‘Amanhã será novo dia’…

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Gosto de estar sempre questionando as coisas. Gosto de enxergar às avessas o real vivenciado pela maioria dos mortais. Acredito que isto faz parte da minha natureza. O sofrimento é grande, pois você se sente um peixe fora d´água e a imensa onda humana geralmente estigmatiza como o polêmico, o chato, o do contra, o pessimista. Ah, mas tenho legítima certeza que não sou nada disso. Mas prefiro funcionar em alguns momentos na contramão do óbvio. Não gosto de dar presentes em datas comemorativas, principalmente em festas de Natal e Ano Novo (sempre a mesma coisa, sempre as mesmas promessas de mudanças e, invariavelmente, sempre os mesmos erros…o ser humano não muda).

Não é que torça contra a Copa do Mundo, o Brasil e o futebol. Não entendo é a histeria, a loucura, muitas vezes perpassando pela violência, de algumas pessoas que torcem como se aquele jogo do Brasil na Copa fosse o último de sua vida. Após ter assistido pela TV, ontem,  a vitória do Brasil por 3 a 1 contra a Costa do Marfim, no Soccer City, tive que ir para o batente. Fiquei assustado com um hiato nas ruas e avenidas da cidade. Até aí, tudo bem. Todo mundo ainda estava ligado na TV,curtindo e festejando a vitória da seleção brasileira. Agora, não entendo são as pessoas dirigindo embriagadas, com o carro cheio e em alta velocidade, buzinando sem necessidade e provocando aquelas que não perderam o bonde da história e estão lúcidas diante do Circo dos Horrores.

Ei, você ai, torcedor eufórico. Menos ! Antes de uma partida de futebol existe uma realidade a ser vivida. Futebol é apenas uma diversão que deve ser curtida com prazer, alegria e a irreverência saudável. Aos embriagados de amor pelo futebol não podem esquecer que uma coisa é o Brasil, outra a seleção. Muita gente não tem essa distinção e acaba por crer num único ente, como se torcer pela seleção fosse torcer pelo Brasil. Oras, eu torço pelo Brasil, mas não por seleção. Torcer pela seleção não vai fazer o país melhor, mas sim apenas aos jogadores

Não devemos nos iludir, pois a situação do país continuará a mesma. Aqueles jogadores, campeões ou não, não querem saber do Brasil. Afinal, moram na Europa, não pegam ônibus ou metrô lotados, não têm dívidas a pagar e não trabalham desde quando o sol nasce até quando se põe. Ganham em euro, moram em mansões, Brasil é sinônimo de férias e família, e de vez em quando só.

Tudo bem, não quero aqui tirar o prazer e o ânimo da torcida pela seleção do Brasil. Também sou um apaixonado pelo futebol. Sei da importância e o que representa o esporte para os povos dos cinco continentes, principalmente em tempos de Copa do Mundo. Só que no Brasil a torcida ainda o trata como um admirável gado novo  na hora de vibrar por ele… “Panis et Circenses” (Pão e Circo) não ! Vamos torcer e acreditar que ‘amanhã será novo dia’…

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Vuvuzela: irreverente e plural

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Está no centro da vida contemporânea o desafio de construir diálogos da cultura da boa convivência, pois as sociedades estão cada vez mais interculturais. É preciso lutar contra os comportamentos de discriminação e o de aceitar o “diferente” com coerência. Resistir contra a tentação fácil da xenofobia e do racismo. E o diálogo é a palavra chave do mundo contemporâneo: entre artes, etnias, religiões, culturas.

A Copa de Futebol, reunindo seleções de 32 (trinta e dois países), na África do Sul, é uma dádiva. Um momento importante para se expulsar de vez qualquer tipo de “Apartheid”. Um gol de placa contra o preconceito étnico. E no meio dessa celebração esportiva, despontam as duas estrelas, as vedetes da Copa: a jabulani, que mexe com a sensibilidade e a adrenalina do jogador.  A vuvuzela, a marca da diversidade cultural, irreverência e da sonoridade uniforme nos gramados sul-africanos, em tempos de mundial do  futebol.

vuvuzela2

Falar Vu-vu-ze-la é empreender uma viagem intercultural em uma só palavra. Ela se tornou o xodó das torcidas na África do Sul e mundo afora. A vuvuzela, aquela corneta gigantesca que é parte da mitologia do sul africanos, não só andou gerando polêmica, como tem uma das denominações mais deliciosas de se pronunciar. Falar vuvuzela é quase melhor do que assoprar uma. VU-VU-ZE-LA!!

vuvuzelas

A fama da vuvuzela, segundo a Wikipedia, data dos campeonatos africanos de futebol nos anos 90. Mas as discussões em torno do seu uso esquentaram no ano passado, durante a Copa das Confederações, quando a FIFA tentou banir a vuvuzela dos estádios. A alegação era de que ela atrapalhava concentração dos jogadores, causava danos nos ouvidos dos torcedores e cronistas esportivos, espalhava germes e impedia o pessoal de escutar eventuais avisos importantes do sistema de som do estádio.  A tentativa não vingou e o motivo é claro: não há instituição oficial que consiga impedir o uso de nada com esse nome. Uma vuvuzela não respeita convenções.

