Santa Ignorância diretora…
A estudante de 19 anos, Ana Carolina Soares Bastos, denuncia que foi vítima de preconceito racial na entrada da escola Estado do Pará, no bairro da Liberdade. A atitude racista, segundo a estudante, porque a diretora da escola, identificada apenas como Socorro, não aceitava o estilo ‘modernoso’ do penteado “black power’, que a jovem adotara.
A estudante relata que o caso aconteceu aproximadamente, no fim do mês passado, quando ela chegava à escola. “Quando entrei na escola a diretora me barrou e disse que tinha se assustado comigo. Fiquei sem ação e pedi para falar com ela. Foi quando disse que era a diretora e pediu para que eu saísse da escola, depois me chamou de volta e perguntou por que eu usava esse cabelo. Eu respondi que era o meu estilo, minha identidade como negra. Então ela falou que eu só podia entrar na escola novamente se eu mudasse o meu cabelo”, pois essa não era “Aparência de Gente”, denunciou a estudante.
Ana Carolina se sentiu muito constrangida, triste e revoltada com o episódio e diz não ser essa a primeira vez que ocorrem casos desse tipo na escola. “Não entendo como ainda existem pessoas que pensam assim, chega de discriminação! Uma colega minha também já foi discriminada aqui pelo fato de ser negra. Somos seres humanos, temos sentimentos, todos nós merecemos ser respeitados”, desabafou Ana Carolina.
Narcisismo exarcebado
Uma pisada feia na bola, pois a educadora desconhece por completo a Lei Afonso Arinos contra o racismo, sem falar que mexeu com a questão da autoestima praticando ‘bullying’. Ela comprovou ser incapaz de dirigir uma escola, pois desconhece a verdadeira história do Brasil e o papel fundamental da escola.
Defenda-se das acusações, oh, diretora da escola Estado do Pará, pois senão todos vão achar que a senhora lembra o personagem do contexto mitológico, ‘Narciso’, citado em trecho da música de Caetano Veloso. Teza a lenda, que tratava-se de uma criança solitária que morava num jardim. Certo dia sentou-se à beira de um lago de águas puras e cristalinas e, ao debruçar-se sobre ele para matar a sede, viu a sua imagem refletida. Como não conhecia o espelho, ele nunca havia olhado para si próprio. Acabou por se apaixonar pela imagem refletida. Foi assim que Narciso sumiu no lago à procura daquela pessoa por quem se apaixonara.
Ao observar a descrição do mito, percebemos que talvez o grande descuido de Narciso tenha sido o não-conhecimento, confundindo a sua imagem com a do outro e indo ao seu encontro em um mergulho profundo que resultou em sua própria morte.
Eu e o resto não presta…
A diretora do Estado do Pará, diante do seu “eutnocentrismo”, esquece que a sociedade brasileira caracteriza-se por uma pluralidade étnica, sendo esta produto de um processo histórico que inseriu num mesmo cenário três grupos distintos: portugueses, índios e negros de origem africana. Esse contato favoreceu o intercurso dessas culturas, levando à construção de um país inegavelmente miscigenado, multifacetado.
Caso queira tornar-se uma educadora na “essência da palavra”, siga os ensinamentos de Romão (2001), em que ele cita “que a reversão do preconceito ainda existente na cabecinha, dos que mantém o ‘status quo’ ,só será possível pelo reconhecimento da escola como reprodutora das diferenças étnicas com respeito mútuo, investindo na busca de estratégias que atendam às necessidades específicas de alunos negros e brancos vulneráveis socialmente. A escola é o ponto de encontro e discussão sobre as diferenças étnicas, podendo ser instrumento eficaz para prevenir, conscientizar e minimizar o processo de exclusão social.
O espaço institucional poderá proporcionar discussões verticalizadas a respeito das diferenças presentes, favorecendo o reconhecimento e a valorização da contribuição africana, dando maior visibilidade aos seus conteúdos até então negados pela cultura dominante. Esse tipo de ação promoverá um conhecimento de si e do outro em prol da reconstrução das relações raciais desgastadas pelas divergências étnicas ainda sob o agir de algumas figuras patéticas da sociedade que não usa o bom senso e deixa o preconceito ficar guardado debaixo de sete chaves”.
…Quando te encarei frente a frente, não vi o meu rosto; chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto; é que Narciso acha feio o que não é espelho…
Caetano Veloso