferramentas desse universo da tecnólogico”.  As mãos podem, também, transgredir através da arte e manipular grandes ideias.

Fotos: Eduardo Júlio (Jornalista)

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Criolo em “Convoque o Seu Buda”

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Depois do sucesso do disco “Nó Orelha”, Criolo está de volta com o “Convoque o Seu Buda”, para legitimar que a sua imersão na música é maior que os rótulos. O rap paulistano vai da ciranda nordestina de “Pegue Pra Ela” ao partido alto de “Fermento Pra Massa” e “Linha de Frente”, passando pelo reggae de “Pé de Breque”, sem deixar de flertar com o progressivo em “Plano de Voo” e com os pontos de candomblé em “Esquiva da Esgrima”.

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O imperativo no nome do disco, “Convoque o Seu Buda” fez reascender a busca por equilíbrio em dias (ainda) tão desiguais. O trabalho é carregado de refrãos fáceis, como mantras, provocando danças ritualística, sob a produção de Marcelo Cabral e Daniel Ganjaman . Enfim, um disco que comprova que tanto a evolução quanto a busca de Criolo nasceram na rua.

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Praia Grande: a casa das “almas penadas”

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Fiz um passeio pela Praia Grande na noite de sexta-feira (7/11), e mais uma vez sai de lá decepcionado com o cenário e cenas degradantes e deprimentes. A impressão é que mesmo que a Humanidade se encontre em uma evolução contínua e ascendente, tem um comportamento anormal. Ele (o humano) ignora simplesmente aquilo que definimos como real. Tudo em nome do individualismo. Eu me refiro a uma parcela significativa da população maranhense, especialmente a ludovicense, que prefere a apreciar a sua zona de conforto à convergir com um problema que é coletivo.

É chato bater sempre na mesma tecla. Mas, não justifica um dos cartões de visita mais imponente de São Luís, Patrimônio da Humanidade  tombado pela Unesco se tornar alvo do descaso. Além de mendigos, “hippies”, uma população alucinada pelo “crack”, entre outras substâncias lícitas e ilícitas, vagando pelas ruas e becos do Centro Histórico, encontramos por lá, gente mal educada jogando lixo no chão, dirigindo, estacionando carros em locais proibidos e casarões abandonados servindo de abrigo para quem a vida perdeu sentido. E o maior agravante ao problema é a cegueira total da sociedade civil e organizada desse Estado.

Como já dizia o educador Paulo Freire: “A única coisa capaz de formar um ser humano é a consciência crítica, a capacidade de pensar seu ambiente e suas relações. Alfabetizar é isso, não é aprender a escrever o próprio nome num papel.” Portanto, muita reflexão e ações concretas para que possamos legitimar um amor verdadeiro por São Luís.

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Jornalismo é coerência e Responsabilidade Social

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A “Liberdade de Expressão” é confundida por algumas pessoas que se autointitulam de politicamente corretos e críticos de plantão ao outro. Ela prevê autonomia, mas quando usada para disseminar uma opinião, pode desagradar e gerar enfrentamento na Justiça por violar outros direitos. Neste fogo cruzado de diversas posições, todo cuidado é pouco. Aprendi ao longo do exercício da profissão que o bom e autêntico jornalismo deve ser praticado com coerência no discurso e responsabilidade social.

Têm aqueles que acreditam em mídias alternativas (internet e suas ferramentas) e acham que diante delas terão liberdade para destilar opiniões, às vezes sem fundamentação científica ou filosófica. Pura tolice, pois estão correndo riscos. Sei que cada um tem o direito de expor seu ponto de vista. É natural que você como jornalista tenha responsabilidade por estar se comunicando para o público; por isso deve seguir certas normas. Agora, cada um deve ter consciência de que tem de refletir muitas vezes sobre o posicionamento que está sendo adotado.

Acredito que independente do veículo que você trabalha e da sua linha editorial, a “liberdade de expressão e responsabilidade” são perfeitamente compatíveis, desde que, evidentemente, o interesse público seja colocado em primeiro lugar.