Eu não tenho nenhuma relação pessoal com a vuvuzela. Nunca cheguei perto de uma. Mas, confesso, me apaixonei pelo seu nome.  Mas vuvuzela também se presta para usos mais descontraídos. Não tenho nenhuma dúvida de que é um vocábulo que nasceu pra estar na boca dos humoristas. Vuvuzela, vamos combinar, também soa com um forte ar gastronômico. Não me surpreenderia entrar em um restaurante e encontrar no cardápio o famoso “Camarão à Vuvuzela”, ou um “Filé à Parmegiana com Vuvuzela”.

SOCCER WORLD/DRAW

Para muitos a vuvuzela soa como uma imensa manada de elefantes em plena corrida. Tem jornalista que descreveu como o zumbido de uma colmeia de vespas. O presidente Lula comparou a corneta sul-africana como um amontoado de moscas barejeiras. Prefiro que sejam comparadas ao canto das cigarras. Agora, imaginem se ela fosse um instrumento criado para o jazz. O que fariam os jazzistas Charlie Parker e John Coltrane com a Vuvuzela ?

Vuvuzela também seria um bom nome pro filme VOVÓ ZONA em países latinos. Poderia ser o sobrenome do Ministro da Defesa de qualquer país da América Latina,  um bom exemplo, Higuain El Pinto Vuvuzela. Comporia um bom trio de mambo, Paco Marín Y Sus Vuvuzelas. Enfim, como todo fenômeno de países emergentes, a vuvuzela é contagiante, alegre, onipresente e promissora. A vuvuzela é um instrumento simples com um nome grudento e um efeito avassalador.

Vuzulea instrumento/hábito, criado nos anos 90 na África do Sul, em pleno Apartheid, que ganhou o mundo pro povo fazer barulho nas arquibancadas; depois, sofreu uma tentativa de proibição por uma instituição oficial e jornalistas mal humorados, vaidosos,  preconceituosos do dito primeiro mundo e de alguns emergentes. Enfim, resistiu. E todos acabaram tendo que engolir a vuvuzela, quer queira ou não.

Para o músico sul-africano Samora Ntsebeza, a vuvuzela se tornou tão popular que será exportada para o próximo Mundial, o de 2014, no Brasil. Será que esse, fenômeno pop e de barulho uniforme na Copa da África do Sul, iria funcionar muito bem com o nosso espírito carnavalesco ?

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Sai, que é sua Jabulani !

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Imprevisibilidade é seu maior trunfo. Dentro das quatro linhas, quando arranca em disparada, mesmo que tentem alcançar, ao demais, resta apenas abrir caminho. Os goleiros, coitados, tremem só de ouvir seu nome; afinal, cabe a eles a ingrata tarefa de tentar decifrar o humor dos deuses que regem seus movimentos.

jabulani

Muitos, aliás, são os que tomam por capricho o espetáculo que lhes é proporcionado, talvez por não compreenderem o quão difícil é concentrar tamanha expectativa. Aconteça o que acontecer, não importa, nos próximos dias todos os olhares estarão voltados para si. A bem da verdade, alegrias e tristezas dependem, fundamentalmente, de sua performance. Um toque preciso, no momento certo, é o suficiente para selar destinos, o seu próprio e o de milhões de torcedores.

Parece cruel e é. Mas o que seria do futebol sem isso? O futebol não chegou aonde está por ser um esporte cartesiano, previsível ou justo. Faz parte do jogo considerar, dentre os mais sensatos prognósticos, a força do imponderável. É por transitar no espaço delimitado pelo cruzamento do provável com o impossível, que sua atuação será lembrada.

Vocês acham que me refiro aos craques?

Claro que não, eu me refiro a bola!

Pensem bem: numa Copa esquisita como essa tem sido até agora, em que placar de 2X1 é tido por goleada, em que dois dos principais times da competição são referenciados mais pelos técnicos do que pelos jogadores, e em que as melhores partidas, quanto ao nível técnico, fazem lembrar peladas de bairro, é sem dúvida a bola o maior destaque da primeira fase. Uma bola sem gomos, safada, que desvirtua a trajetória, vive sendo isolada para fora de campo e samba na mão dos goleiros.

