Aproveito essas linhas e tiro o chapéu para a crônica escrita por Silvana Duailibe, no site do jornalista Alex Palhano, em que ela expressa o seu amor por São Luís sem pieguice e ufanismo.
Haja afinidade na maneira de pensar quando ela diz que não gosta de calor, mas adora o sol e o mar. Adorei quando ela cita que “em qualquer lugar do mundo se vive a solidão, a angústia, o desafeto, o abandono e a decepção. Em todos os cantos, vive-se a alegria, o bem estar, o amor e a vitória. Gente invejosa e fofoqueira existe em qualquer lugar, da mesma maneira que gente generosa e solidária, simplesmente porque se trata de gente. Mudam os universos, maiores ou menores, mas a essência humana é a mesma. Mudam as culturas, às vezes avançadas, outras vezes primitivas, mas a marca das emoções humanas é a mesma”. Sempre digo para o meu pai: preto e branco, rico e pobre amam e odeiam com a mesma intensidade.
E ao avaliar São Luís, Silvana retrata as velhas e redundantes mazelas da cidade, entre os quais, esgoto a céu aberto, o lixo espalhado pelo chão, as calçadas quebradas, o trânsito caótico, os animais soltos nas ruas, aquelas “coisas” rudimentares chamadas de carroças, que ficariam até bem num ambiente bucólico, mas são um estorvo no meio de ruas estreitas, esburacadas e abarrotadas de carros. Os terrenos baldios sem muro, eira nem beira, as praças mal cuidadas… Ah, se fosse só isso!…”
Mesmo diante de tanto descaso, concordo com Silvana. Mesmo estando em São Paulo, Nova York, Londres, Paris, sempre bate um ‘banzo’ e aquela vontade de estar na cidade. Talvez, seja a calmaria, o silêncio, o jeito de ser provinciano existente em cada de um nós [sem o estigma do exibido, do quem sabe com quem você está falando, da celebridade pobre de espírito e da tradicional relação doméstica] . Ah, como viver é uma tarefa complexa e difícil !
Mas, realmente São Luís é viável ! E reforçando as palavras de Silvana Duailibe, Falta-nos cultura. Sim, exatamente, nós, o povo letrado de antigamente, o berço de tantos talentos, o cenário tão perfeito para as artes! A impressão na atual conjuntura é de como estivéssemos deitados em berço esplêndido, faltando ousadia e criatividade para se pintar o sete com arte. “Falta-nos educação, aquela mínima, mesmo, de pedir desculpas porque pisou no pé de alguém; pedir licença, dar “bom dia”, boa tarde” e “boa noite”; não jogar lixo na rua pela janela do ônibus, do carro particular. Aos desavisados, faz mal a saúde e ao meio ambiente”.
“Faltam-nos miolos para pensar a cidade a médio e longo prazos, sem imediatismos fajutos e de forma mais inteligente, moderna e humanizada. Faltam-nos disciplina e cidadania para cobrar melhores desempenhos das autoridades e melhores comportamentos das pessoas, pois a impressão que tenho, como disse Caetano, é a de que “somos uns boçais! Mesmo assim, São Luís é uma cidade viável !
Pensando como você (Silvana), eu, também, já quis ser estrangeiro em terras distantes. Mas prefiro ser estrangeiro em minha própria terra. São Luís, também, é meu Porto, [Silvana], nem tão seguro, nem tão desenvolvido. Mas, [aqui], também, têm lugares que eu gosto, Têm pessoas que me afagam com sinceridade e estimulam para que eu contribua de acordo com as minhas possibilidades. Enfim, São Luís é uma cidade que reverencio e quando posso eu me manifesto por uma ilha, que não seja a de Galápagos (com todo respeito ao lugar), mas [aquela] que pare de ter medo e seja ousada. Se reinvente sempre, mas sem o conceito “furado” que deve se desenvolver de maneira atrofiada.