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A Indústria da Vaidade e a Felicidade Artificial

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Assistindo ao Jornal da GloboNews, no início da manhã desta sexta-feira (12/9), é mostrada uma matéria em que a Indústria dos Cosméticos no Brasil não depende de inflação, recessão, ou qualquer tipo de crise econômica para faturar. E lá me veio a cabeça a máxima de que a “vaidade ainda é o pecado predileto de muita gente”. E me veio a reflexão sobre o filósofo grego Sócrates. Indagado ao observar com profunda admiração sobre as coisas que punha os olhos, ele teria respondido que, na verdade examinava quantas coisas supérfluas existiam, e que, portanto, eram prescindíveis à sua felicidade.

Enfim, a Indústria da Beleza vem ditando em ritmo frenético o que é necessário para ser aceito nos espaços em que ela é fundamental. Mas o que seria o “belo”? Será que o belo é o mesmo que está retratado nos “outdoors” e nos manequins de grifes famosas? Para nós ocidentais chafurdados no capitalismo, os encantos de um Shopping Center faz todo o sentido, todas aquelas vitrines bem montadas nos seduzem e acabam nos obrigando a viver numa espécie de comunhão religiosa com o superficial. Parece-me que nossa felicidade vem embrulhada num papel colorido de presente. Às vezes, nem percebemos que somos indivíduos, seres “para si” existentes, pois nos equiparamos àquilo que nos gera uma provisória sensação de bem estar.

Em 1931 Giovanne Reale disse: “Dê-me televisão e hambúrguer e não me venha com sermões sobre liberdade e responsabilidade. Com esse mesmo sentido, e parafraseando Nietzsche, Reale afirma que “a raiz de todos os males que atinge ao homem de hoje se encontra no exatamente Niilismo, ou seja, estamos inseridos num universo sem sentido.

Todos nós conhecemos a história de Narciso, um jovem de extrema beleza, mas intoleravelmente soberbo. Adorado de si mesmo e desprezando a todos ao seu redor, levava a vida no serrado de um bosque fechado, em companhia de um grupo de amigos para quem ele era tudo. Assim vivendo, chegou certo dia, por mero acaso, à beira de uma fonte cristalina e debruçou-se. Ao enxergar nas águas sua própria imagem, perdeu-se numa contemplação e depois numa admiração tão extasiada de si mesmo que não pode afastar-se do reflexo que mirava e ali ficou paralisado, até que a consciência o abandonou. Foi então transformado numa flor que traz seu nome, a qual desabrocha no começo da primavera. É a flor sagrada das divindades infernais.

Pobre Narciso, cujo o culto a si mesmo o fez perder sua condição de existência, consumido pelo inebriado delírio de sua imagem. Não devemos nunca esquecer, também, que isto é apenas um detalhe quase sem relevância frente ao seu sinistro fim.

A atual conjuntura do mundo, notoriamente marcado pela evolução científica, vem cada vez mais descobrindo meios de proporcionar prazer com a “felicidade artificial”. Sabe-se que a ciência tem um papel importantíssimo no retardamento da velhice, das doenças. Claro que isso não é ruim! É maravilhoso, desde que este objetivo não nos torne escravos de tais progressos. O homem é um ser temporal, finito. E quando não aceitamos esta condição, ou seja, quando ele faz de todo seu tempo um eterno retocar de maquiagem de suas rugas e cabelos brancos, de uma busca infinita pela beleza externa ditada pelos “outdoors’, pode acabar como Narciso: inútil e imprestável.

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A geografia é ingrata com São Luís ?

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A geografia, realmente, é ingrata com São Luís, capital maranhense. A gente não sabe se é Norte ou Nordeste, ou Meio-Norte, e bate aquela triste sensação que estamos ilhados e bem longe de qualquer Continente.

Tem gente que defende esse isolamento, principalmente o cultural, afirmando que é importante para mostrar que o nosso modo de viver é diferenciado em relação ao planeta.

Mas, não custa pluralizar vivenciando outras formas de diversão, informação, que proporcione a cidade boas e novas ideias que fogem do senso comum e desse tradicionalismo eterno. Seria bom fazer com que as pessoas que aqui habitam saibam separar o joio do trigo, ou senão, conviver com as diferenças e tirar proveito. toninhohorta640 Se bem que tem gente ousada na cidade que tenta revolucionar, mas sofre por conta da logística e do custo elevado e da falta de sensibilidade por parte de quem poderia ajudar esses (Heróis da Resistência), chamados produtores culturais, que se comprometem em fazer acontecer a cena.