Messi? Kaká?

Jabulani, pode estar certa, essa Copa é sua, e de mais ninguém.

Texto:  G1- (Roberto Medina é músico da banda Los Hermanos, jornalista e escritor nas horas vagas)

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Copa da Alegria…

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Com todos os problemas enfrentados pelos sul-africanos para a realização de uma Copa do Mundo,  levando-se em consideração a colonização pelos ingleses e do regime do ‘Apartheid’ vicenciados pelo povo ao longo da história daquele País, a abertura, ontem, em Soweto, já sinalizou para uma competição festiva. Os sul-africanos, com toda a sua alegria, adoram festa. Os sul-africanos, por si só, já são uma festa. E nada melhor que uma grande celebração para marcar o início da 19ª Copa do Mundo de futebol, a primeira realizada na África.

Um dia antes da bola rolar nos gramados, o Orlando Stadium, em Soweto,  quem estava lá viu o que o planeta vai ver na TV nos próximos 31 dias: muita festa e alegria. Num show com três horas de duração, repleto de astros da música ‘gringa’, a exemplos, de Black Eyed Peas, Alicia Keys, Shakira, Angélique Kidjo, entre outros nomes da música africana, a Copa começou prometendo,  já deixando como maior legado a educação e sempre exaltando o líder Nelson Mandela.

Um continente que passou séculos convivendo com os olhares desconfiados e preconceituosos do resto do mundo merece um momento especial e o direito de ficar em êxtase. Pode até não ser o esporte preferido dos sul-africanos, mas o futebol é uma paixão mundial. Tem cada vez mais assumido uma função social com a capacidade de conectar os povos. E com a realização da Copa do Mundo, em um país africano, o futebol paga uma dívida histórica com o continente.

Se ainda existem problemas sociais na África do Sul e nos países enquadrados, rotulados, como de terceiro mundo, a culpa não é da bola.  E já que os organizadores da Copa na África do Sul falharam não cumprindo algumas orientações da Fifa, a torcida, agora, é para que dentro de campo esses problemas sejam superados com uma competição marcada pelo ‘fair-play’, dribles desconcertantes, jogadas emocionantes e muitos gols. E para quem saiu de casa e acreditou que na ‘África também é possível’, o que resta são bafana bafana, vuvuzelas, música e alegria nos estádios, sem distinção étnica. Para o continente africano será um sorriso só.

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Bola à vista !

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Eu não faço música e não jogo bola. Mas as duas manifestações artísticas me mobilizam e se tornaram duas paixões no meu cotidiano. E já que visitar museus foi um programa obrigatório na passagem meteórica por São Paulo, resolvi conhecer o Museu do Futebol, localizado no estádio do Pacaembu. Lá, está registrada a memória viva e cheia de efeitos tecnológicos do futebol nacional, indo de Charles Miller, brasileiro do Brás, filho de um inglês e a mãe brasileira, onde reza a lenda que ele é o Pai do futebol no País, até os nossos dias.

E aproveitando o raciocínio lógico do escritor José Lins do Rego, “o conhecimento do Brasil passa pelo futebol”.  Logo na entrada dei de cara com a jabulani, a bola da Copa na África do Sul. A redonda tem gerado polêmica e dividido opiniões, principalmente, por parte de alguns jogadores brasileiros. Eles não podem esquecer que se não fosse (ela) (a bola) (jabulani ou não) muitos não estariam ‘milionários’, mas sim puxando a cadelinha… Haja ingratidão e  falta de humildade. Não esqueçam “meninos do Dunga”:  ‘”o que conta mesmo é a bola e o moleque, o moleque e a bola. E por bola pode se entender um coco, uma laranja ou um ovo, pois ja vi fazerem embaixada (pezinho) com um ovo” (Chico Buarque de Holanda, compositor e escritor). Portanto, craques milionários da seleção verde amarela do Brasil, em tempos de Copa, ela deve ser bem tratada como uma mulher de respeito. Saibam usá-la com talento para alegria do torcedor canarinho.

jabulani

A visita ao Museu do Futebol continua acompanhada pela emoção. Quanta felicidade, vê a camisa 10 surrada e emblemática usada por Pelé no primeiro gol contra a Itália, na final da Copa de 1970, no México. Afinal, um gol importante na goleada de 4 a 1, na conquista do Tri e da Taça Jules Rimet. Estava legitimado naquele momento que ‘a taça do mundo era nossa”. Outro momento marcante foi perceber em um quarteirão que a história do Sampaio Corrêa e do futebol maranhense estava guardada na memória do Museu do Futebol e mundial. Veio a emoção, quebra do protocolo, pois o Estatuto da Casa não permitia fotografar. Lembrei da frase do poeta Caetano Veloso protestando contra a censura: “È proibido proibir”.  Coloquei em prática, pois não resisti. Corri para foto que também ficará guardada em meu arquivo pessoal.

