A cantora Rita Ribeiro se apresenta neste domingo, em São Paulo para lançar o DVD Tecnomacumba a Tempo e ao Vivo (Biscoito Fino). A artista passou tanto tempo fazendo Tecnomacumba, que em 2007 resolveu dar por encerrada a bem-sucedida carreira do show. No entanto, seu público não se deu por satisfeito. Foram (e ainda são) tantos os pedidos que ela voltou dois anos depois para, enfim, não só atender à demanda dos fãs, mas realizar o que havia previsto desde o início do projeto: a gravação do DVD. Registrado no Rio em julho, o show – que circulou pelo Brasil por quatro anos e foi visto por cerca de 200 mil pessoas – contou com a participação de Maria Bethânia.
Macumba da boa tem, mas quem ainda não conhece o conteúdo e espera ouvir tecno, como em uma pista de música eletrônica, desista. O som é mais para “rock-macumba”, com variações em levadas de samba, ijexá, funk, reggae. A iluminação de Marcelo Linhares respeita as cores de cada santo a que as canções se referem. “Quando não tem santo a luz é branca, ou voltada para o branco”, explica Linhares. O cenário feito de páginas de jornais é de Cássio Brasil.
Há também dançarinos paramentados como nos rituais e até uma roda de candomblé no meio do público, de uma forma magnética capaz de contagiar os mais céticos. “Minha religião é a música, é para ela que eu bato a cabeça”, diz Rita, ponta de lança de sua geração. Sua voz enorme e lapidada salienta a pungência das canções, sejam elas etéreas – como o mantra ijexá É d’Oxum (Gerônimo), que já virou hino, e Oração ao Tempo (Caetano Veloso) – ou outras mais crispadas, com pique guerreiro como Cavaleiro de Aruanda (Tony Osanah).
O roteiro de 17 canções inclui as que gravou no CD de estúdio de mesmo nome em 2006 – como as citadas acima, Domingo 23 (Jorge Ben), Xangô, o Vencedor (Ruy Maurity) e Rainha do Mar (Dorival Caymmi), entre outras-, mas Cocada (Antonio Vieira) e pontos de candomblé como a da cabocla Jurema, registradas em seu primeiro álbum, de 1997.
Foi com Jurema, ainda no Maranhão, sua terra natal, que os tambores de Tecnomacumba começaram a retumbar. Ano a ano, a idéia foi crescendo a ponto de Rita temer ficar estigmatizada por essa obra, mas parou de negá-la. “Por um período fiquei preocupada achando que iam me condicionar a esse trabalho, mas deixei fluir. Nesse meio tempo fiz Três Meninas do Brasil (com Jussara Silveira e Teresa Cristina) e dei o pontapé inicial no Suburbano Coração, um projeto mais voltado para acústicas, que pretendo gravar em estúdio no ano que vem. Enfim, não me sinto presa a nada, até porque não tenho a intenção de fazer o volume 2,3,4…”, diz a cantora.
Retomar esse êxito musical atende a um desejo de público, mas não que ela tenha feito isso “obrigatoriamente”. “É porque rende. Estou há seis anos com ele. Isso é raro na área de música. E mesmo não tenho aquela supermídia, o projeto está aí, sendo cultuado e cultivado nas bases. Agora com o DVD ele ganha outro gás. Tenho vontade de levar o show para fora do país”, comenta.
Nos extras do DVD, Bethânia comenta que admira, “além da cantora, a inteligência, a maneira que Rita expõe o trabalho, maneira que se dedica ao ofício”. Iansã (Caetano Veloso/Gilberto Gil), que gravou em 1972 no álbum Drama, é a canção em que ela divida os vocais com Rita. Para ela, a presença de Bethânia é a confirmação definitiva da história de Tecnomacumba, que define como “Uma explosão de alegria”, e algo lúdico, que leva o público a uma espécie de transe.
Coincidentemente, Rita começou a carreira desse show no mesmo ano de 2003 em que Bethânia lançou Brasileirinho. Agora que sai o registro da maranhense em DVD, a baiana aparece com Encanteria, também voltado para a temática das crenças. “Tem tudo a ver”, diz Rita. “Ela representa muito essa história da música santa, a reverência da cultura brasileira através da religiosidade. Sempre trouxe isso sem eu trabalho, mas em Brasileirinho expôs mais isso. É um Tecnomacumba acústico, mais sutil”, brinca a cantora, que também foi elogiada por Caetano e por Ney Matogrosso em depoimento para o DVD.