Lamentavelmente, numa ilha cercada de história, beleza arquitetônica e natural por todos os lados a gente tenha que se contentar com tão pouco. Além do Estreito dos Mosquitos… O que nos resta é ler, viajar, ser curioso par perceber que, além da ilha em que vivemos e amamos, existe um mundo ávido por informação, que não seja apenas aquela que a “mass mídia” impõe.

E o que me chamou atenção foi saber da existência da 11ª edição Festival Mimo, que aconteceu de sexta (29) a domingo (31), na Praça Tiradentes, em Ouro Preto (MG). Um fim de semana em que praças, ruas e igrejas da histórica cidade mineira se transformaram em palco para grandes nomes da boa música. O frio e o cancelamento da atração principal da noite de abertura do festival, o compositor e pianista norte-americano, Chico Corea, não conseguiram estragar a festa na sexta (29).

Segundo informações, o músico não conseguiu sair a tempo de Buenos Aires devido a cancelamento de voos. Mas, a harmonia sofisticada do instrumentista mineiro Toninho Horta & Orquestra Fantasma tomaram de conta do palco agradando o público estimado em cerca de 2 mil pessoas. chick640 Público de gosto refinado Formar um público de gosto mais refinado para uma música mais trabalhada é um dos objetivos do festival. Parece que está conseguindo. Em 2013, Jards Macalé tocou para cerca de três mil pessoas na Praça do Carmo em Olinda, onde nasceu o festival.

Em paralelo a programação regada a jazz, música clássica, instrumental e world music, o festival Mimo apresenta ainda uma mostra de filmes – todos com temas musicais, claro. Carrilho exibe seu curta “Psiu” sobre Zé Dantas, um dos grandes nomes do cancioneiro nordestino.

A partir desta quinta-feira (4), o festival ocorre em Olinda (PE). Se não se atrasar novamente, o jazzista norte-americano, Chick Corea, será a grande estrela da noite de abertura por lá. Em outubro, o Mino vai para o Rio, em Paraty (10 a 12) e encerra sua 11°edição de volta a Minas Gerais, pela primeira vez em Tiradentes (17 a 19).

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“Esta eleição se transformou em luto !”

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eduardocampos640

“Esta eleição se transformou em luto!” (frase de Luciana Genro, candidata à presidência da República pelo PSol. Estou perplexo com a morte de Eduardo Campos. O que nos resta é ser solidário com os familiares dele e de todas as pessoas vítimas dessa tragédia.

Eu quero representar o seu sonho e seu desejo de um Brasil melhor. É preciso coragem para mudar. Não Desista do Brasil”. Com essa frase ele encerrou a sabatina aos jornalistas William Bonner e Patrícia Poeta, na noite dessa terça-feira (12/8), no Jornal Nacional, da TV Globo.  Portanto, a vida é rara e surpreendente.

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Ingresso suado para assistir show de Lenine

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É sempre louvável iniciativas culturais e de engajamento social, patrocinadas por empresas privadas ou públicas, e levadas à sociedade gratuitamente. Mas, não entendi  a logística da organização do evento na entrega dos ingressos para o show de Lenine, nesta quarta-feira (4), na Casa de Eventos Patrimônio Show (Praia Grande). Enfim, o acesso gratuito que custou caro.

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Os mais diversos fãs do artista tiveram que passar pelo sacrifício de ficar horas na fila, debaixo de um sol escaldante e com apenas uma bilheteria atendendo. Um ingresso suado, mas que vale a pena para que a gente possa curtir a musicalidade de Lenine e o envolvimento dele com o projeto socioambiental “Música e Sustentabilidade Numa Só Nota”.

Foto: Poliene Schalcher 

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Tulipa Ruiz: “Indie Pop Nativo”

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Tulipa Ruiz tem tudo aquilo que se espera de uma grande artista. Técnica e timbre vocal consistente, postura cênica de palco envolvente e uma musicalidade modernosa e plural. Esses requisitos são notórios para quem foi ao show da última terça-feira (13/5), no Teatro Artur Azevedo, pelo projeto MPB Petrobras, produzido pela Caderno 2 Produções.