sampaio2010Momento bacana da visita
 
sampaio

Sampaio: Time de tradição

Com o olhar curioso aos momentos das Copas, depoimentos de especialistas do futebol e dos nossos heróis da Bola, veio a reflexão ao dar de cara com o poema questionador e realista do mineiro Carlos Drummond de Andrade: “futebol se joga nos estádios ? Futebol de joga na praia. Futebol se joga na rua. Futebol se joga na alma”. Por isso é que eu digo: “vamos balançar o véu da noiva”. Não basta e importa se o gol é de penalti, de cabeça, de falta, olímpico. Tem que ser com a bola e de placa. 

Dizem que o mundo é uma bola. E por ser mundana, a bola, independente do tamanho, do esporte, da pátria em que é jogada, virou o maior protagonista, a estrela do futebol. “É incrível a facilidade que tem de jogar futebol com qualquer coisa que se possa chutar. Nossa fome de bola ancestral nos faz chutar bolinha de borracha, cabaça, lata amassada, cabeça de boneca, caixa de fósforo, papel amassado enrolado com barbante, limão, bola de meia, acreditando ser de fato uma bola. A gente sua a camisa por qualquer pedaço de qualquer coisa. Uma facilidade na transferência de valôres que só existe no futebol e particularmente no Brasil. Freud explica ?”

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Mixando a Vida…

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Júlio Barroso dizia: “O poeta é o traficante da liberdade”, e eu emendo: O DJ é o traficante da alegria.
 
Já é corriqueiro há décadas numa das principais artérias da urbe paulistana: Quando cai à noite a borbulhante Augusta ferve. Lá toda noite acontece um desfile cultural eclético, democrático, estético, tribal, cosmopolita, por entre clubes, bares, e calçadas. Há sim um certo glamour entre a moçada dita ‘mudérna’ da paulicéia desvairada, mas quem sempre vence no final é a diversão.

pepejobaratosafins

                                            Reencontro com o parceiro e amigo Jonathas na emblemática Baratos Afins

E quem escolheu entre tantas opções adentrar no Tapas Club na noite gelada da terra da garoa não se arrependeu. Encontrei um ambiente aconchegante e descolado, talhado para agasalhar a alma de quem necessita de calor humano, pensado para que as pessoas possam se encontrar após uma semana de trabalho árduo.
 
Eu posso imaginar que para um DJ tocar no inicio da noite seja sempre um desafio salutar. Aquele é o momento dos amigos colocarem a conversa em dia, das meninas e dos meninos iniciarem algum approach que resulte no algo mais da madrugada, quiçá de alguma nova revolução em suas vidas ainda tão jovens.  Logo, dançar naquele instante não é uma necessidade urgente, afinal a noite ainda é uma criança…
 
Entra em campo então a experiência do DJ Pedro Sobrinho, e mesmo os craques mais tarimbados sentem nessa hora aquele friozinho na barriga. Com sua simplicidade característica, Pedrinho colocou em campo um desfile de sonoridades elegantes, classudas, marcadas essencialmente por algo cada dia mais escasso neste mercado musical de nosso senhor, bom gosto. Ah… Palavrinha de difícil compreensão. 
 
Saíram das pick-ups e ganharam vida no lounge mixagens de artistas inebriantes como o duo japonês do Pizzicato Five, clássicos do naipe dos Beatles na bela versão para “And I Love Her”, uma trinca de respeito, Wilson Simonal e sua ‘pilantragem’, Sérgio Mendes e sua bossa-samba-rock, os Novos Baianos “Besta é Tu”, além de passeios universais a partir de aldeias na antropologia musical do DJ Dolores. Ainda houve espaço para multifacetar linguagens com a malandragem carioca do Funk’n’Lata do sambista Ivo Meirelles. 
 
A essa altura com o papo já em dia e depois de saborear algumas “Stellas”, olhei de relance e assisti a musa indie, Mallu Magalhães, linda sorrindo, conversando, bebendo sua água mineral, cantando e curtindo com aquele jeito tímido de criança o repertório do Mr. Sobrinho. Diz-me com quem andas…
 
Vieram depois os deejays Barata e Oops de Brasília com um lema bem apropriado para a vida, “Só som salva”, e ainda o show arrebatador da pernambucana arretada Catarina Dee Jah e os Radicais Livres – fazia tempo que não assistia alguma mutação sonora conceitual tão bem arquitetada.
 
No final das contas Mr.Sobrinho que tocaria a principio apenas durante uma hora, agradou tanto na sonoridade e na simpatia, que três horas não foram o suficiente para saciar a empolgação dos notívagos do Tapas Club. 
 
Ficou então aquele gostinho de quero mais… Quem sabe em breve, porque se santo de casa não faz milagre, em minha terra a curiosidade não mata, ensina.

Texto: Jonathas Nascimento (jornalista e produtor cultural em SP)

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“Bullyingnation” a alma dos sádicos e complexados

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Há duas semanas participei de um treinamento na Faculdade São Luís cujo o tema e a preocupação da instituição, era com  o “bullying” no ensino de terceiro grau. Em época de escola o “bullying” seria comparado a “Lei do Gérson” (na cultura brasileira é quem gosta de levar vantagem em tudo), ou seja, é aquele onde o valentão ou valentona, o sabichão ou a sabichona, o bonitão ou a bonitona, o gostosão ou gostosona o arrogante, o rico, o com complexo de superioridade e sem noção de educação, bom senso e socialização bulinam aqueles(as) que entendem ser inferiores. Haja, apelido, violência psicológica, física, urbana, assédio moral, sexual,  e por aí vai.

Esse tipo de comportamento histórico se agrava com o passar do tempo. Nos dias atuais, houve uma  inversão de valôres  assustadora.  É a  competição ensinada como uma necessidade na luta pela sobrevivência, além da violência que  banalizou de vez. O  mundo está ensandecido de gente boba e prepotente, que se sente a bala que matou John Kennedy, Luther King e John Lennon juntos.

E mais o tal ‘bullying’ com o avanço da tecnologia, por meio da internet, dos e-mails e sites de relacionamentos ofensivos, virou ‘cyberbullying’. E haja a exposição da imagem das pessoas sendo difamadas, caluniadas e usadas com frequencia sem a devida liberação da vítima. Haja, as ‘lokas do Rio Anil’, negros, índios, pobres, mendigos, gente que faz sua opção sexual, ou religiosa, crianças e vovôs desamparados, entre outros segmentos conceituados de minoritários socialmente, além dos excluídos na estratificação da pirâmide, serem molestados, agredidos e muitas vezes violentados até à morte.

É bom que se diga, não se ‘bulina’ apenas nas escolas. No trabalho também se assedia, seja, sexualmente ou moralmente. A vizinhança também perturba ‘bulinando’ quando cisma de quem está de lado ou de frente da sua casa. Até a polícia gosta de bulinar. Dizem que ela foi criada para nos proteger. Na hora “h” adoram impor a autoridade da farda e a patente para coagir, intimidar e violentar quando acham necessária.  Usei a expressão inglesa bullying, para o eufemismo de um ato, que diante do Código Penal, é conceituado  como agressão física, psicológica, tortura e um total desrespeito aos Direitos Humanos.  Enfim, essa é uma prática e um desconhecimento de causa de alguns policiais despreparados num continente chamado Brasil.

Desde ontem, um vídeo veja aqui está sendo mostrado nos telejornais brasileiros, em que adolescentes aparecem dançando uma coreografia semelhante ao “Rebolation Hit”, que ficou famoso durante o carnaval. Na gravação, três adolescentes que teriam sido detidos são coagidos a dançar o “Baculation”, supostamente por policiais militares. Os jovens também recebem ordem para rir. Cadê o sorriso ?, pergunta uma das pessoas que estava no local.

A mãe de um dos adolescentes, agiu dentro da lei, e procurou a Defensoria Pública do Pará para se queixar de constrangimento, na segunda-feira (31). A denúncia foi encaminhada ao Ministério Público nesta terça-feira (1º).

Se a criança errou e já está sendo castigada conforme a Justiça, o que resta pelo menos é trabalhar para que ela se ressocialize. Se o comportamento agressivo não é desafiado em casa e fora dela com o diálogo,  a violência  doméstica e na rua passam imperar. Com isso, estamos contribuindo para a criação de mais um delinquente a agir habitualmente pelas capitais. E como ‘toda ação requer uma reação’. Deus nos livre dessas crianças maltratadas pelo sistema.

Enfim, nem todo comportamento inconveniente pode ser caracterizado como bullying: a falta de sensibilidade humana pode ser uma explicação. 