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Depois de ter passado por três capitais do Nordeste; Aracaju (SE), Maceió (AL) e Fortaleza (CE), a cantora paulistana fez o seu ‘Grand Finale’ em São Luís, e para relembrar a sua passagem por aqui há dois anos, onde fez show no mesmo teatro, em que ficou surpresa com a receptvidade do público local. Ela não tinha ideia de como a sua música era consumida na ilha. E o ‘feedback’ se consumou mais uma vez nesse outro encontro.

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Foi uma noite astral aberta pela cantora maranhense Ticiana Valente. Acompanhada do marido ao teclado, Rodrigo Valente, presenteando o público com um repertório de canções conhecidas, mas de forte influências na vida musical da artista. Ticiana passeou por Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro), Gente Humilde (Chico Buarque, Garoto e Vinicius de Moraes), Proposta (Roberto Carlos e Erasmo Carlos), Olha (Roberto Carlos), Gostoso demais (Dominguinhos e Nando Cordel), Brincar de viver (John Lucien e Guilherme Arantes) e Sá Marina (Tibério Gaspar e Antonio Adolfo) e o público e a anfitriã Tulipa Ruiz agradeceram a artista pela maranhense pela presença e a gentileza de ter em seu ‘set’ singelo canções antológicas da Música Popular Brasileira.

Tulipa Ruiz entra em ação se sentido em casa. Enfim, ela “chegou chegando” com um mix do repertório que a consagrou [Efêmera, álbum de estreia lançado em 2010, e do Tudo Tanto (2012)]. Abriu e fechou à noite com “É”. Durante uma hora e alguns minutos de show, Tulipa mandou ver e bem com as canções “OK”, “Quando Eu Achar”, “Pedrinho”, “Víbora”, “Megalomaníaca”, acompanhada pelos instrumentistas, Márcio Arantes (contrabaixo), Caio Lopes (bateria), Gustavo Ruiz (guitarra) e Luiz Chagas (guitarra), seu pai, ex-Isca de Polícia, imponente banda que acompanhou Itamar Assumpção, com direito ao coro da plateia nas canções de maior empatia.

Em meio a uma crise de identidade na Música Popular Brasileira, Tulipa Ruiz abre um precedente e se posiciona dentro do “mainstream” passeando por universo “Indie Pop Nativo”.

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Maioria dos brasileiros não consome cultura

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Atividades culturais não fazem parte da rotina da maioria dos brasileiros. Teatro, música, dança e outras manifestações artísticas continuam restritas a determinados públicos em 25 Estados e 139 municípios do Brasil. O levantamento é do estudo “Públicos de Cultura: Hábitos e Demandas”, realizado pelo Serviço Social do Comércio (Sesc), em parceria com a Fundação Perseu Abramo.

Na pesquisa, divulgada agora, 2.400 pessoas foram entrevistadas em setembro do ano passado. O resultado é desanimador: mais da metade da população (61%) nunca havia assistido a uma peça teatral, enquanto 75% e 71%, respectivamente, nunca estiveram em um espetáculo de dança e em exposições de pintura ou escultura. Concertos ou óperas perecem no limbo: 89% nunca estiveram em um.

A pesquisa é mais ampla. Considera, além da frequência em espetáculos culturais, perfis socioeconômicos, preferências dos brasileiros, acesso e comportamento relativos à arte. “O resultado não foi uma surpresa. Já sabíamos das dificuldades das pessoas em relação ao acesso à cultura”, explica Márcia Rodrigues, gerente de Cultura do Departamento Nacional do Sesc. “A pesquisa pode direcionar objetivos, elencando, a partir dos dados, as necessidades dos brasileiros. Mais do que nunca, é preciso que se constitua uma política pública para a cultura. ”

A notícia de que as práticas culturais não são prioridade pode não estarrecer, visto que acesso à cultura é adversidade histórica no Brasil. Mas o quadro não deixa de se configurar em um problema, inclusive para o futuro das manifestações artísticas, sobretudo quando se fala em circuito alternativo (fora da grande mídia), dependente de uma formação de público mais intensa.

Para Lia Calabre, professora e pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa e especialista em políticas culturais, é dever do poder público assegurar o acesso da população à cultura, uma vez que a garantia está na Constituição. No entanto, ela diz que não existe uma fórmula única a ser aplicada. Pelo contrário: o fato de a pesquisa ser ampla, feita em 25 Estados, é sintoma da enorme diversidade de públicos no Brasil. “As instituições que se preocupam em conhecer e definir melhor o perfil do seu público, criar estratégias de fidelização e oferecer uma variedade de programação tendem a ser mais bem sucedidas em seus projetos.”