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Sem vícios e perda da identidade…

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Ao assistir a decisão entre a Inter de Milão (Itália) e o Bayern Munique (Alemanha), no último sábado (22), em Madri, na Espanha, pela Liga dos Campeões da Europa, o narrador global Galvão Bueno destacava o time italiano, campeão da competição, como um time de estrelas, em que a sua maioria foi importado de outros países para o clube. Do Brasil tinham três jogadores (Júlio César, Maicon e Lúcio), cinco argentinos, um camaronês, dois da macedònia, e por aí foi. Enfim, ele definiu a Inter de Milão como o retrato atual do ‘futebol globalizado”.  Vi um time sem a essência ‘azurra’. Mas, esse é o caminho criado para quem avança a fronteira, foge do seu habitat natural para conviver uma nova ordem mundial. Aos mortais que adotam a tendência são atribuídos os estigmas de ‘cidadão do mundo’, ‘ser cosmopolita’  ‘cidadão globalizado’.

No campo das artes, onde o futebol está incluído a essa realidade, pensamento,  questionar o assunto de maneira empírica pode se tornar perda de tempo. E mais, analisando pelo cosmopolitismo no contexto ético e da globalização pela inclusão produtiva, o que está acontecendo no futebol em muitos casos é funcional. O que não pode ser esquecido para os oriundos do terceiro mundo ou dos países em via de desenvolvimento, principalmente (nós outros)  brasileiros, é lembrar sempre a origem, o Porto seguro, não importando se o mesmo está situado em: Ananindeua (PA), Planaltina (DF), Rocinha (RJ), Bairro de Fátima (São Luís/MA), Bacabal (MA), Pinheiro (MA), Cariri (CE), Campo Maior (PI), Patos (PB), entre outras comunidades e municípios, em que a maioria dos nossos jogadores saiu para ascender socialmente e brilhar como artistas da bola  no palco dos estádios de futebol.

Além do cosmpolitismo na bola e nas artes, têm outras coisas que ainda me deixam confuso ao tentar compreender o conceito de ser cosmopolita, cidadão do mundo, sem perder a identidade. Às vezes vem aquela empolgação momentânea do plágio do primeiro mundo, absorvido por conta do acesso a informação com o surgimento e a evolução de novas tecnologias, as redes sociais criadas pela internet e o processo de colonização o qual estamos inseridos historicamente. Caio na real e reflito. Percebo que não posso deixar o meu lado provinciano. Degustar o guaraná Jesus, ou o sorvetinho de coco feito na casquinha original dos pregoeiros, comer um caranguejo no barzinho da praia de São Luís ou São José de Ribamar, torcer mais do que nunca pelo meu Sampaio Corrêa, passear tranquilamente pelas ruas do Centro Histórico e outros cartões postais da cidade sem molestado por almas penadas, curtir o couro comendo do tambor de crioula, a toada autêntica e sem modismo vazio do bumba-meu-boi, o reggae clássico jamaicano com o jeitinho peculiar do dançar coladinho do maranhense. Visitar as igrejas, os museus e poder perceber neles o quanto são similares e representativos quanto as suntuosidades vistas no Vaticano, Milão, Barcelona, Paris, Rússia, etc. Poder pronunciar o meu ‘hein, hein’, ‘pequeno’ como um acréscimo e contribuição para a rica ortografia Luso Brasileira. Mas deixo bem claro, que aprecio o meu provincianismo, mas sem demagogia e xenofobismo, pois também quero conhecer a geografia e a história do mundo, além  das coisas boas que estão em redor dele, mas sempre tendo como ponto de partida o meu lar.

E se a leitura e a viagem nos possibilitam a configuração de um mundo em formato de aldeia global, temos mais é que  aproveitar, correr atrás buscando mecanismos para que possamos perceber que além da caverna existem outras opções de vida.

Mesmo assim defendo com unhas e dentes a teoria da leitura crítica do mundo e tenho um conceito de que viajar muito não significa viajar bem. E viajar também não é, necessariamente, uma experiência positiva. É possível substituir os melhores momentos longe de casa por uma imaginação fértil. E certas pessoas podem atravessar galáxias e continuar provincianas como uma formiga, que vive num planeta restrito ao alcance de suas patinhas. Não é a quantidade de países visitados que faz com que alguém seja mais cosmopolita, porque o limite do nosso provincianismo não é geográfico: é espiritual. Uma pessoa realmente cosmopolita viaja com a mesmo estilo com que vive. Ser cosmopolita é encarar com a mesma postura uma viagem a trabalho para uma comunidade quilombola, ou de quebradeiras de coco no interior do Maranhão e um mês de férias com a família no Havaí, sem se emburrar ou se deslumbrar antecipadamente com ambientes desconhecidos.

Uma educação cosmopolita não é baseada exclusivamente em referências urbanas, como museus e restaurantes, e muito menos limitada a meia dúzia de cidades no mundo. Não basta saber como as coisas funcionam em Nova York, Londres, Paris ou Tóquio, porque o mundo – o resto do mundo – tem muito mais cores e camadas, e que muitas vezes essas nuances estão do nosso lado. Tudo é uma questão de sensibilidade. É bonito, para certas pessoas, visitar ou morar em Manhattan, mas pode ser igualmente interessante, para um espírito curioso, uma temporada em Santo Amaro (MA).  É bobagem transformar uma cidade numa marca, conferindo a ela um status que não existe, porque uma cidade sozinha não faz com que morar nela seja interessante. E não é assim – para carimbar o passaporte e mostrar aos amigos – que se aproveita, por muito ou pouco tempo, lugares diferentes.

No Brasil, essa espécie de provincianismo se acentua, porque – tão longe dos Estados Unidos e da Europa – qualquer experiência mais longa nesses lugares ganha um charme artificial, que está longe de como a maioria das pessoas leva a vida cotidiana. Uma cidade ou país supostamente sofisticados não educam por osmose uma personalidade passiva – nem conferem a ela uma elegância que em casa ela não tem. Você não aprende mais sobre ópera morando ao lado do Metropolitan Opera House em Nova York, nem você morando num apartamento no bairro do Hermitage, em São Petesburgo, vai transformar você num expert em cultura russa. Grandes cidades nunca despertam nem desenvolvem curiosidades inexistentes – assim como uma flor, por mais bem cuidado que seja o canteiro, nunca nasce antes da semente.

A educação dos modos reflete naturalmente a educação do espírito, e isso não é coisa que se adquire com uma, duas, três viagens para uma cidade mais – digamos assim – urbana do que São Paulo. O que uma grande cidade pode fazer, na verdade, é oferecer ambientes adequados a diferentes interesses. Um brasileiro em Berlim, numa terça-feira, pode comer kebabs e ir a uma festinha brasileira – num cafofo tocando samba –, ou pode tomar café da manhã em uma padaria no Bairro de Fátima, na Lapa, no Rio de Janeiro e, à noite, assistir a um concerto em Los Angeles, Toronto, Milão, Cidade do Cabo, Bangkok, São Paulo. Você não precisa se preocupar se quiser ser você mesmo.

Ser cosmopolita, cidadão mundo, cidadão globalizado é uma necessidade, mas não um vício. Temos que calibrar essas expectativas e não maquiar a personalidade de acordo com os costumes locais. Se você é maranhense e acha que o seu destino é Nova York, pense uma, duas ou três vezes, antes de degustar de maneira desavisada e com a atmosfera do moderno (em crise) um bom e velho vinho de qualquer adega argentina, chilena, francesa, portuguesa ou até mesmo de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul…

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Por onde andará a qualidade de vida (?)

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Continuo sem entender o que está acontecendo com São Luís, a nossa ilha do amor, capital brasileira Patrimônio da Humanidade. Ou mulher bela, representativa, mas bastante maltratada pelos seus filhos, onde alguns ‘ufanistas de plantão’ se manifestam em defesa da cidade  fazem apologia em tom bairrista e demagógica. Muitas vezes essa postura se torna desnecessária. No dia-a-dia ficam de olhos vedados e sem opinião para os problemas sérios e graves que só atrapalham para um autêntico e verdadeiro desenvolvimento .

Não sou pessimista e nem do contra, mas sejamos realistas pelo menos uma vez na vida. Tenho a sensação de está havendo uma crise da falta de bom senso pras bandas de cá. Talvez, seria mais justificável conviver com destruição causada por um tsunami, vendaval, um terremoto, guerra civil, militar, nuclear, ao ter que presenciar inúmeros bombardeios provocados pelo descaso.

É casarão ameaçado de desabar, escuridão, buracos, crateras, trânsito caótico, violência desenfreada, lixo, gente cuspindo, fazendo xixi, entre outras necessidades no chão e nos quatro cantos da cidade, além de tarifa de ônibus exorbitante com um serviço precário. Não é exagero, mas está virando um pandemônio. Não sou tolo e ingênuo para não reconhecer que os problemas nas grandes cidades brasileiras são similares por conta da palavra chamada progresso. O desenvolvimento é necessário, mas tem que ser feito com responsabilidade e compromissado com a cidadania.

Ontem, fiquei aborrecido em andar pelas ruas de São Luís. A rua do Giz,  na Praia Grande, estava às escuras e o jeito foi andar vigilante e com medo de assalto. Fazendo um percurso pelo bairro do São Francisco, vi dois ônibus de uma mesma empresa quebrados em plena via pública. Hoje pela manhã, 21, na avenida dos Portugueses, próximo ao Campus do Bacanga, um outro ônibus já pedindo socorro apresentou defeito e dezenas de trabalhadores, estudantes ficaram a ver navios.  Está evidenciado que não somente as carroças  congestionam o trânsito na cidade. 