A renda também é componente importante na discussão. Embora pareça óbvio que mais dinheiro signifique, a princípio, maior possibilidade de acesso a bens culturais, a conexão é mais indireta do que sugere. “Não há uma correlação imediata”, diz Márcia Rodrigues, gerente de Cultura do Sesc. “Atividades culturais também estão relacionadas a gostos e experiências. A gente gosta do que conhece. Para frequentar, é preciso conhecer.”

TV é preferência

Muita gente conhece, de forma profunda, apenas a programação da televisão, sobretudo os canais abertos – 62% dos entrevistados responderam que só assistem à TV aberta, enquanto apenas 1% disse que não gosta do veículo. Em contrapartida, 58% das pessoas não leram nenhum livro nos últimos seis meses. Quem leu (42%) possui média de 1,2 título nesse período.

Segundo Márcia Rodrigues, a preferência pela televisão reflete, também, a dura rotina da maioria dos brasileiros: o tempo para a prática cultural, reduzido em favor da escala de trabalho, é dedicado a um veículo que já está em casa. “A TV ainda é o grande instrumento de comunicação. Mas a internet também vem crescendo aceleradamente. E, através dela, é possível não só acessar a programação cultural da sua cidade, mas também uma obra de arte.”

Lia Calabre lembra que a mobilidade urbana influencia diretamente no acesso aos espetáculos. “As nossas cidades estão ficando cada vez mais complicadas em matéria de deslocamento.” A solução, como disse Márcia Rodrigues, pode ser a web. “Uma outra prática que cresce, além da televisiva, é a do consumo através da internet e do compartilhamento em rede pelos jovens.”

Vale Cultura

Uma tentativa recente de ampliar o acesso aos bens culturais é o Vale Cultura. São R$ 50 mensais (cumulativos) em um cartão pré-pago, que pode ser usado para ingressos (cinema, dança, shows etc), produtos (quadros, jornais, livros, entre outros) e cursos de formação artística. O benefício é direcionado a funcionários de empresas cadastradas, prioritariamente os que ganham até cinco salários mínimos.

A iniciativa, no entanto, divide opiniões. A professora Ana Targina Ferraz, especialista em ação cultural, critica o Vale Cultura. Segundo ela, as perspectivas de ampliação ao acessos são pequenas. “O valor do vale é baixo, o que certamente limitará as escolhas dos usuários”, diz.

Para a professora, o Vale Cultura não chega nem perto de substituir o investimento estatal nas atividades culturais. A educação de base também é solução mais límpida. “Seria necessário que as escolas públicas pudessem contar com atividades curriculares e extraclasse que estimulassem a leitura, a musicalização, as artes visuais e o apreço pelo teatro e pelo cinema.”

Ingressos caros

Apesar de a renda não garantir o gosto pela cultura, o preço dos espetáculos também pode ser impedimento para muita gente. A publicitária Natasha Marcondes, 24, costuma ir a cinemas, teatros, shows e comprar livros. Ela considera altos, no entanto, os valores dos ingressos.

“Os ingressos para teatro são muito caros. Assisti ao musical ‘Ary Barroso – Do Princípio ao Fim’, com o Diogo Vilela, e o ingresso custou R$ 100”, lembra. “Reina a lei da oferta e da procura. No Espírito Santo, como não há muitos teatros e peças em cartaz, os preços são abusivos.”

Outro exemplo é o bancário Marcelo Lobato, 24, que raramente frequenta os ambientes culturais, embora consuma pela internet. “Esses programas são caros. A falta de tempo também é um grande obstáculo. Por isso os produtos culturais de streaming estão ficando tão populares. Você assiste quando tem tempo.”

A blogueira Thaís Freitas, 29, lembra que os shows internacionais, cada vez mais frequentes no Brasil, são “um verdadeiro rombo no orçamento.” Além deles outros espetáculos pesam na conta do fim do mês. “Por isso, infelizmente, eles acabam sendo os primeiros itens cortados quando é preciso economizar.”

Fonte: A Gazeta

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