Chega, né ! Não quero fazer revolução, mas não são bobo não ! A crítica é generalizada. A recomendação vai para quem faz oposição um ao outro e a todos aqueles que habitam nessa ilha maravilha com aproximadamente 1 milhão de moradores. Para a população resta uma tomada de consciência de que devemos tratar a cidade em que moramos com decência, educação, fazer dela uma referência e dá boa impressão, especialmente, para quem vem na condição de visitante. Das autoridades devemos exigir mais compromisso de saber que ainda moramos em um santuário cercado de riqueza cultural e em seu ecossistema.  Diga-se de passagem está ficando insuportável, intrafegável e inaceitável viver em São Luís, uma cidade literalmente abandonada. Será necessário chamar os iluministas franceses Rousseau, Voltaire,  para problematizar conosco por onde andará a qualidade de vida (?)

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Mistura com identidade…

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Embora tenha o meu gosto pessoal e as músicas para ouvir no Ipod, eu costumo dizer que os meus ouvidos estão abertos para qualquer tipo de sonoridade vinda de qualquer pátria. Prefiro, primeiro uma audição à um julgamento precipitado. Na sexta-feira, 14, resolvi sair de casa para curtir o show de lançamento do CD “Cine Tropical”, da patente Criolina da dupla Alê Muniz e Luciana Simões, no Teatro Artur Azevedo.

Teve gente que falou pra mim que o show dos dois não tinha o perfil para  ser realizado em um teatro. Bati de frente afirmando que a pessoa estava equivocada. Até porque não defendo essa teoria de que existe música para um espaço ou cada momento da vida. Música é música. ! E cabe a nós criar uma atmosfera para ela. Eu ouço música ‘babinha‘ e tida como romântica no rádio e no Ipod às três da tarde, assim como escuto um rock visceral às seis da manhã ou às duas da madrugada. Eu quero mesmo é ouvir música.

Pois bem, o cenário do show de Alê e Luciana foi perfeitamente escolhido, para um disco conceitual, onde o tema em ação é o cinema.  As projeções de Beto Matuck com o auxílio luxuoso do músico André Lucap contribuiram para o casamento virtual mais do que consolidado  da dupla no palco.

E o que vi e ouvi foi a música de dois artistas enraizados com o Maranhão, mas deixam bem explícitos que querem correr riscos e um mundo mapeando e incursionando com outras texturas musicais. De um lado, Alê Muniz com familiares oriundos de Penalva. De outro, Luciana Simões de Bequimão. É a Baixada Maranhense representada, influenciando a musicalidade da patente Criolina, e legitimando o orgulho em ser maranhense. Agora, mais do que isso é não ficar preso a regionalismos, bairrismo e o dever de utilizar a  bagagem musical para que o mundo entenda e absorva.

Sai do teatro em estado de graça ao assistir a um show com uma produção singela, mas de uma riqueza valiosa. Alê Muniz e Luciana Simões fizeram uma viagem em uma seleção musical inclusa  nos discos Criolina e Cine Tropical – o primeiro e segundo respectivamente.

Um show em que não faltaram letras cheias de jogos de palavras, um passeio divertido pelos principais bairros de São Luís em “Quebra Pote”, o bolero dramático, ‘kitsch’ e irresistível, “Veneno”, a marchinha carnavalesca e antológica “Taí”, além  da salseira de “São Luís-Havana”, com a participação do poeta Celso Borges reverenciando os nossos arquitetos da cultura popular do Maranhão e do Bueno Vista Social Club de Cuba. Enfim, uma noite em que os artistas interagiram com a platéia em  momentos bem humorados, discretos, sequenciados pelos ‘revivals’  boas releituras de “”Negue”, de Paulo Vanzollini, “Divino Maravilhoso”, consagrada na voz de Gal Costa e “It´s Now Or Never”, de Elvis Presley.

O fim da festa veio com “Eu Vi Maré Encher” contagiando a platéia, que respondeu com um ‘bis’. A dupla retornou ao palco, acompanhada pela banda formada por João Paulo (baixo), George Gomes e Luiz Cláudio (bateria), Edinho Bastos (guitarra), Rui Mário (teclado, samplers, acordeon), Isaías Alves (bateria) e Hugo Barbosa (trumpete), que contou ainda com a participação do saxofonista Célio Muniz, para mais duas performances. E a despedida veio com uma ‘overdose’ de “Veneno”.

Um show curto e grosso, marcado por um encontro temático e visceral, que será mostrado em São Paulo, Rio de Janeiro, ou em qualquer palco do mundo. Uma mistura musical sem perder a essência e a identidade. Sai do teatro com aquela sensação de que nunca é tarde para descobrir a boa música seja do Maranhão ou não.

 

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